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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Senhor do Bonfim: Um Lugar no Sertão - episódio 6

A nossa viagem da série Um Lugar no Sertão continua. Deixamos Andorinha reservada na memória e no coração e seguimos ao capítulo 6, dedicado ao município de Senhor do Bonfim. A BA 220, de Andorinha para Senhor do Bomfim, é toda asfaltada. São 45 kms que separam as duas cidades. É uma região densamente populosa porque no meio do caminho tem Pereiros, Queimadinha, Igara e Baraúna. O distrito de Igara é o mais populoso de Senhor do Bonfim. São mais de 10 mil habitantes, já com ares e estrutura de uma pequena cidade. Sua grandeza é tão significativa que o distrito está recebendo asfalto em várias ruas e avenidas. Do distrito de Igara para Senhor do Bonfim são apenas 12 kms. A partir de agora, contaremos sua história.

A colonização por aqui se confunde com a busca por pedras preciosas e a criação de gado. Já no século XVI, portugueses pertencentes à Casa da Torre, de Garcia D’Ávila, organizavam expedições com destino ao rio São Francisco e às minas de ouro de Jacobina, iniciando a ocupação do interior da província e a formação de vias de comunicação com o litoral. O território onde hoje está localizado Senhor do Bonfim era zona de passagem das expedições. Logo virou uma rancharia de tropeiros no século XVII, servindo de pouso para vaqueiros, bandeirantes e desbravadores que transitavam naquela região.

No final do século XVII, precisamente em 1697, a Ordem dos Frades Menores ou Ordem dos Padres Franciscanos cria a Missão do Sahy. No Arraial, estabelecido nas proximidades de uma aldeia pataxó, foram construídos convento e igreja sob invocação de Nossa Senhora das Neves. Em 1720, o arraial do Sahy passou à categoria de Vila, sediando a comarca de Jacobina até 1724, quando a sede foi transferida para a Vila de mesmo nome. Sahy hoje é um distrito de Senhor do Bonfim, localizado a 9 kms do centro da cidade sede, seguindo pela BA 131, rodovia que segue com destino ao município de Antônio Gonçalves. No Monte Tabor, localizado no distrito, ainda podem ser encontradas ruínas das edificações realizadas pelos padres franciscanos, principalmente de uma capela no topo da elevação. Foi graças à Missão do Sahy que foi possível o surgimento de povoações como de arraial de Senhor do Bonfim da Tapera, primeira comunidade formadora de Senhor do Bonfim graças ao grande número de tropeiros, aventureiros e peões vindos de todo o Nordeste. 

Com o crescimento da atividade pecuária, a expansão das pastagens e o consequente avanço da ocupação do sertão baiano, pessoas chegavam ao local e não tinham autoridades no arraial para impedir a desordem. A partir de 1750, o núcleo contava com várias edificações e com população estabelecida. O crescimento veio a galope. Em 1797, por força de uma Carta Régia , é criada a Vila Nova da Rainha, no dia 1º de julho daquele ano. A vila foi instalada em 1º de outubro de 1799 e já contava com 600 habitantes. Em 1885, em 25 de maio, Vila Nova de Rainha muda o nome para Bonfim e ganha a condição de cidade. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 141, de 31 de dezembro de 1943, retificado pelo Decreto Estadual n.º 12978, de 1º de junho de 1944, o município de Bonfim passou a ser denominado de Senhor do Bonfim. Depois das emancipações de Jaguarari e Andorinha, Senhor do Bonfim hoje é formado por 5 distritos: Senhor do Bonfim (sede), Carrapichel, Tijuaçú, Missão do Sahy e Igara. 

A cidade está localizada a 375 kms de Salvador e fica numa região densamente povoada no centro norte da Bahia. Sua população é de 74.523 pessoas, censo de 2022, e tem densidade demográfica de 94,41 habitante por quilômetro quadrado. De clima quente e úmido o ano todo, seu bioma é a Caatinga. O município possui uma forte tradição de festas juninas e é considerada a capital baiana do forró. Senhor do Bonfim faz limites com os municípios de Jaguarari, Filadélfia, Andorinha, Itiúba, Campo Formoso e Antônio Gonçalves. Apesar de ter alta taxa de urbanização e ser o 23º município em população na Bahia, ocupa apenas o 210º nos dados sobre mortalidade infantil, com alta taxa de 13,86 óbitos por mil: 140º lugar na renda per capita, com apenas algo próximo de 12 mil reais por habitante; e a taxa de escolarização ocupa a posição 121 no ranking do estado. Tudo isso mostra o tamanho do desafio que enfrentam as autoridades para sanar com a desigualdade social, caso queiram, de fato, resolver os graves problemas de Senhor do Bonfim.

A cidade está localizada no sopé sul da Serra do Gado Bravo, extensão da Chapada Diamantina, na Cordilheira do Espinhaço. Sua altitude na região central da cidade é de 453 metros acima do nível do mar. Por ter localização privilegiada, é sempre verde em todos os meses do ano, sempre abastecida de frutas e verduras de Grota, nos vales da cordilheira. Rica em nascentes de rios, todos seguem para o Itapicuru. Também são inúmeros os açudes em Senhor do Bonfim: Açude do Sohen, Açude do Quiçé, Açude da Boa Vista e outros menos, todos com a sagrada missão de minorar o sofrimento em épocas de estiagem. São açudes que represam riachos também pertencentes à bacia do rio Itapicuru. Para quem gosta de aventura, as serras são especiais para a prática do motocross e trilhas. O município é servido pela BR 407 e pelas BAs 220 e 131, todas em razoáveis condições de tráfego. Temos muito o que apreciar em Senhor do Bonfim. Chegando por lá, há ambientes para os que gostam do sossego e não faltam opções para aqueles que querem manter o corpo sempre em movimento.