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Um Lugar do Meu Sertão: Massacará, Caimbé, Betânia, São João da Fortaleza e Cipó - Episódio 2

Nossa viagem hoje será para uma região magnífica e pouco conhecida pelos brasileiros. Nosso objetivo é chegar à terra indígena de Massacará. O segundo episódio da série Um Lugar do Meu Sertão começa na cidade histórica de Cícero Dantas e usamos para o deslocamento a BA 220, que recebeu malha asfáltica em 2022. Primeira parada foi no povoado Bethânia, que teve sua praça central inaugurada naquela semana do feriado de Nossa Senhora Aparecida. Depois chegamos a São José da Fortaleza. Até aqui o asfalto reina até o povoado Juá localizado um pouco depois do distrito de São João da Fortaleza, na estrada que segue para Massacará e Caimbé, no município de Euclides da Cunha.

A Terra Indígena Massacará está localizada no nordeste do estado da Bahia, ocupa uma área de 8.000 ha no município de Euclides da Cunha, já devidamente homologada, embora os índios queiram mais 4 mil ha para fazer jus à área real deixada pelos seus ancestrais, e reconhecida pelo Marquês de Pombal no século 17. Na área vivem cerca de 1.200 indígenas da etnia Kaimbé, povo originário do lugar. As maiores concentrações de pessoas estão em Massacará e Caimbé. Entretanto, há vários pequenos núcleos urbanos como Muriti e Tocas, Soares, Cipó, Monte Alegre, Sipituba, Bambo Bambo, Saco das Covas, Lagoa Seca, Baixa da Ovelha, Icó, Várzea e Icó Outra Banda.

No distrito de Massacará, só uma coisa se equipara à gentileza e amabilidade do seu povo: A Igreja da Santíssima Trindade, localizada bem no alto da Rua Velha, despontando bela e majestosa para todos os olhos de qualquer lugar da povoação. Logo ao ver, percebemos a carga de fatos históricos aureolando toda a sua estrutura, que passou pelas mãos dos Jesuítas, Franciscanos e coronéis. Foram os índios os seus construtores. Primeiro sob a batuta dos Jesuítas, a partir de 1614, origem da povoação. Só que os padres trabalhavam em regime análogo à escravidão, o que acabou gerando descontentamento e o projeto parou no tempo.

Em 1639 foi criada então a Missão da Santíssima Trindade de Massacará, onde foi sequenciada a obra anterior, que findou em uma capela e um convento. A missão era comandada pelos padres Franciscanos. Domesticado o nativo, cuidavam os padres de implantar uma organização de cunho religioso que mantivesse os indígenas socialmente organizados. Era este o objetivo principal dos missionários. Segundo o historiador Felisbelo Freire, os padres franciscanos, naquela mesma época, administravam também as missões de Santo Antônio, em Itapicuru; a de Bom Jesus, na vila da Jacobina; a de N. S. Das Neves, no sítio do Sahy, na mesma Jacobina; a de São Francisco, em Juazeiro; e a de Santo Antônio, no Curral dos Bois, dentre tantas outras. 

A povoação de Massacará está localizada a 36 kms da atual Euclides da Cunha e em suas terras passam a BA 220, ainda estrada de barro batido, mas com promessas de asfaltamento há anos sem fim. Foi de Massacará que, em 1785, partiu o capuchinho italiano Dom Apolônio de Toddi para uma celebração religiosa na capela da fazenda Soledade, no sopé da serra do Piquaraçá, e ao perceber a semelhança da serra com o Calvário de Jerusalém a denominou de Monte Santo.

O distrito já pertenceu a Itapicuru, Monte Santo e, com a criação do arraial do Cumbe, atual Euclides da Cunha, passou a fazer parte do município. Em 1953, pelo Decreto Estadual nº 628, de 30 de dezembro daquele ano, nasce o Distrito de Massacará, no município de Euclides da Cunha, condição que permanece até os dias atuais. Agora, em 2023, Massacará completará 384 anos, se contarmos a partir da chegada dos franciscanos. Se a referência foi o início de tudo, em 1614, já lá se foram 409 anos.

Após o distrito de Massacará, 11 kms adiante, chegamos ao povoado Cipó. Retornando pela mesma estrada, menos de dois kms depois, pega-se a BA 220 para Caimbé, que é, depois de Massacará, a vila mais povoada e estruturada urbanamente na região. Em Caimbé, as máquinas da promessa do asfaltamento da BA 220 estão virando a terra e ampliando a estrada. Mais adiante, por incrível que pareça, a rodovia vira uma trilha de antigamente num corredor, certamente por onde passavam índios, padres e fazendeiros. Uns para tentar sobreviver mundo afora, outros para supostamente salvar almas e os demais para encontrar a terra fértil de onde brotará dinheiro ou sangue.