Um Lugar no Sertão: Monte Santo e Pedra Vermelha - Capítulo 4
Mas Monte Santo não é de hoje. Sua história começa em
outubro de 1775, quando o Frei Apolônio de Todi sai da aldeia de Massacará para
atender um chamado do fazendeiro Francisco da Costa Torres. Este ara dono da
fazenda Lagoa da Onça e pretendia realizar uma missão de penitência em sua
propriedade. Na chegada do frei havia uma grande seca, sem água no local. A missão não foi realizada e seguiu então para o
logradouro de gado denominado Piquaraçá, onde existia um olho d’água em
abundância, hoje conhecido como Fonte da Mangueira, localizado no pé da serra.
Frei Apolônio de Todi ficou impressionado com a serra e sua
semelhança com o Monte Calvário de Jerusalém. Logo convocou os fiéis que o
acompanhavam para transformar o monte em sagrado. O nome não poderia ser outro:
Monte Santo. Começa então a marcação do seu dorso com os passos da Paixão. Logo
em seguida, mandou tirar madeira e construiu uma capelinha e realizar a missão,
cortando paus de aroeira e cedro para fixar em determinados espaços regulares
do trajeto, a primeira dedicada às almas, as sete seguintes representando as
dores de Nossa Senhora e as quatorze restantes lembrando o sofrimento de Jesus,
na sua caminhada para o calvário em Jerusalém.
Em primeiro de novembro do mesmo ano, encerrou a procissão
de penitência, com um sermão, finalizando as suas palavras pedindo aos fiéis
que todos os anos, nesta data, fossem visitar o Monte. Em seguida, deu-se
início a construção das capelas no local das cruzes e das igrejas do calvário e
da matriz. Até hoje a Procissão se realiza no dia de Todos os Santos. Visitam a
cidade dezenas de milhares de romeiros para subir e chegar até a Santa Cruz.
Pagam promessas, renovam esperanças e tentam deixar o amanhã mais previsível
para o bem viver.
Mesmo antes da conclusão da construção, em 1790, o Santuário
foi elevado à categoria de Freguesia por Decreto de Lisboa, recebendo o nome de
Santíssimo Coração de Jesus de Nossa Senhora da Conceição de Monte Santo, sendo
nomeado o seu primeiro pároco o Padre Antônio Pio de Carvalho. Os primeiros
povoadores de Monte Santo foram Francisco da Costa Torres, da Fazenda Laginha,
Domingos Dias de Andrade, José Maria do Rosário, da Fazenda Damázio, e João
Dias de Andrade.
A fé transformou o local em divino e o povo começou a criar
raiz ao pé da serra. Nasce então o distrito com a denominação de Coração de
Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus, subordinado ao município de
Itapicuru. Em 21 de março de 1837, o distrito é elevado à categoria de vila com
a denominação de Coração de Jesus do Monte Santo ou Conceição de Jesus pela Lei
Provincial n.º 51, desmembrado de Itapicuru. Em 15 de agosto do mesmo ano foi
instalado o município com apenas um distrito sede. Quando distrito de Uauá foi
criado, em 1905, anexaram à vila de Monte Santo. O município voltou a ficar com
apenas um distrito com a criação do município de Uauá, em 1926. Sete anos
depois, em 30 de junho de 1933, é criado o distrito de Canudos e anexado a
Monte Santo, que volta a ter dois distritos mais uma vez. Entretanto, a anexação
durou menos de 3 meses. Em 19 de setembro daquele mesmo ano, Canudos passa a
ser distrito de Euclides da Cunha, antigo Cumbe.
O nome definitivo de Monte Santo só se efetivou quando a
localidade passou a ser cidade, em 25 de julho de 1929, pela Lei estadual
2.192. Mas ainda havia muitas surpresas pelo caminho. Dois decretos estaduais
de 1931 deixam Cumbe e Uauá na condição de simples distritos e os dois são
anexados a Monte Santo, trazendo com eles o também distrito de Canudos. Essa
situação dura até 1933, quando em 19 de setembro daquele ano são recriados os
municípios de Uauá e de Cumbe. Nesta época, o distrito de Cansanção já
pertencia a Monte Santo. Somente em 1952 é criado o município de Cansanção,
desmembrado de Monte Santo. Entretanto, o STF – Superior Tribunal Federal – em
1954, considera Cansanção extinto, voltando a ser distrito de Monte Santo.
Cansanção só passa a ser município, em definitivo, no ano de 1958.
Hoje, Monte Santo tem uma área total de 3.034,197 km², com
uma população de 47.780 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica
de 15,75 almas por km². O turismo religioso fez o município ser conhecido em
todo o país. Duas rodovias se encontram na cidade: A BA 220 e BA 120. Apesar de
ter esta população e uma imensa área, Monte Santo tem apenas um distrito, que é
a sede. Apesar disso, em suas terras há povoações que mereceriam, se ainda não
são, a categoria de distritos. Uma comunidade que não deixa dúvida é o povoado
Pedra Vermelha, distante 25 kms da cidade. Fundado em 1945, nasceu da antiga
Fazenda Pedra Vermelha. O nome foi dado por vaqueiros que, buscando local de
descanso e águas para seus rebanhos, descobriram uma grande laje coberta por
líquen vermelho-claro. Daí a denominação que permanece até a presente data. De
lá para cá a localidade só faz evoluir.
O povoado tem como padroeira Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, cuja Capela foi construída por Laurentino Silva. Os festejos são
realizados todo dia 24 de julho. Além de um comércio desenvolvido e uma vasta
produção agrícola familiar, o povoado é ligado a Monte Santo por asfalto
irregular da BA 120, irmanada com a BA 220. No povoado, as duas rodovias se
separam e perdem o asfalto. A BA 220 segue para Horizonte Novo, outro grande
povoado de Monte Santo, e o município de Andorinhas. Em sentido norte segue a
BA 120 com destino a Uauá. Pedra Vermelha tem ainda boa estrutura de saúde, rede
de distribuição de água, várias ruas pavimentadas, colégio estadual de ensino
médio e rede municipal de educação com boa estrutura. É quase uma cidade.