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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Acorda, Criatura! - Crônica sobre a formatura do CEJDS

Vai, Criatura!

Toma o teu destino nas mãos.

Pega este canudo vazio e o preenche com o que falta em tua vida. Afinal, é época de festejar o final de uma etapa e o início de uma nova caminhada.

Não se iluda. A luta está apenas no seu início. O que você conquistou foi o básico, o necessário. É como se um alicerce fosse terminado. Resta saber se as pedras e o cimento tenham sido suficientes para suportar a construção sobre ele. As pedras representam as horas de estudo e o cimento é o conhecimento. Quanto mais cimento, mais solidez. O vento e a chuva chegarão, cada um a seu tempo, para testar seu aprendizado. As possibilidades são sempre infinitas e você será testado o tempo todo. O cimento do seu alicerce poderá levá-lo ao setor de empacotamento das Casas Bahia, a um lugar na frente de montagem da Dakota Calçados, a uma das valas da construção do Metrô ou a uma sala de cirurgia cardíaca de um hospital israelita, comandando uma equipe de médicos no momento do transplante de um famoso qualquer. Vale dizer que ainda há tantas outras opções, todas dignas, digníssimas! A diferença está na remuneração. Mesmo dentro de determinada profissão há salários dignos ou não. Você pode ainda escolher o cartão do Bolsa Família ou o diploma de licenciatura. Qualquer um poderá ser um professor digno, mesmo que procure justificativas pedagógicas para aumentar o índice de aprovação com a finalidade de conseguir um percentual geapmético. E se alguém ousar questionar, use o seu cimento consolidado em suas bases para responder que não deseja ser o salvador da pátria da educação.

Seja qual for sua escolha, ela será sempre produto desta quantidade de cimento consolidado em suas bases. O seu diploma é o seu conhecimento. A sua foto de formatura chamará mais atenção que o certificado recebido. Para a nossa sociedade, acostumada com as aparências, a solenidade vale mais que a carga de conhecimento. O aluno que muito faltou às aulas, mesmo tendo maiores médias, sofrerá no tal Conselho mais que aquele que marcou presença em todos os eventos, mesmo não tendo lido um só livro ou estudado para uma só prova. O mundo parece tratar melhor os que aparecem mais, mesmo que não tenham conhecimento adequado e que afirmem a possibilidade de alguém vacinado virar jacaré ou culpar a Ucrânia pela invasão feita pela Rússia. 

Alguém pode até dizer que o conteúdo não é tudo, mas a pólvora, o átomo, a vacina, o antibiótico e outras grandes descobertas só foram possíveis pelo acúmulo de conhecimento. Você pode nem mesmo saber os nomes dos seus descobridores ou aprimoradores, mas está vivendo melhor graças a eles. E sabemos que você não tem o retrato de nenhum deles em sua casa, mas ostenta a camisa do seu time campeão, do seu artista preferido ou daquele filmaço. Até mesmo a pedagogia brasileira coloca o conhecimento em segundo plano. Não é sem sentido a posição que ocupamos no cenário educacional do PISA. Bem que a gente poderia, pelo menos, imitar Singapura, 1º lugar em tudo. O país que imita tudo para fazer melhor, a China, vem logo a seguir. Até nossa escola particular se contenta em se comparar ao nosso sistema público. Daí não deu outra, eles também são ruins entre os particulares. 

Ora, ora... E o que temos que fazer? Valorize-se! Se não dá para valorizar a educação, valorize o seu conhecimento e o aprimore. Todos por aqui falam em educação, mas é só uma bolha do discurso. Vejam, por exemplo, a solenidade de formatura. Pensei que metade da cidade estaria presente. Afinal, tínhamos números de sucesso. A escola é a melhor da nossa região. Atingimos a proficiência em Português e Matemática! Um feito inédito numa escola de nível médio por aqui. A última a conseguir isso foi o Waldir Pires nos anos 90, quando ainda tínhamos o 2º Grau do Curso Magistério. Além disso, o CEJDS recebeu investimentos significativos do governo do estado. Tínhamos tudo para um grande evento. Até mesmo o prefeito se prontificou a liberar grana do município para a banda Big Ben animar o evento e o seu nome despontar para a glória do apadrinhamento da turma. Não adiantou o diretor da escola gastar suas horas de dedicação a organizar tudo. Tirando alunos, pais e professores, poucos apareceram. Vão dizer que o dia foi inadequado, que deveria ter uma banda com cara de pisadinha ou sofrência... Até a chuva será culpada. Fato é que o problema somos nós.

Gastamos nossas energias para coisas inúteis ou passageiras. Vivemos cada segundo para aquilo que é imediatista, impactante e que flui de imediato. A embalagem tem que ser mais atraente que o conteúdo, mesmo que o seu destino seja o lixão. Conhecimento dói e é busca constante. É uma construção tijolo por tijolo. Uma vez a casa feita, há outro edifício a erguer do lado imediato. Para que então ler os clássicos se eu tenho ao meu dispor o Paulo Coelho ou o Olavo de Carvalho? Por que ler Platão se eu tenho ao meu dispor os pregadores do Evangelho e os influenciadores digitais? A vida exige pragmatismo a partir do descarte do conhecimento. Curioso é que só é possível o pragmatismo numa sociedade pautada no conhecimento.

Queria aqui poder dizer mais, mas as águas que correm debaixo da ponte são tantas!

E finalizo dizendo: Acorda, Criatura!

Sim você cruzou a primeira ponte, mas é só o começo! Daqui para frente tudo dependerá do tempo e da paciência dedicada aos estudos. Se o certificado foi artificial, não haverá mais pontes! Você estará no meio de um mar tenebroso e só restará dar braçadas para tentar chegar a algum porto. Tomara que não seja uma ilha abandonada. Se a sorte vier, quem sabe um encontro com Robson Crusoé?

Acorda, Criatura!