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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Canindé do São Francisco: Portal do Velho Chico!

Saindo de Santa Brígida, no nordeste baiano, é possível chegar ao município de Canindé do São Francisco por estradas vicinais. A opção por asfalto passa pela BR 110 até Paulo Afonso, depois pegando no sentido leste a rodovia BR 423 e depois a AL 220 e a 225 até Piranhas, que é o caminho mais longo. Outra alternativa é seguir pela BR 110 e, próximo a Paulo Afonso seguir pela BA 210 e adentrar em Sergipe pela SE 230 até Canindé. O caminho por Santa Brígida é o mais curto, mas boa parte é feita em estrada de barro batido. Depois de deixar a cidade, segue a BA 305 por 3 kms. Na bifurcação, tomar a esquerda numa estrada vicinal que nos levará até o Riacho do Minuim, divisa natural entre os dois estados, num percurso de aproximadamente 11 kms. Depois da passagem do riacho, já estamos no município sergipano de Canindé do São Francisco. Ainda seguindo por estrada de barro batido, 14 kms depois chega-se ao cruzamento com a rodovia SE 310, ainda sem asfaltar, que vai em sentido norte para o povoado de Curituba. No local do cruzamento fica a comunidade de Lagoa do Frio. Deve-se seguir sempre no sendo leste por mais 8 kms e encontrar a SE 230. Esta rodovia se encontra em perfeito estado e chega-se a Canindé 10 kms depois sem maiores problemas.

Canindé do São Francisco está localizado no extremo noroeste do estado de Sergipe, distante 213km de Aracaju. É o portal de entrada para os passeios nos cânions do rio São Francisco. Sua população beira os 32 mil habitantes e já foi cenário para várias produções da Rede Globo, inclusive Amores Roubados, Cordel Encantado e a inesquecível Velho Chico. Para os turistas do Rio São Francisco, há uma orla fluvial denominada Salomão Porfírio Britto, cenário de uma das mais belas paisagens do rio que divide Sergipe de Alagoas. Além disso, há visitações guiadas para a Usina Hidrelétrica de Xingó e seu Museu de Arqueologia.

Mas toda localidade tem sua história e Canindé do São Francisco está ligada ao morgado de Porto da Folha. O território teve sua penetração através do rio Curituba em 1629. Apesar disso, no final do século 19 só havia quatro fazendas no território. Foi aí que Francisco Cardoso de Brito Chaves, conhecido por Coronel Chico Porfírio, comprou ao capitão Luiz da Silva Tavares o referido morgado construindo nele a sede da fazenda e um curtume de couro em sociedade com o Coronel João Bernardes de Brito, chegando o mesmo a ser mecanizado, fato que contribuiu para formação do povoado.

Em 7 de novembro de 1899, pela Lei estadual nº 368, o povoado foi elevado à sede de Distrito de Paz. Só que esta Lei foi revogada. Somente pelo Decreto-Lei nº 69, de 28 de março de 1938, foi restabelecida a condição de sede de distrito. Já a Lei estadual nº 525-A, de 25 de novembro de 1953, elevou o povoado à cidade e sede do município de Curituba, o qual foi instalado em 6 de fevereiro de 1955.

Canindé do São Francisco fazia parte da sesmaria de 30 léguas de terras, concedidas aos Burgos, família da Bahia chefiada pelo desembargador Cristóvão Burgos e Contreiras - que lhes foi doada em 1629 pelo governador de Pernambuco, D. João de Souza. Essas mesmas terras pertenceram depois ao Morgado de Porto da Folha, instituído por Antônio Gomes Ferrão Castelo Branco. Conforme registro na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, nos tempos do Brasil Colonial, o território de Canindé foi devassado pela cobiça das bandeiras. Mas, por causa da seca que sempre castigou toda a região sertaneja, os primeiros desbravadores acabaram perdendo o interesse pelas terras, apesar da grandeza do Rio São Francisco.

Mas a cidade sempre apresentou duas partes. A mais alta era chamada de Canindé de Cima, onde havia algumas taperas pertencentes aos pescadores João e José Alves, Ota, José de Terto, Libório, Antônio Fininho, Neco de Carlota e a outras famílias. Na de Baixo, onde foi implantado o curtume, surgiram várias casas, transformando a povoação numa das mais importantes da beira do Velho Chico. Em 1936, a comunidade já contava com 120 casas e uma capela. Por isso ganhou a condição de 2º Distrito de Paz de Porto da Folha. Por volta de 1940, o curtume foi desativado, causando enorme prejuízo à vila, mas não impediu sua caminhada para a emancipação com o nome de Curituba. Hoje, Curituba é o nome de um povoado pertencente ao município. O primeiro nome oficial do município não foi muito bem recebido pelo povo. Por isso, em 1958, a lei nº 890, de 11 de janeiro, devolveu ao município seu nome de origem indígena, que significa arara e papagaio, e passou a se chamar Canindé do São Francisco.

A foto do fato: O largo abandonado!

Este é o Largo da Santíssima Trindade, em pleno centro da cidade de Poço Verde, no Estado de Sergipe. Fica de frente ao Banco do Brasil e da Prefeitura Municipal. Nem mesmo os demarcadores colocados para sua revitalização resistem ao tempo. Tudo se deteriora. O estado do largo é o retrato da administração municipal, corroída pela incompetência e sustentada pela idolatria. Haverá pessoas que ainda tentem livrar a culpa do atual gestor, mas a imagem do local revela o tratamento dispensado ao dinheiro e aos espaços públicos. O povo de Poço Verde não merece essa vergonha!

Do Sertão ao Centro-Oeste: Luís Eduardo Magalhães e as BRs 242 e 020

Saímos de Barreiras e seguimos pela BR 242, em direção a Luís Eduardo Magalhães. Como não poderia deixar de ser, a rodovia tem um tráfego intenso de caminhões, transportando as diversas safras do agronegócio. A região é denominada de Matopiba, uma referência à concentração da produção agrícola que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Para onde quer que se olhe, fica óbvia a ligação da região com a exportação de grãos para os principais centros consumidores do mundo. 

 Ao lado de Barreiras e Formosa do Rio Preto, Luís Eduardo Magalhães completa o tripé de maiores produtores de grãos da Bahia e do Brasil. A história do município se confunde com a linha de constante crescimento do agronegócio por esta região. Mas tudo começou bem antes do Matopiba.  

Em 1974 chega à região os baianos Enedino Alves da Paixão, conhecido por Negão, e sua esposa Maria Firmino de Jesus, com seus oito filhos. Instalaram-se no entroncamento das BRs 242 e 020, construindo uma pensão que alojava os caminhoneiros que transitavam pelas BRs. Oito anos depois, o pecuarista Hipólito Cardoso Ferreira e o empresário goiano Arnaldo Horácio Ferreira adquirem uma área de terra equivalente a 182.000 ha. Começam a chegar pessoas para trabalhar no campo. Em 1984 é fundado o povoado de Mimoso do Oeste. Cinco anos depois nasce o distrito de Mimoso, pertencente ao município de Barreiras.

Desta época são registradas as chegadas de pecuaristas e agricultores oriundos do sul do país em busca de melhores condições de vida, atraídos pelas características da topografia e grande abundância de água. Nasce daí a fronteira agrícola de hoje. Dentre estes agricultores e pioneiros, encontravam-se os senhores Adelchi Pereira Ramos, Jacob Lauck e Amélio Gatto. Também nos anos 1980 chegaram, Luís Hashimoto, Eduardo Massao Yamashita, Constantino Catarino de Souza, Ottomar Schwengber. Aliás, é bom lembrar que foi a família Schwengber que fundou o primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) da cidade. Siegfried Janzen, conhecido como Toni, de Dianópolis, no Tocantins, fundou a primeira Associação de Moradores de Mimoso do Oeste. O casal Aparecido Cirilo e Amélia Pontes Costa Cirilo, dona Amelinha, 1ª enfermeira da região, também fazem parte desta história. 

Mimoso do Oeste virou Luís Eduardo Magalhães, emancipado de Barreiras em 30 de março de 2000, através do projeto de Lei nº 395/1997. O nome foi uma homenagem ao filho do ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, escolhido após referendo. LEM, como é mais conhecida, hoje possui a 7º economia do Estado da Bahia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com um Produto Interno Bruto (PIB), de R$ 6,2 bilhões. É o maior exportador da Bahia, com participação de 16,74%, o que representa US$ 1.281.454. O município é um dos maiores produtores de soja, com 569.904 toneladas, de algodão - 78.024 toneladas - e milho com 133.650 toneladas na safra 2019/2020.

Quando se desmembrou de Barreiras, o então povoado de Mimoso do Oeste não passava de um ponto de apoio na BR 242, a estrada que liga a Bahia a Goiás. A população, que era de 18 mil habitantes, saltou para os atuais quase 110 mil. Vem gente de todo o lugar do Brasil e do mundo, principalmente do Sul do país. É o local onde menos se ouve o baianês. A capital do agronegócio baiano, completa agora em março 23 anos apenas e é uma das cidades que mais crescem no país. E com a expansão da soja e do algodão, chegaram indústrias, lojas, grandes revendedoras. Sem falar da expansão urbana, com prédios sendo erguidos por todo lado. A construção civil, os serviços e o comércio são as áreas da economia que mais crescem. Só as lojas de máquinas e equipamentos agrícolas movimentam mais de R$ 1 bilhão por ano.

O crescimento de LEM foi graças à irrigação. Dos 3,1 milhões de hectares cultivados, 171 mil são irrigados. No sequeiro, os produtores colhem só uma safra por ano, mas com os pivôs eles levam vantagem. Além da garantia de duas colheitas por ano, uma de soja, e uma de algodão, nas áreas irrigadas a produtividade costuma ser em média entre 15% e 20% maior que no sequeiro. Uma só fazenda da região, por exemplo, tem 28 pivôs de 1,8 mil metros de extensão. Cada um irriga 350 hectares. A cada minuto, o pivô avança 5 metros e a cada 21 horas ele fecha o círculo. Para dar a volta inteira, 15 milhões de litros de água são gastos. O maior volume da água que irriga as terras do Oeste vem de duas bacias hidrográficas: rio Corrente e rio Grande, afluentes do São Francisco. O aquífero Urucuia, que passa na região, também ajuda.

Todo mundo sabe que há o lado ruim desse processo. Há divergências na avaliação dos impactos negativos causados pela irrigação. Estudos apontam que a vazão dos rios vem diminuindo nos últimos anos e que no futuro eles podem secar. Mas também tem pesquisas que afirmam que há equilíbrio entre a demanda e a oferta de água. O geógrafo Tássio Cunha analisou dados da Agência Nacional de Águas e afirma que já é possível mensurar as perdas. Ele disse ao G1 que há uma diminuição da vazão dos rios em torno de 27%. Também há uma diminuição das chuvas nesse período, porém, os dados de chuva equivalem a praticamente metade da diminuição da vazão, então há um apontamento de que pode existir um déficit no balanço hídrico presente na região.

Também não se pode esquecer que o crescimento econômico de Luís Eduardo Magalhães apresenta o lado negativo. Da mesma forma que a cidade cresce, crescem os problemas sociais. Há dezenas de homicídios por ano, fruto da desigualdade. Além disso, há problemas de saúde pública e da falta de qualidade na educação. Quem passa pela cidade vê logo o contraste: condomínios de luxo de um lado, bairros pobres, sem urbanização do outro, mesmo a prefeitura tendo uma das melhores receitas entre os municípios do Oeste baiano.

Luís Eduardo Magalhães ainda vai crescer muito e o desafio é crescer de forma justa, com diminuição considerável da pobreza, transformando bairros pobres em condomínios de moradias dignas. Também precisa que a atividade agrícola retribua ao meio ambiente parte das riquezas extraídas do seu solo fértil. Os rios precisam continuar nos seus cursos e o cerrado não pode desaparecer. Ou seja, LEM pode ser cenário de uma prática moderna de agronegócio sustentável.

Depois de conhecermos bem a cidade, pretendíamos seguir viagem para Goiás e seguimos pela BR 020. Só que, depois de algumas dezenas de quilômetros rodados, um dos pneus do Mobi simplesmente estourou. Como as distâncias no Oeste são sempre generosas, resolvemos voltar a LEM. Como o comércio já estava fechado, dormimos na cidade. No outro dia compraríamos um pneu e seguiríamos viagem para Brasília.