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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Itiúba - Um Lugar no Sertão - 8º episódio

Neste episódio de Um Lugar no Sertão chegou a vez do município de Itiúba. Saímos de Filadelfia logo cedo e pegamos a BA 381. Passamos por duas localidades ainda em território de Filadélfia: Cabeça da Vaca e Morrinhos. Logo depois do limite entre os municípios, chega-se ao povoado Carrapato, que é o lugar mais estruturado entre as duas cidades. Depois de percorrer cerca de 35 kms, numa rodovia de boa estrutura, chega-se a Itiúba. De onde quer que se olhe, é a serra que desponta soberana, provocando suspiros nos visitantes. Certamente não foi sua beleza pura e simples que despertou interesse para que colonizassem esta região. Então vamos saber a história desde o começo.

O território do atual município de Itiúba era habitado pela tribo indígena dos Caricás, além de outras diversas etnias indígenas, com destaque para os povos genericamente denominados de tapuias e cariris, quando os primeiros colonizadores ali chegaram. Os primitivos habitantes, certamente os Caricás, deram ao local a denominação de Itiúba, nome da serra que abraça a cidade. O início da colonização se deu com a chegada dos portugueses da Casa da Torre, com a expansão dos domínios das sesmarias dos proprietários curraleiros, com destaque para a família Guedes de Brito. Há uma outra versão que diz sobre a chegada dos colonos provenientes de Inhambupe, Alagoinhas e Cachoeira. Não seria absurdo unir as duas teorias. 

Os povos indígenas que viviam neste território foram expulsos da terra que tradicionalmente ocupavam, deslocando-se a outras regiões para sobreviver. Assim, os indígenas remanescentes acabaram sendo aldeados entre os séculos XVII e XVIII nas Missões religiosas do Sahy (Senhor do Bonfim da Tapera), de São Francisco Xavier (atual Jacobina Velha) e de Bom Jesus da Glória de Jacobina (Santo Antônio de Jacobina). Quanto ao nome da serra, que batizou o município, há várias versões. A mais plausível é se tratar da derivação da palavra itiuba, que na língua indígena quer dizer água da pedra, em referência às nascentes de água na serra, fundamental para a sobrevivência no lugar. 

No final do século XVII, o território fazia parte da Freguesia Velha de Santo Antônio de Jacobina. Quando a localidade foi transformada em julgado, em 1697, foi incorporada ao Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera, fato que consta na Carta Régia assinada por D. Fernando José de Portugal, em 08 de julho de 1697 e dirigida ao ouvidor de Jacobina. Há registro do crescimento da povoação nas terras da fazenda Salgada, situada no sopé da serra de Itiúba, a partir de 1860. Pela Resolução Provincial nº 1.005, de 16 de março de 1868, foi elevada à categoria de freguesia subordinada à Vila Nova da Rainha, atual município de Senhor do Bonfim. No ano de 1880, o local já é chamado como Arraial de Itiúba. Em 1884, sua subordinação foi transferida para a Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas. 

Somente mais de 50 anos depois, pelo Decreto Estadual nº 9.322, de 18 de janeiro de 1935, foi criado o município de Itiúba, com território desmembrado de Queimadas, e o Arraial elevado à categoria de Cidade. Deve-se também registrar como fato importante a construção do Obelisco Bendegó, localizado na Estação Ferroviária do Jacurici. O monumento foi feito pela Marinha do Brasil em celebração aos feitos pela engenharia do transporte do Meteorito do Bendegó, que caiu no distrito de Bendengó, pertencente ao município de Canudos, no cruzamento da BR 235 com a BR 116. 

Itiúba tem importância histórica, mas é impossível não chegar ao local e ser abraçado pela sua serra. O visitante se sente em casa. Seu povo, como todo nordestino baiano, é acolhedor. O município é formado por uma área de 1.650,593 km², abrigando uma população de 33.872 habitantes – Censo de 2022, com densidade demográfica de 20,5 pessoas por km². Faz divisas com os município de Cansanção, Queimadas, Monte Santo, Andorinha, Senhor do Bonfim, Filadélfia e Ponto Novo. Sua altitude é de 570 metros e a capital Salvador fica a 377 kms. Seguindo pela BA 381, em direção a Cansanção, antes da linha limítrofe, chega-se ao distrito de Rômulo Campos, centro urbano mais desenvolvido depois da sede. Logo depois tem a barragem do Jacurici, açude que limita os dois municípios.

Acorda, Criatura! - Crônica sobre a formatura do CEJDS

Vai, Criatura!

Toma o teu destino nas mãos.

Pega este canudo vazio e o preenche com o que falta em tua vida. Afinal, é época de festejar o final de uma etapa e o início de uma nova caminhada.

Não se iluda. A luta está apenas no seu início. O que você conquistou foi o básico, o necessário. É como se um alicerce fosse terminado. Resta saber se as pedras e o cimento tenham sido suficientes para suportar a construção sobre ele. As pedras representam as horas de estudo e o cimento é o conhecimento. Quanto mais cimento, mais solidez. O vento e a chuva chegarão, cada um a seu tempo, para testar seu aprendizado. As possibilidades são sempre infinitas e você será testado o tempo todo. O cimento do seu alicerce poderá levá-lo ao setor de empacotamento das Casas Bahia, a um lugar na frente de montagem da Dakota Calçados, a uma das valas da construção do Metrô ou a uma sala de cirurgia cardíaca de um hospital israelita, comandando uma equipe de médicos no momento do transplante de um famoso qualquer. Vale dizer que ainda há tantas outras opções, todas dignas, digníssimas! A diferença está na remuneração. Mesmo dentro de determinada profissão há salários dignos ou não. Você pode ainda escolher o cartão do Bolsa Família ou o diploma de licenciatura. Qualquer um poderá ser um professor digno, mesmo que procure justificativas pedagógicas para aumentar o índice de aprovação com a finalidade de conseguir um percentual geapmético. E se alguém ousar questionar, use o seu cimento consolidado em suas bases para responder que não deseja ser o salvador da pátria da educação.

Seja qual for sua escolha, ela será sempre produto desta quantidade de cimento consolidado em suas bases. O seu diploma é o seu conhecimento. A sua foto de formatura chamará mais atenção que o certificado recebido. Para a nossa sociedade, acostumada com as aparências, a solenidade vale mais que a carga de conhecimento. O aluno que muito faltou às aulas, mesmo tendo maiores médias, sofrerá no tal Conselho mais que aquele que marcou presença em todos os eventos, mesmo não tendo lido um só livro ou estudado para uma só prova. O mundo parece tratar melhor os que aparecem mais, mesmo que não tenham conhecimento adequado e que afirmem a possibilidade de alguém vacinado virar jacaré ou culpar a Ucrânia pela invasão feita pela Rússia. 

Alguém pode até dizer que o conteúdo não é tudo, mas a pólvora, o átomo, a vacina, o antibiótico e outras grandes descobertas só foram possíveis pelo acúmulo de conhecimento. Você pode nem mesmo saber os nomes dos seus descobridores ou aprimoradores, mas está vivendo melhor graças a eles. E sabemos que você não tem o retrato de nenhum deles em sua casa, mas ostenta a camisa do seu time campeão, do seu artista preferido ou daquele filmaço. Até mesmo a pedagogia brasileira coloca o conhecimento em segundo plano. Não é sem sentido a posição que ocupamos no cenário educacional do PISA. Bem que a gente poderia, pelo menos, imitar Singapura, 1º lugar em tudo. O país que imita tudo para fazer melhor, a China, vem logo a seguir. Até nossa escola particular se contenta em se comparar ao nosso sistema público. Daí não deu outra, eles também são ruins entre os particulares. 

Ora, ora... E o que temos que fazer? Valorize-se! Se não dá para valorizar a educação, valorize o seu conhecimento e o aprimore. Todos por aqui falam em educação, mas é só uma bolha do discurso. Vejam, por exemplo, a solenidade de formatura. Pensei que metade da cidade estaria presente. Afinal, tínhamos números de sucesso. A escola é a melhor da nossa região. Atingimos a proficiência em Português e Matemática! Um feito inédito numa escola de nível médio por aqui. A última a conseguir isso foi o Waldir Pires nos anos 90, quando ainda tínhamos o 2º Grau do Curso Magistério. Além disso, o CEJDS recebeu investimentos significativos do governo do estado. Tínhamos tudo para um grande evento. Até mesmo o prefeito se prontificou a liberar grana do município para a banda Big Ben animar o evento e o seu nome despontar para a glória do apadrinhamento da turma. Não adiantou o diretor da escola gastar suas horas de dedicação a organizar tudo. Tirando alunos, pais e professores, poucos apareceram. Vão dizer que o dia foi inadequado, que deveria ter uma banda com cara de pisadinha ou sofrência... Até a chuva será culpada. Fato é que o problema somos nós.

Gastamos nossas energias para coisas inúteis ou passageiras. Vivemos cada segundo para aquilo que é imediatista, impactante e que flui de imediato. A embalagem tem que ser mais atraente que o conteúdo, mesmo que o seu destino seja o lixão. Conhecimento dói e é busca constante. É uma construção tijolo por tijolo. Uma vez a casa feita, há outro edifício a erguer do lado imediato. Para que então ler os clássicos se eu tenho ao meu dispor o Paulo Coelho ou o Olavo de Carvalho? Por que ler Platão se eu tenho ao meu dispor os pregadores do Evangelho e os influenciadores digitais? A vida exige pragmatismo a partir do descarte do conhecimento. Curioso é que só é possível o pragmatismo numa sociedade pautada no conhecimento.

Queria aqui poder dizer mais, mas as águas que correm debaixo da ponte são tantas!

E finalizo dizendo: Acorda, Criatura!

Sim você cruzou a primeira ponte, mas é só o começo! Daqui para frente tudo dependerá do tempo e da paciência dedicada aos estudos. Se o certificado foi artificial, não haverá mais pontes! Você estará no meio de um mar tenebroso e só restará dar braçadas para tentar chegar a algum porto. Tomara que não seja uma ilha abandonada. Se a sorte vier, quem sabe um encontro com Robson Crusoé?

Acorda, Criatura! 

Filadélfia - Um Lugar no Sertão - episódio 7

Neste episódio 7 da série Um Lugar no Sertão, vamos registrar a simpática cidade de Filadélfia, na Bahia. Quando por lá andamos, vínhamos de Senhor do Bonfim pela BR 407, rodovia em estado mediano.  Já se fazia noite e precisávamos pernoitar. Logo na avenida principal da entrada da cidade, localizamos o hotel Portal da Cidade e repousamos. A estadia foi nota dez. Tudo organizado e limpo. A cerveja estava gelada e o café da manhã foi top de linha.

Mas o nome pomposo da cidade é um chamativo. Longe de ter o poder econômico da Filadélfia americana, a cidade é muito jovem. Tudo começa com a tribo Cariri, que pela região fez sua história, até ser expulsa de suas terras, deslocando-se para outras regiões, em nome da sobrevivência. Viveram aldeados nos séculos XVII e XVIII nas Missões religiosas do Sahy (Senhor do Bonfim da Tapera), de São Francisco Xavier (atual Jacobina Velha) e de Bom Jesus da Glória de Jacobina (Santo Antônio de Jacobina).

Com a invasão portuguesa nesta região, houve a expansão das terras dos proprietários, aumentando o poderia de famílias, com destaque para os descendentes do latifundiário Garcia d'Ávila, ou domínio da Casa da Torre. O vasto território caiu no esquecimento pelas autoridades políticas do século XIX e do século XX. A região, que era conhecida como Várzea do Curral, passou a ser caminho de cangaceiros, inclusive Lampião. Por longo período, todo o território de Filadélfia pertenceu à Campo Formoso e chegou a ser o principal produtor de feijão no Estado da Bahia.

Por aqui ainda se fala na existência do pioneiro e histórico fazendeiro Alvino Pereira Maia, homem conhecido por sua bondade e espírito de luta. Na época desse personagem, fala-se que a Várzea do Curral passou a chamar-se 'Pega Nego' devido a briga de seu Alvino com o negro morador da vizinha localidade de Lagarto. Nessa época já existia um arraial que foi crescendo aos poucos, transformando-se em povoado. Foi um tal de Eudaldo, que chegou inclusive a ser vereador, a ideia do projeto de dar nome à povoação de Filadélfia, palavra grega que significa “irmãos que se amam, que se gostam.” Em 1951, o povoado elegeu José Passos de Oliviera, o primeiro vereador da localidade, quando Filadélfia integrava o território do município de Pindobaçu, elegendo posteriormente vários outros representantes e ganhando importância política e econômica.

Filadélfia despontava com independência e criava sua própria identidade, principalmente quando se tornou polo produtor de feijão da região. Nascia então o desejo de emancipação, sob o comando de Manelinho, Cecentino  e ajuda de vários outros personagens. No dia 23 de maio de 1979 nasce o Projeto de Lei nº 4.960, na Assembleia Legislativa da Bahia, propondo a criação do município de Filadélfia. Sua emancipação só foi consolidada no dia 9 de maio 1985, sendo desmembrado do Município de Pindobaçu.  

Hoje, Filadélfia é uma cidade bonita, arborizada e cheia de vida. Está numa altitude de 424 metros. Sua população chegou aos 17.897 habitantes, povoando um território de 579,686 km², com densidade demográfica de 30,9 pessoas por km². O município tem limites com Itiúba, Ponto Novo, Pindobaçu, Senhor do Bonfim e Antônio Gonçalves. Sua distância de Salvador é de 355 kms.

Senhor do Bonfim: Um Lugar no Sertão - episódio 6

A nossa viagem da série Um Lugar no Sertão continua. Deixamos Andorinha reservada na memória e no coração e seguimos ao capítulo 6, dedicado ao município de Senhor do Bonfim. A BA 220, de Andorinha para Senhor do Bomfim, é toda asfaltada. São 45 kms que separam as duas cidades. É uma região densamente populosa porque no meio do caminho tem Pereiros, Queimadinha, Igara e Baraúna. O distrito de Igara é o mais populoso de Senhor do Bonfim. São mais de 10 mil habitantes, já com ares e estrutura de uma pequena cidade. Sua grandeza é tão significativa que o distrito está recebendo asfalto em várias ruas e avenidas. Do distrito de Igara para Senhor do Bonfim são apenas 12 kms. A partir de agora, contaremos sua história.

A colonização por aqui se confunde com a busca por pedras preciosas e a criação de gado. Já no século XVI, portugueses pertencentes à Casa da Torre, de Garcia D’Ávila, organizavam expedições com destino ao rio São Francisco e às minas de ouro de Jacobina, iniciando a ocupação do interior da província e a formação de vias de comunicação com o litoral. O território onde hoje está localizado Senhor do Bonfim era zona de passagem das expedições. Logo virou uma rancharia de tropeiros no século XVII, servindo de pouso para vaqueiros, bandeirantes e desbravadores que transitavam naquela região.

No final do século XVII, precisamente em 1697, a Ordem dos Frades Menores ou Ordem dos Padres Franciscanos cria a Missão do Sahy. No Arraial, estabelecido nas proximidades de uma aldeia pataxó, foram construídos convento e igreja sob invocação de Nossa Senhora das Neves. Em 1720, o arraial do Sahy passou à categoria de Vila, sediando a comarca de Jacobina até 1724, quando a sede foi transferida para a Vila de mesmo nome. Sahy hoje é um distrito de Senhor do Bonfim, localizado a 9 kms do centro da cidade sede, seguindo pela BA 131, rodovia que segue com destino ao município de Antônio Gonçalves. No Monte Tabor, localizado no distrito, ainda podem ser encontradas ruínas das edificações realizadas pelos padres franciscanos, principalmente de uma capela no topo da elevação. Foi graças à Missão do Sahy que foi possível o surgimento de povoações como de arraial de Senhor do Bonfim da Tapera, primeira comunidade formadora de Senhor do Bonfim graças ao grande número de tropeiros, aventureiros e peões vindos de todo o Nordeste. 

Com o crescimento da atividade pecuária, a expansão das pastagens e o consequente avanço da ocupação do sertão baiano, pessoas chegavam ao local e não tinham autoridades no arraial para impedir a desordem. A partir de 1750, o núcleo contava com várias edificações e com população estabelecida. O crescimento veio a galope. Em 1797, por força de uma Carta Régia , é criada a Vila Nova da Rainha, no dia 1º de julho daquele ano. A vila foi instalada em 1º de outubro de 1799 e já contava com 600 habitantes. Em 1885, em 25 de maio, Vila Nova de Rainha muda o nome para Bonfim e ganha a condição de cidade. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 141, de 31 de dezembro de 1943, retificado pelo Decreto Estadual n.º 12978, de 1º de junho de 1944, o município de Bonfim passou a ser denominado de Senhor do Bonfim. Depois das emancipações de Jaguarari e Andorinha, Senhor do Bonfim hoje é formado por 5 distritos: Senhor do Bonfim (sede), Carrapichel, Tijuaçú, Missão do Sahy e Igara. 

A cidade está localizada a 375 kms de Salvador e fica numa região densamente povoada no centro norte da Bahia. Sua população é de 74.523 pessoas, censo de 2022, e tem densidade demográfica de 94,41 habitante por quilômetro quadrado. De clima quente e úmido o ano todo, seu bioma é a Caatinga. O município possui uma forte tradição de festas juninas e é considerada a capital baiana do forró. Senhor do Bonfim faz limites com os municípios de Jaguarari, Filadélfia, Andorinha, Itiúba, Campo Formoso e Antônio Gonçalves. Apesar de ter alta taxa de urbanização e ser o 23º município em população na Bahia, ocupa apenas o 210º nos dados sobre mortalidade infantil, com alta taxa de 13,86 óbitos por mil: 140º lugar na renda per capita, com apenas algo próximo de 12 mil reais por habitante; e a taxa de escolarização ocupa a posição 121 no ranking do estado. Tudo isso mostra o tamanho do desafio que enfrentam as autoridades para sanar com a desigualdade social, caso queiram, de fato, resolver os graves problemas de Senhor do Bonfim.

A cidade está localizada no sopé sul da Serra do Gado Bravo, extensão da Chapada Diamantina, na Cordilheira do Espinhaço. Sua altitude na região central da cidade é de 453 metros acima do nível do mar. Por ter localização privilegiada, é sempre verde em todos os meses do ano, sempre abastecida de frutas e verduras de Grota, nos vales da cordilheira. Rica em nascentes de rios, todos seguem para o Itapicuru. Também são inúmeros os açudes em Senhor do Bonfim: Açude do Sohen, Açude do Quiçé, Açude da Boa Vista e outros menos, todos com a sagrada missão de minorar o sofrimento em épocas de estiagem. São açudes que represam riachos também pertencentes à bacia do rio Itapicuru. Para quem gosta de aventura, as serras são especiais para a prática do motocross e trilhas. O município é servido pela BR 407 e pelas BAs 220 e 131, todas em razoáveis condições de tráfego. Temos muito o que apreciar em Senhor do Bonfim. Chegando por lá, há ambientes para os que gostam do sossego e não faltam opções para aqueles que querem manter o corpo sempre em movimento. 

Poucas & Boas - O retorno - nº 105

Programa do Governo Federal - Samu - distribuiu 36 ambulâncias a municípios baianos (Foto:Secom-BA)
Ambulancioterapia I

A chegada de uma ambulância do Samu em Heliópolis foi motivo de festa. Os seguidores do prefeito José Mendonça, incluindo os incansáveis trabalhadores em cargos comissionados, desfilaram pelas ruas da cidade, queimaram fogos de artifícios e estamparam sorrisos de vitória antecipada. Nas redes sociais, os TCC’s (Trabalhadores em Cargos Comissionados) bradavam nos teclados e telas digitais o nome poderoso da administração profícua e soberba do grupo. Tudo em repetição. O disco não é o mesmo, mas os comportamentos jamais diferem. Nem mesmo agir de forma diferente a administração que prometeu ser diferente não consegue se diferenciar. Olha a ambulância aí, gente!

Ambulancioterapia II

Tanto alvoroço em torno de uma ambulância tem vários sentidos, mas escondidos. É preciso interpretar os gestos politiqueiros, que não são de hoje. Toda vez que um grupo, partido político ou liderança cai em descrédito, procura o caminho mais fácil para recuperar a popularidade. O caminho mais longo é sentar com os assessores, encontrar os erros e corrigi-los. O mais fácil passa por uma grande festa ou uma novidade qualquer. A ilusão da vez foi a ambulância do Samu. O efeito dura muito se o administrador corrigir os reais defeitos. É a falta de remédios na Farmácia Popular, o esgoto a céu aberto em ruas, o carro que falta para uma consulta em Salvador ou Aracaju...

Procurando um vereador

Se você questionar sobre o assunto, tem gente que será capaz de dizer que nunca houve isso, mas é fato. Está determinado que a marcação de viagens para Salvador ou Aracaju será via WhatsApp. O sistema é perfeito para ludibriar os desavisados. Muitos acertam o seu lugar no carro e, horas ou minutos antes, recebem uma ligação informando que o carro não vai mais. Se a pessoa entra em desespero, alguém sugere do outro lado da linha a procura de um vereador, claro, aliado do prefeito. Difícil é juntar provas para denúncia. Quando há provas, o problema é o tempo. O Ministério Público da Bahia é lento por demais da conta. Parece estar abarrotado de denúncias. Será?

MP e Lixo

E por falar em Ministério Público, uma denúncia foi aberta contra o prefeito José Mendonça em 5 de maio deste ano. A questão envolve possível fraude licitatória. A empresa vencedora era pura fachada. A peleja envolve até gravação de vídeo. O caso está na 3ª Promotoria de Justiça de Cícero Dantas e já foi prorrogada a investigação uma vez. A grande dificuldade é um promotor conseguir provar corrupção, mesmo quando as provas gritam. Afinal, o dinheiro é público e poucos se importam. Há inclusive aqueles que afirmam em bom tom que roubar verba pública é um ato de inteligência. Outra denúncia contra o prefeito motivou a vinda da CGU a Heliópolis, mas os resultados também demoram. Parece ser proposital: pouca gente para fiscalizar a aplicação dos recursos e muita gente para gastar verba pública.

Unidos brigaremos

Há um provérbio landisvalthiano que diz: Quando dois pardais brigam é porque há dinheiro no jogo. A foto tirada pelo prefeito com os seus vereadores em Salvador parece revelar que tudo está bem na morada dos pardais. Aquele rompante do vereador-mor contra os colegas deve ter sido um mero teatro. Da oposição vieram falas esperançosas de rompimento na base governista, como se houvesse alguém com grana suficiente para cobrir o rombo. Fato é que parece tudo de volta à normalidade, afinal, quem planta dólar não pode colher libra esterlina. 

Doriedson Prevenildo

Na sessão da Câmara Municipal da última segunda-feira, dia do desfile da ambulância do Samu, apenas cinco vereadores compareceram: Doriedson, Ana Dalva, Van da Barreira, Maria da Conceição e Valdelício. Apesar de ter quórum mínimo, o presidente não deu sequência à sessão. A oposição era maioria e podia dar um prejuízo. Pelo jeito, o Regimento Interno só pode funcionar se for para o bem geral do Poder Executivo Municipal. Amém, excelência!

Fátima Nunes


A deputada Fátima Nunes, conhecida hoje dos opositores pela alcunha de “Negona”, postou vídeos nas redes sociais louvando a chegada da ambulância do Samu na região, especialmente em Adustina. Afinal, o governo do PT não quer saber quem está administrando o município. A coloração partidária pouco importa, disse a deputada. Ocorre que quando tudo foi elaborado para trazer o Samu para a região, Paulo Sérgio era petista de carteirinha. Será que hoje a deputada teria tanta coragem assim? Fica a dúvida.

Ruim ou menos ruim?

Se o governo Mendonça não está lá estas coisas, pouco se deve aplaudir a oposição. Se esta não está fazendo mal a ninguém, tampouco se organiza para o bem futuro. Os políticos, de todos os lados, repetem os velhos esquemas carcomidos pelo tempo, achando que estão bem na fita. Só se encontram em ocasiões ditas especiais, conversam algo, recebem a visita de uma autoridade e ....Não planejam, não discutem, não equacionam. Tudo fica no mais ou menos por acaso, como se a esperar a onda natural dos fatos. Esperam acontecer, não fazem a hora. Isso pode tanto atirar o sujeito numa cama acolchoada como o arremessar num rochedo. Ao povo restará escolher entre o ruim e o menos ruim. Até quando isso, meu Deus?  

Um Lugar no Sertão: Andorinha

Saímos de Monte Santo pela BA 220, irmanada com a BA 120, com destino ao município de Andorinha. Em Pedra Vermelha, as duas rodovias se separam. A BA 120 segue para Uauá e nós seguimos pela 220. Dali até Andorinha, a estrada é de barro batido. Ao longo do caminho vimos os efeitos iniciais do El Niño. O açude do povoado Horizonte Novo estava completamente seco. Uma rês tentou encontrar água na lama e ficou atolada. Homens lutavam para tirá-la daquela situação. O povoado está no território de Monte Santo e a população conta os dias e as horas da chegada das trovoadas. Seguindo a estrada, 50 kms depois de Monte Santo e 25 kms após Pedra Vermelha, a BA 220 faz um quase contorno na Companhia de Ferro Ligas da Bahia – Ferbasa, já no município de Andorinha. A estrada ainda não tem asfalto, mas de tão bem cuidada, pode-se dizer que é o mesmo que asfaltada. A Ferbasa é uma empresa de mineração criada há 62 anos e está em Andorinha desde 1973. A empresa atua na extração de cromita no Vale do Jacurici em Campo Formoso e na localidade de Ipueira, às margens da BA 220, 7 kms antes de chegar à Andorinha.

Depois do sobe e desce de caminhões, chegamos a Andorinha. O município que fornece matéria prima para produção de ferrocromo e ferrosilício cromo da metalúrgica da Ferbasa em Pojuca, está longe de perder o seu encanto como uma cidadezinha tranquila e simpática do interior da Bahia. Hoje, parece até difícil imaginar que sua povoação começou a partir da instalação da família de João Alves de Araújo, em 1885, em uma fazenda, em frente a um rochedo branco chamado de Morro das Andorinhas. Até hoje, por sinal, geralmente nos fins das tardes, o local serve de pouso para as andorinhas. A fazenda era chamada de Fazenda Gato e seu proprietário era chamado por muitos de João Gato.  Foi ele quem trouxe o primeiro professor para a localidade, o Antônio Emílio, da cidade de Senhor do Bonfim, para alfabetizar seus filhos e quem mais desejasse. João Alves trazia também o padre Tolentino para que as almas não se perdessem. Em 1919, foi construída a Capela do Sagrado Coração de Jesus - que não existe mais.  

A fazenda de João Alves virou ponto de encontro de tropeiros e viajantes. Assim começou a se formar um pequeno povoado e, mais tarde, com a inauguração da estrada para Senhor do Bonfim, efetivou-se um maior povoamento. O povoado cresceu em território de Senhor do Bomfim sempre de forma lenta e acanhada. Em 1941, João Alves faleceu em 24 de julho do mesmo ano. Em 1955, Andorinha elevou-se à categoria de Vila. Em 1973, com a instalação da Companhia de Ferro e Ligas da Bahia - Ferbasa, extraindo e explorando o minério de cromo em seu solo, trouxe, sem dúvidas, novos horizontes e perspectivas acentuadas com alteração no quadro econômico da região. Com a chegada da indústria extrativista mineral, mudou-se radicalmente o padrão de vida e comportamentos. O dinheiro deixou de ser apenas oriundo da agricultura familiar e do criatório de gado. A vila ganhou ares de cidade e a emancipação chegou 16 anos depois. Vale ainda uma observação: mesmo depois da chegada da Ferbasa, o município sofria com as constantes estiagens.  Em 1983, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS - começou as obras de construção de um açude com o objetivo de oferecer uma infraestrutura hídrica para combater a estiagem na região. A obra foi concluída e inaugurada em 1984.

O Município de Andorinha foi emancipado através da Lei Estadual nº 5.026, de 13 de junho de 1989, sendo desmembrado do Município de Senhor do Bonfim. Além da sede, foram criados os distritos de Sítio da Baraúna e Tanquinho do Poço. O primeiro prefeito foi Carlos Humberto de Miranda Pereira Melo, ao lado do seu vice José Rodrigues Guimarães Filho, conhecido por Zé Branco. Andorinha faz limites com Senhor do Bonfim, Monte Santo, Jaguarari e Uauá. Fica distante 430 kms de Salvador e tem uma área total de 1.207,680 km², abrigando uma população de 15.011 habitantes, com 12,4 andorinhenses por km² e localizado no centro norte da Bahia, no Território Piemonte Norte do Itapicuru. Seu povo, como todo nordestino, possui um enorme potencial de cultura, manifesto nas tradições e festejos populares, sem perder a alegria e a fé no ato de viver. A cidade é divertida, organizada e com ares de satisfação. Reflete paz e harmonia em cada esquina ou praça. Quem visita Andorinha sai do lugar mais feliz, mesmo depois de ter lutado muito para não ficar.

Um Lugar no Sertão: Monte Santo e Pedra Vermelha - Capítulo 4

Saímos de Euclides da Cunha e pegamos a BA 220 para Monte Santo. Percorremos 38 kms de estrada em perfeito estado de conservação. Ao logo do trajeto, três comunidades se apresentam irmanadas com a rodovia e pertencentes ao território de Monte Santo: Derba, Lajinha e Laje. Alguns quilômetros antes, já é possível desfrutar a imagem deslumbrante da Serra do Piquaraçá e, aos seus pés, como se a fazer reverência, está toda a cidade de Monte Santo. Chegamos ao município por volta do meio-dia e o estômago reclamava. Fomos então para a Lanchonete D’Ana, que serve almoço nos dias de feira livre. Não foi difícil deixar o prato vazio porque a comida estava ótima. Barriga cheia, fomos à luta!

Mas Monte Santo não é de hoje. Sua história começa em outubro de 1775, quando o Frei Apolônio de Todi sai da aldeia de Massacará para atender um chamado do fazendeiro Francisco da Costa Torres. Este ara dono da fazenda Lagoa da Onça e pretendia realizar uma missão de penitência em sua propriedade. Na chegada do frei havia uma grande seca, sem água no local. A  missão não foi realizada e seguiu então para o logradouro de gado denominado Piquaraçá, onde existia um olho d’água em abundância, hoje conhecido como Fonte da Mangueira, localizado no pé da serra.

Frei Apolônio de Todi ficou impressionado com a serra e sua semelhança com o Monte Calvário de Jerusalém. Logo convocou os fiéis que o acompanhavam para transformar o monte em sagrado. O nome não poderia ser outro: Monte Santo. Começa então a marcação do seu dorso com os passos da Paixão. Logo em seguida, mandou tirar madeira e construiu uma capelinha e realizar a missão, cortando paus de aroeira e cedro para fixar em determinados espaços regulares do trajeto, a primeira dedicada às almas, as sete seguintes representando as dores de Nossa Senhora e as quatorze restantes lembrando o sofrimento de Jesus, na sua caminhada para o calvário em Jerusalém.

Em primeiro de novembro do mesmo ano, encerrou a procissão de penitência, com um sermão, finalizando as suas palavras pedindo aos fiéis que todos os anos, nesta data, fossem visitar o Monte. Em seguida, deu-se início a construção das capelas no local das cruzes e das igrejas do calvário e da matriz. Até hoje a Procissão se realiza no dia de Todos os Santos. Visitam a cidade dezenas de milhares de romeiros para subir e chegar até a Santa Cruz. Pagam promessas, renovam esperanças e tentam deixar o amanhã mais previsível para o bem viver.

Mesmo antes da conclusão da construção, em 1790, o Santuário foi elevado à categoria de Freguesia por Decreto de Lisboa, recebendo o nome de Santíssimo Coração de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Monte Santo, sendo nomeado o seu primeiro pároco o Padre Antônio Pio de Carvalho. Os primeiros povoadores de Monte Santo foram Francisco da Costa Torres, da Fazenda Laginha, Domingos Dias de Andrade, José Maria do Rosário, da Fazenda Damázio, e João Dias de Andrade.

A fé transformou o local em divino e o povo começou a criar raiz ao pé da serra. Nasce então o distrito com a denominação de Coração de Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus, subordinado ao município de Itapicuru. Em 21 de março de 1837, o distrito é elevado à categoria de vila com a denominação de Coração de Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus pela Lei Provincial n.º 51, desmembrado de Itapicuru. Em 15 de agosto do mesmo ano foi instalado o município com apenas um distrito sede. Quando distrito de Uauá foi criado, em 1905, anexaram à vila de Monte Santo. O município voltou a ficar com apenas um distrito com a criação do município de Uauá, em 1926. Sete anos depois, em 30 de junho de 1933, é criado o distrito de Canudos e anexado a Monte Santo, que volta a ter dois distritos mais uma vez. Entretanto, a anexação durou menos de 3 meses. Em 19 de setembro daquele mesmo ano, Canudos passa a ser distrito de Euclides da Cunha, antigo Cumbe.

O nome definitivo de Monte Santo só se efetivou quando a localidade passou a ser cidade, em 25 de julho de 1929, pela Lei estadual 2.192. Mas ainda havia muitas surpresas pelo caminho. Dois decretos estaduais de 1931 deixam Cumbe e Uauá na condição de simples distritos e os dois são anexados a Monte Santo, trazendo com eles o também distrito de Canudos. Essa situação dura até 1933, quando em 19 de setembro daquele ano são recriados os municípios de Uauá e de Cumbe. Nesta época, o distrito de Cansanção já pertencia a Monte Santo. Somente em 1952 é criado o município de Cansanção, desmembrado de Monte Santo. Entretanto, o STF – Superior Tribunal Federal – em 1954, considera Cansanção extinto, voltando a ser distrito de Monte Santo. Cansanção só passa a ser município, em definitivo, no ano de 1958.

Hoje, Monte Santo tem uma área total de 3.034,197 km², com uma população de 47.780 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica de 15,75 almas por km². O turismo religioso fez o município ser conhecido em todo o país. Duas rodovias se encontram na cidade: A BA 220 e BA 120. Apesar de ter esta população e uma imensa área, Monte Santo tem apenas um distrito, que é a sede. Apesar disso, em suas terras há povoações que mereceriam, se ainda não são, a categoria de distritos. Uma comunidade que não deixa dúvida é o povoado Pedra Vermelha, distante 25 kms da cidade. Fundado em 1945, nasceu da antiga Fazenda Pedra Vermelha. O nome foi dado por vaqueiros que, buscando local de descanso e águas para seus rebanhos, descobriram uma grande laje coberta por líquen vermelho-claro. Daí a denominação que permanece até a presente data. De lá para cá a localidade só faz evoluir.

O povoado tem como padroeira Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cuja Capela foi construída por Laurentino Silva. Os festejos são realizados todo dia 24 de julho. Além de um comércio desenvolvido e uma vasta produção agrícola familiar, o povoado é ligado a Monte Santo por asfalto irregular da BA 120, irmanada com a BA 220. No povoado, as duas rodovias se separam e perdem o asfalto. A BA 220 segue para Horizonte Novo, outro grande povoado de Monte Santo, e o município de Andorinhas. Em sentido norte segue a BA 120 com destino a Uauá. Pedra Vermelha tem ainda boa estrutura de saúde, rede de distribuição de água, várias ruas pavimentadas, colégio estadual de ensino médio e rede municipal de educação com boa estrutura. É quase uma cidade.  

Um Lugar no Sertão: Euclides da Cunha

Quem sai de Caimbé pela BA 220, com destino à cidade de Euclides da Cunha, tem a impressão de que o governo acordou para a importância da ligação entre o município sede e um dos seus mais importantes distritos. Mas é só mesmo impressão. Logo depois, a BA 220 se transforma num corredor de areia, buracos e lama. Bem próximo da cidade, a estrada volta a ser um pouco larga, mas, mesmo assim, não parece ser uma BA. Mais uma promessa foi feita para a chegada do asfalto. As máquinas estão na pista mais uma vez e o povo, com razão desconfiado, espera o término da obra ou o seu reinício.

Toda essa região foi um dia habitada pelos índios Caimbés, da tribo dos Tupiniquins. Mas os brancos chegaram por aqui vindos de Monte Santo e Tucano, principalmente. Fixaram suas famílias e trabalharam nas lavouras e criação de gado. O povoamento da colonização teve início na Fazenda Cumbe do Major, de propriedade do Major Antonino, primeiro explorador das terras do município. Os padres jesuítas, em missão de catequese pelo sertão, iniciaram a construção de uma capela em Massacará, terminada pelos padres franciscanos.

A sede da fazenda Cumbe ficava a 36 kms da comunidade de Massacará e recebia colonos vindos de várias regiões. Logo chegou o progresso na vila que nascia. Em 1881 virou Freguesia de Nossa Senhora do Cumbe, distrito de Monte Santo. No ano de 1888 foi construída uma capela subordinada a de Massacará, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, pelo padre Vicente Sabino dos Santos. No ano de 1898 Cumbe vira vila e seu território é desmembrado de Monte Santo. Em 1911 vira município com um único distrito-sede. Na era Vargas, em 1931, Vila do Cumbe foi extinta e a sua área reanexada ao município de Monte Santo.

Somente dois anos depois Cumbe é elevado novamente à categoria de município, pelo Decreto n.º 8.642, de 19 de setembro de 1933, desmembrado de Monte Santo, agora com dois distritos: Cumbe e Canudos. A instalação se deu em 10 de outubro de 1933. Pelo Decreto Estadual nº 11.089, de 30 de novembro de 1938, Cumbe passa a ser chamado de Euclides da Cunha. Em 1953, Massacará passa a distrito e é anexado ao município de Euclides da Cunha. Em 1985, nasce o município de Canudos e Euclides da Cunha passa a ter apenas dois distritos: a sede e Massacará. Porém, em 5 de novembro do mesmo ano, os povoados de Caimbé e Aribicé passam a ser distritos. Hoje a formação é com 4 distritos: Euclides da Cunha, Massacará, Caimbé e Aribicé.

Euclides da Cunha tem um comércio bem desenvolvido por ser um centro regional. Servido pelas rodovias BR 116 e BA 220, é ponto de partida e de chegada. Vários bons hotéis recebem passantes para vários pontos do nordeste, além de receber intensa frota de caminhões. Mas a renda de sempre do município é a agricultura, com sua expressiva produção de feijão, milho e mandioca. Em suas vastas áreas os pecuaristas criam rebanhos ovinos, suínos, caprinos e muares. É ainda produtor de galináceos e de mel de abelhas. E Euclides da Cunha ainda se destaca na produção de cal e pedra.

Ao longo destes anos, vários personagens euclidenses saíram de seu solo para brilhar país afora. Exemplo é o poeta, repentista e pesquisador brasileiro José Aras. Escreveu o primeiro relato em versos de cordel e a história da guerra de Canudos em prosa. José Soares Ferreira Aras nasceu em 28 de julho de 1893 e morreu em 18 de outubro de 1979. Seu filho, Roque Aras, chegou deputado federal, considerado um dos grandes parlamentares da Bahia. Seu neto, Augusto Aras, infelizmente não angariou mesma fama como Procurador Geral da República. 

Outro grande euclidense foi João Siqueira Santos, nascido em 25 de abril de 1909 e falecido em 25 de agosto de 2007, mais conhecido como Ioiô da Professora ou Seu Ioiô. Era uma fonte viva de informação sobre Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Sua mãe, Erotildes Siqueira, primeira professora da Vila do Cumbe, serviu de enfermeira para os militares feridos vindos do palco da Guerra de Canudos. Além disso, manteve contato com os conselheiristas sobreviventes da guerra.

Mas o mais famoso dos euclidenses foi Pedro Sertanejo, ou Pedro de Almeida e Silva, nascido em Euclides da Cunha em 26 de abril 1927 e morreu em São Paulo em 3 de janeiro de 1997. Foi sanfoneiro, compositor, radialista e fundador do primeiro selo independente, a Gravadora Cantagalo. Além disso, nos deixou outro gênio da sanfona, o seu filho Oswaldinho do Acordeom. Pedro Sertanejo levou o forró para São Paulo, criando um salão de festas, situado na Rua Catumbi, no bairro do Belenzinho, ponto de encontro de vários nordestinos em São Paulo. Lá se apresentaram Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zé Gonzaga, Marinês, Dominguinhos, dentre outros. Pedro Sertanejo gravou, na Cantagalo, ao longo de sua carreira, mais de 100 LP's. Ele ainda é autor da música Euclides da Cunha, feita para homenagear sua cidade natal.

O nome do município não poderia deixar de ser uma homenagem merecida ao escritor de Os Sertões. Seu território limita-se com os municípios de Monte Santo, Novo Triunfo, Quijingue, Cansanção, Cícero Dantas, Jeremoabo, Canudos e Banzaê. Fica distante de Salvador 311 kms e sua área total é de 2.028,421 km², que abrange uma população de 61.456 almas, com uma densidade demográfica de 30,3 habitantes por km. A maior festa do município ocorre no mês de junho e já é famosa em todo o estado: “Arraiá do Cumbe”, com atrações nacionais e locais. Uma boa oportunidade para conhecer a cidade e provar da sua tradicional carne de bode, ofertada em vários restaurantes da zona urbana ou rural.

A história do assassinato de Karoline

Karoline abraçada com seu futuro assassino. Mais um feminicídio de uma saga que parece não ter fim. (Foto: Carla Stúdio)
A imagem desta postagem pode representar um momento de felicidade de um casal diante de uma máquina fotográfica. Mas é apenas um momento. Neste último domingo, dia 12 de novembro, o abraço virou tragédia, o amor passou para o ódio e o afeto se transformou em ataque a facadas. Depois de uma discussão, Karoline de Jesus Nascimento, moradora do conjunto Françual, em Poço Verde – SE, foi encontrada com várias perfurações pelo corpo em frente à residência. O agressor, seu companheiro, estava numa calçada, já contido por populares. Antes mesmo de ser socorrida, Karoline deixou esta vida. Ela tinha 27 anos e mãe de duas crianças. O feminicida foi levado para a delegacia de Tobias Barreto e o corpo de Karoline seguiu para o Instituto Médico Legal, em Nossa Senhora do Socorro, na região metropolitana de Aracaju. Este é mais um capítulo da saga sobre o assassinato de mulheres no Brasil. Parece que vivemos a era do insano, onde a lei, o correto, o bom senso, o humano, a amizade e o amor perdem de goleada para o ódio e a barbárie.

Um Lugar do Meu Sertão: Massacará, Caimbé, Betânia, São João da Fortaleza e Cipó - Episódio 2

Nossa viagem hoje será para uma região magnífica e pouco conhecida pelos brasileiros. Nosso objetivo é chegar à terra indígena de Massacará. O segundo episódio da série Um Lugar do Meu Sertão começa na cidade histórica de Cícero Dantas e usamos para o deslocamento a BA 220, que recebeu malha asfáltica em 2022. Primeira parada foi no povoado Bethânia, que teve sua praça central inaugurada naquela semana do feriado de Nossa Senhora Aparecida. Depois chegamos a São José da Fortaleza. Até aqui o asfalto reina até o povoado Juá localizado um pouco depois do distrito de São João da Fortaleza, na estrada que segue para Massacará e Caimbé, no município de Euclides da Cunha.

A Terra Indígena Massacará está localizada no nordeste do estado da Bahia, ocupa uma área de 8.000 ha no município de Euclides da Cunha, já devidamente homologada, embora os índios queiram mais 4 mil ha para fazer jus à área real deixada pelos seus ancestrais, e reconhecida pelo Marquês de Pombal no século 17. Na área vivem cerca de 1.200 indígenas da etnia Kaimbé, povo originário do lugar. As maiores concentrações de pessoas estão em Massacará e Caimbé. Entretanto, há vários pequenos núcleos urbanos como Muriti e Tocas, Soares, Cipó, Monte Alegre, Sipituba, Bambo Bambo, Saco das Covas, Lagoa Seca, Baixa da Ovelha, Icó, Várzea e Icó Outra Banda.

No distrito de Massacará, só uma coisa se equipara à gentileza e amabilidade do seu povo: A Igreja da Santíssima Trindade, localizada bem no alto da Rua Velha, despontando bela e majestosa para todos os olhos de qualquer lugar da povoação. Logo ao ver, percebemos a carga de fatos históricos aureolando toda a sua estrutura, que passou pelas mãos dos Jesuítas, Franciscanos e coronéis. Foram os índios os seus construtores. Primeiro sob a batuta dos Jesuítas, a partir de 1614, origem da povoação. Só que os padres trabalhavam em regime análogo à escravidão, o que acabou gerando descontentamento e o projeto parou no tempo.

Em 1639 foi criada então a Missão da Santíssima Trindade de Massacará, onde foi sequenciada a obra anterior, que findou em uma capela e um convento. A missão era comandada pelos padres Franciscanos. Domesticado o nativo, cuidavam os padres de implantar uma organização de cunho religioso que mantivesse os indígenas socialmente organizados. Era este o objetivo principal dos missionários. Segundo o historiador Felisbelo Freire, os padres franciscanos, naquela mesma época, administravam também as missões de Santo Antônio, em Itapicuru; a de Bom Jesus, na vila da Jacobina; a de N. S. Das Neves, no sítio do Sahy, na mesma Jacobina; a de São Francisco, em Juazeiro; e a de Santo Antônio, no Curral dos Bois, dentre tantas outras. 

A povoação de Massacará está localizada a 36 kms da atual Euclides da Cunha e em suas terras passam a BA 220, ainda estrada de barro batido, mas com promessas de asfaltamento há anos sem fim. Foi de Massacará que, em 1785, partiu o capuchinho italiano Dom Apolônio de Toddi para uma celebração religiosa na capela da fazenda Soledade, no sopé da serra do Piquaraçá, e ao perceber a semelhança da serra com o Calvário de Jerusalém a denominou de Monte Santo.

O distrito já pertenceu a Itapicuru, Monte Santo e, com a criação do arraial do Cumbe, atual Euclides da Cunha, passou a fazer parte do município. Em 1953, pelo Decreto Estadual nº 628, de 30 de dezembro daquele ano, nasce o Distrito de Massacará, no município de Euclides da Cunha, condição que permanece até os dias atuais. Agora, em 2023, Massacará completará 384 anos, se contarmos a partir da chegada dos franciscanos. Se a referência foi o início de tudo, em 1614, já lá se foram 409 anos.

Após o distrito de Massacará, 11 kms adiante, chegamos ao povoado Cipó. Retornando pela mesma estrada, menos de dois kms depois, pega-se a BA 220 para Caimbé, que é, depois de Massacará, a vila mais povoada e estruturada urbanamente na região. Em Caimbé, as máquinas da promessa do asfaltamento da BA 220 estão virando a terra e ampliando a estrada. Mais adiante, por incrível que pareça, a rodovia vira uma trilha de antigamente num corredor, certamente por onde passavam índios, padres e fazendeiros. Uns para tentar sobreviver mundo afora, outros para supostamente salvar almas e os demais para encontrar a terra fértil de onde brotará dinheiro ou sangue.

Uauá - capítulo 1 da série Um Lugar no Sertão

Quando chegamos a Uauá, a cidade estava em festa, toda enfeitada para louvar o seu padroeiro São João Batista. Tudo estava destinado à alegria, com palcos armados onde desfilariam os artistas mais afamados que os cofres do município possam pagar. Qualquer passante por estas bandas tem despertada a sua curiosidade quando ouve as quatro vogais, desprovidas de consoantes e com sílaba repetida imitando um refrão: Uauá. É música para os ouvidos e interrogações para a mente. Vamos então aqui decifrar algumas curiosidades a respeito desta comunidade.

O primeiro documento em que aparece o nome Uauá é o tombo dos bens patrimoniais da Casa Tatuapara, mais conhecida como Casa da Torre. O território constava na relação dos bens de Garcia D’Ávila, como fazenda arrendada ao senhor André Gonçalves Batista da cidade de Jeremoabo. Depois de passar por várias famílias, a fazenda Uauá foi comprada por Pedro Pereira de Alcântara, o popular Pepedro. Este mandou construir um tanque para armazenar água, permitindo a permanência no local. Mais tarde as terras foram vendidas a Francisco Ribeiro, que pode ter sido, de fato, o iniciador da povoação. Francisco e sua esposa Joana Rodrigues construíram a sede da fazenda às margens do rio Vaza-Barris, no início do século XVIII. A casa ainda está de pé, conhecida como a casa de Dona Nair, localizada na Praça Adhemar Guimarães.

Com a família crescendo, casas foram construídas. Também foram erguidas moradias para os vaqueiros e seus familiares. Não demorou para Uauá virar um arraial. Sua localização também ajudou muito, pois era ponto de parada para comerciantes e consumidores entre os municípios de Monte Santo e Curaçá. Mas a fama do lugar chegou por motivos desagradáveis. Foi o local da 1ª batalha da Guerra de Canudos. No arraial, no dia 21 de novembro de 1896, O tenente Manuel da Silva Pires Ferreira comanda 113 soldados, oficiais, médico e guias recrutados nas forças do Estado da Bahia contra os conselheiristas. Entre a preparação da batalha e o fogo cruzado, o conflito demorou cerca de 4 horas, das 5 às 9 da manhã. A batalha que parecia favas contadas para o governo, virou um pesadelo. O governador era Luiz Viana, que atendeu solicitação do juiz de direito Arlindo Leone e convocou a tropa. O magistrado dizia que o Conselheiro iria invadir e saquear a cidade de Juazeiro, por não receber a madeira para construir o telhado da igreja de Canudos, compra feita com pagamento antecipado. Resultado da peleja: 30 soldados fora de combate e mais dez deles mortos. Dos que restavam, metade deserdaram. Os conselheiristas venceram, apesar de registrar 150 mortos, dos 1.500 que, armados de paus e pedras, sufocaram os rifles do exército. Pires Ferreira, para justificar a derrota, creditou a Belarmino Ribeiro ter avisado sua localização e chegada aos defensores de Canudos. Belarmino, que inclusive era professor e acolheu o tenente, decepcionado, foi morar em Juazeiro.

Na época do conflito, Uauá possuía duas ruas, uma praça e ficava localizada num entroncamento de acesso a Jeremoabo, Canudos, Curaçá, Monte Santo, Patamuté e Juazeiro. A maioria das casas eram de taipa. A população diminuiu naquele dia da batalha. Muitos fugiram, retornando depois porque não tinham para onde ir. Várias casas foram destruídas pelo fogo. Após a Batalha, Uauá Volta a se erguer sob comando das Famílias Ribeiro, Rodrigues, Borges, Guimarães e Andrade. No dia 08 de julho de 1905, o Decreto Lei n° 590 cria o distrito de Paz no Arraial de Uauá, subordinado ao município de Monte Santo. Nesta mesma data foi nomeada a senhora Júlia Moraes, professora leiga, para organizar a educação no arraial. Em 1911, é escolhido o local para construção da Igreja Matriz. O marco foi a construção do cruzeiro, até hoje existente em frente da Matriz. Em 1912, a Igrejinha do Bonfim é o centro das manifestações religiosas, sendo o Senhor do Bonfim cultuado como padroeiro inicialmente. Entre 1920 a 1923 é criada a Sociedade Filarmônica 15 de Novembro, sob a batuta do maestro José Arnóbio Varjão. Em 24 de maio de 1923, o Arcebispo de Salvador, Dom Jerônimo Tomé de Souza, cria a Paróquia de Uauá e nomeia o primeiro vigário da freguesia, padre João do Prado Nascimento. Neste mesmo dia, São João Batista é louvado como padroeiro de Uauá.

A partir de 1923, Uauá começa a despontar no comércio. Fazia negócios no lugarejo o empresário Delmiro Gouveia, de Alagoas. Destaque para as peles de caprinos e ovinos, consideradas as melhores do mundo ao lado das de Curaçá. Eram exportadas para o continente europeu e para os Estados Unidos. Com um crescimento tão visível, não era possível mais Uauá ser um arraial. Líderes políticos da época pressionam o neto do Barão de Jeremoabo, deputado Cícero Dantas Martins, para providenciar lei de emancipação da localidade. Em 09 de julho de 1926 é publicada a Lei nº 1866, que eleva Uauá à categoria de vila e cria o município. No mesmo ano é realizada sua primeira eleição e o coronel João Borges de Sá toma posse como primeiro prefeito de Uauá, em 28 de setembro de 1926. Vale aqui o registro dos primeiros vereadores: Coronel Olímpio José Rodrigues (Presidente), Major João Antônio da Costa (Vice), João Elpídio Filho (1º Secretário), João Damasceno Sobrinho (2º Secretário), Marcelino Carvalho, Pedro Gonçalves Cardoso, Benício José Ribeiro e Arquías Dantas Araújo. Neste ano também reiniciam as obras da Igreja Matriz.

Alguns fatos precisam ser citados sobre a história de Uauá. A Coluna Prestes, por exemplo, passou pelo município, atacou fazendas, enfrentou as tropas do governo e deixou duas vítimas fatais: os fazendeiros Raimundo Cardoso e Ernesto de Cândido Gonçalves. Anos depois, em 1930, com a revolução promovida por Getúlio Vargas, cai o coronel João Borges de Sá. Em 1931, no dia 6 de março, Constantino Tolentino de Souza é nomeado prefeito e fica até 08 de julho do mesmo ano. Nesta data é publicado o decreto nº 7.479, passando a ser Uauá apenas um distrito de Monte Santo, administrado por subprefeitos nomeados. A emancipação política só é devolvida ao município em 19 de setembro de 1933, mediante decreto do interventor federal Juracy Magalhães, de nº 8.641. Em 10 de outubro daquele ano, volta a sentar na cadeira de prefeito o coronel João Borges de Sá. Em 19 de junho de 1945, pelo decreto estadual n° 512, foi criada a Comarca de Uauá.

A cidade fica localizada no encontro do Riacho do Jorge com o rio Vaza-Barris, num vale que outrora já foi muito fértil. Próximo dali, por cerca de 6 kms, está o encontro do Riacho da Besta com o generoso Vaza-Barris. Bem perto também está o açude de Rodeadoro, na estrada para o povoado Pedra Grande. Uauá tem um vasto território 3.060,116 km², onde vive uma população de 24.665 habitantes, com uma densidade de 8,1 almas por km2. Além do distrito sede, há ainda Caldeirão e Serra da Canabrava. Duas rodovias servem ao município: a BR 235, para Juazeiro e para Jeremoabo, e a BA 120, que liga a cidade à BA 220 na altura de Pedra Vermelha, seguindo para Monte Santo.

Seu nome, de origem indígena, significa pirilampo ou vaga-lume. É como se Uauá precisasse chamar atenção no escuro ou, como um pisca de alerta, despertar o olhar dos passantes na sua direção e dizer que está ali, protegido pela fé do seu povo e, apesar de toda escuridão, tem muito a revelar aos visitantes. Principalmente, tem um povo que não renega suas origens e trabalha todos os dias à busca de uma vida cada vez melhor, molhando com seu suor a terra e fazendo brotar o alimento que dá força e faz caminhar sempre em frente.

BA 395, a rodovia de Creguenhém que foi esquecida

Como sabemos, a Bahia está distante, muito distante mesmo, de ser um estado com rodovias em condições que satisfaçam as necessidades do nosso povo. As federais deixam a desejar, as estaduais são ruins em sua maioria e as municipais são péssimas, com pouquíssimas exceções. Na nossa região a coisa é um pouco pior. Além das federais deterioradas por buracos e remendos a perder de vista, são poucas as estaduais asfaltadas e em boas condições de tráfego. Agora, não me vem à memória uma estrada vicinal asfaltada ou em condições excepcionais para uso. Neste vídeo, conheceremos uma estrada esquecida pelo governo do estado: a BA 395. Além de ligar duas rodovias federais, a BR 110 e a 410, passa por várias comunidades nos municípios de Tucano e Cipó, todas margeando o rio Itapicuru, inclusive o distrito de Creguenhém, em Tucano.

O início do nosso percurso é na BR 110, logo depois de sair da cidade de Cipó, também ainda depois do entroncamento desta BR com a rodovia BA 084, que segue para a cidade de Ribeira do Amparo. A impressão inicial é que a rodovia seria bem larga e encascalhada. Depois de passar por algumas comunidades naquele chapadão, destacando-se o povoado de Itapicuru, 8 kms depois, na localidade de Cotias, começa o município de Tucano. A rodovia já vinha ficando ruim, mas dava para passar. Do limite entre os dois municípios até a descida da chapada em direção ao povoado Olhos D’Água não há rodovia. É uma trilha de areia ou barro batido, onde mal passa um carro. A estrada vai se alargar e ganhar ares de rodovia já próximo a Olhos D’Água.

Por falar nisso, este povoado tem uma Igreja dedicada a São Pedro. Por sinal, sua maior festa ocorre no dia do santo, em 29 de julho, e é uma das mais concorridas na região. Olhos D’Água é a povoação mais próxima do leito do Itapicuru e a comunidade vive em função do rio. Como se trata de uma região de baixio, há centenas de famílias dependentes da agricultura de subsistência e para abastecer outras regiões nas feiras livres. O povoado não difere dos problemas das comunidades na região, mas é bem organizado e é uma espécie de região central para outras comunidades e fazendas ao derredor.

Cerca de menos de 3 kms após Olhos D’Água, chega-se à comunidade de Lagoa da Porta e, logo em seguida, chegamos ao povoado de Mandassaia, com boa estrutura urbanística e comércio bem desenvolvido. E assim segue a rodovia BA 395 interligando pequenas comunidades, numas das regiões mais bem habitadas do interior de Tucano. Isso, por si só, já justificaria o asfaltamento. Entretanto, mais adiante, a pouco mais de 6 kms, desponta diante de nós o distrito de Creguenhém, localizado a apenas 12 kms da cidade de Tucano, e a 8 kms da estância hidromineral de Caldas do Jorro.

O distrito histórico de Creguenhém não é apenas famoso por ter Raul Seixas dito que nasceu na povoação. Até há uma história de que existiu, ou ainda existe, um irmão do Maluco Beleza, chamado Vadó. A narrativa do contato com Vadó foi revelada por Marcos Clement, quando visitou Creguenhém ao lado de Wilson Aragão (veja link na descrição). Embora todos pensem diferente, Raul Seixas nasceu em Salvador, mas a provável lorota do nosso roqueiro ajudou a colocar Creguenhém no mapa mundi. Na real, o verdadeiro e único irmão de Raul Seixas é Plínio Seixas, quase 4 anos mais novo que ele. Veja entrevista na descrição.

Agora, sejamos justos, não foi apenas isso. Todo mundo sabe que o povoado existe desde 1815, quando aqui alguém edificou sua primeira casa. Toda história de Tucano está enraizada com a vida dos moradores de Creguenhém, inclusive moradores que viraram prefeitos. Mas não é só isso. Quem já ouviu falar de Gil Baiano – Jogador de futebol que defendeu o Vitória e a Seleção Brasileira? Jackson Berenguer Prado – Bispo da Igreja Católica, com atuação em Salvador, Paulo Afonso, Vitória da Conquista e Feira de Santana? João Santana – Jornalista, escritor e publicitário que comandou as campanhas de Lula, Dilma Rousseff e de candidatos na América latina e África, inclusive se envolveu com a Lava Jato, chegando até a ser preso? Jurandy da Feira - Compositor, cantor e violonista. Autor da canção Capim Novo, gravada por Luiz Gonzaga? Othon Bastos – ator de teatro, filmes e novelas, que participou de várias produções do Cinema Novo, com Glauber Rocha? Pois todos eles nasceram em Tucano.

Entretanto, vou destacar um que tem orgulho de ter nascido em Creguenhém. O nome dele é Gustavo Cabral de Miranda. Ele hoje é imunologista e o seu currículo é algo extraordinário. Possuí Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Mestrado em Imunologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Doutorado em Imunologia, no Dpto. de Imunologia, Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-IV) da Universidade de São Paulo (USP) com Doutorado Sanduiche no Exterior por um ano, na unidade de investigação Biomark, Sensor Research, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), Porto, Portugal. Pós-doutorados no Instituto Jenner, Universidade de Oxford, Inglaterra, e no Hospital Universitário da Universidade de Berna, na Suíça, com o desenvolvimento de vacinas utilizando VLPs (Virus-like particles) e diagnósticos avançados utilizando a tecnologia de Biossensores. Atualmente Gustavo Cabral exerce a função de Pesquisador Principal com Projetos aprovados pelo “Programa Jovens Pesquisadores” e “Auxílio à Pesquisa Regular” da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), para o Desenvolvimento de vacinas contra Sars-CoV-2, Chikungunya, Zika e Dengue.  

Vejam a importância de Gustavo para a construção da nossa história. Ele luta para salvar vidas no mundo inteiro. E é de Creguenhém! E para quem pensa que ele nasceu em berço de ouro, Gustavo mesmo diz que a compreensão que ele tinha de morar em Creguenhém era ir para roça, ir para escola por obrigação. Não tinha a cultura da importância do processo educacional. Aos 7 anos, vendia geladinho. Com o lucro, uma parte ajudava a casa, outra parte tirava e juntava para comprar uma galinha. Depois vendeu as galinhas e comprou um porco. Depois vendeu os porcos e comprou uma vaca. Saiu de casa aos 15 anos e foi trabalhar num açougue em Euclides da Cunha. Quando completou 20 anos, retornou a Creguenhém para estudar. Completou o ensino médio, fez faculdade na Uneb, em Senhor do Bomfim, mestrado em Salvador e doutorado na USP. Daí as portas do mundo se abriram. De Creguenhém para o mundo e com as palavras certas para explicar seu esforço: "A gente não veio ao mundo perder a viagem. É muito trabalho para vir para cá. A gente tem que fazer alguma coisa que faz diferença nisso daqui. Minha personalidade não me permite baixar a cabeça. Vou dormir hoje chorando, mas no dia seguinte amanheço como um leão. Eu tenho que ir para guerra", afirmou Cabral em entrevista ao G1.

Creguenhém, com uma história destas, caso estivesse localizado em São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro, estava entre os locais mais visitados pelos turistas. Aqui nem mesmo tem uma estrada asfaltada. Até o seu nome é motivo de curiosidade. Na verdade, Creguenhém é uma palavra indígena que pode significar lugar de chegada e de partida. Era ponto de fuga dos Tupinambás, quando por aqui chegavam os bandeirantes de Garcia D’Ávila com seus paus de fogo. Ao lado da comunidade, há ainda povoações menores como Creguenhenzinho e Umburaninha, formando um conglomerado significativo de pessoas. Somente na sede de Creguenhém há cerca de 3 mil moradores. Uma boa data para entender a grandiosidade do distrito é 13 de junho, quando a paróquia festeja seu padroeiro Santo Antônio. Talvez aí prosadores e prosadoras possam se indignar por não entender o motivo do não asfaltamento de uma rodovia tão importante para estas comunidades ao longo do rio Itapicuru, tanto em Cipó como em Tucano.

Cidades do Velho Chico: Juazeiro - episódio 11

Não é preciso andar muito para chegar a Juazeiro, na Bahia, claro, quando se está em Petrolina. Basta cruzar a ponte sobre o São Francisco, limite entre os dois municípios e cordão umbilical que une os dois corpos. O município de Juazeiro nasceu na margem direita do Velho Chico. Além do caminho das águas do rio, situa-se no ponto exato da passagem para se chegar a vários caminhos no interior do Brasil. O rio integra Juazeiro e Petrolina ao sul e ao norte e os caminhos terrestres, abertos inicialmente pelo bandeirante Domingos do Sertão, unem a região aos demais pontos.

Passamos por Juazeiro duas vezes nesta jornada; quando seguimos para as cidades no entorno do lago de Sobradinho, e no retorno quando passamos por Petrolina. A primeira curiosidade vem logo sobre o nome da localidade. Se na vizinha do lado pernambucano o nome nasceu para homenagear uma pessoa, do lado baiano a questão envolve o tributo à sombra protetora da árvore, considerada mãe do sertão, o juazeiro. De fato, havia uma delas que fornecia sombra generosa aos passantes.   

Mas a história de Juazeiro começa no ano de 1596. Por aqui perambulou o bandeirante Belchior Dias Moréa. Certamente desfrutou as sombras do juazeiro e se encontrou com mascates e tropeiros na passagem do rio. Deve ter ouvido as histórias dos índios Tamoqueus, Guaisquais, Galaches e outras tribos da nação Cariri, primeiros habitantes dessas paragens. Nasce o nome então Passagem do Juazeiro. Surgem algumas casas de taipa e taperas, tendo suas terras incluídas nos domínios da casa da torre dos Garcias D’Ávilas, propiciando as condições de nascimento do primeiro povoado que deu origem à cidade.

Em 1706, chegava à região uma missão franciscana para catequizar os índios. Ergueram um convento e capela com uma imagem da Virgem que, de acordo com a lenda local, fora encontrada em grutas das imediações, por um indígena. Deu-se ao local o nome de Nossa Senhora das Grotas do Juazeiro, que deu origem à atual sede do município. Em 1710 foi erguida uma igreja, local da atual catedral de Nossa Senhora das Grotas, padroeira de Juazeiro. Em 1766, a missão de Juazeiro foi elevada à categoria de julgado, sob a jurisdição da Comarca de Jacobina, quando já contava com 156 casas. Em 09 de maio de 1833, o povoado passou a vila, desmembrando-se do município de Sento-Sé. A primeira Câmara Municipal foi instalada a 11 de junho de 1834, sendo o seu primeiro presidente Francisco de Paula Pita.

Daí em diante, Juazeiro viveu sua existência de vila com escola primária, agências de correios, coletoria, assistiu à descida do Vapor Saldanha Marinho, no ano de 1871, pelas águas do São Francisco e vibrou com a promulgação da Lei que autorizava a construção da estrada de ferro do São Francisco. Em 15 de julho de 1878, a vila de Juazeiro foi elevada à categoria de cidade por força de Lei n.º 1.814 e o presidente da Câmara, Francisco Martins Duarte, assumiu função executiva como o primeiro prefeito de Juazeiro da Bahia.

São várias as alcunhas cravadas para indicar a grandeza histórica, geográfica e econômica de Juazeiro, mostrando seu potencial e perspectiva de desenvolvimento: Oásis do Sertão, Califórnia Brasileira, Eldorado da Fruticultura Irrigada ou Capital da Irrigação. Juazeiro e Petrolina, considerando apenas as duas cidades, abrigam mais de 620 mil habitantes, fora os números habitacionais dos seus vizinhos Campo Formoso, Jaguarari, Curaçá e Sobradinho, em território baiano, e Lagoa Grande, em território pernambucano. É a região chamada de Metropolitana do Polo Petrolina/Juazeiro, distante 502 kms de Salvador e 700 do Recife, com uma concentração em torno dos 800 mil habitantes.

Sozinha, Juazeiro é formada por 6.721,237 km², com uma área urbana de quase 40 kms. Sua população chegou aos 235.816 habitantes, no censo de 2022, ficando na 5ª colocação entre os mais populosos da Bahia. Sua densidade demográfica é de pouco mais de 35 pessoas por km2.

Três grandes rodovias alimentam Juazeiro: as BRs 235 e 407, e a BA 210. Além disso, há uma estrada de ferro que liga o município a Salvador. O aeroporto usado é o de Petrolina-PE, que está a 15 km da sede. Por via fluvial é possível navegar pelo rio São Francisco até Pirapora, Minas Gerais. Chegando a Juazeiro, o turista tem a seu dispor uma fortuna de atrações para visitar. Museus, ilhas, grutas e ainda pode provar dos vinhos do vale do Salitre. Destacamos o navio Vaporzinho, primeiro navio a vapor que navegou no Velho Chico, o Museu do São Francisco, a Ponte Presidente Dutra, o Parque da Lagoa do Calu, a Estátua Nego D'água e as vinícolas da região. A orla fluvial é muito movimentada, com variedade de bares e restaurantes onde é possível desfrutar do rio São Francisco.

Artigo de Luxo: Os políticos, o passado e a crueldade. Estreia

Se cultuar os erros de ontem e de hoje para evitar a repetição dos malfeitos fosse sinônimo de fracasso, eu estaria em constante processo permanente de capitulação. Para mim, o acerto é uma necessidade humana e os desacertos servem de aprendizado. Nossa vida é tão curta que não nos é permitido repetir erros. Quem acompanha com inteligência o comportamento dos nossos agentes públicos verá que, de forma esmagadoramente predominante, insistem em replicar ações como mantras, mesmo que elas sejam consideradas inadequadas até mesmo pelo mais comum dos seres humanos. Talvez seja por isso que muitos guardam fotos dos tempos de sucesso de outrora, mas escondem as feridas que permitiram chegar ao fato. Os fins justificam os meios! Ou seja, chegar ao poder, ou permanecer nele, é a licença para que se possa fazer tudo, até mesmo matar!

Não, caro leitor! Não vou estragar seu dia com relatos de assassinatos! Os meios de comunicação da Bahia estão aí difundindo cada corpo que cai, de soldados, de bandidos e inocentes, nessa guerra contra o tráfico. Quero fazer um corte e focar apenas neste nosso Nordeste da Bahia. Todos sabem que o velho Sorria de Fátima voltou às páginas das análises políticas. Quer ser novamente prefeito e derrotar Binho de Alfredo. As práticas são as mesmas: promessas, bazófias e muito óleo de peroba. Ah, claro! Muita cachaça! Fará a alegria daqueles que já perderam a esperança no futuro e veem no passado uma saída para glorificarem suas existências. Nada de novo. Este filme já foi visto e o final nós já sabemos.

Aqui na minha Heliópolis, um passado supostamente glorioso, mas que ninguém quer repetir, preenche as telas dos celulares, em grupos de aplicativos de conversas, com ditos elogiosos à sua atuação como um imbatível administrador! Certamente só figuram os acertos. Não aparecerão os bois entrando na cidade, fruto da venda de votos; nem uma palavra é dita sobre o telhado de uma escola malfeita que desabou sobre cabeças de alunos no povoado Serra dos Correias. E quem se lembra do tal deputado-peru, que ficava rodopiando na cadeira da Assembleia, saindo sem um projeto, sem um feito de glória? Até mesmo a Constituição ele queria mudar a seu favor. Insistiu em candidatar a esposa como sucessora dele na prefeitura e ainda obrigou Paulo Souto a mentir em público. O fim disso tudo? Hoje não consegue nem mesmo uma cadeira de vereador. Seu valor como político está no passado, no pouco de bom que fez, porque ninguém é tão ruim suficientemente que no poder não possa fazer algo de bom. Na balança do julgamento, os erros, entretanto, são bem maiores que os acertos. É um preço muito alto a pagar.

Vamos dar uma passadinha em Coronel João Sá, terra que replica a velha polarização da nossa política entre dois grupos que se alternam no poder. Quem está no trono de prefeito é Carlinhos Sobral. Digo trono porque ele parece esquecer da era em que vivemos e se acha acima da Lei porque se vê como um rei. Está promovendo uma série de perseguições a servidores. Duas professoras sofrem o pão que o prefeito amassou. Uma delas foi transferida de ofício e, quando se organizava para começar sua jornada, foi vítima de nova transferência. E o problema não está com ele. Elas cometeram a blasfêmia de falar injúrias contra o todo-poderoso! Ousaram ainda não o apoiar ou defendê-lo! Onde já se viu isso em pleno século 21? Embevecido pelo poder, Carlinhos Sobral deseja a glória, mesmo não pagando o Piso do Magistério determinado em Lei. Acaso tivesse feito tudo como manda a regra, nem mesmo assim teria direto às palmas. Fazer o correto é nossa obrigação, principalmente quando se é eleito justamente para isso!

Mas o troféu de repetidor de atos do passado vai para o ex-vereador e último candidato a vice-prefeito na chapa da oposição em Cícero Dantas. O nome dele parece ser a representação da pequenez política dos nossos agentes públicos: Nininho! Oficialmente, Nininho de Nedito. Fazendo o papel correto de vereador, denunciou o prefeito, Dr. Ricardo, apresentando irregularidades tácitas do alcaide na aplicação do dinheiro público. Como é comum, fez uma negociata política e hoje está apoiando o prefeito. Em troca, recebeu uma pasta da municipalidade para chamar de sua. E para provar sua lealdade ao administrador-mor, está usando os advogados pagos com dinheiro público de Cícero Dantas para desfazer as denúncias feitas nos processos abertos contra Ricardo. Quer apagar da história os fatos com a borracha do mau-caratismo.

Eu já me daria por contente se nossos agentes públicos parassem de repetir os erros do passado. Não é pecado nenhum fazer da política uma forma de vida. É possível a cada mandato trazer algo novo para justificar a confiança do eleitor, mas querer o poder, ou tentar se manter nele, mascarando feitos de outrora, maquiando ao seu bel prazer a realidade e praticando comportamentos nada republicanos não são feitos inteligentes. Se tudo isso acontece e os frutos podres são colhidos, resta-nos entender que os políticos não mudaram e, muito menos, os eleitores. Nesse caso, haverá sempre um culpado: a mídia. Para ser mais específico, este que escreveu e pronuncia tal artigo. É possível até que alguns, tomados pelos efeitos da polarização política, abandonem a leitura deste blog ou deixem de ouvir ou ver estes relatos. Talvez até dê um deslike ou deixe de seguir este canal. Provável até que eu seja visto como o entrave que impede o seu político preferido de chegar onde deseja. Oh! Landisvalth cruel!  

Cidades do Velho Chico: Petrolina - Episódio 10

Logo que saímos de Santana do Sobrado, distrito de Casa Nova, na Bahia, seguimos pela BR 235 com destino a Petrolina. Seriam mais 40 kms de percurso. Para nossa surpresa, as condições da estrada não eram das melhores. Há trechos sem sinalização, muitos remendos e até alguns buracos, além de um intenso tráfego de veículos. Não demorou muito para avistarmos a cidade nacionalmente conhecida na letra da composição de Jorge de Altino, reverberada nas vozes dos maiores astros da MPB deste país, Petrolina. E é exclusivamente sobre ela este episódio de Caminhos do Brasil – Cidades do Velho Chico.

Mas antes de mais nada, vamos contar como surgiu a cidade. Sabe-se que o território onde se encontra o município de Petrolina teria sido desbravado primeiramente por frades franciscanos, no trabalho da catequese dos índios no lado pernambucano desta região do Velho Chico. Os frades capuchinhos franceses contaram com o consenso do chefe índio Rodela, que deixou seu nome ligado a todo o médio São Francisco, conhecido como o Sertão dos Rodelas. Em 1674, Francisco Rodela recebia patente de capitão-de-aldeia e foi o grande auxiliar das missões dos frades capuchinhos, que contribuíram para a ocupação do médio São Francisco, especialmente das ilhas fluviais. Essas missões só foram interrompidas em 1698, quando do rompimento das relações diplomáticas entre Portugal e a França. 

Também contribuiu para consolidar a ocupação do território a implantação de currais. Petrolina se situa onde antes havia a sede de uma fazenda de gado. Ainda no século XVIII instalou-se o primeiro morador no local denominado Passagem, à margem esquerda do rio São Francisco, defronte de Juazeiro, na província da Bahia. Ele tinha o nome de Pedro e, além de se dedicar à agricultura, à pesca e ao criatório de caprinos, fazia de canoa o transporte de pessoas e cargas entre as margens opostas. Ao lado desse primeiro habitante, outros fixaram residências, aproveitando-se da ocupação iniciada por Pedro. Mesmo assim, não há vestígios de povoamento oficialmente registrado durante o século XVIII. Os indícios de povoamento datam de 1817. Em Cachoeira do Roberto o capuchinho frei Ângelo fez edificar uma capela dedicada à Nossa Senhora das Dores, com a ajuda de Inácio Rodrigues de Santana, um morador local; e em Caboclo, Roberto Ramos da Silva levantou uma igreja em honra do Senhor Bom Jesus do Bom Fim. 

Em 1841, Passagem já era chamada de Passagem do Juazeiro, mas ainda não era um povoado. embora com algumas casas esparsas e diversos habitantes. Por sua localização no extremo sudoeste do estado de Pernambuco, às margens do rio São Francisco, era ponto de convergência e passagem obrigatória de boiadeiros e negociantes que cruzavam esse rio em direção ao estado da Bahia e vice-versa. Dessa intensa movimentação resultou a formação das duas cidades: Petrolina, de um lado do rio, onde já existiam fazendas de criação de gado, e Juazeiro na margem oposta. Foi o capuchinho italiano frei Henrique quem deu início às pregações missionárias e teve a ideia de construir, nesse local, uma capela sob a invocação de Santa Maria Rainha dos Anjos. Em 1858, após a bênção do sítio, frei Henrique assentou a primeira pedra para a construção da igreja, concluída dois anos depois, quando recebeu a imagem da sua padroeira.  A partir daí ganha corpo o povoamento da região, com ativação do comércio entre as duas margens. A vila recebeu a denominação de Petrolina, em homenagem ao imperador D. Pedro II, mas bem que poderia ser uma homenagem ao seu primeiro habitante.  

Várias leis provinciais, entretanto, mudaram as denominações do lugar e alternando a condição de vila ou de distrito. Somente na Lei Provincial nº 1.444, de 05 de junho de 1879, Petrolina passa à categoria de comarca, instalada em 1º de outubro de 1881 pelo seu primeiro juiz, Dr. Manoel Barreto Dantas. A Lei Municipal nº 2, de 20 de abril de 1893, criou os seguintes distritos: Petrolina (sede), Caeira (depois chamado Santa Fé) e Cachoeira do Roberto. Na era republicana o município de Petrolina foi constituído no dia 26 de abril de 1893, adquirindo autonomia legislativa. Seu primeiro prefeito eleito foi o tenente-coronel Manoel Francisco de Souza Júnior. A Lei Estadual nº 130, de 03 de julho de 1895, elevou a vila de Petrolina à categoria de cidade, a qual foi solenemente instalada em 21 de setembro de 1895.   

Em 1919 foram iniciados os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Petrolina/Teresina, no dia 30 de novembro de 1923 foi criada a diocese de Petrolina, sendo seu bispado instalado solenemente no dia 15 de agosto de 1924, com a posse de D. Antônio Maria Malan, primeiro bispo diocesano. Em 02 de fevereiro de 1925 houve o lançamento da pedra fundamental da catedral de Petrolina, a qual foi inaugurada no dia 15 de agosto de 1929 em ato oficiado por D. Miguel de Lima Valverde, arcebispo de Olinda e Recife, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e construída com pedras retiradas da própria região. No dia 18 de fevereiro de 1941, a Estrada de Ferro Petrolina-Teresina foi incorporada à Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, por força do Decreto-lei Federal nº 2.964, de 20 de janeiro daquele ano. E em 28 de fevereiro do mesmo ano foi instalada uma agência da Navegação Aérea Brasileira S.A., companhia nacional de transportes aéreos de passageiros, correspondências e encomendas, na rota Rio de Janeiro-Fortaleza, sendo Petrolina ponto de escala dos aviões. 

A principal ligação entre Petrolina e Juazeiro  teve início no dia 25 de novembro de 1948, quando o general Eurico Gaspar Dutra, presidente da República, preside o lançamento da primeira estaca da ponte rodoferroviária, mas somente aberta ao tráfego em 16 de junho de 1954. Em 1979, o município de Petrolina é constituído de quatro distritos: Petrolina, Cristália, Curral Queimado e Rajada. Seu distrito-sede é subdividido em regiões administrativas: RA Norte, RA Leste, RA Oeste e RA Centro.  O Município de Petrolina localiza-se na mesorregião do São Francisco Pernambucano, distante 700 km de Recife e 500 km de Salvador.  O município limita-se com os municípios Afrânio, Dormentes e Lagoa Grande – todos em Pernambuco; Casa Nova e Juazeiro – na Bahia. O clima é semiárido quente. Além dos distritos, há povoados importantes como Nova Descoberta, Tapera, Izacolândia, Pedrinhas, Uruás, Lagoa dos Carneiros e Caatinguinha.

Por sua importância, Petrolina é servida por várias rodovias federais: BR-232, BR-110, BR235, BR-316, BR-428 e BR-122, além da estadual PE-360. A área total do município é de 4.561,87 km² e sua população chegou aos 386.786 habitantes, Censo de 2022 do IBGE, o que o coloca em 3º lugar entre os municípios mais populosos de Pernambuco, com uma densidade populacional de 84,8 habitantes por km2. A proximidade com Juazeiro e outros municípios de relevância na região coloca Petrolina como cidade de fundamental importância para o desenvolvimento de Pernambuco, atraindo negócios, turistas e pessoas desejosas de um lugar tranquilo, encantador e onde é permitido ter acesso a tudo o que é possível encontrar numa grande metrópole.