Alexandre
Lyrio - da Redação do CORREIO
Se o povo elegeu Tiririca para o Congresso Nacional, Agnaldo Timóteo para a Assembleia Legislativa de São Paulo e Clodovil para o Senado Federal, por que a Mulher-Ketchup não pode pleitear a sua vaguinha entre os políticos de Pindobaçu, a 377 quilômetros de Salvador?
Entre os
moradores da cidade, o nome de Erenildes Araújo (foto) já é cogitado (em princípio
como mais uma gozação) para representá-los na Câmara de Vereadores. A mulher
que forjou a própria morte para receber parte da recompensa do seu algoz ganhou
fama e até enxerga a possibilidade de virar política. “O pessoal tá falando por
aí, mas isso é algo para se pensar depois”. O radialista Walterley Kuhin,
primeiro a divulgar a farsa, confirma o desejo do povo. “O pessoal aqui
tem uma grande rejeição com a Câmara. Por que não colocar ketchup na casa?”. A
Mulher-Ketchup, também chamada de Lupita, faz tanto sucesso que tem evitado
sair às ruas.
Basta
botar os pés fora de casa, conta ela, e a gritaria começa. “Tô com receio do
pessoal me rasgar toda”. Se Erenildes chegou a reclamar do novo apelido, com a
repercussão crescente ela começa a se acostumar com a condimentada alcunha. Até
porque, o que antes era depreciativo agora virou elogio. “Depois que saí na
televisão e no jornal todo mundo grita na rua que é meu fã”. A
Mulher-Ketchup já conquistou até as crianças. “O ônibus escolar parou por minha
causa. Aquela meninada toda gritando das janelas e o motorista buzinando”.
O
prefeito da cidade, Hélio Palmeira, disse que, se for candidata, a
Muher-Ketchup tem chances de eleição. Não precisa perguntar ao Ibope para saber
que Lupita tá mesmo com moral com boa parte da cidade. “Eu gosto dela porque
ela fala o que pensa”, defende uma policial que preferiu não revelar o nome.
Entenda o caso
Carlos Roberto fez um acordo com a mulher e, em pleno São João, encenou
tudo usando um pote de ketchup, uma mordaça e uma faca
O
ex-presidiário Carlos Roberto de Jesus tinha tudo para cometer o que seria mais
um crime de mando em Pindobaçu, a 400 quilômetros de Salvador. Porém, ao
descobrir que conhecia a mulher que deveria matar, o “pistoleiro” resolveu
forjar o homicídio e dar parte do dinheiro (R$ 1 mil) à “vítima”. Contratado pela
dona de casa Maria Nilza Simões para matar outra dona de casa, Erenildes Aguiar
Araújo, Carlos Roberto fez um acordo com a mulher e, em pleno São João,
encenou tudo usando um pote de ketchup, uma mordaça e uma faca. Como prova de
que o crime havia sido consumado, ele tirou uma fotografia da “morta” (foto
acima) e entregou à mandante. A mulher acreditou na foto, apesar da montagem
grotesca com a faca “encravada” debaixo da axila de Erenildes, que aparece na
imagem amordaçada e o corpo labreado com o condimento.
Mas
como na Bahia o insólito é apenas um pretexto, é aí que entra o precedente do
precedente. Três dias depois, passeando pela feira da cidade, a mandante deu de
cara com o “assassino” e a “vítima” - se beijando, segundo a própria Maria
Nilza contou ao delegado da cidade, Marconi Almino. Apesar disso, a mandante
preocupou-se mesmo foi com os R$ 1 mil pagos e correu para a delegacia para
acusar Carlos Alberto de roubo. Inicialmente, para a polícia, pareceu uma
queixa de rotina. Mas, chamado para depor, Carlos Roberto entregou tudo. O fato
aconteceu no dia 24 de junho e teve grande repercussão na região. Mas só
estourou de vez esta semana. Em entrevista ao CORREIO, a “vítima”, conhecida
como Lupita (e agora carinhosamente chamada de mulher-ketchup), disse que a
mandante do crime quer, na verdade, ficar com seu companheiro.
“Ela
teve um caso com meu marido. Mas ele não quis mais ela. Aí mandou me matar pra
ficar com ele”. Erenildes ainda garante que Maria Nilza já contratou outros
pistoleiros. “Ela já pagou três para me matar. Mas todo mundo aqui gosta de
mim, nunca fiz mal a ninguém”, diz a dona de casa, que continua casada e
garante não ter medo das ameaças. “Quem tira a vida dos outros é Deus”.
Erenildes confirma toda a história do ketchup e garante estar com o dinheiro
guardado para devolver à polícia. Questionada sobre onde foi forjado o crime, ela
contou logo: “Ele me levou para um matagal...”, explicou. “Fez tudo e me deu R$
240”.
Os
três envolvidos foram indiciados e respondem processo na Justiça. Carlos
Roberto e Elenildes por extorsão. Maria Nilza por ameaça de morte, já que
ameaçou pessoalmente a rival. “Não há crime de mando porque não se concretizou
a execução”, explicou o delegado. “Em oito anos de Polícia Civíl, nunca soube
de nada parecido. Olha que a gente ouve é história por aí”, destacou o titular.
Para os moradores de Pindobaçu, que tem pouco mais de 20 mil habitantes, a
mandante do crime fez papel de besta. “Será que ela não viu que a faca tava no
sovaco? A cidade toda mangou da cara dela”, disse a comerciante Vera Márcia de
Araújo.