Ex-senadora e idealizadora da
Rede defende maior diálogo com a sociedade antes de fazer reforma política
Do portal IG.
Marina Silva - da REDE (foto: Veja) |
Marina Silva foi taxativa ao
afirmar, em entrevista ao iG , que o Congresso é o responsável pelo fracasso
das diversas tentativas de reforma política. Segundo ela, a pressão das
manifestações é o combustível para que a reforma seja finalmente realizada. "O
Congresso inviabilizou a reforma política e agora a sociedade dá
sustentabilidade política para que a reforma seja feita", disse ela.
Questionada se a responsabilidade
é do Congresso, Marina respondeu: "Mas é claro! O deputado Henrique
Fontana (PT-RS, relator da Comissão Especial de Reforma Política da Câmara)
havia feito um trabalho a duras penas no Congresso e o projeto foi engavetado
pelo PMDB com a conivência da base do governo. E ainda apresentaram um projeto
casuístico com um só ponto para tirar 36 segundos dos partidos que estão sendo
criados. Reduziram a reforma política a 36 segundos", afirmou. Para
ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, o atual formato do plebiscito
proposto pela presidente Dilma Rousseff resultará em uma reforma política que
aumenta o monopólio dos partidos políticos.
“O que estão propondo é para dar
mais verticalização e maior monopólio para os partidos políticos”, disse
Marina. Para a idealizadora da Rede, os parlamentares precisam consultar mais
a sociedade antes de encaminhar. "O Congresso não é a resposta, ele é uma
ferramenta. Se for apenas entre o Palácio e o Congresso, eles não entenderam
nada." Marina esclarece que acredita na necessidade de uma consulta
popular, mas que não concorda com as perguntas e nem como ele foi decidido.
"Não estou contra o plesbicito, estou contra a maneira que ele está sendo
feito."
Em sua campanha presidencial de
2010, Marina defendeu a criação de uma constituinte para elaborar uma reforma
política, proposta igual a defendida incialmente por Dilma, e depois retirada.
A ex-senadora disse ter amadurecido a ideia e que, após conversar com juristas,
entende que a proposta não seja a ideal, mas que também não concorda com que o
próprio Congresso elabore a reforma. "Quando os políticos viram uma classe,
eles perdem a legitimidade para mediar os embates entre diferentes
classes", defendeu.
Marina Silva em entrevista ao portal IG, em São Paulo. (foto: IG) |
Marina criticou os atuais
políticos que lutaram pela democratização do País na década de 1980 e agora não
escutam o que a juventude está pedindo nas ruas, repetindo a forma tradicional
de fazer política. “Nós influenciamos muito esses jovens que vão às ruas.
Agora, além de decepcionar essa juventude, ainda querem desautorizar. Se você
tem uma agenda, você consegue conversar com esse novo sujeito político em vez
de quere encapsula-lo.” Marina voltou a atribuir as manifestações que acontecem
em todo País ao "novo sujeito político" que ela identifica na
juventude atual, o que ela chama de "novo ativismo". Para a
ex-senadora, os jovens que vão às ruas não se identificam com as entidades clássicas
como partidos e sindicatos, e procuram uma maneira direta de participar
politicamente. A ex-senadora alerta para que o momento não se perca em uma
"fragmentação" de bandeiras, que pode levar o movimento a se perder
sem produzir mudanças. “Qual é o problema do novo ativismo? É de se fragmentar,
de virar uma coisa hedonista.”
Rede
Marina, que articula a criação de seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, rejeita o rótulo de pré-candidata à Presidência em 2014 e critica o adiantamento da agenda eleitoral."Não se pode mais disputar o poder pelo poder, é preciso um intervalo para poder se discutir sobre o que se fazer sobre saúde, educação", afirmou. A ex-senadora disse que os apoiadores da Rede não se identificam com os rótulos de "oposição e situação", pois no atual jogo político, "oposição por oposição só vê defeitos e situação por situação só vê as qualidades", e é preciso enxergar além disso, defendendo as coisas boas que estão sendo feitas e exigindo melhorias no que está ruim. Mesmo após recolher as 500 mil assinaturas necessárias para abrir a Rede, Marina busca ainda mais adesões, já contando com o descarte de 40% das fichas, e para isso procura um total de 800 mil apoios até o dia 10 de julho.