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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Do Sertão ao Centro-Oeste: BA 144, Várzea Nova e Morro do Chapéu. Episódio 05

Saindo da BA 368, seguimos no sentido sudoeste a partir do contorno com a BA 144, no povoado Lajes do Batata, no município de Jacobina. A BA 144 está em bom estado de conservação, bem sinalizada e com retões quase infinitos. Neste episódio conheceremos dois municípios importantes: Várzea Nova e Morro do Chapéu, servidos por esta importante rodovia. 

Depois de percorrer cerca de 30 kms, chegamos ao município de Várzea Novo, que também faz parte da Mesorregião Centro Norte da Bahia, ligado ao Território de Identidade Piemonte da Chapada Diamantina, região administrativa de Jacobina. Sua área é de 1.165,165 Km². Sua emancipação ocorreu em 25 de fevereiro de 1985, quando foi desmembrado do território de Jacobina. Limita-se com os municípios de Ourolândia, Jacobina, Miguel Calmon e Morro do Chapéu. A sede municipal tem altitude de 742 metros e fica distante de Salvador por cerca de 390 kms.

Várzea Nova possui clima semiárido e longos períodos de estiagem. A área do município está totalmente incluída no Polígono das Secas e sua história começa em 1913 quando o fazendeiro Zacarias Domingos de Jesus compra terras na região e fixa residência no local. Tempos depois, a família de José Botafogo chega para fazer companhia a Zacarias Domingos de Jesus e sua família. Como a região ainda não havia sido desmatada, Zacarias perfurou várias cacimbas para que não faltasse água nos períodos de estiagem. Uma delas recebeu o nome de sua segunda esposa: Cacimba Dona Generosa. 

A localidade começou a receber visitantes e muitos acabavam ficando. Compravam terras do fazendeiro Zacarias. Outros até recebiam tarefas de terra de graça para por lá permanecer. O local virou um vilarejo, depois um povoado. Hoje, a população de Várzea Nova gira em torno dos 14 mil habitantes, com um comércio razoavelmente desenvolvido, ainda que a agropecuária seja o sustentáculo de sua economia. Para chegar até aqui, duas coisas foram importantes: o sisal e a BA 144.

A rodovia BA–144 liga o município à rodovia BA 368, em Lajes do Batata, na sequência da BR 324, e ao município de Morro do Chapéu. Quando a estrada foi aberta, em meados de 1940, nasceu como BA 426 e facilitou o escoamento da produção agrícola local para Jacobina, Morro do Chapéu e Miguel Calmon. Na década de 1950, o Reverendo Presbiteriano Otacílio Alcântara trouxe o Agave (sisal), que rapidamente se transformou na principal fonte de riqueza em todo o território.  

depois expandindo de forma absurda por toda a região, tornando-se a principal fonte de riqueza e exploração agrícola de todo este território. Com a economia em franco desenvolvimento, foi fácil atrair pessoas e permitir a diversificação e distribuição das atividades geradoras de mais renda.

Difícil mesmo foi a primeira eleição municipal. Inicialmente, dois ex-vereadores, que representaram o povoado em Jacobina, fizeram um acordo para lançamento de um candidato único a prefeito. No andar a da carruagem, Ariobaldo Oliveira e João Aureliano Gomes acabaram rompendo. A filha de João, Maria Íris Gomes, licenciada em Letras pela Universidade Católica de Salvador, chegou ao município e resolveu se candidatar. O vice escolhido foi Edson Sales. Ariobaldo foi também para a disputa e escolheu como vice Paulo Roberto Pereira de Oliveira. A eleição de 1985 foi disputada voto a voto e Várzea Nova, por diferença de 36 votos, escolheu Maria Íris. O município começou rompendo barreiras: uma prefeita administrando um município com uma câmara de vereadores toda composta por homens. 

Depois disso, Íris Gomes se candidatou a deputada estadual e virou 1ª Suplente do PFL. Assumiu o mandato em março de 1991 até 1995. Só voltou ao cargo de prefeita de Várzea Nova em novembro de 2005, cumprindo mandato até o final de 2008, não conseguindo se reeleger. Depois dela, somente Daiane Severina Pereira, a Daiane do Social, disputou a cadeira de prefeita e perdeu para João Hebert, o Joãozinho, atual prefeito de Várzea Nova. Daiane foi a mais votada para a Câmara Municipal em 2016. Quem mais administrou Várzea Nova foi um homem. O nome dele é Dion Avelino da Silva. Foi prefeito por 4 vezes e faleceu no último dia 19 de outubro deste ano, aos 75 anos.

Alternando períodos de crescimento e de estagnação, Várzea Nova é como o Brasil. Entretanto, apesar de tudo, continua sua luta na busca do melhor lugar possível. De uma coisa ninguém duvida, como registra parte do seu Hino:    Várzea Nova/ Várzea Nova/ És menina e formosa.    (Colocar o Hino)  

Aproximadamente 45 kms depois de Várzea Nova, pela BA 144, chega-se a Morro do Chapéu, cidade de vasta história. Isto porque a chegada do homem branco ao seu território data do final do século XVI. Em 1591, o desbravador e vereador por Salvador, Gabriel Soares de Sousa, partiu de Jiquiçá, fazenda que possuía no Recôncavo, chegando até as cabeceiras do rio Jacuípe. Falam muito das passagens de Muribeca e Roberto Dias, mas há registros concretos da permanência do sertanista Romão Gramacho, ficando o seu nome fixado no do rio Vereda do Romão Gramacho. O principal fator do povoamento de Morro do Chapéu foi a concessão de grandes áreas de terras para estabelecimento de várias fazendas.  

Com a exploração de ouro em Jacobina, no ano de 1724, já se desenvolvia a criação de gado no território do atual Município. Estradas foram abertas ligando Jacobina ao rio São Francisco e a Minas Gerais. O ponto de passagem era a fazenda Gameleira. Em 1795, frei Clemente Adorno chegou à fazenda e iniciou a catequese. Uma capela foi erguida em terreno doado por Antônio Ferreira dos Santos, proprietário da fazenda Gameleira. Em torno da capela surgiram edificações nascendo assim a povoação de Gameleira, encravada na fazenda do mesmo nome. Em 1823, portugueses que fugiam das guerras pela Independência do Brasil passaram a residir no território. Em 1834 a capela foi concluída e, quatro anos depois, foi elevada a freguesia, distrito criado pela Lei provincial n.° 67, de 1.º de junho de 1838, sob o orago de Nossa Senhora das Graças, desmembrada de Santo Antônio da vila de Jacobina. Nessa ocasião, o povoado passou a chamar-se Morro do Chapéu e teve categoria de distrito de paz. O Município surgiu em 1864, pela Lei de n.° 933, de 7 de maio daquele ano. A Lei estadual n.° 751, de 8 de agosto de 1909, elevou à categoria de cidade a sede do Município. 

Morro do Chapéu localiza-se a 384 km a noroeste de Salvador, na zona oriental da Chapada Diamantina, e possui altitude média de 1.100 m. Os pontos de maior altitude chegam a 1.350m, sendo, por isso uma das cidades mais frias do estado, com temperaturas em torno de 10°C em algumas épocas do ano. Sua população beira os 40 mil habitantes e a economia é fortemente baseada na agropecuária de subsistência, além de investimentos em agricultura empresarial, baseada no tomate, morango e uva, inclusive com instalação de vinícolas de vinhos finos de origem francesa. O comércio é bem desenvolvido e há ainda fortes investimentos na produção de energia eólica, inclusive de empresas energéticas estrangeiras.

Para quem gosta de turismo ecológico, as atrações são a Cachoeira do Ferro Doido, a Gruta dos Brejões, e o Parque Estadual Morro do Chapéu; todas como áreas de preservação e conservação ambiental. Vale ainda citar a Cachoeira do Agreste, a Cachoeira de Domingos Lopes, o Buraco do Possidônio, (provavelmente aberto por um meteoro gigante) o Balneário do Tareco, (águas termais medicinais) o Morrão, (morro que deu origem ao nome do município por ter a forma de um chapéu, sendo visto do lado Sul) o centro ufológico e a Vila do Ventura. Morro do Chapéu é servido por várias rodovias estaduais. Além da BA 144, destacam-se a BA 422 e a BA 052, que liga o município a América Dourada e Irecê, nossos próximos assuntos.