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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Senhor do Bonfim: Um Lugar no Sertão - episódio 6

A nossa viagem da série Um Lugar no Sertão continua. Deixamos Andorinha reservada na memória e no coração e seguimos ao capítulo 6, dedicado ao município de Senhor do Bonfim. A BA 220, de Andorinha para Senhor do Bomfim, é toda asfaltada. São 45 kms que separam as duas cidades. É uma região densamente populosa porque no meio do caminho tem Pereiros, Queimadinha, Igara e Baraúna. O distrito de Igara é o mais populoso de Senhor do Bonfim. São mais de 10 mil habitantes, já com ares e estrutura de uma pequena cidade. Sua grandeza é tão significativa que o distrito está recebendo asfalto em várias ruas e avenidas. Do distrito de Igara para Senhor do Bonfim são apenas 12 kms. A partir de agora, contaremos sua história.

A colonização por aqui se confunde com a busca por pedras preciosas e a criação de gado. Já no século XVI, portugueses pertencentes à Casa da Torre, de Garcia D’Ávila, organizavam expedições com destino ao rio São Francisco e às minas de ouro de Jacobina, iniciando a ocupação do interior da província e a formação de vias de comunicação com o litoral. O território onde hoje está localizado Senhor do Bonfim era zona de passagem das expedições. Logo virou uma rancharia de tropeiros no século XVII, servindo de pouso para vaqueiros, bandeirantes e desbravadores que transitavam naquela região.

No final do século XVII, precisamente em 1697, a Ordem dos Frades Menores ou Ordem dos Padres Franciscanos cria a Missão do Sahy. No Arraial, estabelecido nas proximidades de uma aldeia pataxó, foram construídos convento e igreja sob invocação de Nossa Senhora das Neves. Em 1720, o arraial do Sahy passou à categoria de Vila, sediando a comarca de Jacobina até 1724, quando a sede foi transferida para a Vila de mesmo nome. Sahy hoje é um distrito de Senhor do Bonfim, localizado a 9 kms do centro da cidade sede, seguindo pela BA 131, rodovia que segue com destino ao município de Antônio Gonçalves. No Monte Tabor, localizado no distrito, ainda podem ser encontradas ruínas das edificações realizadas pelos padres franciscanos, principalmente de uma capela no topo da elevação. Foi graças à Missão do Sahy que foi possível o surgimento de povoações como de arraial de Senhor do Bonfim da Tapera, primeira comunidade formadora de Senhor do Bonfim graças ao grande número de tropeiros, aventureiros e peões vindos de todo o Nordeste. 

Com o crescimento da atividade pecuária, a expansão das pastagens e o consequente avanço da ocupação do sertão baiano, pessoas chegavam ao local e não tinham autoridades no arraial para impedir a desordem. A partir de 1750, o núcleo contava com várias edificações e com população estabelecida. O crescimento veio a galope. Em 1797, por força de uma Carta Régia , é criada a Vila Nova da Rainha, no dia 1º de julho daquele ano. A vila foi instalada em 1º de outubro de 1799 e já contava com 600 habitantes. Em 1885, em 25 de maio, Vila Nova de Rainha muda o nome para Bonfim e ganha a condição de cidade. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 141, de 31 de dezembro de 1943, retificado pelo Decreto Estadual n.º 12978, de 1º de junho de 1944, o município de Bonfim passou a ser denominado de Senhor do Bonfim. Depois das emancipações de Jaguarari e Andorinha, Senhor do Bonfim hoje é formado por 5 distritos: Senhor do Bonfim (sede), Carrapichel, Tijuaçú, Missão do Sahy e Igara. 

A cidade está localizada a 375 kms de Salvador e fica numa região densamente povoada no centro norte da Bahia. Sua população é de 74.523 pessoas, censo de 2022, e tem densidade demográfica de 94,41 habitante por quilômetro quadrado. De clima quente e úmido o ano todo, seu bioma é a Caatinga. O município possui uma forte tradição de festas juninas e é considerada a capital baiana do forró. Senhor do Bonfim faz limites com os municípios de Jaguarari, Filadélfia, Andorinha, Itiúba, Campo Formoso e Antônio Gonçalves. Apesar de ter alta taxa de urbanização e ser o 23º município em população na Bahia, ocupa apenas o 210º nos dados sobre mortalidade infantil, com alta taxa de 13,86 óbitos por mil: 140º lugar na renda per capita, com apenas algo próximo de 12 mil reais por habitante; e a taxa de escolarização ocupa a posição 121 no ranking do estado. Tudo isso mostra o tamanho do desafio que enfrentam as autoridades para sanar com a desigualdade social, caso queiram, de fato, resolver os graves problemas de Senhor do Bonfim.

A cidade está localizada no sopé sul da Serra do Gado Bravo, extensão da Chapada Diamantina, na Cordilheira do Espinhaço. Sua altitude na região central da cidade é de 453 metros acima do nível do mar. Por ter localização privilegiada, é sempre verde em todos os meses do ano, sempre abastecida de frutas e verduras de Grota, nos vales da cordilheira. Rica em nascentes de rios, todos seguem para o Itapicuru. Também são inúmeros os açudes em Senhor do Bonfim: Açude do Sohen, Açude do Quiçé, Açude da Boa Vista e outros menos, todos com a sagrada missão de minorar o sofrimento em épocas de estiagem. São açudes que represam riachos também pertencentes à bacia do rio Itapicuru. Para quem gosta de aventura, as serras são especiais para a prática do motocross e trilhas. O município é servido pela BR 407 e pelas BAs 220 e 131, todas em razoáveis condições de tráfego. Temos muito o que apreciar em Senhor do Bonfim. Chegando por lá, há ambientes para os que gostam do sossego e não faltam opções para aqueles que querem manter o corpo sempre em movimento. 

Poucas & Boas - O retorno - nº 105

Programa do Governo Federal - Samu - distribuiu 36 ambulâncias a municípios baianos (Foto:Secom-BA)
Ambulancioterapia I

A chegada de uma ambulância do Samu em Heliópolis foi motivo de festa. Os seguidores do prefeito José Mendonça, incluindo os incansáveis trabalhadores em cargos comissionados, desfilaram pelas ruas da cidade, queimaram fogos de artifícios e estamparam sorrisos de vitória antecipada. Nas redes sociais, os TCC’s (Trabalhadores em Cargos Comissionados) bradavam nos teclados e telas digitais o nome poderoso da administração profícua e soberba do grupo. Tudo em repetição. O disco não é o mesmo, mas os comportamentos jamais diferem. Nem mesmo agir de forma diferente a administração que prometeu ser diferente não consegue se diferenciar. Olha a ambulância aí, gente!

Ambulancioterapia II

Tanto alvoroço em torno de uma ambulância tem vários sentidos, mas escondidos. É preciso interpretar os gestos politiqueiros, que não são de hoje. Toda vez que um grupo, partido político ou liderança cai em descrédito, procura o caminho mais fácil para recuperar a popularidade. O caminho mais longo é sentar com os assessores, encontrar os erros e corrigi-los. O mais fácil passa por uma grande festa ou uma novidade qualquer. A ilusão da vez foi a ambulância do Samu. O efeito dura muito se o administrador corrigir os reais defeitos. É a falta de remédios na Farmácia Popular, o esgoto a céu aberto em ruas, o carro que falta para uma consulta em Salvador ou Aracaju...

Procurando um vereador

Se você questionar sobre o assunto, tem gente que será capaz de dizer que nunca houve isso, mas é fato. Está determinado que a marcação de viagens para Salvador ou Aracaju será via WhatsApp. O sistema é perfeito para ludibriar os desavisados. Muitos acertam o seu lugar no carro e, horas ou minutos antes, recebem uma ligação informando que o carro não vai mais. Se a pessoa entra em desespero, alguém sugere do outro lado da linha a procura de um vereador, claro, aliado do prefeito. Difícil é juntar provas para denúncia. Quando há provas, o problema é o tempo. O Ministério Público da Bahia é lento por demais da conta. Parece estar abarrotado de denúncias. Será?

MP e Lixo

E por falar em Ministério Público, uma denúncia foi aberta contra o prefeito José Mendonça em 5 de maio deste ano. A questão envolve possível fraude licitatória. A empresa vencedora era pura fachada. A peleja envolve até gravação de vídeo. O caso está na 3ª Promotoria de Justiça de Cícero Dantas e já foi prorrogada a investigação uma vez. A grande dificuldade é um promotor conseguir provar corrupção, mesmo quando as provas gritam. Afinal, o dinheiro é público e poucos se importam. Há inclusive aqueles que afirmam em bom tom que roubar verba pública é um ato de inteligência. Outra denúncia contra o prefeito motivou a vinda da CGU a Heliópolis, mas os resultados também demoram. Parece ser proposital: pouca gente para fiscalizar a aplicação dos recursos e muita gente para gastar verba pública.

Unidos brigaremos

Há um provérbio landisvalthiano que diz: Quando dois pardais brigam é porque há dinheiro no jogo. A foto tirada pelo prefeito com os seus vereadores em Salvador parece revelar que tudo está bem na morada dos pardais. Aquele rompante do vereador-mor contra os colegas deve ter sido um mero teatro. Da oposição vieram falas esperançosas de rompimento na base governista, como se houvesse alguém com grana suficiente para cobrir o rombo. Fato é que parece tudo de volta à normalidade, afinal, quem planta dólar não pode colher libra esterlina. 

Doriedson Prevenildo

Na sessão da Câmara Municipal da última segunda-feira, dia do desfile da ambulância do Samu, apenas cinco vereadores compareceram: Doriedson, Ana Dalva, Van da Barreira, Maria da Conceição e Valdelício. Apesar de ter quórum mínimo, o presidente não deu sequência à sessão. A oposição era maioria e podia dar um prejuízo. Pelo jeito, o Regimento Interno só pode funcionar se for para o bem geral do Poder Executivo Municipal. Amém, excelência!

Fátima Nunes


A deputada Fátima Nunes, conhecida hoje dos opositores pela alcunha de “Negona”, postou vídeos nas redes sociais louvando a chegada da ambulância do Samu na região, especialmente em Adustina. Afinal, o governo do PT não quer saber quem está administrando o município. A coloração partidária pouco importa, disse a deputada. Ocorre que quando tudo foi elaborado para trazer o Samu para a região, Paulo Sérgio era petista de carteirinha. Será que hoje a deputada teria tanta coragem assim? Fica a dúvida.

Ruim ou menos ruim?

Se o governo Mendonça não está lá estas coisas, pouco se deve aplaudir a oposição. Se esta não está fazendo mal a ninguém, tampouco se organiza para o bem futuro. Os políticos, de todos os lados, repetem os velhos esquemas carcomidos pelo tempo, achando que estão bem na fita. Só se encontram em ocasiões ditas especiais, conversam algo, recebem a visita de uma autoridade e ....Não planejam, não discutem, não equacionam. Tudo fica no mais ou menos por acaso, como se a esperar a onda natural dos fatos. Esperam acontecer, não fazem a hora. Isso pode tanto atirar o sujeito numa cama acolchoada como o arremessar num rochedo. Ao povo restará escolher entre o ruim e o menos ruim. Até quando isso, meu Deus?  

Um Lugar no Sertão: Andorinha

Saímos de Monte Santo pela BA 220, irmanada com a BA 120, com destino ao município de Andorinha. Em Pedra Vermelha, as duas rodovias se separam. A BA 120 segue para Uauá e nós seguimos pela 220. Dali até Andorinha, a estrada é de barro batido. Ao longo do caminho vimos os efeitos iniciais do El Niño. O açude do povoado Horizonte Novo estava completamente seco. Uma rês tentou encontrar água na lama e ficou atolada. Homens lutavam para tirá-la daquela situação. O povoado está no território de Monte Santo e a população conta os dias e as horas da chegada das trovoadas. Seguindo a estrada, 50 kms depois de Monte Santo e 25 kms após Pedra Vermelha, a BA 220 faz um quase contorno na Companhia de Ferro Ligas da Bahia – Ferbasa, já no município de Andorinha. A estrada ainda não tem asfalto, mas de tão bem cuidada, pode-se dizer que é o mesmo que asfaltada. A Ferbasa é uma empresa de mineração criada há 62 anos e está em Andorinha desde 1973. A empresa atua na extração de cromita no Vale do Jacurici em Campo Formoso e na localidade de Ipueira, às margens da BA 220, 7 kms antes de chegar à Andorinha.

Depois do sobe e desce de caminhões, chegamos a Andorinha. O município que fornece matéria prima para produção de ferrocromo e ferrosilício cromo da metalúrgica da Ferbasa em Pojuca, está longe de perder o seu encanto como uma cidadezinha tranquila e simpática do interior da Bahia. Hoje, parece até difícil imaginar que sua povoação começou a partir da instalação da família de João Alves de Araújo, em 1885, em uma fazenda, em frente a um rochedo branco chamado de Morro das Andorinhas. Até hoje, por sinal, geralmente nos fins das tardes, o local serve de pouso para as andorinhas. A fazenda era chamada de Fazenda Gato e seu proprietário era chamado por muitos de João Gato.  Foi ele quem trouxe o primeiro professor para a localidade, o Antônio Emílio, da cidade de Senhor do Bonfim, para alfabetizar seus filhos e quem mais desejasse. João Alves trazia também o padre Tolentino para que as almas não se perdessem. Em 1919, foi construída a Capela do Sagrado Coração de Jesus - que não existe mais.  

A fazenda de João Alves virou ponto de encontro de tropeiros e viajantes. Assim começou a se formar um pequeno povoado e, mais tarde, com a inauguração da estrada para Senhor do Bonfim, efetivou-se um maior povoamento. O povoado cresceu em território de Senhor do Bomfim sempre de forma lenta e acanhada. Em 1941, João Alves faleceu em 24 de julho do mesmo ano. Em 1955, Andorinha elevou-se à categoria de Vila. Em 1973, com a instalação da Companhia de Ferro e Ligas da Bahia - Ferbasa, extraindo e explorando o minério de cromo em seu solo, trouxe, sem dúvidas, novos horizontes e perspectivas acentuadas com alteração no quadro econômico da região. Com a chegada da indústria extrativista mineral, mudou-se radicalmente o padrão de vida e comportamentos. O dinheiro deixou de ser apenas oriundo da agricultura familiar e do criatório de gado. A vila ganhou ares de cidade e a emancipação chegou 16 anos depois. Vale ainda uma observação: mesmo depois da chegada da Ferbasa, o município sofria com as constantes estiagens.  Em 1983, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS - começou as obras de construção de um açude com o objetivo de oferecer uma infraestrutura hídrica para combater a estiagem na região. A obra foi concluída e inaugurada em 1984.

O Município de Andorinha foi emancipado através da Lei Estadual nº 5.026, de 13 de junho de 1989, sendo desmembrado do Município de Senhor do Bonfim. Além da sede, foram criados os distritos de Sítio da Baraúna e Tanquinho do Poço. O primeiro prefeito foi Carlos Humberto de Miranda Pereira Melo, ao lado do seu vice José Rodrigues Guimarães Filho, conhecido por Zé Branco. Andorinha faz limites com Senhor do Bonfim, Monte Santo, Jaguarari e Uauá. Fica distante 430 kms de Salvador e tem uma área total de 1.207,680 km², abrigando uma população de 15.011 habitantes, com 12,4 andorinhenses por km² e localizado no centro norte da Bahia, no Território Piemonte Norte do Itapicuru. Seu povo, como todo nordestino, possui um enorme potencial de cultura, manifesto nas tradições e festejos populares, sem perder a alegria e a fé no ato de viver. A cidade é divertida, organizada e com ares de satisfação. Reflete paz e harmonia em cada esquina ou praça. Quem visita Andorinha sai do lugar mais feliz, mesmo depois de ter lutado muito para não ficar.