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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Um Lugar no Sertão: Monte Santo e Pedra Vermelha - Capítulo 4

Saímos de Euclides da Cunha e pegamos a BA 220 para Monte Santo. Percorremos 38 kms de estrada em perfeito estado de conservação. Ao logo do trajeto, três comunidades se apresentam irmanadas com a rodovia e pertencentes ao território de Monte Santo: Derba, Lajinha e Laje. Alguns quilômetros antes, já é possível desfrutar a imagem deslumbrante da Serra do Piquaraçá e, aos seus pés, como se a fazer reverência, está toda a cidade de Monte Santo. Chegamos ao município por volta do meio-dia e o estômago reclamava. Fomos então para a Lanchonete D’Ana, que serve almoço nos dias de feira livre. Não foi difícil deixar o prato vazio porque a comida estava ótima. Barriga cheia, fomos à luta!

Mas Monte Santo não é de hoje. Sua história começa em outubro de 1775, quando o Frei Apolônio de Todi sai da aldeia de Massacará para atender um chamado do fazendeiro Francisco da Costa Torres. Este ara dono da fazenda Lagoa da Onça e pretendia realizar uma missão de penitência em sua propriedade. Na chegada do frei havia uma grande seca, sem água no local. A  missão não foi realizada e seguiu então para o logradouro de gado denominado Piquaraçá, onde existia um olho d’água em abundância, hoje conhecido como Fonte da Mangueira, localizado no pé da serra.

Frei Apolônio de Todi ficou impressionado com a serra e sua semelhança com o Monte Calvário de Jerusalém. Logo convocou os fiéis que o acompanhavam para transformar o monte em sagrado. O nome não poderia ser outro: Monte Santo. Começa então a marcação do seu dorso com os passos da Paixão. Logo em seguida, mandou tirar madeira e construiu uma capelinha e realizar a missão, cortando paus de aroeira e cedro para fixar em determinados espaços regulares do trajeto, a primeira dedicada às almas, as sete seguintes representando as dores de Nossa Senhora e as quatorze restantes lembrando o sofrimento de Jesus, na sua caminhada para o calvário em Jerusalém.

Em primeiro de novembro do mesmo ano, encerrou a procissão de penitência, com um sermão, finalizando as suas palavras pedindo aos fiéis que todos os anos, nesta data, fossem visitar o Monte. Em seguida, deu-se início a construção das capelas no local das cruzes e das igrejas do calvário e da matriz. Até hoje a Procissão se realiza no dia de Todos os Santos. Visitam a cidade dezenas de milhares de romeiros para subir e chegar até a Santa Cruz. Pagam promessas, renovam esperanças e tentam deixar o amanhã mais previsível para o bem viver.

Mesmo antes da conclusão da construção, em 1790, o Santuário foi elevado à categoria de Freguesia por Decreto de Lisboa, recebendo o nome de Santíssimo Coração de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Monte Santo, sendo nomeado o seu primeiro pároco o Padre Antônio Pio de Carvalho. Os primeiros povoadores de Monte Santo foram Francisco da Costa Torres, da Fazenda Laginha, Domingos Dias de Andrade, José Maria do Rosário, da Fazenda Damázio, e João Dias de Andrade.

A fé transformou o local em divino e o povo começou a criar raiz ao pé da serra. Nasce então o distrito com a denominação de Coração de Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus, subordinado ao município de Itapicuru. Em 21 de março de 1837, o distrito é elevado à categoria de vila com a denominação de Coração de Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus pela Lei Provincial n.º 51, desmembrado de Itapicuru. Em 15 de agosto do mesmo ano foi instalado o município com apenas um distrito sede. Quando distrito de Uauá foi criado, em 1905, anexaram à vila de Monte Santo. O município voltou a ficar com apenas um distrito com a criação do município de Uauá, em 1926. Sete anos depois, em 30 de junho de 1933, é criado o distrito de Canudos e anexado a Monte Santo, que volta a ter dois distritos mais uma vez. Entretanto, a anexação durou menos de 3 meses. Em 19 de setembro daquele mesmo ano, Canudos passa a ser distrito de Euclides da Cunha, antigo Cumbe.

O nome definitivo de Monte Santo só se efetivou quando a localidade passou a ser cidade, em 25 de julho de 1929, pela Lei estadual 2.192. Mas ainda havia muitas surpresas pelo caminho. Dois decretos estaduais de 1931 deixam Cumbe e Uauá na condição de simples distritos e os dois são anexados a Monte Santo, trazendo com eles o também distrito de Canudos. Essa situação dura até 1933, quando em 19 de setembro daquele ano são recriados os municípios de Uauá e de Cumbe. Nesta época, o distrito de Cansanção já pertencia a Monte Santo. Somente em 1952 é criado o município de Cansanção, desmembrado de Monte Santo. Entretanto, o STF – Superior Tribunal Federal – em 1954, considera Cansanção extinto, voltando a ser distrito de Monte Santo. Cansanção só passa a ser município, em definitivo, no ano de 1958.

Hoje, Monte Santo tem uma área total de 3.034,197 km², com uma população de 47.780 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica de 15,75 almas por km². O turismo religioso fez o município ser conhecido em todo o país. Duas rodovias se encontram na cidade: A BA 220 e BA 120. Apesar de ter esta população e uma imensa área, Monte Santo tem apenas um distrito, que é a sede. Apesar disso, em suas terras há povoações que mereceriam, se ainda não são, a categoria de distritos. Uma comunidade que não deixa dúvida é o povoado Pedra Vermelha, distante 25 kms da cidade. Fundado em 1945, nasceu da antiga Fazenda Pedra Vermelha. O nome foi dado por vaqueiros que, buscando local de descanso e águas para seus rebanhos, descobriram uma grande laje coberta por líquen vermelho-claro. Daí a denominação que permanece até a presente data. De lá para cá a localidade só faz evoluir.

O povoado tem como padroeira Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cuja Capela foi construída por Laurentino Silva. Os festejos são realizados todo dia 24 de julho. Além de um comércio desenvolvido e uma vasta produção agrícola familiar, o povoado é ligado a Monte Santo por asfalto irregular da BA 120, irmanada com a BA 220. No povoado, as duas rodovias se separam e perdem o asfalto. A BA 220 segue para Horizonte Novo, outro grande povoado de Monte Santo, e o município de Andorinhas. Em sentido norte segue a BA 120 com destino a Uauá. Pedra Vermelha tem ainda boa estrutura de saúde, rede de distribuição de água, várias ruas pavimentadas, colégio estadual de ensino médio e rede municipal de educação com boa estrutura. É quase uma cidade.