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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Um Lugar no Sertão: Andorinha

Saímos de Monte Santo pela BA 220, irmanada com a BA 120, com destino ao município de Andorinha. Em Pedra Vermelha, as duas rodovias se separam. A BA 120 segue para Uauá e nós seguimos pela 220. Dali até Andorinha, a estrada é de barro batido. Ao longo do caminho vimos os efeitos iniciais do El Niño. O açude do povoado Horizonte Novo estava completamente seco. Uma rês tentou encontrar água na lama e ficou atolada. Homens lutavam para tirá-la daquela situação. O povoado está no território de Monte Santo e a população conta os dias e as horas da chegada das trovoadas. Seguindo a estrada, 50 kms depois de Monte Santo e 25 kms após Pedra Vermelha, a BA 220 faz um quase contorno na Companhia de Ferro Ligas da Bahia – Ferbasa, já no município de Andorinha. A estrada ainda não tem asfalto, mas de tão bem cuidada, pode-se dizer que é o mesmo que asfaltada. A Ferbasa é uma empresa de mineração criada há 62 anos e está em Andorinha desde 1973. A empresa atua na extração de cromita no Vale do Jacurici em Campo Formoso e na localidade de Ipueira, às margens da BA 220, 7 kms antes de chegar à Andorinha.

Depois do sobe e desce de caminhões, chegamos a Andorinha. O município que fornece matéria prima para produção de ferrocromo e ferrosilício cromo da metalúrgica da Ferbasa em Pojuca, está longe de perder o seu encanto como uma cidadezinha tranquila e simpática do interior da Bahia. Hoje, parece até difícil imaginar que sua povoação começou a partir da instalação da família de João Alves de Araújo, em 1885, em uma fazenda, em frente a um rochedo branco chamado de Morro das Andorinhas. Até hoje, por sinal, geralmente nos fins das tardes, o local serve de pouso para as andorinhas. A fazenda era chamada de Fazenda Gato e seu proprietário era chamado por muitos de João Gato.  Foi ele quem trouxe o primeiro professor para a localidade, o Antônio Emílio, da cidade de Senhor do Bonfim, para alfabetizar seus filhos e quem mais desejasse. João Alves trazia também o padre Tolentino para que as almas não se perdessem. Em 1919, foi construída a Capela do Sagrado Coração de Jesus - que não existe mais.  

A fazenda de João Alves virou ponto de encontro de tropeiros e viajantes. Assim começou a se formar um pequeno povoado e, mais tarde, com a inauguração da estrada para Senhor do Bonfim, efetivou-se um maior povoamento. O povoado cresceu em território de Senhor do Bomfim sempre de forma lenta e acanhada. Em 1941, João Alves faleceu em 24 de julho do mesmo ano. Em 1955, Andorinha elevou-se à categoria de Vila. Em 1973, com a instalação da Companhia de Ferro e Ligas da Bahia - Ferbasa, extraindo e explorando o minério de cromo em seu solo, trouxe, sem dúvidas, novos horizontes e perspectivas acentuadas com alteração no quadro econômico da região. Com a chegada da indústria extrativista mineral, mudou-se radicalmente o padrão de vida e comportamentos. O dinheiro deixou de ser apenas oriundo da agricultura familiar e do criatório de gado. A vila ganhou ares de cidade e a emancipação chegou 16 anos depois. Vale ainda uma observação: mesmo depois da chegada da Ferbasa, o município sofria com as constantes estiagens.  Em 1983, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS - começou as obras de construção de um açude com o objetivo de oferecer uma infraestrutura hídrica para combater a estiagem na região. A obra foi concluída e inaugurada em 1984.

O Município de Andorinha foi emancipado através da Lei Estadual nº 5.026, de 13 de junho de 1989, sendo desmembrado do Município de Senhor do Bonfim. Além da sede, foram criados os distritos de Sítio da Baraúna e Tanquinho do Poço. O primeiro prefeito foi Carlos Humberto de Miranda Pereira Melo, ao lado do seu vice José Rodrigues Guimarães Filho, conhecido por Zé Branco. Andorinha faz limites com Senhor do Bonfim, Monte Santo, Jaguarari e Uauá. Fica distante 430 kms de Salvador e tem uma área total de 1.207,680 km², abrigando uma população de 15.011 habitantes, com 12,4 andorinhenses por km² e localizado no centro norte da Bahia, no Território Piemonte Norte do Itapicuru. Seu povo, como todo nordestino, possui um enorme potencial de cultura, manifesto nas tradições e festejos populares, sem perder a alegria e a fé no ato de viver. A cidade é divertida, organizada e com ares de satisfação. Reflete paz e harmonia em cada esquina ou praça. Quem visita Andorinha sai do lugar mais feliz, mesmo depois de ter lutado muito para não ficar.