Manifestantes que pediam
melhorias na educação entraram no salão onde ocorria homenagem
Tiago Décimo - O Estado de
S.Paulo
Foi sob protestos de um grupo
de cerca de 100 estudantes ligados ao Diretório Central da Universidade Federal
da Bahia (UFBA) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, no
início da tarde desta terça-feira, 20, o título de doutor honoris causa da
instituição.
Foi a sexta condecoração do
gênero recebida pelo ex-presidente desde o início do ano - as outras foram
concedidas pelas Universidades de Coimbra, em Portugal, Federal de Viçosa
(UFV), de Pernambuco (UPE), Federal de Pernambuco (UFPE) e Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE). A da UFBA, porém, foi a primeira a ser aprovada, 30 de
outubro de 2002, apenas três dias após sua eleição para o primeiro mandato.
Lula optou por receber títulos como este apenas após deixar o cargo. "Não
achava correto utilizar o mandato de presidente para receber título",
justificou.
Durante a solenidade, um grupo
de estudantes chegou ao prédio da reitoria da instituição para cobrar, entre
outras melhorias, o aumento para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) o montante
a ser obrigatoriamente investido em educação no País. Como não havia espaço no
salão onde ocorria o evento, os estudantes tiveram de ficar do lado de fora -
de onde gritaram palavras de ordem até que o discurso do ex-presidente, que
durou 30 minutos, fosse concluído.
Depois, os manifestantes conseguiram
entrar no salão, onde acompanharam o fim das homenagens a Lula e voltaram a
gritar palavras de ordem - enquanto pegavam autógrafos do ex-presidente nos
próprios cartazes nos quais estavam escritas as reivindicações. "Essa é
uma reivindicação nova", disse Lula. "Até outro dia, os estudantes
falavam em 7% (do PIB) - o que foi colocado no plano de governo da presidente
Dilma (Rousseff) até 2014. Eu até brinquei, dia desses, que se fizessem essa
reivindicação antes, enquanto eu era presidente, talvez a gente tivesse
atendido."
Para Lula, é natural que o
montante do PIB destinado à educação cresça gradualmente. "Eu acho que é
uma reivindicação correta, é só discutir, de forma madura, para ver se há
viabilidade", avaliou. "Cada vez vamos precisar de mais dinheiro para
a educação - porque não se faz educação de qualidade sem dinheiro. Precisa
contratar mais professores, investir mais em formação, fazer mais escolas, construir
mais laboratórios..." O ex-presidente, porém, avalia que seu governo
conquistou "muitos avanços" na área. "Nós fizemos 14
universidades federais novas, 126 extensões universitárias, 214 escolas
técnicas, um Reuni e ainda o Prouni", enumerou. "Ainda é preciso
fazer muito para a educação chegar aonde a gente quer. Nós não queremos
continuar sendo apenas exportadores de produtos in natura ou de commodities.
Nós queremos ser exportadores de conhecimento, de inteligência."
67 vezes doutor
Sobre a condecoração oferecida
pela UFBA, Lula disse já ter aceitado 67 títulos como esse. "E vou
continuar aceitando os que me forem oferecidos", afirmou. "Certamente
existe uma parcela da elite retrógrada deste país que não se conforma. Se eles
souberem que vou receber, no dia 27, o título de doutor honoris causa da
Sciences Po Paris (Instituto de Ciências Políticas de Paris), é que eles vão
ficar doentes. Eu serei o primeiro latino-americano a receber esse
título."
Durante seu discurso, Lula
também disse ter a intenção de fazer um livro sobre seu governo. "Todo
ex-presidente que acaba de deixar o mandato em seis meses está com um livro
pronto", brincou. "Eu resolvi que não era correto eu mesmo fazer um
livro, porque o livro de um ex-presidente nunca vai ser verdadeiro. Não sei se
vocês leram o livro do (ex-presidente americano Bill) Clinton. A Monica
Lewinsky (estagiária com quem Clinton teve um caso) não está lá. Um livro meu
também não ia contar tudo - e eu não ia fazer um livro para contar apenas o que
vocês já leram no jornal." Segundo Lula, a solução foi fazer um livro em
que várias pessoas dão testemunhos sobre seu governo. "Nós vamos fazer um
livro impessoal, nós vamos colocar a sociedade para dizer o que foram os oito
anos do governo Lula."