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Do Sertão ao Centro-Oeste: BA 408, Araci, Poço Grande, Tapuio, Várzea da Roça e Santa Luz. Episódio 01

Iniciamos esta série por uma estrada de cascalho que liga o município de Araci ao de Santa Luz. São cerca de 41 quilômetros pavimentados de promessas e mais promessas de asfaltamento. Trata-se da velha e conhecida BA 408, que um dia chegou a ser denominada como BR 224, sonho nunca saído do papel. Nos finais dos governos Paulo Souto e Jaques Wagner, o asfaltamento foi prometido. Agora, no último ano do governo atual, em pleno 7 de abril de 2022, mais uma vez é prometida a tão sonhada pavimentação, nos trechos de Araci a ao distrito de Salgadália, no sentido Conceição do Coité, como do trecho Araci para Santa Luz, que estamos percorrendo. E não é de agora que grupos sociais da cidade reivindicam o asfaltamento, caso do Movimento Arroz. No dia 25 de agosto é anunciado apenas o asfaltamento de 18 kms, até o distrito de Poço Grande. Caso as obras sejam iniciadas ainda este ano, a promessa ficará pela metade.

 A primeira povoação às margens da estrada é a pequenina comunidade de Lagoa Nova, de formação bem recente, localizada próximo a uma fazenda onde era realizada uma vaquejada, quando a propriedade pertencia ao advogado Genebaldo Queirós, já falecido. Lagoa Nova fica a cerca de 12 kms da cidade de Araci e seus moradores dependem basicamente da agricultura.

Mais 7 kms depois, chega-se ao distrito de Poço Grande, que teve sua população ampliada com a inauguração da barragem construída em 1964 pelo Dnocs – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca. A comunidade é dividida em duas partes, cada uma localizada nos dois lados da trincheira. Sua população hoje gira em torno dos 3 mil moradores, que vivem da pesca e do turismo. No local há o Complexo Turístico de Poço Grande, bastante concorrido nos fins de semana e feriados. As águas armazenadas do Riacho Carnaíba, que nasce no município de Valente, são um atrativo para toda a região, principalmente nos períodos de intenso verão. Poço Grande conta ainda com uma pista de pouso de cascalho batido, para pouso de aviões de pequeno porte, construída especialmente para tornar possível o acesso de autoridades que vinham fiscalizar e viabilizar a construção da Barragem.

Seguindo pela estrada levemente molhada por uma chuva fina, 10 kms depois chegamos ao distrito de Tapuio. A povoação é a mais populosa dentre os distritos de Araci. No último levantamento, sua população chegou a 5 mil moradores. Tapuio recebeu este nome por ter sido local de morada dos índios Tapuias e hoje conta com razoável estrutura, inclusive escola estadual, além de unidade básica de saúde. O padroeiro local é São José, mas a festa mais famosa é a de São Pedro. Há uma forte ligação nossa com o distrito porque foi aqui que o meu pai, Valdemar Pereira Lima, viveu seus últimos dias cruzando estas estradas com um caminhão, levando feirantes para escoar sua produção agrícola em diversas feiras da região.

Seguindo pela BA 408, 6 kms adiante, chegamos ao distrito de Várzea da Pedra, localizado na divisa entre Araci e Santa Luz. A parte maior da povoação está em território araciense, mas a divisão é feita pelas ruas da localidade. Várzea da Pedra fica a 36 kms de Araci e a 18 de Santa Luz. Possui uma população total de 3 mil habitantes, dois terços no município de Araci. Sua população católica tem como padroeira do lugar a Senhora Santana. O comércio é bem desenvolvido, mas é a agricultura e a pecuária as principais atividades econômicas do lugar, apesar do enfrentamento de períodos fortes de estiagem. Há escolas municipais administradas por ambos os municípios e uma sociedade civil organizada que luta pela implantação e melhoria dos serviços públicos no distrito.

Ainda no trajeto para Santa Luz, pela BA 408, 6 kms após Várzea da Pedra chegamos ao simpático povoado de Boa Esperança. A povoação é um importante entroncamento para várias localidades de Santa Luz, com estradas que dão acesso ao açude do Riacho da Cruz e ao povoado Ferreiros. De Boa Esperança a Santa Luz são pouco mais de 10 kms.

Quem vê Santa Luz hoje não imagina que a cidade nasceu de uma estação ferroviária da Leste Brasileira, construída numa fazenda denominada Santa Luzia, que pertencia ao município de Queimadas. Com o ir e vir intenso de pessoas, logo o local passou a condição de arraial. A condição de município, criado com a denominação de Santa Luzia e território desmembrado do município de Queimadas, ocorreu por Decreto Estadual de 18 de julho de 1935. Em 1938, foi elevada à categoria de cidade por Decreto Estadual de 30 de março daquele ano. A denominação atual ocorreu em 1943, quando alteraram o nome para Santa luz. Nos dias atuais, a cidade se mostra pujante e o município se estende por 1623,447 km². Sua população beira os 40 mil habitantes, que encontra quase tudo no comércio local.

O município dá as cartas nas artes, passando pela Literatura, o artesanato a base de barro e sisal. A música vem do reisado ao rock, este último forjado pelo Movimento Rock Santa Luz. Apesar da falta de apoio das autoridades, a cultura marca presença até mesmo na arte alternativa. Há também um lado esquecido da cidade e que poucos fazem questão de lembrar. Por ser uma cidade ferroviária, na primeira metade do século XX, Santaluz ficou conhecida por ser a cidade repleta de prostíbulos. Coronéis de toda a região eram frequentadores famosos. Ainda insiste sobreviver na memória popular o incêndio que destruiu um destes prostíbulos, matando quase todas as prostitutas.   

Hoje Santa Luz respira modernidade e atrai investimentos, principalmente por ter pedras de granito como parte considerável de sua economia. Também o município passou a ter minas de ouro em seu território. Certo dia chegaram a anunciar uma pepita de ouro de 804 gramas extraída de suas terras. Esta diversificação econômica é fundamental para o crescimento do município e de sua renda per capita. São tantas as coisas que fazem Santa Luz progredir que fica até difícil achar que ela esteja localizada na região sisaleira. O agave ainda gera muito dinheiro, mas deixou de ser o senhor da economia local.