Ana Cristina Oliveira – de A TARDE –
Sucursal de Itabuna
“As pessoas gostam de trocar de carro
todo ano, e eu, de caixão”. É assim, com jeito meio zombeteiro, que o mecânico
Ronaldo Pereira Adorno (foto), 48, considera normal viver há 30 anos com o caixão em
que vai ser enterrado, na sala de casa.
“Acho a vida um doce, mas temos nossa
hora marcada, e não quero dar trabalho, por isso comprei o pacote completo:
caixão com duas capelas, roupa e o lugar no Cemitério Campo Santo, em Itabuna”,
diz ele.
Dida do Caixão, como é conhecido, relata
que comprou o primeiro caixão aos 18 anos. Aos 19, casou-se e, no início, a
mulher estranhou viver com “aquilo” na sala, mas acabou se acostumando.
O casal viveu durante cinco anos e teve
um casal de filhos, que cresceu vendo o caixão incorporado à rotina diária da
família. “Meu filho é que, de vez em quando, brinca e me chama de doido”,
relata.
O mecânico conta que, após a separação,
teve várias namoradas. Algumas não gostaram muito do estranho objeto na sala,
mas outras quiseram até dormir com ele dentro do caixão.
Para Dida, estranho seria chegar em casa
e não ver o objeto no cantinho da sala, junto da televisão. Ele diz que acha
tão normal que até os amigos quando o visitam não se espantam ao deparar com um
caixão.
O único “acidente” que houve foi
provocado por ele próprio. Um dia, logo que acordou, colocou uma capela na
parede da frente de sua casa e foi trabalhar. “Pouco depois, a porta ficou
cheia de gente, lamentando minha morte. Choveu telefonema de fora querendo
saber e teve gente que até desmaiou. Quando voltei, pensei que o clima fosse
melhorar, mas a confusão foi maior”, sorri.
Segundo Luci da Silva Adorno, mãe de
Dida, nesses 30 anos da relação de Dida com o caixão, ela só ficou sem a
fúnebre decoração na sala de casa apenas nos cinco anos em que o filho ficou
casado. “Depois, voltou com o pacote completo”, brinca.