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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Obrigado, Bolsonaro!

Sei que muitos não concordarão com o que aqui afirmo, mas faço questão de agradecer ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, no seu último dia de governo. Não é fácil fazer o que ele fez. Foi uma obra hercúlea, digna daqueles que nunca desistem, mesmo que tenham um mar de desertos para atravessar. Lutou com todas as suas ferramentas, contra quase todos, deixando um legado que será reverberado aos quatro cantos do mundo em muitos anos. Foi um feito para poucos!

Primeiro, não é fácil passar vinte e oito anos no Congresso Nacional defendendo todo tipos os tipos de malfeitores da Ditadura Militar implantada em 1964. Fez com maestria. Foi a voz dos opressores que usurparam o poder do povo, mesmo frequentando o baixo clero da Câmara dos Deputados em Brasília. Isso tudo sem apresentar projeto de importância e, em muitos casos, votar contra as proposituras que trouxessem algum alívio para o povo.

Quando seu nome foi ventilado para a candidatura ao maior cargo público do país, toda uma estrutura foi feita para espalhar mentiras e dignificar sua honra. O homem que jamais aceitaria um filho homossexual, já no seu terceiro casamento, envolvido em transações que exigiam sempre dinheiro vivo, denominando os filhos numa sequência numérica, arrotando desprezo total ao sexo feminino – chegando ao ponto de dizer que sua filha foi uma fraquejada, sonegador confesso de impostos, violento – afirmou um dia que teríamos que matar uns 30 mil para limpar a vagabundagem no País... É muita coisa!

Pois é este homem quem prometeu acabar com a corrupção, foi batizado no cristianismo protestante e virou um exemplo para os pastores das principais igrejas evangélicas deste país. Pronto! O Brasil da descaração e da safadeza estava com os dias contados. Para isso, foi só escolher o inimigo do Brasil: o comunismo! Seguiu a receita do nós contra eles, alardeado por Lula desde tempos. O comunismo nos levaria a ser uma Venezuela e acabaria com a nossa liberdade. Para que a mensagem virasse um símbolo do nacionalismo era só erguer a bandeira verde e amarela. Nossa bandeira jamais será vermelha!

Para quem achava que Bolsonaro teria apenas 10% dos votos, bateu os 57 milhões no segundo turno e venceu Haddad, o PT e toda a esquerda. Agora, quem devesse que se preparasse. Era hora da limpeza. Mas Bolsonaro nunca foi de desafios pequenos. Era preciso ir sempre aonde era impossível ir. Seu governo virou marca de remédio ineficaz contra a Covid-19 e, apesar dos apelos do seu ministro da saúde, desdenhou o perigo da doença. Pessoas morriam em Manaus por falta de oxigênio e os caixões faziam fila nos cemitérios ou os corpos eram refrigerados em caminhões, próximo a hospitais.

É impossível dizer quantos foram mortos graças à sua persistência na busca da perfeição do ato de ser único, incomparável na história dos homens públicos. Para que tudo caminhasse como sempre idealizou, Bolsonaro culpa governadores, prefeitos e o STF. Perfeito! Enquanto isso sua máquina de mentiras atormentava os internautas com os reforços dos Adrilles, Fiúzas, Garcias, Copollas, Generosos e canais do YouTube, Telegram, Twiter, Instagram e Facebook. Bastava repetir uma mentira mil vezes e a verdade se fazia. 

Mas a luta precisava de mais combates. Além dos mortos na pandemia, era preciso apoio no Congresso. Aí chegou o Centrão, o Orçamento Secreto. Aconselhado, aumentou o auxílio do Bolsa Família. Afinal, tínhamos quase 30 milhões na linha da fome. Também não queria essa coisa de ficar em casa. Tínhamos que enfrentar a doença como homem. E foi para o meio da galera pregar contra a ciência. A melhor vacina era pegar a doença, afinal, só os velhos estavam morrendo.

De tanto insistir, acabou criando vários grupos de defensores. Era a arma contra o comunismo. No outro lado, com as bênçãos do STF, Lula ganhava corpo e seria o seu adversário. Apesar de ser contra a reeleição, tinha que disputar para livrar o país do comunismo. A luta agora era contra as urnas eletrônicas de votação. Eram fraudulentas! Na eleição passada ele havia ganho no 1º turno! Estava na hora de voltar ao voto em papel. Além disso, seguidores queriam intervenção militar com Bolsonaro como presidente. As Forças Armadas eram a salvação para o país! Não é mais necessário relatar outros fatos. Já é possível perceber o quão genial foi este homem.

Para vencer a eleição, usou de todas as armas legais e ilegais. Nunca nenhum presidente usou de forma escancarada a máquina pública a favor de uma candidatura. Então ele conseguiu fazer com que o Brasil caísse novamente nas mãos de Luís Inácio Lula da Silva, o homem que fará do país uma Venezuela. Hoje, no último dia do seu governo, para encerrar a sua genialidade, está nos Estados Unidos com a família, depois de silenciar após o resultado negativo das urnas eletrônicas. Não passará a faixa presidencial ao seu adversário.

Como é homem de família, ama o país e segue os ensinamentos de Jesus Cristo, quando ao Brasil retornar, terá uma mansão alugada em seu nome, uma remuneração beirando os 100 mil reais e advogados de alta patente para defendê-lo de alguma vingança dos comunistas. 

Daí o meu agradecimento. Obrigado, Bolsonaro! Ninguém jamais neste país conseguirá fazer o que você fez. Precisaremos de uma série de presidentes ruins para se equiparar aos seus feitos. Meu agradecimento é verdadeiro porque você conseguiu ser o ápice da maldade num cargo público. Quando lá na frente perguntarem quem foi o homem inigualável na maldade, na falta de compromisso com o próximo, no desamor ao país e aos seus, já temos uma referência: Jair Messias Bolsonaro. Obrigado por ser o maior exemplo negativo na história dos eleitos para cargos públicos no Brasil. Ninguém jamais o superará. 

Do Sertão ao Centro-Oeste: Episódio 07: Xique-Xique

Saímos de Irecê pela BA 052 e seguimos quase que totalmente em linha reta para a cidade de Xique-Xique. Esta rodovia, conhecida como Estrada do Feijão, tem 459 quilômetros de extensão. Vai do entroncamento da BR 116 (Feira de Santana) a BR 161 (Xique-Xique), e corta a Chapada Diamantina até a região do São Francisco, passando por cidades como Morro do Chapéu, Tapiramutá, Xique-Xique, Piritiba, Ipirá e Baixa Grande, além da região produtiva de Irecê. E o principal, o trajeto está em perfeitas condições até Xique-Xique.

Percorremos os 112 kms em pouco mais de 1 hora e meia. Estávamos às margens do Velho Chico, mas precisávamos antes saber como ser formou a história da localidade. Tudo começou quando o governador Tomé de Souza passou por esta região numa expedição exploradora no século XVI. Tempos depois, já no século XVII surgiu a fazenda Cabo da Ipueira de propriedade do português Theobaldo Miranda Pires de Carvalho. No final deste mesmo século surgem os primeiros garimpeiros na Serra do Assuruá, instalando-se na ilha do Miradouro, onde surge o 1º núcleo de populacional habitado por europeus.

No início do século XVIII já havia sido construído nas proximidades da Ipueira um pequeno templo dedicado ao Senhor do Bonfim, promessa feita por um tropeiro. Em 1714, Dom Sebastião Monteiro da Vide, arcebispo da Bahia, assinou um ato que elevava a capela de Xique-Xique à categoria de freguesia. Em pouco tempo a comunidade era um arraial em franco crescimento. Quando o Brasil se separou politicamente de Portugal, a área que se tornaria município de Xique-Xique contribuía com a economia do império do Brasil, principalmente com a produção de ouro e pedras preciosas dos garimpos da serra do Assuruá. O conselho provincial da Bahia achou por bem criar o município em 06 de julho de 1832, desmembrando-o de Jacobina com o nome de Senhor do Bonfim. Em 23 de outubro de 1837 passa a ser denominado de Bom Jesus de Xique-Xique.

No âmbito do poder judiciário, em 1853 foi criada a Comarca do município, que foi extinta em 1879 e só voltou a ser restaurada em 1915. O conselheiro Luís Viana foi promotor de justiça da Comarca de Xique-Xique, entre 1872 e 1878, e um dos proprietários da fazenda Carnaíba, localizada próximo da sede municipal. O primeiro intendente municipal foi o coronel Gustavo Magalhães Costa. Além deste, foram intendentes: João Martins Santiago, Ciro Medeiros Borges, José Adolfo de Campo Magalhães, Manoel Teixeira de Carvalho, dentre outros. Em 12 de junho de 1928, o município de Xique-Xique foi emancipado no conhecido Período das Regências. Xique-Xique teve um diretório municipal do partido liberal, outro do partido conservador, além de um regimento da Guarda Nacional. 

 Xique-Xique pertence às Regiões Geográficas Intermediária de Irecê e Imediata de Xique-Xique-Barra. Sua população está em torno dos 47 mil habitantes, estando seguramente entre os 50 mais populosos municípios da Bahia. Faz fronteiras com Itaguaçu da Bahia, Gentio do Ouro, Ipupiara, Morpará, Barra e Pilão Arcado, distante de Salvador a 587 km. Apesar de considerar a existência do município desde a oficialização da freguesia em 1714, completando então 308 anos, a data festiva de sua emancipação é 6 de julho, o que indica ter 180 anos de emancipação em 2022.

Xique-Xique é administrado pela quarta vez por Reinaldo Teixeira Braga Filho, do MDB. Não deve ser fácil administrar um município de 5.079,662 km², com uma densidade demográfica de 9,3 habitantes por km2. Apesar do clima semiárido, Xique-Xique foi abençoado pela presença do rio São Francisco, peça mais que importante no seu crescente desenvolvimento. É quase unanimidade quando perguntamos aos xiquexiquenses a relação com o lugar. Muitos dizem que foram para outras plagas em busca da sobrevivência. Se pudessem por aqui viver com o mínimo possível, jamais sairiam do lugar. Afinal, são poucos os lugares no Brasil com uma estrutura razoável de cidade de porte pequeno, mas com uma natureza que proporciona paz e felicidade. Boa parte desta paz é o Velho Chico que distribui entre seus moradores. Além disso, garante a sobrevivência de muitos. 

Próximo episódio: BR 330, BA 160, uma ponte e a Barra

A foto do fato! Confra do CEJDS 2022!

Direção, professores, servidores fechando a temporada de lutas no Sítio do Alberto, na última sexta-feira (23), após a reunião do Conselho de Classe. Esta luta valeu a pena travar. Mais uma batalha vencida. Obrigado aos que fazem o CEJDS! Que venha 2023! 

Estudante de Cícero Dantas é morto e esquartejado por colega em Aracaju

O estudante cicerodantense Henrique Matos foi assassinado por seu colega de infância. (Foto: Álbum de família)

 Imagine uma família que tem um único filho. Depois de educá-lo, manda-o para um centro maior a fim de que ele possa estudar. Como há outras famílias com outros garotos na mesma situação, elas se unem, alugam um apartamento numa grande cidade e mandam os filhos costurarem os seus futuros. Um dia, sem que possa explicar os motivos, o garoto aparece enrolado em lençóis esquartejado por um dos colegas de república. Este é o resumo da tragédia ocorrida com o estudante Henrique José de Andrade Matos, de 23 anos, natural da cidade de Cícero Dantas.

Ninguém sabe as razões de fato. Mas há relatos de que Henrique e o seu colega assassino, Ícaro Ribeiro da Silva, de 22 anos, discutiram muito antes do feito. Eles moravam num apartamento alugado pelos seus familiares para que ele pudesse concluir um curso da área de informática na Universidade Tiradentes. O apartamento fica localizado em um condomínio da Zona Sul de Aracaju, no conjunto Augusto Franco, capital do estado de Sergipe, bem próximo ao local de estudos. Henrique morava com Ícaro e mais um colega, todos naturais de Cícero Dantas. Um deles havia seguido para a cidade natal no sábado (17) pela manhã. O crime ocorreu no início da tarde.

O autor do assassinato, depois de cometer o crime, esquartejou o corpo do amigo de infância e tentou desová-lo usando um Uber. O motorista do aplicativo desconfiou porque percebeu manchas de sangue no apartamento. Antes de esquartejar o colega, o assassino foi a uma loja e adquiriu serras e demais equipamentos necessários para desmembrar o corpo. Ao tentar se livrar do problema, foi preso em flagrante e confessou o crime. Partes do corpo de Henrique foram encontradas numa sala de máquinas no próprio condomínio, segundo informações da delegada Juliana Alcofarado. O estudante foi encontrado no mesmo dia da sua morte, sábado (17). Cabeça e tronco estavam enrolados em lençóis.    

Em entrevista ao g1, a tia de José Henrique, Gorete Matos, disse que ele e o assassino confesso do crime estudavam juntos desde criança e se mudaram para Aracaju há três anos para estudar. “Moravam no apartamento, meu sobrinho, esse colega e um outro menino. Aqui na cidade, está todo mundo em choque. Ninguém sabe explicar o que aconteceu. Ele era filho único. Os pais estão desolados”, disse. A tia também contou que Henrique José e a mãe se falaram pela última vez na noite da sexta (16), um dia antes do assassinato. “Um dos colegas, que também mora no apartamento, chegou aqui em Cícero Dantas ontem (17) e ele chegaria hoje (18). Ele disse a mãe que chegaria um pouco tarde, porque iria ao shopping comprar algumas coisas, depois disso, ela não conseguiu mais falar com ele”, contou a tia.

O corpo de Henrique José de Andrade Matos foi levado para o Instituto Médico Legal (IML) de Sergipe e Ícaro está preso. Enquanto isso, a Polícia Civil de Sergipe continua as investigações para entender os motivos do atrito entre os dois colegas que acabaram por gerar tragédia incomensurável. Familiares realizaram os trâmites para liberação e translado do corpo para a cidade de Cícero Dantas (BA), distante 180 km de Aracaju. O seputalmento ocorreu neste domingo(18), às 10 horas da manhã.

Verônica solta o verbo!

Câmara de Heliópolis muda mesa diretora para não mudar nada!

Jerônimo Rodrigues extingue 800 cargos e cria outros mil

Jerônimo Rodrigues (PT) assumirá em janeiro com estrutura administrativa ampliada. (Foto: Divulgação)

O projeto de reforma administrativa do governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT) foi publicado na edição deste final de semana do Diário Oficial do Legislativo e repercutida no portal Política Livre, do jornalista Raul Monteiro. O texto foi encaminhado pelo governador Rui Costa (PT), logo após a reunião promovida sábado (10) entre Jerônimo e os partidos que integram o conselho político, na sede da transição, no Desenbahia, no bairro de Narandiba, em Salvador. A proposta, que agora será apreciada pelos deputados estaduais, faz alterações pontuais, e já previstas, na atual estrutura governamental. No total, são criados mais de mil cargos comissionados e extintos mais de 800.

Todos os cargos da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (323), por exemplo, serão extintos, já que a pasta será dividia em duas: a da Justiça e Direitos Humanos (SJDH), com 179 vagas comissionadas, e da Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), com 241. Outra mudança significativa é a extinção da Bahiatursa e dos 89 cargos que integram hoje a estrutura do órgão. Por outro lado, a Secretaria de Turismo (Setur) ganha 49 novos postos de trabalho de livre nomeação.

A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial muda de nome e ganha força. A partir de janeiro de 2023, será Secretaria da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Seprom), com 45 novos cargos (três da antiga estrutura serão extintos). Há ainda criação de vagas na pasta de Relações Institucionais (22), que passa a cuidar também das ações em prol da juventude. Há extinção e criação de cargos em outras secretarias e órgãos, a exemplo do Detran. O órgão de trânsito perde 335 e ganha 443 vagas em comissão, mas com diversas alterações no grau/símbolo.  (Política Livre)

Do Sertão ao Centro-Oeste: Irecê, América Dourada e a multa na BA 052

Saímos de Morro do Chapéu e pegamos a rodovia BA 052 com destino a América Dourada e Irecê. Esta rodovia nasce na BR 116, em Feira de Santana e vai até o rio São Francisco, passando por municípios como Serra Preta, Ipirá, Baixa Grande, Mundo Novo, Piritiba, Morro do Chapéu, América Dourada, Irecê e vai até o Xique-Xique, totalizando 462 kms. É conhecida como a Estrada do Feijão. Ao longo do seu trajeto, várias outras rodovias baianas nascem nela ou fazem cruzamento com a mesma. São incontáveis as povoações, distritos ou comunidades desenvolvidas ao longo de suas margens, levando produção agrícola aos principais centros urbanos da Bahia e do Brasil. No trecho que percorremos, as condições eram perfeitas. Entretanto, quando tínhamos tudo para terminar o dia bem, havia uma blitz no meio da rodovia, no meio da rodovia tinha uma blitz. Eu não tinha que me preocupar. Toda documentação minha e do carro estavam em dias. O que temer? Acontece que eu havia esquecido de ligar o farol. Fui abordado pelo policial e levei uma multa de 130 reais. Dias depois, quando recebi a notificação, percebi o motivo de dizerem que o Brasil é o país da piada pronta. Lá estava escrito que “Em movimento de dia, deixar de manter acesa luz baixa sob chuva, neblina ou cerração.”, enquanto o sol torrava nossa pela a 38 graus.

Já devidamente multado, 33 kms depois chegamos ao município de América Dourada, que faz parte da região de Irecê, como João Dourado e Lapão. A cidade é acolhedora e sua origem começa com os netos de João Dourado, em 1870. Eles compraram uma fazenda, que no decorrer dos tempos passou a povoado e foi denominado Mundo Novo, com praticamente todos sendo descendentes do fazendeiro que deu nome ao município vizinho. Como já havia outra localidade bem mais antiga com o nome de Mundo Novo, resolveram mudar para América. As pessoas se referiam ao lugar como América dos Dourados, passando, tempos depois, para América Dourada.

Nasce então o distrito de América Dourada, pela Lei Estadual nº 1090, de 22-07-1915, subordinado ao Município de Morro do Chapéu. Pela Lei Estadual nº 1896, de 02-08-1926, o Distrito de América Dourada foi transferido do Município de Morro do Chapéu para constituir o novo Município de Irecê. A emancipação do município com a denominação de América Dourada vem pela Lei Estadual nº 4399, de 25-02-1985, desmembrado de Irecê. Hoje, além do distrito sede, América Dourada é constituído de mais 3 distritos: Belo Campo, Prevenido e Soares, todos criados pela mesma lei. O município foi oficialmente instalado em Instalado em 1º de janeiro de 1986.

A população do município deve chegar próximo aos 17 mil habitantes no novo censo. Sua área total é de 743,889 km², com uma densidade em torno dos 23 habitantes por km2. O clima é semiárido e sua distância para Salvador é de 430 kms. Faz limites com João Dourado, Lapão, Cafarnaum, Morro do Chapéu e Irecê. É um grande polo de plantação de feijão, mas hoje sua economia está muito diversificada. A cidade é administrada pelo prefeito Joelson Cardoso do Rosário, do PL. Como Heliópolis, sua festa mais conhecida é a do São Pedro, quando a população da cidade quadriplica.

Percorremos mais 50 kms e chegamos à cidade de Irecê. O município se localiza região setentrional da Chapada Diamantina. Sua população deve ultrapassar a marca dos 75 mil habitantes e é conhecida por sua produção agrícola, e chamada de "Capital mundial do feijão" durante décadas. Hoje, o feijão está em declínio e há muito mais elementos geradores de riqueza em seu território. Irecê é um nome indígena, dado por Teodoro Sampaio, em substituição ao antigo nome Carahybas. Irecê significa “pela água, à tona d’água, à mercê da corrente”. Isso pode representar muito para sua realidade. Caso seja um ano chuvoso, riquezas brotam de suas terras.

Mas a história começa muito antes. Em 1624, a Bahia começou a ser invadida pelos holandeses. Naquela época um homem se destacou, porque lutou bravamente contra os invasores. Chamava-se Antônio de Brito Corrêa, pai de Antônio Guedes de Brito. Este último residia em Morro do Chapéu, desde o ano de 1663 e carregava no sangue a valentia do pai. Em sua época, a região do Rio São Francisco vivia atormentada por bandidos, mamelucos e negros aquilombados. Incumbido pelo rei de Portugal para pacificar a região do São Francisco, Antônio Guedes de Brito entrou em ação e em pouco tempo trouxe de volta a paz em toda a região. Como recompensa, o rei lhe deu uma sesmaria remuneratória de 160 léguas de terras, que abrangia a área de terras de Irecê e de diversas outras cidades da região, transformando-o no maior latifundiário de toda a Bahia.

O Conde da Ponte, João de Saldanha da Gama Mello Torres Guedes de Brito, e a Condessa da Ponte, D. Maria Constança de Saldanha Oliveira e Souza, desmembraram, no dia 21 de fevereiro de 1807, a sesmaria remuneratória. Retiraram da grande sesmaria uma porção de terras que denominaram Barra de São Rafael e venderam para Filipe Alves Ferreira e Antônio Teixeira Alves, pela quantia de 1.200$000 (um conto e duzentos mil réis). Em 21 de fevereiro de 1807 foi um marco para a história de Irecê, porque nesta data comercializou-se, pela primeira vez, os terrenos onde se ergueu a atual cidade de Irecê, conhecida naquela época como Lagoa das Caraíbas ou Brejo das Caraíbas. Como se tratava de um latifúndio gigantesco, Barra de São Rafael foi desmembrada. Do grande latifúndio retirou-se uma porção de terras denominada Lagoa Grande, que foi vendida a Joaquim Alves Ferreira, Joaquim Gomes Pereira e Domiciano Barbosa Pereira, os quais venderam para João José da Silva Dourado em 29 de agosto de 1840.

No ano de 1877, Antônio Alves de Andrade, Hermógenes José Santana, Sabino Badaró, Joaquim José de Sena, Deoclides José de Sena, José Alves de Andrade, Benigno Andrade, entre outros, chegaram em Lagoa das Caraíbas e encontraram abundantemente água, caça e terrenos férteis, requisitos básicos para a sobrevivência deles. Estes moradores habitaram inicialmente embaixo duma quixabeira secular, que se encontra até os dias de hoje na Av. Tertuliano Cambuí, no quintal da casa de dona Nita. Depois construíram suas casinhas de enchimento, desmataram parte das terras e começaram a desenvolver a agricultura e a pecuária.

Anos depois, chegaram aqui os herdeiros dos terrenos, entre eles Martiniano Marques Dourado e Clemente Marques Dourado, descendentes de portugueses. Estes cidadãos e muitos outros promoveram o desenvolvimento de Irecê, produzindo milhares de arroubas de algodão, criando centenas de cabeças de gado e trazendo produtos de fora para serem vendidos entre os habitantes locais. Estes herdeiros da fazenda Lagoa Grande fizeram uma expedição para conhecer seu enorme latifúndio, já habitado por pessoas estranhas. A expedição chegou ao lugar denominado "Mundo Novo" que mais tarde se tornou distrito de Morro do Chapéu e atualmente é o município de América Dourada. A história dá o título de fundador de Caraíbas a Aristides Rodrigues Moitinho, que juntamente com Teotônio Marques Dourado Filho e com o Cel. Terêncio Dourado, chefe de polícia da Bahia, conseguiram criar em 1906 um distrito de Paz e subdelegacia de Polícia de Morro do Chapéu, com a denominação de Caraíbas.

Sempre ancorado na agricultura, Caraíbas cresceu e vira município em 02/08/1926, pela lei 1896, assinada pelo governador Góes Calmon, com a denominação de Vila de Irecê. Até hoje o 2 de agosto é considerado a data do aniversário da cidade. No entanto, por não ter renda suficiente que o caracterizasse como município, foi anexado a Morro do Chapéu, em 8 de Julho de 1931, pelo decreto nº 7 479. Mas isso durou menos de dois anos. A independência política de Irecê aconteceu de fato a partir do ano de 1933, através do decreto 8.452, de 31 de maio de 1933, assinado pelo governador Juracy Magalhães, restaurando o então extinto município.

Estávamos decididos a dormir na cidade e seguir viagem ao Centro Oeste no outro dia. Resolvemos visitar duas pessoas da nossa mais alta estima. Fomos logo ao encontra de Meyre Joyce Souza Figueiredo, ou simplesmente Meirinha, ex-vereadora da Rede Sustentabilidade de Irecê e atual secretária de comércio, indústria, serviços, micro e pequena empresa da Prefeitura Municipal de Irecê, administrada pelo prefeito Elmo Vaz, reeleito em 2020. Depois de debatermos sobre a política local e os passos futuros, Meirinha nos levou ao escritório de João Gonçalves de Souza, que também já foi secretário da prefeitura por duas oportunidades. João nos ofertou um queixo especial, mel e cocada, produzidos em Irecê. Foi o nosso lanche, almoço e jantar do dia seguinte. O queijo alimentava tanto que a gente não sentia fome. Depois das visitas, fomos para o Radar Inn Hotel, localizado na Avenida 1º de Janeiro, via que cruza a cidade ligando as rodovias BA 052, BA 148 e BA 432. Era hora do merecido repouso, antes de partir para Xique-Xique e Barra. 

Ribeira do Amparo: Vereadores aprovam 33,24% para os professores!

Depois de muita luta e confusão, os 33,24% dos professores foram aprovados pelos vereadores de Ribeira do Amparo. (Foto: CMRA)

Finalmente, depois de muita peleja, os professores de Ribeira do Amparo terão os seus tão esperados 33,24%. Em sessões extraordinárias ocorridas nesta manhã de quinta-feira (08) os vereadores, por unanimidade, aprovaram a Lei com o devido reajuste. A vereadora Eulina, em contato com o Contraprosa, afirmou que o problema começou após a decisão judicial proferida pela Drª Alana Mendonça, da comarca de Cipó, confirmando que a promulgação do Projeto de Lei Nº 040/2022, foi ato nulo, por não observar a decisão anterior da mesma magistrada, que determinou que o Projeto de Lei tivesse a sua tramitação sustada. 

Lei protocolada para sanção.
Após reunião provocada pelo vereador Kléber para a segunda-feira, ficou acordado entre o SISPRA – Sindicato dos Servidores Públicos de Ribeira do Amparo - e o Município, que tão logo houvesse manifestação no Mandado de Segurança impetrado, o executivo de pronto enviaria novo Projeto de Lei ao Legislativo, concedendo reajuste de 33,24% a todos os professores. Assim, com a derrota da Câmara Municipal (liminarmente), o executivo enviou o Projeto de Lei Nº 043/2022 para ser apreciado, ainda na terça-feira. Naquele mesmo dia, ocorreu reunião ordinária. O projeto de lei não foi colocado em votação pelo presidente, causando certa revolta nos colegas e nos professores. O vereador Kléber, a vereadora Eulina e o vereador Lourival se manifestaram no sentido de votar o Projeto em Urgência Urgentíssima, pedido ignorado pelo presidente da casa.

Ai começaram as negociações. O presidente do sindicato precisou buscar o presidente da casa para interceder pelos professores, pressionando para convocar uma reunião extraordinária. O problema foi resolvido e as extraordinárias convocadas pelo presidente da Câmara Municipal para a manhã de hoje (08), quando o Projeto foi votado e aprovado por unanimidade. O vereador Kléber se mostrou bastante feliz por haver mostrado que seu intuito único e exclusivo era corrigir o erro do projeto anterior. Hoje ainda pela manhã, a vereadora Eulina e seus colegas foram à Prefeitura Municipal e protocolaram a Lei aprovada para sanção do prefeito Germano Santana. Ainda haverá tempo para os vencimentos reajustados serem pagos neste mês. 

Professores de Ribeira do Amparo traídos pelos políticos que elegeram!

Professores de Ribeira do Amparo esperam, acampados na Câmara Municipal, aprovação dos 33,24% de aumento no Piso do Magistério. (Foto: Blog do Joilson Costa)

Eu não deveria mais tratar do assunto, mas é preciso. Certas coisas só se consolidam como água mole batendo em pedra dura. Educação é uma destas. Não vou aqui torrar o seu imaginar com coisas repetitivas sobre o quão é importante a educação para o nosso futuro. Ao ver a reportagem no Blog do Joilson Costa sobre os professores de Ribeira do Amparo acampados na Câmara Municipal à espera da aprovação de uma lei que lhes garanta os 33,24% de aumento, os dedos ficaram loucos por um teclado e o cérebro começou a mergulhar num dicionário de palavras. Preciso, pois voltar ao assunto.

É bom que se diga que várias prefeituras já estão pagando total ou parcialmente o Piso do Magistério. Aqui em Heliópolis, o prefeito José Mendonça enviou projeto para que a Câmara aprovasse o que faltava ainda para este ano. Falta apenas a questão do retroativo, que deve seguir para o judiciário, caso o Sindheli tenha interesse. Mas chamo atenção para Ribeira do Amparo. É o caso mais emblemático da relação cruel dos políticos com a educação e com os professores, aqui na nossa região. Germano Santana foi eleito e reeleito. Ah! É do Partido dos Trabalhadores! Isso já seria suficiente para que os professores recebessem seus vencimentos como manda a Lei, se levarmos em consideração a política do é dando que se recebe.

Mas há outros argumentos. Lula foi o mais votado na Ribeira, com a marca histórica de mais de 80% dos votos. Jerônimo Rodrigues foi o mais votado para governador, Fátima Nunes foi a mais votada para a Assembleia Legislativa. A diferença foi Claudio Cajado, deputado federal do Progressistas, que não é do PT, mas é um aliado de Rui Costa, e de Bolsonaro, claro! Se já não há argumentos jurídicos para não dar o aumento, será impossível negá-lo usando o campo político como desculpa. Verdade seja dita: os professores de Ribeira do Amparo estão recebendo o bônus por votarem de cabo a rabo no PT.

Sabemos que vão dar a desculpa de que o outro candidato era insano etc, etc, etc. Mas eu estou falando do 1º turno. Havia outras escolhas. Além do mais, no segundo turno temos também os brancos e nulos. O que não se pode é perder o amor próprio. E se aprofundarmos a questão, ainda faltam os números da educação em Ribeira do Amparo, que não são bons. Melhor dizendo, são péssimos. Fato: quem menos tem culpa disso é o professor. E antes que digam que estou falando mal da educação pública no Brasil, a nossa famosa escola particular, que está infinitamente à frente da pública por aqui, é muito inferior à pública dos dez primeiros países que lideram a lista do Pisa. O país, definitivamente, detesta a nossa educação.

Aos professores de Ribeira do Amparo seria aconselhável começar uma campanha do tipo “meu voto pela melhoria da educação”. Isso incluiria também salário e condições de trabalho. Prefeito, governador, deputado, vereador que não vestissem esta camisa seriam alijados da política. Pode ser que no início fossem apenas dez ou doze, mas é no fim de tudo que acontecem as vitórias. Vou dar como exemplo o próprio Lula. Quando ele começou era só um fusca e um sindicato. Olhe onde está hoje! Ele consegue até dizer que é a alma mais inocente deste país, e muitos acreditam. Por que para a educação tudo é tão difícil?    

Do Sertão ao Centro-Oeste: BA 144, Várzea Nova e Morro do Chapéu. Episódio 05

Saindo da BA 368, seguimos no sentido sudoeste a partir do contorno com a BA 144, no povoado Lajes do Batata, no município de Jacobina. A BA 144 está em bom estado de conservação, bem sinalizada e com retões quase infinitos. Neste episódio conheceremos dois municípios importantes: Várzea Nova e Morro do Chapéu, servidos por esta importante rodovia. 

Depois de percorrer cerca de 30 kms, chegamos ao município de Várzea Novo, que também faz parte da Mesorregião Centro Norte da Bahia, ligado ao Território de Identidade Piemonte da Chapada Diamantina, região administrativa de Jacobina. Sua área é de 1.165,165 Km². Sua emancipação ocorreu em 25 de fevereiro de 1985, quando foi desmembrado do território de Jacobina. Limita-se com os municípios de Ourolândia, Jacobina, Miguel Calmon e Morro do Chapéu. A sede municipal tem altitude de 742 metros e fica distante de Salvador por cerca de 390 kms.

Várzea Nova possui clima semiárido e longos períodos de estiagem. A área do município está totalmente incluída no Polígono das Secas e sua história começa em 1913 quando o fazendeiro Zacarias Domingos de Jesus compra terras na região e fixa residência no local. Tempos depois, a família de José Botafogo chega para fazer companhia a Zacarias Domingos de Jesus e sua família. Como a região ainda não havia sido desmatada, Zacarias perfurou várias cacimbas para que não faltasse água nos períodos de estiagem. Uma delas recebeu o nome de sua segunda esposa: Cacimba Dona Generosa. 

A localidade começou a receber visitantes e muitos acabavam ficando. Compravam terras do fazendeiro Zacarias. Outros até recebiam tarefas de terra de graça para por lá permanecer. O local virou um vilarejo, depois um povoado. Hoje, a população de Várzea Nova gira em torno dos 14 mil habitantes, com um comércio razoavelmente desenvolvido, ainda que a agropecuária seja o sustentáculo de sua economia. Para chegar até aqui, duas coisas foram importantes: o sisal e a BA 144.

A rodovia BA–144 liga o município à rodovia BA 368, em Lajes do Batata, na sequência da BR 324, e ao município de Morro do Chapéu. Quando a estrada foi aberta, em meados de 1940, nasceu como BA 426 e facilitou o escoamento da produção agrícola local para Jacobina, Morro do Chapéu e Miguel Calmon. Na década de 1950, o Reverendo Presbiteriano Otacílio Alcântara trouxe o Agave (sisal), que rapidamente se transformou na principal fonte de riqueza em todo o território.  

depois expandindo de forma absurda por toda a região, tornando-se a principal fonte de riqueza e exploração agrícola de todo este território. Com a economia em franco desenvolvimento, foi fácil atrair pessoas e permitir a diversificação e distribuição das atividades geradoras de mais renda.

Difícil mesmo foi a primeira eleição municipal. Inicialmente, dois ex-vereadores, que representaram o povoado em Jacobina, fizeram um acordo para lançamento de um candidato único a prefeito. No andar a da carruagem, Ariobaldo Oliveira e João Aureliano Gomes acabaram rompendo. A filha de João, Maria Íris Gomes, licenciada em Letras pela Universidade Católica de Salvador, chegou ao município e resolveu se candidatar. O vice escolhido foi Edson Sales. Ariobaldo foi também para a disputa e escolheu como vice Paulo Roberto Pereira de Oliveira. A eleição de 1985 foi disputada voto a voto e Várzea Nova, por diferença de 36 votos, escolheu Maria Íris. O município começou rompendo barreiras: uma prefeita administrando um município com uma câmara de vereadores toda composta por homens. 

Depois disso, Íris Gomes se candidatou a deputada estadual e virou 1ª Suplente do PFL. Assumiu o mandato em março de 1991 até 1995. Só voltou ao cargo de prefeita de Várzea Nova em novembro de 2005, cumprindo mandato até o final de 2008, não conseguindo se reeleger. Depois dela, somente Daiane Severina Pereira, a Daiane do Social, disputou a cadeira de prefeita e perdeu para João Hebert, o Joãozinho, atual prefeito de Várzea Nova. Daiane foi a mais votada para a Câmara Municipal em 2016. Quem mais administrou Várzea Nova foi um homem. O nome dele é Dion Avelino da Silva. Foi prefeito por 4 vezes e faleceu no último dia 19 de outubro deste ano, aos 75 anos.

Alternando períodos de crescimento e de estagnação, Várzea Nova é como o Brasil. Entretanto, apesar de tudo, continua sua luta na busca do melhor lugar possível. De uma coisa ninguém duvida, como registra parte do seu Hino:    Várzea Nova/ Várzea Nova/ És menina e formosa.    (Colocar o Hino)  

Aproximadamente 45 kms depois de Várzea Nova, pela BA 144, chega-se a Morro do Chapéu, cidade de vasta história. Isto porque a chegada do homem branco ao seu território data do final do século XVI. Em 1591, o desbravador e vereador por Salvador, Gabriel Soares de Sousa, partiu de Jiquiçá, fazenda que possuía no Recôncavo, chegando até as cabeceiras do rio Jacuípe. Falam muito das passagens de Muribeca e Roberto Dias, mas há registros concretos da permanência do sertanista Romão Gramacho, ficando o seu nome fixado no do rio Vereda do Romão Gramacho. O principal fator do povoamento de Morro do Chapéu foi a concessão de grandes áreas de terras para estabelecimento de várias fazendas.  

Com a exploração de ouro em Jacobina, no ano de 1724, já se desenvolvia a criação de gado no território do atual Município. Estradas foram abertas ligando Jacobina ao rio São Francisco e a Minas Gerais. O ponto de passagem era a fazenda Gameleira. Em 1795, frei Clemente Adorno chegou à fazenda e iniciou a catequese. Uma capela foi erguida em terreno doado por Antônio Ferreira dos Santos, proprietário da fazenda Gameleira. Em torno da capela surgiram edificações nascendo assim a povoação de Gameleira, encravada na fazenda do mesmo nome. Em 1823, portugueses que fugiam das guerras pela Independência do Brasil passaram a residir no território. Em 1834 a capela foi concluída e, quatro anos depois, foi elevada a freguesia, distrito criado pela Lei provincial n.° 67, de 1.º de junho de 1838, sob o orago de Nossa Senhora das Graças, desmembrada de Santo Antônio da vila de Jacobina. Nessa ocasião, o povoado passou a chamar-se Morro do Chapéu e teve categoria de distrito de paz. O Município surgiu em 1864, pela Lei de n.° 933, de 7 de maio daquele ano. A Lei estadual n.° 751, de 8 de agosto de 1909, elevou à categoria de cidade a sede do Município. 

Morro do Chapéu localiza-se a 384 km a noroeste de Salvador, na zona oriental da Chapada Diamantina, e possui altitude média de 1.100 m. Os pontos de maior altitude chegam a 1.350m, sendo, por isso uma das cidades mais frias do estado, com temperaturas em torno de 10°C em algumas épocas do ano. Sua população beira os 40 mil habitantes e a economia é fortemente baseada na agropecuária de subsistência, além de investimentos em agricultura empresarial, baseada no tomate, morango e uva, inclusive com instalação de vinícolas de vinhos finos de origem francesa. O comércio é bem desenvolvido e há ainda fortes investimentos na produção de energia eólica, inclusive de empresas energéticas estrangeiras.

Para quem gosta de turismo ecológico, as atrações são a Cachoeira do Ferro Doido, a Gruta dos Brejões, e o Parque Estadual Morro do Chapéu; todas como áreas de preservação e conservação ambiental. Vale ainda citar a Cachoeira do Agreste, a Cachoeira de Domingos Lopes, o Buraco do Possidônio, (provavelmente aberto por um meteoro gigante) o Balneário do Tareco, (águas termais medicinais) o Morrão, (morro que deu origem ao nome do município por ter a forma de um chapéu, sendo visto do lado Sul) o centro ufológico e a Vila do Ventura. Morro do Chapéu é servido por várias rodovias estaduais. Além da BA 144, destacam-se a BA 422 e a BA 052, que liga o município a América Dourada e Irecê, nossos próximos assuntos. 

Poucas & Boas: A queda de Claudivan que antecipou 2024, a obra da BA 393 e o bombardeio no STF!

STF bombardeado I

Todos sabem que Lula é hoje o Presidente da República graças a decisão histórica de anular os processos com a alegação absolutamente questionável da inadequação do juiz que julgou a ação em 1ª instância, depois de passagem por todas as instâncias possíveis. A decisão ficará na história e o STF jamais será perdoado por isso. Entretanto, igualmente o Supremo ficará na história por suportar tantos bombardeios, muitos até infantis, daqueles que querem um país ditatorial. As pessoas que dignificam o STF hoje são os bolsonaristas. Quase que diariamente soltam petardos contra a corte suprema. A insistência na intervenção federal, anulação das eleições e outras idiotices só acabam dando protagonismo e prestígio aos ministros daquela casa defensora da Constituição.

STF bombardeado II

Além da barbeiragem do presidente do PL em pedir anulação de urnas somente no 2º turno, agora foi a vez de senadores bolsonaristas protocolarem pedido de impeachment do ministro Barroso. O pedido dos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE), Styvenson Valentim (Podemos-RN), Lasier Martins (Podemos-RS), Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Plínio Valério (PSDB-AM) alega que o ministro rompeu com sua imparcialidade ao participar de jantar privado com Cristiano Zanin – advogado de Lula e integrante do gabinete de transição do governo. O jantar ocorreu há uma semana em Nova York, e contou com outros participantes de um encontro promovido pelo Lide, grupo empresarial de João Doria que arcou com os custos. Por essa Luís Roberto Barroso não esperava. É mais uma publicidade a seu favor porque o encontro foi público e promovido por terceiros. Será que os senadores não conhecem a lei ou estão jogando para a galera que cantou o Hino Nacional para um pneu?

Obras na BA 393

Ninguém pode negar que esta semana as obras da BA 393 ganharam um volume considerável. Sem que a imprensa estadual soubesse alguma coisa, porque tudo ficou restrito à nossa região, o prefeito José Mendonça Dantas acionou a deputada Fátima Nunes e as reclamações parece que chegaram ao andar superior do poder. Antes, quando somente as reclamações estavam aqui no Contraprosa e no Impacto Jovem, havia um silêncio ensurdecedor. Quando o povo começou a gritar, chegou à Rádio Regional. Para evitar que tudo desaguasse na imprensa soteropolitana, medidas foram tomadas. Ainda bem. Quando a obra estiver pronta, vai aparecer padrinho de tudo quanto é lado. Aliás, até já começou! Com as obras em andamento satisfatório, já tem até vereador governista postando vídeos nas redes sociais. Entretanto, na hora da reclamação, só a oposição se manifestou na Câmara. Parece que é proibido aliado reclamar das coisas que estão erradas. Isso só acontecia no tempo do Rei!

Antecipando 2024

Mal passaram as eleições, já tem gente com o espírito preparado para 2024 e chapas já começam a surgir na região. Em Fátima, falam em Everaldo (Beaga), ex-prefeito de Poço Verde e ex-deputado federal como candidato de Sorria para desbancar Binho de Alfredo. Em Poço Verde, o grupo de Toinho de Dorinha não quer mais ouvir falar em Edna como candidata e quer vencer a eleição. O nome mais cotado é o de Roberto Barracão com a indicação do vice feita por Toinho. Em Cícero Dantas ainda falam no nome de Kael e juram que desta vez ele chega folgado. Resta saber se o empresário vai topar a parada. Em Ribeira do Pombal, a reeleição de Erickson não está sendo vista como favas contadas. A oposição prepara uma surpresa, um nome novo que possa surpreender. Em Adustina, há uma lista enorme de nomes que esperam contar com o apoio de Paulo Sérgio, entre eles a Loirinha do Sem-terra, que é a vice-prefeita, e o comunicador Adailton Fonseca. Em Heliópolis, até as pedrinhas da Régis Pacheco sabem que José Mendonça é candidatíssimo à reeleição, dependendo apenas dos pareceres do TCM, TCE, TCU, MP-Ba, MPF e TRF. Com apoios que vão de Brasília ao Tijuco, só não é candidato se fizer besteiras. Seu opositor, com cerca de 90% de possibilidades, é Thiago Andrade. Há problemas apenas nas escolhas dos vices. Existe quem aposte que Josefa Naudija será colocada de lado e há preferência em buscar uma pessoa ligada a Ildinho. Ninguém se arisca a antecipar o nome da/o vice de Thiago. Continua Ronaldo? Seria Ana Dalva? Buscar um nome do grupo de Mendonça? Tá osso!

No rastro dos resultados

Muitas pessoas fazem cálculos políticos baseados em resultados da eleição anterior. Os bolsonaristas hoje sabem que não é bem assim, mas dizem que houve roubo. Um apoiador de Mendonça fez uma análise até razoável para as próximas eleições. Em suma, disse que Binho de Alfredo não perde em Fátima, Erickson ganha em Pombal e o candidato de Paulo Sérgio não perde em Adustina. Em Heliópolis ele não se arriscou, mesmo torcendo para o atual prefeito. Para isso, deu uma justificativa plausível. Nos tempos de Waltinho, ele tinha apoio de cabo a rabo, inclusive teve os deputados mais votados de Heliópolis e não conseguiu se reeleger. No caso de Ildinho, os deputados mais votados em 2018 foram os governistas e Thiago Andrade perdeu a eleição. Ildinho também tinha o apoio do estadual ao federal, passando pelo senado. Só não tinha o presidente. O que aconteceu? Não fez o sucessor. O apoiador pediu para não dizer o nome, mas fez questão que este portal registrasse um fato inédito nas últimas eleições: Os pardais perderão o trono de ter o vereador mais votado.

Claudivan cairá?

A pergunta que não quer calar é se o atual presidente da Câmara Municipal de Heliópolis continuará na cadeira de presidente ou voltará para o mundo dos edis comuns. Vale dizer que Claudivan já caiu, mas foi da sua moto quando passava na frente da casa da vereadora Ana Dalva. Não, não havia nenhuma armadilha da Líder da oposição. A queda foi inusitada. Claudivan até pediu as imagens para tentar entender o que aconteceu, mas já estavam apagadas. Já na câmara, é improvável uma queda dessas, caso dependa da vontade do prefeito José Mendonça. Todos sabem que foi oferecido a Doriedson o próximo período de presidência, mas se Claudivan é bom para o prefeito... Promessas de muitos políticos caem por terra como picolé fora da geladeira. A questão é que dizem ser Doriedson candidatíssimo e já conta com dois votos. Os outros quatro são de Mendonça. A peleja será decidida pela oposição. Quem imaginar que há jornada fácil em política quebra a cara ou o pulso. 

Do Sertão ao Centro-Oeste: BR 324, Junco, Novo Paraíso, Itapeipu, Jacobina e Lajes do Batata

Neste episódio da série do Sertão ao Centro-Oeste vamos hoje nos dedicar ao município de Jacobina. Saindo de Capim Grosso pela BR 324, continuamos nossa jornada em direção noroeste. Dezoito kms depois, chegamos ao distrito de Junco, pertencente a Jacobina. Localizado predominantemente no lado sul da rodovia, Junco é uma povoação que já deveria ter sido cidade, tanto pelo seu tamanho como por sua importância econômica. O distrito possui 420 km2 e faz divisas com os municípios de Capim Grosso, Serrolândia, Quixabeira e Caem. Em verdade, sua localização é no limite da tríplice fronteira entre Serrolândia, Quixabeira e Jacobina. A mesma planta que deu nome à Capim Grosso também nascia em abundância nas margens do Rio do Peixe, que cruza dividindo a comunidade ao meio. O Rio do Peixe nasce em Miguel Calmon e é um dos afluentes do rio Itapicuru. Em Capim Grosso o rio recebe o reforço do Riacho do Mocambo e segue para desaguar no Itapicuru antes da cidade de Queimadas. 

O primeiro nome do distrito foi Lagoa do Junco e a primeira residência foi construída no local depois da criação da estrada de rodagem que ligava Feira de Santana a Jacobina. O primeiro morador foi Simão Sousa Silva, que residia provavelmente onde hoje é o posto de combustível. O crescimento do lugar ocorre a partir de 1944 com o intenso comércio com Jacobina. A primeira feira local se dá em 1945 e um boi foi abatido no local. A igreja do Junco estava erguida em 1956 e o açude velho data de 1960. A Escola Municipal Pedro Daltro foi inaugurada em 1972 e a energia elétrica chegou em 1978. Já o Mercado Municipal data de 1979 e Junco teve o Hospital Manuel Inácio no ano de 1988. Apesar de regado pelo Rio do Peixe, o abastecimento de água encanada só foi instalado em 1995. Entre 1985 a 1990, o movimento de emancipação do distrito de Junco estava muito forte, mas não foi suficiente para que virasse município. Contudo, há uma comissão que cuida da questão e luta para que se concretize a cidade de Junconópolis. O distrito é o maior de Jacobina e tem todas as condições necessárias para a emancipação. O que está atrapalhando é a burocracia e a má vontade dos políticos.

Continuando pela BR 324, 12 kms após Junco, chegamos a outro grande distrito de Jacobina: Novo Paraíso. Na verdade, do ponto de vista legal, Novo Paraíso está classificado enquanto povoado pertencente ao distrito de Itapeipu. É mais uma anomalia causada pelo desenvolvimento. Novo Paraíso cresceu muito mais que o seu distrito e hoje, da mesma forma que Junco, também luta por sua independência. Certamente desejará a inclusão de Itapeipu como o seu segundo distrito, que é banhado pelo rio Itapicuru e está localizado 13 kms após Novo Paraíso, igualmente margeando a BR 324. Para termos uma ideia precisa, Junco sozinho pode chegar a 10 mil habitantes. Só na sede tem cerca de 7 mil moradores. Novo Paraíso tem cerca de 6 mil somente na sede. Se juntarmos com o distrito de Itapeipu e a zona rural, também pode chegar aos 10 mil habitantes.

Depois de Itapeipu, 18 kms após chegamos a Jacobina. O município localiza-se na região noroeste do Estado da Bahia, mais precisamente no extremo norte da chapada diamantina, e está inserido, de acordo com a atual regionalização administrativa do estado da Bahia, no Território de Identidade Piemonte da Diamantina. O desbravamento e descoberta das terras do município deram-se quando muitos Bandeirantes paulistas e portugueses chegaram no século XVII. O objeto de desejo era o ouro, além de outros metais preciosos. O primeiro bandeirante a pisar nas terras foi Belchior Dias Moreyra – conhecido por Muribeca. Este percorreu o território de Jacobina e afirmou ter encontrado minas de ouro, prata e outras diversas pedras preciosas. Muribeca era neto de Caramuru. Os habitantes nativos eram os índios Payayás. 

Em 1682 deu-se a criação do distrito de Santo Antônio de Jacobina, em terras do atual Campo Formoso, pelo 2° Arcebispo da Bahia, Dom Frei João Madre de Deus. Em 05 de agosto de 1720, o Rei D. João V permitiu a garimpagem do ouro e a criação da vila de Santo Antônio de Jacobina. Em 28 de julho de 1880, a Vila de Santo Antônio de Jacobina foi elevada à categoria de cidade com o nome de Agrícola Cidade de Santo Antônio de Jacobina. Sua instalação ocorreu a 11 de janeiro de 1893, no governo de Joaquim Manoel Rodrigues Lima. O primeiro prefeito de Jacobina, Antônio Manoel Alves de Mesquita, tomou posse em 1893. O lugar tem grande riqueza biológica, com biomas como a caatinga, cerrado, campos rupestres, habitat de diversas espécies animais e vegetais nativos e algumas em risco de extinção, como veados, onças e macacos-prego. As paisagens se caracterizam pelas extensas serras, morros, vales, grutas, rios e cachoeiras.

Apesar de Jacobina se localizar no polígono das secas, por se encontrar rodeada de montanhas, já chegou a registrar temperaturas inferiores a 10 graus. A cidade também é apelidada de Cidade do Ouro, mas é comum ouvir dizer que é a capital da Chapada Norte. Sua população ultrapassa bem os 80 mil habitantes e é um polo regional industrial e comercial de grande monta. Limita-se ao norte com Mirangaba, Saúde e Caem; ao sul, com Várzea Nova e Miguel Calmon; ao leste, com Serrolândia, Quixabeira e Capim Grosso; ao oeste, com Ourolândia. Fica a 330 kms de Salvador e tem uma superfície de 2.192 km2.

Com o fim da BR 324, seguimos sempre em sentido noroeste, agora pela BA 368. Após 33 kms, chegamos ao povoado de Lajes do Batata, outra localidade que quer se emancipar de Jacobina. Vivendo o mesmo lema de Novo Paraíso, Lajes do Batata é povoado pertencente ao território do distrito de Catinga do Moura. As duas localidades juntas podem até passar dos dez mil habitantes, mas a população é maior em Lajes do Batata. Só que Cantiga do Moura também quer se emancipar. Somente juntas têm alguma possibilidade de libertação. Aqui, seguimos no sentido sudoeste pela BA 144, com destino a Várzea Nova e Morro do Chapéu, assuntos para o nosso próximo episódio.

Médica condenada em Sergipe incentiva combate à negligência no serviço público

Não se trata apenas da condenação de uma médica, mas do comportamento negligente no serviço público. (Foto: Clínica Médica)

Mesmo que impere a escuridão, alguma luz há de brilhar. Não importa a intensidade, será suficiente para segui-la.”. Se algum filósofo ainda não disse isso, acabo de escrever. O fato não é bom, nem mesmo deveria existir por aqui, mas é animador. Refiro-me a uma notícia publicada no portal Lagarto como eu vejo, na última quarta-feira (16), enviada a mim pelo nosso querido professor Cleiton Rodrigues, de Cícero Dantas. Pode não ter chamado a atenção de muitos, mas nos dá uma esperança, mesmo que pequena, nesta Nação de meu Deus, prestes a emplacar, talvez, mais um campeonato mundial de futebol. A 8ª Vara Federal de Sergipe condenou uma médica pela morte de um paciente que estava internado no Hospital Regional de Lagarto, em junho de 2017, vítima de parada cardiorrespiratória.  

A profissional Daniele Menezes Dias foi condenada por homicídio culposo, mais precisamente por falta de assistência ao paciente. Tudo aconteceu quando foi dado entrada um paciente que agonizava com problemas cardíacos. Não havia médico no posto de trabalho para prestar os atendimentos emergenciais necessários. A dra. Daniele saiu porque a hora do seu plantão havia acabado. A tentativa de salvar o paciente foi realizada pela equipe de enfermeiros. Depois de constatar a morto da pessoa, o Ministério Público denunciou que a equipe de enfermagem não podia realizar outros procedimentos de reanimação sem a presença e orientação da médica. Sem um médico, os enfermeiros fizeram o que podiam fazer.

O MPF denunciou três médicos plantonistas que trabalhariam a partir das 7 horas do dia 21 de junho de 2017. Quando a vítima chegou, eles deveriam estar lá. Entretanto, Dra. Daniele não deveria ter saído antes da chegada dos outros médicos. A médica deixou o hospital sem realizar a passagem do plantão a seus colegas e também foi denunciada. Na sentença, o juiz Jailsom Leandro de Sousa, da 8ª Vara Federal, absolveu os três médicos, José Renato Dantas Varjão, André Luiz Costa Santos e Bruno do Amor Divino Pereira,  e condenou a Dra. Daniele Menezes Dias por homicídio culposo, com causa de aumento de pena decorrente da inobservância de regra técnica da profissão, pelo período de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de detenção, em regime inicial aberto. A pena da médica foi convertida em duas restritivas de direito: prestação de serviços em entidade pública ou assistencial pelo período de 2 (dois) anos e 08 (oito) meses, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, em entidade a ser definida pelo juízo da execução e prestação pecuniária no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

A sentença, embora seja passível de recurso, é uma rosa no asfalto. A Justiça neste país está virando vilã para aqueles que não possuem recursos ou certos prestígios. São incontáveis os prejuízos de muitos por causa da negligência de profissionais ancorados nos serviços públicos dos três poderes. Muitos deles se safam por representar seguimentos poderosos, política e financeiramente. Esta sentença não é contra os médicos, aqueles que vivem a salvar vidas e, muitas vezes, até perdem as suas tentando fazer o seu melhor. Mas o serviço público tem mais servidores negligentes do que possa imaginar nossa tupiniquim filosofia, exatamente porque acreditam na impunidade. Esta sentença do Dr. Jailsom Leandro de Sousa é um pequeno farol que ilumina o caminho daqueles que cumprem o que diz a nossa Constituição.  

Deolinda depois da morte


No início de tudo, Ismael não entendia o motivo de tanta badalação em torno da morte da mãe. Achava uma coisa ridícula gente sair do interior da Bahia, do Cariri do Ceará, de Presidente Figueiredo no Amazonas, de Uruguaiana no Rio Grande do Sul para chorar a morte de uma cantora romântica. Até de Mateiros no Tocantins vieram pessoas. Trouxeram cartazes de shows, discos com autógrafos, camisas com marcas de batom e amontoaram tudo na escadaria do Teatro Castro Alves, quase impedindo a entrada das pessoas para ver o corpo. Gente de todos os cantos veio dar o último adeus a Deolinda, a voz mais representativa da dor de cotovelo. Os boleros cantados por ela viraram vinte e um discos gravados, mas Ismael não tinha noção da importância da mãe para a formação da cultura popular no país.

Só após o último suspiro dado numa sala de emergência do Hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, Ismael pode perceber o alcance do nome de Deolinda. Para ser exato, ele nunca gostou das músicas da mãe. Aquelas canções repletas de dores de amor, de paixões perdidas, de traições com nuances diversas não eram do seu gosto. Ele adorava Titãs, Ira, Capital Inicial, Pitty, Santana e fã de carteirinha do Legião Urbana, a banda que estava fazendo o maior sucesso no Brasil inteiro. Nunca quis maior envolvimento com a obra da mãe, embora fosse obrigado a ouvir muita coisa, quando músicos vinham gravar no estúdio da casa deles.

De tanto ver entrar e sair músicos de sua casa, Ismael até que desejou ser um deles, mas preferiu a guitarra. Sua mãe chegou a comprar um piano para ele quando ainda com nove anos, mas o desinteresse era notório. Deolinda não forçou a barra e sempre dizia a ele com aquela voz paciente:

     - Ninguém é forçado a fazer o que não quer. Tenha paciência que sua vocação virá um dia.

Nunca mais ela insistiu. No fundo esperava que o filho ficasse interessado em preservar sua obra. Era a única esperança de sua vida. Depois de dois casamentos fracassados, só restava o filho para cuidar de tudo que ela deixou. É verdade que a vida de cantora não lhe trouxe fortuna, mas aquela casa no bairro do Rio Vermelho e seu refúgio na Praia do Forte foram frutos de uma vida inteira nos palcos da vida. É verdade que poderia ter um pouco mais não fossem os dois maridos. O primeiro, quando ela descobriu, estava de caso com uma garota de vinte anos. Foi aí que percebeu onde ele gastava seu dinheiro já que a garota era um luxo só. Ainda bem que foi só um contrato e ele não tirou dela mais nada, embora tentasse retornar ao leito por um longo período, até o dia que um tiro de um marido ciumento lhe tirou a vida. Foi um escândalo! O segundo ela encontrou num show em Goiânia. Moreno, lábios carnudos, porte de atleta e mexeu com os seus hormônios. Trouxe-lhe flores, poemas, presentes. Até uma garrafa de tequila importada ele a presenteou. A insistência deu num encontro e a paixão das suas músicas virou realidade. Foi seu companheiro por mais de vinte anos e morreu vítima do câncer. Não adiantou contratar os melhores médicos, nas melhores clínicas, nos melhores hospitais. Ranulfo morreu antes de completar sessenta anos.

Depois daquele dia triste, Deolinda, que já passava dos sessenta anos, olhou em volta e viu que estava só. Seu único irmão morava em Brasília, envolvido com o Ministério das Relações Exteriores. Seus sobrinhos estavam na faculdade e cuidavam da própria vida. Morarem em Salvador, nem pensar! Eram de outro mundo. Como nunca ficou grávida, embora tivesse feito tudo recomendado pelos médicos, resolveu tomar uma atitude. Tinha que fazer uma adoção. Entre um show e outro procurava informações, mas nada aparecia. Ela queria uma criança recém-nascida. Não queria alguém já com memória do mundo. Num show na praça pública em Ribeira do Pombal, o baterista de sua banda disse que depois da apresentação não seguiria para Salvador.

     - Preciso ir a Sítio do Quinto. Houve um acidente na BR 110 e há familiares meus envolvidos. As informações estão desencontradas. Preciso estar lá urgente.

Aclézio foi liberado para a viagem logo depois do show. Já em Salvador comunicou a Deolinda que a mãe dele só teve alguns ferimentos e o filho que ela tanto queria adotar apareceu. No acidente, três pessoas morreram, todas de Sítio do Quinto, inclusive uma menina de 17 anos que estava voltando para casa após receber alta de um pós-parto. Era mãe solteira, pobre. O pai não quer assumir, por já ter uma família e a avó não tem condições de criar o menino. Deolinda foi a Sítio do Quinto e trouxe a criança. Providenciou toda papelada em Jeremoabo e registrou Ismael como seu filho. Enquanto foi viva, a cantora não deixou faltar nada para a avó do filho até sua morte sete anos depois.

Ismael sempre foi obediente, mas Deolinda sabia que o caminho dele era outro. Depois da compra daquele piano, sonho que ela acalentava desde os tempos de criança em Araci, sua terra natal, percebeu que o filho não gostava do seu estilo ou até mesmo da música. Com ela foi diferente. Vivia na roça e se interessou por música quando o pai comprou uma radiola a bateria e o disco de Vicente Celestino. Daí para Maísa foi um pulo. Ficava de ouvido no rádio, quando alguma emissora era sintonizada. De cantora de igreja passou ao palco num concurso de calouros num circo em Araci. Daí em diante só cresceu. Rio de Janeiro e São Paulo, antes tão distantes, agora eram praticamente o quintal da sua casa. Se recusava a sair da Bahia e vivia de aeroporto em aeroporto, mesmo sem nunca vencer o medo de voar. Em várias excursões levou Ismael, mas ele só mesmo se interessou pelo rock.

Ao ver sua mãe morrer antes de completar oitenta anos, com seu retrato estampado em vários jornais do país, sendo ovacionada como a mais afinada cantora do Brasil, comentaristas traduzindo suas canções como poesias sonoras e toda aquela demonstração de afeto dos fãs de todo o país, não teve dúvida: tinha um tesouro dentro de casa e não percebeu. Ismael chorou o que pode. Suas lágrimas rolaram manchando páginas e mais páginas de jornais e revistas por todo o país. Também embaçou as lentes das Tvs e emocionou os ouvintes nas ondas do rádio. No velório quase tudo parou. A fila de fãs dava voltas no largo do Campo Grande para dar o último adeus a Deolinda. Suas músicas tocavam o dia inteiro onde quer que se chegasse. Até luto oficial de três dias foi decretado e já havia até políticos apresentando leis para nomear avenidas e ruas com o nome da cantora.

Quanto mais as homenagens se intensificavam mais aumentava o arrependimento de Ismael em não ter percebido o valor da mãe e a riqueza que ela trazia naquela voz única. Por que não percebeu isso em vida? Por que não teve atração por tudo aquilo? Por que não se apaixonou por suas canções? Por que não pode dar o seu devido valor em vida? Foi necessário vir a morte dela e o reconhecimento de um país inteiro para que ele, o mais próximo, o que dormia num quarto ao lado do seu, aquele que recebeu os mais sinceros carinhos de uma mãe que teve a potência do útero transferida às cordas vocais, iluminasse em sua ciência o ilimitado valor do seu amor. 

(Landisvalth Lima - do livro Contos levemente amaros, inédito)                                                 

Do Sertão ao Centro-Oeste: BR 324, Gavião, Itatiaia do Alto Bonito e Capim Grosso

A BR 324 é mais conhecida por interligar o entroncamento rodoviário em Feira de Santana a Salvador, tornando-a uma das principais rodovias no estado. A rodovia está duplicada entre Feira de Santana e Salvador, trecho pedagiado.  A partir de Feira de Santana segue duplicada também até o entroncamento de Tanquinho, na direção de Serrinha, trecho compartilhado com a BR 116. Daí em diante as duas rodovias se separam e a BR 324 segue em pista única até a região de Jacobina.

Do entroncamento da BR 324 com a BA 416, são 15 kms até a cidade de Gavião. Além desta cidade depender da BR, seus laços históricos estão ligados ao Rio Jacuípe, o mesmo que passa no distrito Santo Antônio, município de São Domingos. Como Valente e São Domingos, Gavião nasce também de uma fazenda. Tudo começa em 1812 quando um rico viajante conhecido por José Inácio, viúvo, gostou do lugar e comprou uma posse de terra às margens do Rio Jacuípe. No local construiu uma casa perto de uma quixabeira onde pela tarde se aninhavam muitos gaviões para dormir. Daí, José Inácio decidiu colocar o nome de sua fazenda de Gavião. Muito católico, construiu no local uma capela em louvor a Nossa Senhora da Conceição, que até hoje é padroeira oficial do município.

Mas a povoação veio aos poucos, graças ao passar constante de tropeiros e mercadores. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, Gavião surge como distrito do município de Riachão do Jacuípe, condição que se sustenta até quando é elevado à categoria de município, pela Lei Estadual nº 4410, de 19 de março de 1985, assinado pelo governador João Durval Carneiro. A sede municipal é instalada em 1º de janeiro de 1986.

Com uma população hoje próximo aos 5 mil habitantes, Gavião tem clima quente, localizado no Território Bacia do Jacuípe, no semiárido baiano, faz divisa com os municípios de Capim Grosso, Nova Fátima, Capela do Alto Alegre, São José do Jacuípe, Santaluz e São Domingos, ficando a 242 km de Salvador. A economia do município é baseada na agricultura e na pecuária de animais de pequeno porte como caprinos, ovinos, suínos e a criação de gado bovino, destacando-se a produção de leite.

Os destaques festivos ficam por conta das festas religiosas da Padroeira Nossa Senhora da Conceição, comemorada dia 8 de dezembro, e a Festa de São José, que coincide com a emancipação do município. Da cultura popular podemos destacar o samba de roda, cantigas de roda, boi roubado, festa de vaqueiros e o tradicional Festejo Junino, com a realização do São Pedro. Do Jacuípe e seus afluentes vêm as barragens para a prática de pesca e banho, como a Barragem dos Patos e cachoeirinhas como a das Bananeiras. O município se estende por 369,9 km² e conta com uma densidade demográfica de 12,1 habitantes por km². Até 2024, a cidade será administrada por Laurindo Nazário da Silva, do PSD.

Seguindo pela BR 324, 12 kms depois chegamos a Itatiaia do Alto Bonito. A impressão que se tem é que rivaliza com Gavião no tamanho, mas pode mesmo ser um pouco maior. A questão é que ainda é um distrito pertencente a São José do Jacuípe, desmembrado de Capim Grosso. A população do município é de cerca de 11 mil habitantes e metade parece morar em Itatiaia. Além disso, o comércio do distrito é bem desenvolvido, com ruas bem limpas e praças de estruturas harmoniosas. Do distrito sai a rodovia BA 413 que vai até o povoado Pereira, que pertence ao município de Santa Luz. A BR 324 é o principal motivo do alto crescimento do distrito de Itatiaia.

Seguindo sempre na direção noroeste pela BR 324, 14 kms após chegamos à cidade de Capim Grosso. Nos tempos passados, quem fosse a Jacobina a busca do ouro, quase sempre teria que passar por essa região. Os bandeirantes que cruzaram estas terras a busca de recursos minerais e naturais, por vários motivos, acabavam ficando por aqui. As primeiras aglomerações de pessoas tiveram início na década de quarenta quando a família do Senhor Zózimo Amâncio de Araújo, e sua esposa a Sra. Ursulina, decidem construir a primeira casa, acoplada a uma casa de farinha, nas proximidades de uma lagoa onde havia um capim de folhas grossas, provavelmente junco. Daí nasce o nome Fazenda Capim Grosso. O local da referida fazenda é hoje uma avenida movimentada e comercial, a Avenida Senhor do Bonfim.

O pequeno vilarejo passou a ser ponto de parada obrigatória para todos os veículos que trafegavam cortando duas importantes estradas, a BR 324 e BR 407, o que fez com que milhares de pessoas se interessassem e povoassem o lugar. Vale dizer que as duas rodovias eram estaduais e depois é que foram federalizadas. Por volta de 1940, a cidade recebe a primeira instituição de ensino, a Escola Paroquial, trazida por um padre austríaco chamado Alfredo Maria Haasler, missionário que atuou na educação e na assistência à saúde em toda região de Jacobina.

No ano de 1984, Capim Grosso tem sua emancipação declarada pelo Sr. Carlos Alberto Pires Daltro – o Dr. Carlito ou Carlitão – que na época era prefeito de Jacobina. Promulga e realiza o plebiscito público pela emancipação do já distrito de Capim Grosso. O pleito popular foi uma euforia. Em 09 de maio de 1985, Capim Grosso é declarada cidade de fato e realiza a sua primeira eleição, elegendo o Sr. Cesiano Carlos do Nascimento, como primeiro prefeito da cidade.

Além da localização privilegiado como entroncamento rodoviário, o município é banhado pela Barragem de Pedras Altas, responsável pelo abastecimento de quatorze municípios e mais de uma centena de localidades. A barragem está implantada no rio Itapicuru – Mirim. O sistema principal é vinculado a nove subsistemas que atendem os povoados de Capim Grosso. O município está circundado por São José do Jacuípe, Várzea da Roça, Ponto Novo, Gavião, e caminho natural para Jacobina, Nova Fátima, Queimadas, Capela do Alto Alegre, Mairi e parte do município de Caldeirão Grande.

Como centro comercial regional e uma população que já ultrapassa os 32 mil habitantes, Capim Grosso vai longe. Sua área territorial é de 336,183 km2, com uma densidade demográfica em torno dos 80 habitantes por km2 e se distancia de Salvador por 240 km. A sede do município fica a uma altitude de 416 metros.  O atual prefeito é José Sivaldo Rios de Carvalho, do PSD.

No próximo episódio será a vez do município de Jacobina.

Poço Verde: A morte de Rosarinho e o descaso com a SE 361

Rosarinho perdeu a vida por causa de um buraco na SE 361. Mas foi apenas isso? (Foto: Divulgação)

A notícia já é conhecida de todos: mais um acidente provocou a morte de mais uma pessoa nas imediações do povoado Santa Maria das Lajes, município de Poço Verde, na rodovia SE 361, que vai até a cidade de Simão Dias. Desta feita a vítima foi Rosarinho, de nome completo e idade até aqui ignorados. Sabe-se que é figura muito conhecida e irmão da vereadora Imperatriz Rosário (PT). O pai de Rosarinho é o conhecido Raimundo Rosário. Mais uma vida que se foi para a contabilidade do nosso descuido com a vida.

O acidente aconteceu no sábado (12) pela noite. Sabe-se apenas que Rosarinho tentou se desviar de um velho buraco em frente ao povoado. O local já é conhecido por vários outros acidentes, inclusive com vítimas fatais. Este novo fato revela o quanto as autoridades estão preocupadas com nosso povo. Em qualquer país civilizado do planeta, há estudos para verificar as causas de acidentes corriqueiros nas rodovias. A engenharia de tráfego mapeia o local e toma as providências para evitar novas ocorrências.

Mas aqui é Brasil, é Nordeste, é Sergipe! As coisas não funcionam bem assim. A rodovia foi recuperada há pouco tempo e os velhos problemas não demoraram a acontecer. Foram mais de 12 milhões torrados dos cofres públicos. Já ganharam a grana, quem se importa? As autoridades não estão muito preocupadas porque nosso povo é benevolente. Na hora do voto, não levarão em consideração projetos para o futuro, mas disputas locais e investimento em eleição. Rosarinho morreu, mas todos os dias morrem pessoas! Quem se importa?

E para não dizer que tudo é culpa das autoridades, vamos dizer que quase tudo é culpa dos que administram os vários órgãos criados para cuidar do nosso ir e vir. Uma pequena parte da culpa temos nós. Citamos apenas para ilustrar a várias vítimas de acidentes com motocicletas mortas sem o uso adequado dos equipamentos de segurança, inclusive o capacete. Parece que a falta de amor à vida não é só das autoridades. Rosarinho, logo após o acidente, foi socorrido e levado para o hospital de Poço Verde, mas veio a falecer. Será que pelo fato de ser irmão de uma vereadora as providências cabíveis serão tomadas?  

Percepções do Rio Paraguaçu - por Gilmar Ferreira

Projeto “CONEXÃO LEITURA”

Crônicas Peregrinação à FLICA

Festa Literária Internacional de Cachoeira - Bahia

Cachoeira-BA, 03 de novembro de 2022

Percepções do Rio Paraguaçu

Olá! Eu sou o Rio Paraguaçu, banho com minhas mansas águas a cidade de Cachoeira. Fiquei encantado ao ver tantos jovens estudantes banhando-se aqui, não em minhas águas, mas na Cultura e na Leitura que jorrava na 10° FLICA- Festa Literária Internacional de Cachoeira. Todavia, maravilhei-me com um coletivo estudantil que estava representando o Colégio Estadual José Dantas de Souza, o famoso CEJDS da cidade de Heliópolis – Bahia.

Ah! Não consigo esquecer o que li nos olhos do jovem Roberte Carlos, ele parecia atônito, alguém diria que aquele olhar era por estar assistindo bem de perto o famoso rapper MV Bill. No entanto, eu sei que não era só por isso. Na verdade, o que encheu os olhos do menino foi a mensagem transmitida na Poesia do cantor, que dizia assim:

(...)
“Já não é segredo o plano perfeito para matar
Quem não reclama fica no drama fica fadado a se acomodar
Vida de gado é tempo perdido, tamo de fora desse contexto
Mesmo sem combate tem abate sem pretexto
Independente de opiniões
País com mais de 200 milhões
Tá valendo alto cada tom de voz
Se não for a gente quem será por nós
Sem referência qualquer coisa serve
Tá insalubre com uma pá de verme
É a pureza de genética, sobra arrogância e falta ética
Com seu casaco de general cheio de anéis
JAHbless pra cada verso que decoro
Se o brasileiro renascesse como dinossauro
Certamente votaria em um meteoro”
(...)


Eu, um rio tão velho, fiquei encantado com o sorriso de Roberte, era a primeira vez que o víamos sorrindo. Ali, ao lado de MV Bill, o garoto tirara a sua foto para a posteridade...

Enquanto isso, eu continuava sendo levado pelo vento naquela viagem de contemplação à FLICA. Logo, observei o pensamento de Erickson Augusto César, outro estudante do CEJDS, ele, naquele exato momento, lembrava-se de uma de suas aulas da disciplina Arte com sua estimada professora Ariana Michele, recordava-se quando ela ao falar sobre a Arte Barroca apresentou para Erickson e para a turma uma fotografia da igreja que compõe o conjunto arquitetônico do Convento do Carmo. O jovem lembrou-se que viu aquela imagem num livro didático, contudo, nem imaginava o quão era linda aquela igreja de perto, com suas pinturas gigantescas, com grandes e grossas colunas e com suas paredes revestidas por pequenas camadas de ouro. Tudo era muito lindo e impressionante.  

Gostei muito de sentir a alegria e o encantamento do jovem Erickson. A velha Ponte Dom Pedro II até vive caçoando comigo, dizendo: “Eita! Rio Paraguaçu você está muito mais velho que eu mesmo; você vive contemplando poeticamente essa juventude que frequenta a FLICA todos os anos.” E, ela está certa mesmo, gosto de ver o semblante maravilhado dos jovens. Pensando nisso, não me esqueço do arrepio que vi na pele de Luís Filipe Dias Santos e de Luís Filipe Matos Silva; dava para sentir o quanto eles gostaram de ver as obras artísticas, as pinturas, os artesanatos, os monumentos históricos e todos aqueles pontos turísticos.   

Diante de tanta alegria observada no entusiasmo daqueles jovens até me senti jovem também, logo eu, um rio velho e cansado. Contudo, de uma coisa eu não me cansei, não me cansei mesmo, ao observar o menino Arthur Mota ali, assuntando, refletindo, imaginando quantas e tão diversas foram as pessoas que já havia passado por todas aquelas estruturas arquitetônicas do Brasil colonial e imperial.. Mas, teve outra coisa que me encantou... Foi quando vi Arthur comprando uns livros, pareciam brinquedos de criança, e, de fato, os livros são brinquedos, brinquedos que nos levam para todos os mundos imagináveis e inimagináveis.

Outro momento que deixou esse venturoso rio alegre foi a percepção de estar perto do garoto Sebastião Barbosa Fontes, gente sensível, percebi assim que ele tirou uma foto ali bem pertinho de mim. Ela acabara de estar perto também da poeta cordelista indígena Auritha Tabajara, pegou um autógrafo em seu braça, isso ficará marcado em sua mente para sempre. Assim como também ficará marcada a presença de Sebastião no espaço onde funcionou uma antiga prisão na cidade de Cachoeira nos séculos passados. Ali, cheguei até a ler o pensamento do menino quando ele refletiu consigo: “Só em imaginar o que pessoas que passaram ali... Dentro me dá arrepios; os sofrimentos que passavam, várias e várias pessoas morreram aqui, até mesmo gente inocente, mas, pessoas que não deixaram de acreditar que seu povo (os escravizados) um dia séria livre.”

Outra jovem que mexeu com a minha percepção foi a Maxilane de Souza Silva Gonçalves. Quando, da janela de um casarão da cidade de Cachoeira ela refletiu: “Para mim tudo foi muito significativo e importante pelo fato da FLICA querer despertar coisas como: o sentido do senso crítico na juventude, a mentalidade sobre os temas abordados acerca da diversidade; a importância da leitura; a importância de conhecer outras culturas e o que a própria cidade imprime para você que é saber do contexto histórico, pois que tem muita gente que não sabe, e isso tudo é marcante.” Eu, um rio antigo que se achava sábio, vi foi muita sabedoria naquela jovem. Enquanto eu ficava aqui encantado, Maxilane via a cidade, via livros e via a diversidade tão necessária para todos nós.

Sinceramente, foram muitos os momentos marcantes que observei na peregrinação dos jovens estudantes do CEJDS de Heliópolis à FLICA. Além dos já citados, cabe ressaltar que também estavam ali: Maria Eduarda Silva Gama, a Duda; Sabrina Santana Tavares e Vitor Andrade Santos. Com eles estavam os Professores Nilton Alex e Gilmar Ferreira. 

Outro grupo muito importante que esse saudoso rio gostaria de destacar é o do pessoal da Secretaria Municipal de Heliópolis, entre eles: Abraão Guerra, Monívia Oliveira e Jéssica Souza. 

Jéssica, que é coordenadora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede municipal de ensino heliopoliense e uma entusiasta no Incentivo à Leitura fez questão de confidenciar a esse maravilhado Rio o seguinte: “O que mais gostei fora o olhar encantador de um Professor – Gilmar Ferreira – ao proporcionar momentos assim para seus Educandos e o encantamento dos adolescentes pela vivacidade da história em cada canto da cidade de Cachoeira, onde aconteceu a 10ª FLICA.” Com as palavras dessa Educadora inefável, eu, o Rio Paraguaçu, despeço-me de vocês, na esperança de encontrá-los próximos de mim no ano que vem.

Gilmar Ferreira - Professor de Língua Portuguesa

Colégio Estadual José Dantas de Souza

Heliópolis – Bahia

Aqui ficam registrados nossos agradecimentos especiais à Eluiza Mendes – Secretária de Educação do Município de Heliópolis – e a Gilberto Jacob – Diretor do Colégio Estadual José Dantas de Souza.