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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Veja a programação completa do São João de Jeremoabo

     Com o lema deste ano “São João do povo! Toda mistura é permitida” a Prefeitura Municipal de Jeremoabo fez um estrogonofe de ritmos musicais que será impossível ter alguma atração que não agrade alguém. A festa começa na Alvorada do domingo, dia 18 de junho, com Wesley Safadão, Vitor Fernandes, Helinho Ventura e Zezinho da Ema. Dia 21, na quarta-feira, é a vez de Adelmário Coelho, Tierry, Forró da Descarada e Kaik Góis. Na quinta-feira, 22, a animação fica por conta de Jonas Esticado, Sâmya Maia, Fogo na Saia e Vitinho do Forró. No dia 23, sexta-feira, temos, a partir das 15 horas, desfile de cavaleiros e amazonas, casamento caipira com Iguinho e Lulinha; Gil Mourão, Ruan e Ramon. Pela noite há shows com Cavaleiros do Forró, Batista Lima, Forró Brasil, Dois Amores e Fabinho Melo. No último dia, sábado, haverá o encerramento do novenário de São João Batista, com celebração do padre Ezequiel. Logo depois teremos as apresentações de Zezo, Baby Som, Nino Coutinho e Henrique e Renan.

Crônica da morte do poeta Antônio Coca

   Sou um homem que aceita a morte como uma forma natural do fim da vida, principalmente quando a bendita chega a alguém batendo na porta dos cem anos. Vejo como um ciclo encerrado, um descanso para o corpo maltratado pela labuta da vida. Minha mãe, Dona Nita, morreu aos 55 anos. Meu pai, “Seu” Dete, morreu aos 72. Até hoje não me conformo. Eles deveriam ter uma maior longevidade. Dona Nandinha, minha sogra, morreu aos 92 anos e Julinho, meu sogro, não passou dos 80 anos, mas bem que merecia mais uns dez. No sábado, 09 de junho, quando minha filha Pétala Tâmisa completou seus mais ricos 30 anos, recebo notícia da morte do poeta Antônio Pedro Caldas – o popular Antônio Coca. Ele tinha 92 anos e morreu enquanto dormia em sua casa, em Cícero Dantas - Ba.

     Eu estava almoçando no restaurante Almeida, na cidade de Sento Sé, fazendo uma nova temporada da série Caminhos do Brasil, quando Ana Dalva, Aline e Socorro, esta última a filha de Antônio Coca, foram as primeiras a mandar mensagens sobre a fatalidade. Sim, foi uma fatalidade. Perdemos um poeta! Não importa a idade que ele tinha! Era um poeta! Este ser raro hoje em dia, que antigamente se via em cada feira livre com seus cordéis, ou sobre um cavalo a tanger gado por este sertão. E ainda se pode falar nos poetas urbanos, pensantes de livro na mão, ou com giz a traçar vidas em salas de aula. Hoje, a poesia vive sua crise milenar. Mesmo assim ela sobreviverá. Morre o poeta, sua poesia fica. O filho ilustre de Cedro de São João tem seu legado poético que será lembrado pelo século dos séculos. Espero que vire nome de rua, de avenida ou de praça. A poesia agradece.

     Prometi a Socorro fazer uma visita a Antônio Coca. Ela sempre me mantinha informado da condição da saúde do pai. Não houve tempo. O destino não quis e isso me apavorou. Sinto que ainda poderia haver tempo de aqui colocar mais um dos seus poemas, como se os livros publicados não fossem suficientes para aplacar minha fome da criatividade alheia. Não me foi permitido também dar o último adeus. O sepultamento foi realizado ontem, 10 de junho, por volta das 17 horas, no cemitério de Cícero Dantas. Poderia ter sido o corpo levado para Cedro de São João, em Sergipe, nas margens do São Francisco, de onde tirou a água que matou a sede de muitos. O velho camboeiro, depois carroceiro, sustentou sua família transportando as águas do rio para o povo do Cedro, enquanto improvisava um verso ou outro. Mas quem foi que disse que tem que ser assim? Antônio Coca é poeta, filho do mundo, filho de qualquer lugar. Cícero Dantas se sente honrada em receber seu corpo. Poderia também ser sepultado em Heliópolis, onde sua filha foi Chefe de Cartório e ele morou por longo período. Onde quer que vá, Antônio Coca levará a marca do seu Cedro de São João, que o permitiu vir ao mundo. A identidade do poeta é o mundo que leva nas costas.

     As cenas que você assiste neste artigo, caso esteja assistindo ao vídeo, foram feitas há uma década. Deixarei os links abaixo. Antônio Coca Sem Falta de Teoria está editada em três capítulos e as cenas foram feitas em Heliópolis e, principalmente, em Cedro de São João. Vale cada minuto conhecer a humildade, inteligência e pensamento deste ser único, filho ilustre de sua cidade natal, e um ser que valorizou cada minuto de sua existência. Antônio Coca é o Brasil talentoso e criativo que, usando a palavra, mesmo sem o conhecimento formal, revelou o mundo ao seu derredor. Mal comparando, representa nosso povo como fez Carolina Maria de Jesus em Quarto de Despejo. Ela, na favela; ele, no sertão.

     Sim, eu sei que a morte é sempre cruel. No caso de Antônio Coca, depois de viver cada minuto de sua vida, perder a esposa, criar três filhos, matar a sede de muitos, produzir vários livros de poesia, a morte deixa de ser cruel para ser injusta. Os poetas não deveriam envelhecer nunca. Morrer, jamais! Antônio Pedro Caldas fez poesia até o fim de sua vida. Fosse eu um Deus poderoso, decretava a morte apenas aos maus. Lúcido, memória pujante, o corpo já dava sinais pedindo descanso. Morreu dormindo sem ouvir o chamado de Socorro pela manhã. Estava muito tarde para Antônio Coca não estar acordado. Morreu sem sofrimento, se é que viver não o seja. A morte para o nosso poeta foi cruel, injusta, mas, se é que se possa dizer isso, apesar de tudo, não foi perversa!

Links de acesso ao documentário Antônio Coca Sem Falta de Teoria: Dê um clique aqui:                                  Antônio Coca 3

                                               Antônio Coca 2

                                                   Antônio Coca 1