O leitor aqui do Contraprosa já sabe minha opinião sobre os políticos brasileiros hoje, com sua esmagadora maioria dançando conforme a música, num sistema completamente falido, prestes a enterrar o Brasil no lamaçal da incompetência e da ignorância. Mas no meio dessa sujeira toda, há alguns com oportunidades de escrever o nome por décadas nos anais da administração pública e, mesmo diante de tanta desgraça, ser considerado um estadista ou grande gestor. Quando não se sabe contornar o sistema para gerar os frutos comuns e corriqueiros, é preciso usar a inteligência para não ser engolido pelo reverso do que ele pode produzir. O sistema é planejado para produzir corrupção, mas é preciso contorná-lo para gerar também votos e prestígio, mesmo que isso seja apenas ilusão. Cabe então uma pergunta: o que faz o prefeito José Mendonça com uma administração tão pífia?
É costume dos políticos, por força da reeleição, praticar no
primeiro mandato o que nós chamamos de maquiagem na administração pública,
iludindo o eleitor. Ricardo Maia fez isso com sucesso em Ribeira do Pombal e
está colhendo os frutos agora. Outros prefeitos, embora não tenham praticado
tal performance de forma tão explícita, fizeram outros eventos, a partir de
circunstâncias locais. Dr. Ricardo em Cícero Dantas, Germano na Ribeira, Paulo
Sérgio em Adustina, Iggor Oliveira em Poço Verde, só para citar alguns. Nenhum
deles trouxe nada de novo, fez transformação alguma. Apenas moveram as peças do
xadrez embelezando a paisagem ou se locupletando do sistema. E Mendonça, o que
está fazendo?
Afora a maquiagem feita no sistema de saúde, que deu alívio
temporário ao povo, é incrível como o prefeito não está conseguindo realizar
tarefas fáceis, comuns do dia a dia de uma administração. Uma simples correção
no calçamento de uma rua pode levar meses. Algumas ainda não foram corrigidas
ao longo de todo seu mandato. É incrível atestar que o ano letivo começou sem
haver transporte escolar em algumas localidades. No povoado Arrozal, por
exemplo, apesar de ter levado calçamento público, não consegue atender a
simples tarefa de colocar um ônibus escolar para servir aos estudantes de forma
efetiva. Na última semana, alunos ficaram sem fazer prova na segunda-feira
(15.05) porque o veículo quebrou mais uma vez. Pais e mães tiveram que se
juntar para alugar um carro, de forma emergencial, para que seus filhos não
perdessem as outras avaliações do restante da semana.
Há certas coisas na vida, e também na política, que marcarão
as pessoas para o resto da existência. Lula pode gritar o quanto quiser, mas
não apagará a corrupção do Mensalão e Petrolão da história. Basta saber que já
há maioria para condenar Fernando Collor de Melo a 33 anos de prisão pelos
malfeitos na BR Distribuidora, no segundo mandato do governo Lula. Sim, isso
mesmo! O homem que o petista já chamava de ladrão nos anos 90 virou aliado de
governos do PT. Agora a conta chegou. Lula tinha razão nisso aí! Duvidamos que
aconteça, mas Bolsonaro se arrependerá amargamente, mesmo que intimamente, de
não ter se vacinado e incentivado vários dos seus seguidores a não o fazer. Era
só uma picadinha, uma foto no jornal e milhares de pessoas salvas, diminuindo a
conta dos setecentos mil mortos. Está pagando caro e vai continuar sangrando
até desaparecer da memória do povo.
O povo do Arrozal vai esquecer um dia o benefício do
calçamento, mas guardará na memória afetiva as quebras dos ônibus escolares e
as aulas perdidas. Os doentes ficarão sãos e podem não mais se lembrar do
médico que os atendeu no posto médico, da enfermeira que aplicou a injeção ou
da atendente que lhe forneceu o remédio na farmácia do município, mas guardará
com suplício o buraco na rua que não foi tapado ou o esgoto que escorre a céu
aberto e exala seu odor insuportável. De tanto ver desmandos nas administrações
públicas, o cliente desta república até aceita, infelizmente, a corrupção como
algo inerente à política. Entretanto, deixar de atender o básico, aquilo que é
fundamental para continuarmos seguindo, mesmo cambaleando, os ditames do
processo social, é um perigoso teste da paciência do povo.
O atual prefeito de Heliópolis já jogou fora uma farmácia e
uma lotérica. Parece que seu último ato é atirar pela janela a oportunidade de
ser reconhecido como, pelo menos, um prefeito razoável, o que já seria
suficiente para reelegê-lo. É bom lembrar que Walter Rosário só não se reelegeu
porque desprezou estes pequenos detalhes e até hoje paga caro pelo seu desastre
administrativo. Não somos donos de nenhuma verdade, mas é certo dizer que ou
Mendonça está centralizando tudo e não deixando sua equipe trabalhar, ou os
seus auxiliares são incompetentes. Mas há ainda uma terceira hipótese: ele é
centralizador e os seus auxiliares incompetentes. Neste último caso, não há
saída e a derrota em 2024 serão favas contadas. Só restará então saber se ele
perderá para o novo ou para o de sempre.