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Baiana do Angico, em Fátima, morre com filha na tragédia das fortes chuvas em São Paulo

Josefa Ilma e sua filha Sofia estão entre as vítimas das intensas chuvas em São Paulo. (Foto: Divulgação)

Dos mais de 40 mortos da tragédia provocada pelas fortes chuvas no litoral paulista, pelo menos duas vítimas fatais estão ligadas ao município de Heliópolis. Josefa Ilma Ribeiro Santos, 39 anos, e sua filha Sofia Ribeiro dos Santos, esta de apenas 8 meses de vida, foram identificadas entre os mortos da cidade de São Sebastião, em São Paulo. Josefa Ilma é natural do povoado Angico, município de Fátima-Ba, que fica apenas a 3 kms de Heliópolis. Ela trabalhava numa das casas atingidas pelos deslizamentos. Além de Josefa e a filha, morreram outras duas pessoas no mesmo local, a filha dos proprietários da casa e um empregado. O sepultamento de Josefa Ilma e sua filha será realizado ainda hoje no Cemitério Parque dos Ipês, em Embu Mirim, Itapecerica da Serra – SP.

A região onde a tragédia aconteceu é bem povoado por pessoas dessa região, principalmente do município de Heliópolis. Como ainda há desaparecidos e corpos não identificados, tudo ainda pode piorar. Não é a primeira vez que ocorrem estes deslizamentos. Todos os anos o Ministério Público do Estado de São Paulo alerta sobre o crescimento desordenado com a ocupação de morros na Vila Sahy, na costa sul de São Sebastião. O que ocorreu foi um capítulo novo de uma tragédia anunciada sob o olhar complacente dos órgãos públicos. Morrer de forma natural no Brasil está virando algo incomum. 

Barreiras, a BR 135 e o Rio Grande

Frustrados com a visita que não houve ao Jalapão, saímos de Formosa do Rio Preto no dia 16 de setembro de 2022. O destino era a cidade de Barreiras, a exatos 160 kms. De Formosa até o Entroncamento com a BA 451, que segue para Santa Rita de Cássia, são 52 kms. Pouco mais de 45 kms depois chegamos ao acesso à cidade de Riachão das Neves. Dali para Barreiras era menos de 60 kms e a BR 135 seguia em boas condições. Aliás, esta BR deixa o Rio Preto para trás, mas logo se associa ao Rio Grande. Cerca de 20 Kms depois de Riachão da Neves, a estrada federal margeia o lado oeste do Rio Grande e cruza sobre o Rio Branco, um afluente de peso. A BR 135 é uma das estradas responsável pelo progresso do oeste baiano, mas, antes dela, foram os rios os tapetes de água por onde deslizava a produção local.

Caminhos do Brasil – Do Sertão ao Centro-Oeste, neste episódio 13 terá como principal estrela a cidade de Barreiras. Logo que chegamos à cidade, fomos almoçar no Restaurante do Afonso, que serve a melhor galinha caipira do Oeste. Depois de debelada a fome, chegou a hora de contar a história da formação do município. Como a maioria dos municípios desta região, as terras do lugar faziam parte da imensa sesmaria de Antônio Guedes de Brito - o conde fundador do Morgado da Casa da Ponte. Depois de vendidas e passarem por várias mãos, nasce a Fazenda Tapera, administrada por Domingos Afonso Serra. Após sua morte, a fazenda foi dividida para vários proprietários e surgem, então, as primeiras moradias. Em 1850, o barqueiro Plácido Barbosa habitava uma casinha junto ao porto, em terreno da Fazenda Malhada. Além dele, havia Francisco José das Chagas, dono da fazenda. Com a chegada das mercadorias no Rio Grande, daqui partem para outros destinos em lombos de animais, inclusive para Goiás.   

O pequeno porto era o último no Rio Grande. Não havia como ir mais adiante porque, 5 kms depois, havia grandes barreiras de pedra, e isso impossibilitava a navegação. Daí nasce o nome Porto das Barreiras. Só que a povoação cresce e recebe o nome de São João, em homenagem ao padroeiro. Em 1891, Barreiras nasce como vila pela Lei Estadual n.º 237, datada de 06 de abril daquele ano, desmembrada do município de Angical.  Virou cidade em 19 de maio de 1902, pela Lei Estadual n.º 449, também com o nome de Barreiras. Naquele ano, a cidade tinha mais de seiscentos e trinta casas e dois mil e quinhentos habitantes.

Quem vê Barreiras hoje nem mesmo se lembra do pequeno mas movimentado porto desta foto de 1949. Nem imagina que as estradas eram verdadeiras trilhas abertas na mata, transportando pessoas nas carrocerias de caminhões. Também não imagina uma cidade calma, sem trânsito, nos anos 50.  Todo o crescimento de Barreiras está associado ao Rio Grande, até o surgimento das estradas, a partir da Era Vargas e da construção de Brasília.  Barreiras hoje é um município que pode ultrapassar uma população de 160 mil habitantes, o mais populoso do oeste baiano, o nono do Estado da Bahia e o 16º do Interior da Região Nordeste. A cidade é cortada pelo Rio Grande, num formato próximo de um S. Além disso, é servida por três rodovias federais: BR 135, BR 020, e a BR 242, tornando-a o principal entroncamento rodoviário da região. Faz limites com os municípios de Luís Eduardo Magalhães, São Desidério, Cristópolis, Angical, Riachão das Neves, Formosa do Rio Preto, Novo Jardim (TO) e Ponte Alta do Bom Jesus (TO).

Os números divulgados pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), referentes ao Índice da Dinâmica Econômica Municipal (IDEM), no ano de 2018, apontam Barreiras com uma das maiores taxas de expansão entre 2017/2018. O estudo avalia o desempenho da economia dos municípios baianos a partir da estrutura produtiva instalada. Em Barreiras, a atividade industrial prevaleceu entre os locais que apresentaram os resultados mais expressivos, graças à agroindústria. A região Oeste é destaque nacional na produção de grãos, especialmente de soja, a oleaginosa é a principal do agronegócio da produção regional. Os recordes de produção são na ordem de 6,7 milhões de toneladas. No setor agropecuário, o município ficou com a terceira colocação entre os 15 maiores PIB’s Agropecuários do interior do Nordeste. Já em 2021, estudo da Consultoria Urban Systems, publicado pela revista Exame, destacou Barreiras como a 18ª melhor cidade entre as 100 melhores do Brasil para fazer negócios e investir no mercado imobiliário.

De acordo com o CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), Barreiras foi a segunda cidade que mais gerou empregos na Bahia nos dois primeiros meses de 2019 ficando atrás apenas da capital Salvador. No mesmo ano, Barreiras teve a décima nona maior Produção Agrícola Municipal (PAM) do país, de acordo o IBGE, estando assim em terceiro lugar no estado, atrás apenas de São Desidério e Formosa do Rio Preto. 

Há ainda algumas vozes que gritam pela criação do Estado do Rio São Francisco, separando o Oeste do resto do estado. Desde 1850 circulam propostas para tirar esta região da Bahia. A última foi arquivada em 2015 e ao longo da luta emancipacionista vários municípios surgem como possíveis capitais: Paratinga, Correntina, São Desidério, Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. O argumento mais comum é a distância até a capital do estado, deixando os seus mais de 1 milhão de habitantes um pouco esquecidos pela administração estadual. Nos últimos anos, o Governo da Bahia vem investindo recursos para diminuir esta sensação de abandono. Para tanto, Barreiras será uma espécie de capital regional onde de tudo se encontra, sem limites para o seu constante crescimento.