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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Um Lugar no Sertão: Euclides da Cunha

Quem sai de Caimbé pela BA 220, com destino à cidade de Euclides da Cunha, tem a impressão de que o governo acordou para a importância da ligação entre o município sede e um dos seus mais importantes distritos. Mas é só mesmo impressão. Logo depois, a BA 220 se transforma num corredor de areia, buracos e lama. Bem próximo da cidade, a estrada volta a ser um pouco larga, mas, mesmo assim, não parece ser uma BA. Mais uma promessa foi feita para a chegada do asfalto. As máquinas estão na pista mais uma vez e o povo, com razão desconfiado, espera o término da obra ou o seu reinício.

Toda essa região foi um dia habitada pelos índios Caimbés, da tribo dos Tupiniquins. Mas os brancos chegaram por aqui vindos de Monte Santo e Tucano, principalmente. Fixaram suas famílias e trabalharam nas lavouras e criação de gado. O povoamento da colonização teve início na Fazenda Cumbe do Major, de propriedade do Major Antonino, primeiro explorador das terras do município. Os padres jesuítas, em missão de catequese pelo sertão, iniciaram a construção de uma capela em Massacará, terminada pelos padres franciscanos.

A sede da fazenda Cumbe ficava a 36 kms da comunidade de Massacará e recebia colonos vindos de várias regiões. Logo chegou o progresso na vila que nascia. Em 1881 virou Freguesia de Nossa Senhora do Cumbe, distrito de Monte Santo. No ano de 1888 foi construída uma capela subordinada a de Massacará, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, pelo padre Vicente Sabino dos Santos. No ano de 1898 Cumbe vira vila e seu território é desmembrado de Monte Santo. Em 1911 vira município com um único distrito-sede. Na era Vargas, em 1931, Vila do Cumbe foi extinta e a sua área reanexada ao município de Monte Santo.

Somente dois anos depois Cumbe é elevado novamente à categoria de município, pelo Decreto n.º 8.642, de 19 de setembro de 1933, desmembrado de Monte Santo, agora com dois distritos: Cumbe e Canudos. A instalação se deu em 10 de outubro de 1933. Pelo Decreto Estadual nº 11.089, de 30 de novembro de 1938, Cumbe passa a ser chamado de Euclides da Cunha. Em 1953, Massacará passa a distrito e é anexado ao município de Euclides da Cunha. Em 1985, nasce o município de Canudos e Euclides da Cunha passa a ter apenas dois distritos: a sede e Massacará. Porém, em 5 de novembro do mesmo ano, os povoados de Caimbé e Aribicé passam a ser distritos. Hoje a formação é com 4 distritos: Euclides da Cunha, Massacará, Caimbé e Aribicé.

Euclides da Cunha tem um comércio bem desenvolvido por ser um centro regional. Servido pelas rodovias BR 116 e BA 220, é ponto de partida e de chegada. Vários bons hotéis recebem passantes para vários pontos do nordeste, além de receber intensa frota de caminhões. Mas a renda de sempre do município é a agricultura, com sua expressiva produção de feijão, milho e mandioca. Em suas vastas áreas os pecuaristas criam rebanhos ovinos, suínos, caprinos e muares. É ainda produtor de galináceos e de mel de abelhas. E Euclides da Cunha ainda se destaca na produção de cal e pedra.

Ao longo destes anos, vários personagens euclidenses saíram de seu solo para brilhar país afora. Exemplo é o poeta, repentista e pesquisador brasileiro José Aras. Escreveu o primeiro relato em versos de cordel e a história da guerra de Canudos em prosa. José Soares Ferreira Aras nasceu em 28 de julho de 1893 e morreu em 18 de outubro de 1979. Seu filho, Roque Aras, chegou deputado federal, considerado um dos grandes parlamentares da Bahia. Seu neto, Augusto Aras, infelizmente não angariou mesma fama como Procurador Geral da República. 

Outro grande euclidense foi João Siqueira Santos, nascido em 25 de abril de 1909 e falecido em 25 de agosto de 2007, mais conhecido como Ioiô da Professora ou Seu Ioiô. Era uma fonte viva de informação sobre Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Sua mãe, Erotildes Siqueira, primeira professora da Vila do Cumbe, serviu de enfermeira para os militares feridos vindos do palco da Guerra de Canudos. Além disso, manteve contato com os conselheiristas sobreviventes da guerra.

Mas o mais famoso dos euclidenses foi Pedro Sertanejo, ou Pedro de Almeida e Silva, nascido em Euclides da Cunha em 26 de abril 1927 e morreu em São Paulo em 3 de janeiro de 1997. Foi sanfoneiro, compositor, radialista e fundador do primeiro selo independente, a Gravadora Cantagalo. Além disso, nos deixou outro gênio da sanfona, o seu filho Oswaldinho do Acordeom. Pedro Sertanejo levou o forró para São Paulo, criando um salão de festas, situado na Rua Catumbi, no bairro do Belenzinho, ponto de encontro de vários nordestinos em São Paulo. Lá se apresentaram Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Zé Gonzaga, Marinês, Dominguinhos, dentre outros. Pedro Sertanejo gravou, na Cantagalo, ao longo de sua carreira, mais de 100 LP's. Ele ainda é autor da música Euclides da Cunha, feita para homenagear sua cidade natal.

O nome do município não poderia deixar de ser uma homenagem merecida ao escritor de Os Sertões. Seu território limita-se com os municípios de Monte Santo, Novo Triunfo, Quijingue, Cansanção, Cícero Dantas, Jeremoabo, Canudos e Banzaê. Fica distante de Salvador 311 kms e sua área total é de 2.028,421 km², que abrange uma população de 61.456 almas, com uma densidade demográfica de 30,3 habitantes por km. A maior festa do município ocorre no mês de junho e já é famosa em todo o estado: “Arraiá do Cumbe”, com atrações nacionais e locais. Uma boa oportunidade para conhecer a cidade e provar da sua tradicional carne de bode, ofertada em vários restaurantes da zona urbana ou rural.