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Paratinga - Cidades do Velho Chico 25

 A série Cidades do Velho Chico, neste episódio 25, chega à cidade de Paratinga, localizada à margem direita do São Francisco, no meio do caminho entre Bom Jesus da Lapa e Ibotirama. Seu acesso pode ser feito pela BA 160, em perfeito estado de conservação. Para contar sua história, além das fontes convencionais, teremos o auxílio luxuoso do livro Histórias de Paratinga, de Tiago Abreu, que pode ser encontrado no Amazon. O livro é um mergulho no cotidiano do município e foi escrito a partir de 2016, quando então a BA 160 era uma das piores rodovias do país. Nós estivemos em Paratinga nos dias iniciais deste ano e, para nossa sorte, a realidade da estrada é outra. Tiago abreu nasceu em São Paulo, mas, como ele mesmo afirma, não chega a ser de lugar nenhum, um curioso pela busca dos caminhos perdidos da história de Paratinga e por sua ancestralidade.

 O município de Paratinga tem sua existência inicial com os índios nativos do lugar, os tamoios, cataguás, xacriabás, aricobés, tabajaras, amoipira, tupiná, ocren, sacragrinha, tupinambás e os predominantes tuxás, até o final do século 17. Em 1680 os europeus chegam por aqui e constroem uma capela, destruída mais tarde por uma cheia do São Francisco. A colonização começou quando o pecuarista e latifundiário Antônio Guedes de Brito recebeu sesmarias que compreendiam muitas áreas do interior da Bahia, o que incluía a região de Paratinga, assim formando um mundo de vastas áreas. A Casa da Ponte foi o segundo maior latifúndio do Brasil Colonial. Guedes de Brito é considerado o responsável pela extinção de grande parte da população indígena da região do Médio São Francisco. Os que sobreviveram foram escravizados.

  Após a morte de Guedes de Brito, sua neta Joana da Silva Caldeira Pimentel Guedes de Brito tornou-se proprietária de várias fazendas herdadas pela família. Numa delas, fazenda Santo Antônio do Urubu de Cima, surgiu o arraial conhecido como Urubu. No início do século XVIII, em 1710 aproximadamente, já existia uma povoação, ponto de passagem e pousada de boiadeiros e viajantes que transitavam rumo as Minas Gerais ou em sentido contrário. Em 11 de abril de 1718, o Arraial de Santo Antônio do Urubu de Cima tornou-se uma freguesia, com esse mesmo nome. Em 1714, contava com 362 casas e 3.425 habitantes. Em 1745, o arraial foi elevado a Vila e em 27 de setembro de 1749 desmembrou-se de Jacobina com a denominação de Urubu. Em 25 de junho de 1897, a Vila Urubu foi elevada à categoria de Cidade através da Lei Estadual nº 177, de 25 de Junho. A denominação Urubu perdurou até 1912. Foi o Deputado Muniz Sodré quem propôs a mudança para Rio Branco. Somente em 1943, um Decreto Estadual mudou o nome do município para Paratinga, vocábulo tupi que significa para = rio e tinga = branco. Cabe aqui uma lenda sobre o surgimento do nome Santo Antônio do Urubu de Cima. Falam que o nome veio por conta da descoberta de uma imagem de Santo Antônio debaixo de uma árvore, enquanto um urubu estava por cima, protegendo-a do sol.

 Quando ainda tinha o nome de Urubu, no período do Império, Paratinga gozava de imenso prestígio. Além de concentrar poderes da Corte, tinha vasta extensão territorial. Era, na época, o maior município do estado da Bahia. No ano de 1827, a vila limitava-se com Pilão Arcado, o estado de Minas Gerais, Barra do Rio Grande, Campo Largo, Vila de Santo Antônio da Jacobina, Rio de Contas, Vila Nova do Príncipe e Santana de Caetité. Em 1830, Urubu recebe sua primeira escola pública e sua Comarca é instalada cinco anos depois. O crescimento regional também gerou conflitos, inclusive com fatos violentos. Entre eles destacamos um dos casos mais notáveis ocorrido no dia 24 de janeiro de 1849. Antônio José Guimarães, um conhecido cangaceiro da região e parente de pessoas que ocupavam cargos públicos na vila, deixou todo o local em ruínas durante uma ação de três meses com um grupo armado de cem homens e se autodeclarou governador da região. A violência, que parecia sem controle, chegou a gerar propostas de emancipação do lugar. O Barão de Cotegipe, João Maurício Wanderley, em 1850, propôs a criação do Estado do São Francisco, cuja capital seria Paratinga, antiga Urubu. Essa ideia perdurou até bem pouco tempo, mas a proposta foi arquivada no Congresso Nacional.

 O município de Paratinga está distante 710 km de Salvador. Ocupa uma área de 2.624,118 km², e se limita com os municípios de Muquém de São Francisco, Ibotirama, Oliveira dos Brejinhos, Bom Jesus da Lapa, Sítio do Mato, Boquira e Macaúbas. Sua população chegou a 29.252 pessoas no Censo de 2022, o que representa uma queda de -2,49% em comparação com o Censo de 2010. A alta desigualdade social e pobreza historicamente constatada em Paratinga permanecem. Isso se deve, com destaque, à concentração de terra, à dependência do funcionalismo público e às poucas oportunidades e áreas de trabalho, o que provoca emigrações para os grandes centros urbanos. Sua densidade demográfica é de 11,14 hab/km². Vale ainda lembrar que, diante da cidade, localizada à margem oeste da zona urbana, existe a Ilha de Paratinga, a maior ilha fluvial de todo o Rio São Francisco. São 12.000 metros de comprimento e 300 metros de largura. Também existem outras ilhas: a Ilha Mangal, a Ilha dos Cavalos,  e a Ilha Barroso. Além do distrito sede, Paratinga ganhou o distrito de Águas do Paulista, datado de 1953, que inclusive possui fontes de águas termais.

 Cabe aqui uma observação final. O retrato de como está Paratinga hoje pode ser observado na leitura de Histórias de Paratinga, de Tiago Abreu. Lá tudo parece vivo e pulsante, como aliás percebemos nas horas que passamos fazendo estas imagens. Notório é que o povo do lugar luta para ser mais do que de fato é. No vai e vem da cidade, nas vereadas do interior, há uma gente que batalha para ser protagonista de sua própria história.