Reportagem:
João Antônio,
Breno Alves, Micael Nobre e Dhomini Ícaro
A história do São Pedro de Heliópolis, na Bahia, se
mistura com um então jovem político chamado José Emídio Tavares De Almeida,
popularmente conhecido como Zé do Sertão, que logo após ser eleito o primeiro prefeito
do município, teve uma a grande ideia que mudaria a história da cidade. Pensou em
criar uma festa de grande porte, coisa nunca antes vista em Heliópolis, pois todos
os outros eventos da cidade eram de cunho religioso, como os festejos
natalinos, novenas e outros.
Inicialmente
a ideia de Zé do Sertão era trazer um trio elétrico, com a intenção de fazer
uma festa semelhante ao aclamado carnaval de Salvador, mas essa ideia foi descartada
por seu correligionário e colaborador, e mais tarde apresentador do São Pedro, professor
Landisvalth Lima. Este alegou a falta de estrutura da cidade e até uma falta de
coerência, pois trio elétrico não tinha nada a ver com a cultura local. Deu a
ideia de, ao invés de um festejo semelhante ao de Salvador, que se fizesse uma
festa que difundisse as origens da cultura do nordeste brasileiro.
Pondo o forró em
sua experiência como trilha sonora principal, e sendo uma festa projetada para
se passar em um ponto espaçoso da cidade, as coisas que faltavam para a
primeira edição do São Pedro, em 1987, seriam agora atrações e uma boa
divulgação. Como atração principal da primeira edição do São Pedro foi contratado
o cantor Genival Lacerda, famoso na época pela música Radinho de pilha, que tornou famoso o refrão “Ela deu o rádio”, de
intencional duplo sentido e uma melodia dançante que conquistou o grande
público.
Decidida a
realização do São Pedro, na divulgação da festa, Zé do Sertão não poupou
esforços. Realizou festas menores em todos os povoados que do município, os
chamados Esquenta São Pedro, ótimos aperitivos que deixavam um gostinho de
quero mais na população desses povoados. E como se não bastasse as festas, o
prefeito Zé do Sertão ofertou transporte gratuito em todos os povoados.
Com tudo para
dar certo, a saudosa primeira edição do São Pedro aconteceu divido em três
noites, lotando o calçadão da Rua Régis Pacheco, conhecida como Rua das
Pedrinhas, e fazendo esposas colocarem a mão na frente dos olhos de seus
maridos. Moças de biquínis desfilavam no palco ao lado de Genival Lacerda e a
primeira multidão aplaudia a novidade. Não satisfeito com as proporções dessa
primeira edição, pensando em uma forma de prover mais ainda a festa recém
lançada, decidiu sair a busca do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, na cidade de Exu,
em Pernambuco.
E novamente a cidade de Heliópolis é
surpreendida pela audácia do prefeito. Em um dia daquele mágico ano para a
história heliopolense (1988), José Emídio aparece com o filho de Januário
Gonzaga, coisa que não era esperada, pois o cara era ídolo nacional e cuidava
da saúde abalada. Heliópolis, uma recém emancipada cidade da Bahia, que fica a
mais de 330 Km de distância de Salvador, teria condições de contratar o ícone
da música nordestina?
Fato é que a
segunda edição do São Pedro de Heliópolis aconteceu e foi outro sucesso
estrondoso, superando a edição anterior e entrando não só pra história do
município, mas até pra história do próprio Luiz Gonzaga, pois essa foi sua última
apresentação em solo baiano.
Alvorada: nascimento e oficialização
A
alvorada, conhecida por anteceder o São Pedro, têm uma história consideravelmente
recente em relação ao nascimento do evento. Na medida em que os anos se passavam,
novas gerações se integram aos festejos e novos costumes nasciam. Algumas
pessoas resolveram fazer uma brincadeira entre amigos e acabou se transformando
na Abertura do São Pedro de Heliópolis.
A Alvorada da
festa foi oficializada no ano de 2009, permitindo ao festejo ser iniciado antes
das três noites de festa que paralisavam a cidade. Começou com pequeno suporte
logístico, como uma espécie de “esquenta” para a festa. Com o passar dos anos,
aumentou de proporção, até ser oficializada pelo ex-prefeito Walter Almeida
Rosário, no ano de 2009.
Alvora do São Pedro: brincadeira que virou coisa séria (foto: Landisvalth Lima) |
Economia de Heliópolis em tempos de São Pedro
No período pré
e pós São Pedro, o tráfego de capital circulante em Heliópolis é facilmente
notado. A dinheirama entra e sai aos montes no município. Com a vontade de sair
bem na foto, numa espécie de fenômeno anual, a população da cidade de
Heliópolis sai em busca roupas e calçados. Esse tipo de compra que acontece
on-line, em lojas ou, em maior número, em barracas de outros municípios que vêm
a Heliópolis na garantia de boas vendas, faz circular a moeda e gera dividendos
ao município.
Por outro
lado, o São Pedro de Heliópolis não se limita ao povo do município. É a grande
festa da cidade e uma das principais em toda a região Nordeste da Bahia, sempre
trazendo inúmeras pessoas vindas de cidades vizinhas ou de cidades
relativamente distantes. Exemplos são os filhos de Heliópolis que hoje moram em
cidades do sudeste e, todos os anos, marcam presença na festa. É esse fenômeno a
causa do alto capital circulante na cidade, gasto em atrações vindas de fora ou
no comércio local, fazendo a economia heliopolense ferver neste período.
Turismo durante o São Pedro
As animadas
noites do São Pedro da cidade recebem cerca de 35 mil pessoas, um grande número
para uma pequena cidade como a de Heliópolis. Esse grande número se dá por
recebermos uma grande quantidade de turistas que vem apenas para acompanhar
esses três dias de festa. Muitos desses turistas vêm de cidades vizinhas como Poço
Verde, Tobias Barreto, Lagarto, Simão Dias e Aracaju, em Sergipe; Ribeira do Pombal,
Ribeira do Amparo, Cícero Dantas, Fátima, Salvador e outras cidades da região.
Um grande
número também vem do estado de São Paulo, já que muitos heliopolenses migraram daqui
para as grandes cidades do estado paulista e aproveitam essa festa para rever a
família e curtir com amigos. Muitos desses diferentes foliões passageiros permanecem
em Heliópolis por períodos bem maiores que os três dias da festa. Aproveitam esse
tempo para gozar férias trabalhistas, visitar parentes e matar a saudade de sua
terra Natal.
Praça de Eventos: novo palco do São Pedro e seus benefícios
para Heliópolis
A festa era tradicionalmente realizada na Praça Regis
Pacheco, em um local popularmente conhecido como Calçadão das Rua das Pedrinhas.
Com o crescimento alarmante do público do São Pedro, foi construída na Praça
Isabel Ribeiro, ainda na primeira administração do atual prefeito Ildefonso
Andrade Fonseca, o Ildinho, uma espaçosa praça de eventos, com belo designer, que
atualmente recebe os shows do grande São Pedro de Heliópolis. Depois de sua
inauguração, a jovem praça foi palco das duas últimas edições do São Pedro, de
2017 e 2018, superando expectativas e se transformando em sucesso, depois de
ser fortemente criticada, principalmente pela classe política que faz oposição à
gestão do atual prefeito Ildefonso Andrade Fonseca.
Em um cenário distante das grandiosas noites de festa,
a praça de eventos é diária e amplamente utilizada pela população heliopolense
para a prática de esportes, inclusive futebol, ciclismo, skate, caminhadas,
corridas, ginástica, dentre outras atividades. Também passou a ser um grande
ponto de encontro da população, mostrando que ela não vive só de São Pedro,
mesmo sendo o local ideal para o mesmo.
Alcoolismo: reflexos no São Pedro
É inegável o sucesso
do São Pedro, com inúmeros pontos positivos que fazem dessa festa a maior do Nordeste
baiano, mas há um contraponto a toda essa alegria contagiante: o excesso de
pessoas que não moderam o uso de bebidas alcoólicas. É cada vez maior o número
de pessoas viciadas no uso exagerado do álcool que marcam presença nas edições
do São Pedro. Na edição deste ano não foi diferente.
Os casos variam
de pessoas passando mal por conta do abuso no uso do álcool no organismo a
eventuais brigas pelos mais diversos motivos, sempre potencializados pela
famosa “pinga”. Este ano, por precauções tomadas pela organização, não houve
violência nenhuma registrada, mas pessoas passaram mal pelo excesso de bebidas
alcoólicas, revelando o outro lado da festa. Este problema vem se tornando cada
vez mais visível e não é exclusividade do São Pedro de Heliópolis. Está virando
um problema extremamente comum na sociedade brasileira, inclusive protagonizado
por jovens e adolescentes.
Esta reportagem é parte avaliativa da disciplina
Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, desenvolvida por alunos do Colégio
Estadual José Dantas de Souza e solicitada pelo professor Landisvalth Lima.