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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Poucas & Boas nº 107

A polarização entre Lula e Bolsonaro está matando o futuro do país. (Foto: Folha/UOL)

Morte do futuro I

Estamos condenados a viver eternamente o presente e o passado imediato. Nosso futuro está morto. A assassina cruel do nosso porvir é a polarização. E antes que pensem que eu estou desligado da realidade, vale uma afirmação óbvia: o governo Lula é infinitamente melhor que o governo Bolsonaro. O PT sabe disso. Ora, pois, isso não significa que não mereçamos algo melhor. O que quero dizer é que Lula e o PT pararam no tempo e já não seriam mais poder se não estivéssemos Bolsonaro. Lula é o século XX, Bolsonaro anda lá pelo XVII. A incapacidade de o PT evoluir pariu Bolsonaro e criou na sociedade a ideia de que éramos felizes e não sabíamos. O governo Dilma foi o sinal de alerta de uma pregação desgastante e de uma prática incoerente. O bolsonarismo é a garantia de continuísmo do lulopetismo.

Morte do futuro II

Não falo de direita ou de esquerda porque tais ideologias nunca chegaram por aqui, exceto nos discursos. Falar em imperialismo americano, derrota do fascismo, ditadura do proletariado e outras pregações doutrinárias é tão ridículo quanto a teoria do terraplanismo. É uma desonra aos ouvidos de qualquer ser humano dotado de bom senso tais pregações, em pleno século XXI. Se as ideias de Bolsonaro são deploráveis, as de Lula som patéticas. Não condenar a Rússia pela invasão à Ucrânia, questionar mais Israel que os terroristas que invadiram o país e mataram centenas de pessoas ou afirmar haver democracia na Venezuela é tão ridículo quanto dizer que o Brasil vive um regime ditatorial, justificando, por isso, uma intervenção militar. É preciso romper com essa polarização. O Brasil não merece enterrar, mais uma vez, o seu futuro.

Bolsonaro preso

Enquanto for possível, vão prolongar esse lengalenga da prisão de Bolsonaro. Não que ele não mereça ou já não tenha motivos para isso. Num país sério, ele nem mesmo seria candidato. Mas para alimentar o ódio entre os polos, é preciso levar o discurso mais adiante. E tome mais inquéritos, denúncias e abertura de processos. Tudo na base do conta-gotas. A justiça não prende Bolsonaro porque não quer. Solto, o mito é um poço de idiotices. Isso alimenta a necessidade do país continuar com o PT, como se não houvesse mais nenhuma outra possibilidade, como se fôssemos uma nação sem ideias., como se não houvesse vida inteligente fora do bolsolulismo.

Francisco J C Dantas


Terminei a leitura do livro Uma jornada como tantas, do sergipano Francisco J C Dantas. O livro é um mergulho no interior de Sergipe da década de 1950 e um convite a perceber quão trágico é o nosso atraso, além de pagarmos um preço alto por isso. Apesar do tema sério, o livro está longe de ser pesado. A linguagem, marca registrada de Chico Dantas, sempre é um atrativo. A mesclagem do sergipanês com o português erudito é o cartão de visitas da obra. Eu destaco as descrições das paisagens interioranas como pura poesia. A leitura me deixou ainda mais indeciso sobre qual o melhor livro de Francisco J C Dantas: Coivara da memória? Os desvalidos? Cartilha do silêncio? Sob o peso das sombras? Caderno de ruminações? Uma jornada como tantas? Enquanto perdura a dúvida, já vejo na minha frente Moeda vencida, seu último livro. Será que resolvo este enigma?

Adailton Fonseca


Soou como surpresa para o secretário Adailton Fonseca a postura dos vereadores governistas da cidade de Adustina. Eles fizeram uma reunião e deixaram claro que gostariam de que o prefeito Paulo Sérgio indicasse dois vereadores para a chapa majoritária que disputará o pleito deste ano. Na cartola, um forte argumento: como o município perdeu população, o número de vereadores cairá de 11 para 9. Portanto, dois cairão fora do plenário. Curioso é que eles não estão contando com a renovação. Se o eleitor tiver juízo, vota para que apareçam novos nomes representativos na Câmara Municipal. Isso é bom e a democracia agradece. A zanga de Adailton com a proposta é que ela afasta de vez o seu nome da candidatura a prefeito. Que é isso, companheiros vereadores!

Vexame populista


O populismo é uma desgraça para o país. O político populista joga por terra toda a lógica da existência da ideia do agente público como servidor do povo. Na tentativa de explicação de Iggor Canário, contratado da festa de Poço Verde agora em janeiro, sobre uma confusão que protagonizou, o prefeito de Poço Verde – ou outro Iggor, desta vez Oliveira, estava literalmente maluco ao lado do cantor. A cena é patética. Pior é que há pessoas que consideram tal comportamento como algo benéfico para uma trajetória política de sucesso. O problema é que isso não rima com eficiência, qualidade ou boa gestão. Poço Verde merece bem mais.

Tá liberado

Um eleitor de Fátima se queixou de um vídeo em que eu questiono as matrículas da EJA em municípios da região, inclusive em Fátima. No vídeo eu questiono o prefeito Binho de Alfredo sobre os números excessivos de matrículas. Os partidários de Sorria, o ex-prefeito, massificaram a publicação nas redes sociais. Não se preocupem. Está liberado. Podem usar à vontade, inclusive todos aqueles vídeos em que eu elogio a administração do Manoel Missias. Há inúmeros.

Padre João


O mês de janeiro de 2024 ficará na história como o mês da morte. Acidentes, assassinatos, execuções, tiroteios e as chamadas mortes naturais. Entre elas destaco a morte do Padre João Maranduba. Natural de Poço Verde, foi pároco em Heliópolis por muitos anos, até a falta de saúde deixar. Das suas obras podemos destacar a reforma da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Faleceu no último dia de janeiro. Missa de corpo presente foi celebrada antes do seu sepultamento no dia de ontem. Cumpriu sua tarefa sacerdotal.

Serra do Ramalho - Cidades do Velho Chico 13

Trafegando pela BA 161, vindo do município de Carinhanha, assim que chegamos nas terras do município de Serra do Ramalho, os povoados e lugarejos mudam de nomes, passando todos a se chamarem de agrovilas, cada um com sua numeração. Mas por que isso? Bem, antes de mais nada, nosso trabalho merece que você se inscreva no canal. Ou que tal um like simpático? Vamos lá! Não custa nada e o canal cresce com isso. Obrigado. Sim, mas vamos para o assunto deste Cidades do Velho Chico, hoje contaremos a história de Serra do Ramalho.

É preciso entender que, antes da década de 50 do século passado, não havia quase que povoações na região. O que se tinha era uma mata complexa e virgem, com caatinga, cerrado e vegetação Hidrófila. Possuía uma grande mancha formada de espécies nobres, como cedro, aroeira, baraúna e outras madeiras nobres. A terra era fértil para lavoura e com pastos para o gado. Além do São Francisco, tem o rio Carinhanha, o Formoso e o Corrente, além de correr na encosta da Serra riachos e córregos intermitentes. Não havia, pois, registro de uma nação indígena que pudesse se firmar como naturais do lugar. Os primeiros desbravadores da região foram os bandeirantes. Existem, entretanto, vestígios da presença indígena, embora não haja registros sobre os grupos indígenas que habitavam o local. Acredita-se que seriam do tronco linguístico macro-jê.    

Foi o Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária que criou e implementou o Projeto de Colonização de Serra do Ramalho, em forma de agrovilas. Antes porém de tudo isso começar, por volta da década de 1950, imigraram para a região os índios Pankarus, guiados pelo Cacique Apolônio Kinane. A notícia do interesse do governo federal pela região estimulou a ação de grileiros. A posse da terra onde habitavam os indígenas foi reivindicada por um fazendeiro. Apolônio chegou a ser preso ao lado de membros de sua família.  A coisa chegou a um norte, cabendo aos indígenas a homologação de cerca de mil hectares em 1991, onde hoje se localiza a Aldeia Vargem Alegre e um lote de três hectares na Agrovila 19, com 50 casas, distante da sede municipal 22 Km e do Rio São Francisco aproximadamente 30 Km, no sentido oeste. O Cacique Apolônio morreu em 2002, depois de percorrer vastas paragens desde sua origem em Pernambuco e receber as terras após descobertas de minérios. Viveu pela região em paz até os anos 70.  Um decreto presidencial, publicado em 1973, declarava a região do Médio São Francisco prioritária para desapropriação, para reassentar os desabrigados do lago de Sobradinho. Inúmeras famílias das agrovilas são originárias da região de Casa Nova.  

A partir de março de 1976, o povoamento da região foi intensificado pelo afastamento das populações desalojadas. Vieram famílias de Pau-a-Pique, Bem-Bom, Intas e Barra da Cruz, todos povoados engolidos pelas águas em Casa Nova. Estas famílias foram assentadas em um casebre e um lote de 20 hectares em um sistema de agrovilas. Segundo o projeto original, as agrovilas concentrariam as casas dos colonos, cerca de 250 por agrovila. Das 20 agrovilas, duas ficam em Carinhanha – a 15 e a 16. A agrovila que mais cresceu foi a 9 que, em 1989, ficou como sede do município de Serra do Ramalho, por força da Lei Estadual de número 5.018 de 13 de junho de 1989, desmembrando a região do município de Bom Jesus da Lapa. As agrovilas mais bem estruturadas ficam ao longo da BA 161. A agrovila com menores recursos é exatamente a 19, onde vivem os Pankarus.

O crescimento de Serra do Ramalho é positivo e constante, apesar dos índices de desenvolvimento humanos serem baixos. O município faz limites com Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Santana, Malhada e São Félix do Coribe. Fica distante de Salvador por 845 kms. Sua área total é de 2.677,366 km², que abriga uma população de 34.222 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica de 12,8 habitantes por km². A riqueza de suas terras são justificáveis por habitar o vale entre a Serra do Ramalho e o rio São Francisco. A sede municipal é muito organizada e com boa estrutura. As praças são amplas, o comércio é pujante e tem uma praça de eventos completamente murada. Seu povo é essencialmente formado por trabalhadores agrícolas.