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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Cidades do Velho Chico: Glória e Quixaba - Capítulo 2

Saindo de Paulo Afonso e seguindo pela BA 210, cerca de 5kms depois é a entrada para o município de Glória, a cidade-mãe dos municípios de Rodelas, Macururé e Paulo Afonso. Sua história é marcada pela descontinuidade. Renasceu duas vezes porque foi atingida por duas barragens, a de Moxotó e a de Itaparica. A primeira inundou povoados, fazendo desaparecer a localidade de Barra e a antiga sede do município.  

Glória fica localizada a 514 km da capital Salvador. A Glória foi concluída no final de 1974 para abrigar os moradores do antigo município e do Povoado Barra. O enchimento do reservatório de Moxotó foi concluído em maio de 1975. Em janeiro do mesmo ano aconteceu a mudança da população. Parte dos moradores que não aceitaram morar na nova cidade ficaram no Povoado Quixaba, mais próximo da antiga sede do município.

Mas a história dos glorienses, claro, é confundida com a do município de Paulo Afonso, seu antigo distrito. Os primitivos habitantes do município foram os índios das tribos 'Mariquitas' e 'Pancarus'. Os portugueses exploradores foram os mesmos chefiados por Garcia D’Ávila. O primitivo núcleo da cidade de Glória contou ainda com a essa bandeira de uma missão religiosa chefiada por padres católicos. Tudo isso até o ano de 1705. Os colonos ali estabelecidos constituem família e dão início à efetiva colonização e povoamento do território. São aproveitados na prática da agricultura e no criatório de gado. O indígena e o negro contribuem de maneira expressiva para a evolução da localidade.

Data deste período o nome 'Curral dos Bois', visto que eram inúmeras as boiadas no local, claro, por ter água em abundância no Velho Chico. Esses rebanhos se destinavam a outras localidades, mas sempre ficava alguma coisa por aqui. Surge então uma pequena estrutura para atender os passantes. Surgem estabelecimentos comerciais que permitem um crescimento lento e progressivo. Mais tarde, a devoção ao padroeiro permite o crescimento do nome para Santo Antônio da Glória do Curral dos Bois e o povoado é elevado à categoria de Vila pela Lei Provincial nº60, de 08 de abril de 1842. Em 1886, dia 1º de maio, Lei Provincial criou o município de Santo Antônio de Glória, com sede em Santo Antônio da Glória do Curral dos Bois e território desmembrado do município de Jeremoabo. Sua instalação ocorreu em 7 de janeiro de 1887, constituído de apenas um único distrito. Por força dos Decretos Estaduais de números 7.455 de 23 de junho e 7.479 de 8 de julho de 1931, o município teve o seu nome simplificado para Glória.

A área das terras de Glória era gigantesca. Na divisão administrativa do Brasil, do ano de 1933, como nas Territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, e também no quadro anexo ao Decreto-Lei Estadual nº 724, de 30 de março de 1938, o município de Glória figura com os seguintes Distritos: Glória (sede), Rodelas, e Bonfim, que mais tarde receberá o nome de Macururé. Pela Lei Estadual nº 628, de 30 de dezembro de 1953, foi criado o Distrito de Paulo Afonso, com instalação em 24 de setembro de 1954, ficando o município constituído de quatro Distritos: Glória, Rodelas, Macururé e Paulo Afonso. Hoje, mesmo depois de perder os seus distritos, Glória se estende por 1 255,7 km² e conta com 16 mil habitantes e uma densidade demográfica de 12,1 habitantes por km².  

Seguindo pela BA 210, foi preciso conhecer um dos seus maiores povoados: Quixaba. Segundo artigo de José Clécio Silva e Souza, publicado na Revista Educação Pública, o Povoado Quixaba é um dos mais de 70 lugares, entre povoados e sítios, que formam o município de Glória. Foi fundado em 1974 por um grupo de pessoas que não aceitavam a mudança para as imediações do antigo povoado Barra, onde foi erguida a nova Glória. O líder do movimento foi Hortêncio Correia, morador da povoação de Queimada, pequeno povoado que foi inundado pela construção na Usina Hidrelétrica de Moxotó, localizada em uma região hoje denominada Beira do Rio.  Os futuros Quixabenses desejavam ir para uma localidade distante apenas 5 km da antiga Glória e por ali ficaram. A intenção não foi aceita pelos políticos da época. Houve assim uma divisão: uma parte ficou na Quixaba e outros para a nova cidade e outras partes do município. Entre os anos de 1974 e 1976 foi edificada uma pequena escola, denominada Escola Cosme de Farias, fundada com apoio da Chesf. Depois foi construído um posto de saúde com assistência médica curativa e uma nova escola, aumentando assim a oferta de vagas. O Povoado Quixaba começou a evoluir ainda no período de 1977-1982, com a chegada da energia elétrica e abandono sofrido em sua fundação.  

Situados a 256 metros de altitude, Glória e o povoado Quixaba possuem um forte potencial para o turismo de lazer. No município há pontos como a Serra do Retiro, com 150 metros de altura, e possui uma trilha especial para o turismo ecológico e religioso. O Balneário Canto das Águas, às margens do rio São Francisco, é mais um atrativo da região dos Lagos e Cânions do São Francisco. Já a famosa Ilha de Rarrá, com um arco de 8Km de extensão territorial, é um lugar paradisíaco no meio da logo Moxotó, em plena caatinga. Entre dunas de areias brancas e praia de água doce acessa-se as ruínas da Igreja Sagrado Coração de Jesus, localizada no estado vizinho, Pernambuco, na antiga Vila de Barreiras. O município tem no nome o estado daqueles que visitam suas terras, seja pelo deslumbre daquilo feito pelo homem, encoberto pelas águas ou esculpido pela mãe natureza.

Cidades do Velho Chico: Paulo Afonso

Antes de a coroa portuguesa entregar estas terras ao latifundiário Garcia D’Ávila, as terras do hoje município de Paulo Afonso eram habitadas pelos índios Mariquitas e Pancarus. Os verdadeiros donos do lugar eram pacíficos e isso permitiu a chegada dos brancos no século XVII. Claro que a maior riqueza da região era o rio São Francisco e suas belas cachoeiras. Começaram por aqui pelas lavouras e criação de gado, contando com a presença de padres católicos para a catequese dos índios. Em 3 de outubro de 1725, Paulo Viveiros Afonso recebeu uma sesmaria medindo três léguas de comprimento por uma de largura. As terras abrangiam a margem esquerda do rio São Francisco e as terras alagoanas da Cachoeira, denominada “Sumidouro". Mas Paulo Afonso estendeu os seus limites por conta própria, indo para as ilhas fronteiras da Barroca, ou Tapera, e as terras baianas existentes na margem direita, onde construiu um arraial que, posteriormente, se transformou na Tapera de Paulo Afonso. Ao longo da sua história atraiu visitantes ilustres, que se inspiraram na cachoeira para criar obras e ideias. Castro Alves passou por Paulo Afonso quando estudante de Direito na Faculdade do Recife. O imperador Dom Pedro II esteve na cachoeira em 20 de outubro de 1859.

A localidade passou a ser pouso obrigatório de boiadas e permitiu algum desenvolvimento comercial. De tapera passou a lugarejo e virou núcleo habitacional do município de Glória. Em 15 de março de 1948, nasce a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, com a finalidade de aproveitar a energia da Cachoeira de Paulo Afonso. O acampamento de obras localizou-se nas terras da Fazenda Forquilha. Era o que faltava para alavancar o seu crescimento. Perto dali, desde 1913, já havia uma pequena usina de 1.500 HP, fruto da genialidade e pioneirismo de Delmiro Gouveia, transportando energia elétrica de Paulo Afonso para a localidade de Pedra, atual Cidade de Delmiro Gouveia.

Hoje, o complexo hidrelétrico de Paulo Afonso é composto por 5 usinas: Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), esta em território do município de Delmiro Gouveia, em Alagoas. A produção total é 4 279,6 megawatts de energia, gerada a partir da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso, um desnível natural de 80 metros do Rio São Francisco, com a terceira maior capacidade instalada dentre as usinas do Brasil, perdendo apenas para Belo Monte (11 233 MW) e Tucuruí (8 000 MW), já que Itaipu com 14 000 MW é binacional (Brasil e Paraguai).

É inegável que o desenvolvimento da cidade é regado pela energia elétrica, desde a construção do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso no início da década de 1950. A gigantesca obra foi um desafio para a engenharia brasileira. Tiveram que controlar e reverter o fluxo do Rio São Francisco para então iniciar-se o processo de construção da barragem da primeira usina (Paulo Afonso I), depois inaugurada pelo presidente Café Filho em 15 de janeiro de 1955. Dois anos antes, Paulo Afonso passava a Distrito do município de Glória pela Lei Estadual n.° 628, de 30 de dezembro de 1953, instalado em 24 de setembro de 1954. Foram necessários apenas quatro anos para que o distrito virasse município. Em 28 de julho de 1958, a Lei Estadual n.° 1.012 concede a Paulo Afonso a sua autonomia política e administrativa. Seu complexo hidrelétrico foi concluído no ano de 1979.

Hoje, Paulo Afonso tem uma estrutura urbana bem desenvolvida porque foi planejada desde sua criação. O centro da cidade fica dentro de uma ilha artificial, construída com a implantação do canal da usina IV. Os bairros são satélites em torno do centro e fora da ilha também possui outros bairros importantes, exemplo do Bairro Tancredo Neves I, II e III, o mais populoso. O município conta com uma zona rural bastante povoada e possui vários lugarejos. A população de Paulo Afonso já ultrapassa os 120 mil habitantes e se aproxima dos 70 habitantes por km2. A cidade é polo regional de desenvolvimento e sua estrutura equivale a uma cidade de porte médio, com universidades, museus, institutos de educação e tudo que é relevante para necessitar minimamente dos recursos da capital, distante 440 kms.