Deputado Devanir Ribeiro
explicita a falta de consenso da bancada do PT, partido da presidente, com
proposta de consulta popular que ela encampa. 'Quem pediu plebiscito? Falta
gestão', diz petista.
VERA ROSA - O Estado de S.Paulo
Deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) |
O plebiscito proposto pela
presidente Dilma Rousseff para mudar o sistema político divide até o PT. Embora
a Executiva Nacional petista vá aprovar hoje um cronograma de mobilização,
conclamando os militantes a se engajarem na campanha em defesa do plebiscito, a
consulta popular não tem apoio unânime nem mesmo na bancada do PT na Câmara.
Em meio à polêmica, o coro do
"Volta, Lula" agora é ensaiado por uma ala do partido que faz
críticas contundentes à articulação política do governo Dilma. "Já está na
hora de o Lula voltar", afirmou o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Autor
da proposta de terceiro mandato para o então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, Devanir disse que os protestos nas ruas tiveram outra motivação.
"Quem pediu plebiscito? O que falta no governo Dilma é gestão. As pessoas
querem transporte de qualidade, saúde e educação. Dinheiro tem. É só investir."
Para Devanir, a presidente
continuará enfrentando problemas na base aliada, e não só com o PMDB, enquanto
não der autonomia aos ministros para fazer a articulação política. "A
Ideli (Salvatti), coitada, é como um elefante numa loja de cristais",
definiu o deputado, numa referência à ministra das Relações Institucionais,
responsável por negociar com o Congresso.
Amigo de Lula há mais de 30 anos,
Devanir afirmou que a reforma política é assunto para "outro
departamento". A proposta enviada por Dilma ao Congresso prevê que a
população seja consultada sobre cinco pontos: financiamento de campanha,
sistema de votação, término dos suplentes no Senado, voto secreto no Parlamento
e fim das coligações partidárias.
"Eu sou contra esse
plebiscito, mas voto com o governo. Agora, querer jogar para o povo uma coisa
que não conseguimos resolver há mais de dez anos não vai dar certo",
insistiu Devanir. "Essa reforma é para salvar os partidos, não é de
interesse da sociedade." Na sua avaliação, a convocação de Constituinte
exclusiva para votar a reforma seria mais apropriada. A sugestão chegou a ser
feita por Dilma, mas ela recuou diante de críticas de políticos e juristas.
Na tentativa de amenizar a crise,
o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse
ontem que as discordâncias em relação ao plebiscito são "naturais". A
bancada do PMDB na Câmara fechou questão contra a realização do plebiscito
neste ano e, a portas fechadas, considerou a iniciativa "manobra".
"O PT também tem
divergências, o PSB, o PDT... Isso faz parte", desconversou Carvalho.
Mesmo assim, o ministro observou que será "uma decepção" se as
mudanças não valerem para as eleições de 2014. "Se é verdade que queremos
acabar com a corrupção, é importante que façamos uma reforma estrutural na
política, que trabalhe primeiro o financiamento público de campanha."
O deputado José Genoino (PT-SP) encaminhou à bancada proposta de emenda constitucional prevendo que a população autorize parlamentares eleitos em 2014 a revisar os artigos da Constituição que tratam do sistema eleitoral e partidário. A reforma passaria, então, por uma Assembleia Revisora e seria submetida a um referendo popular./ COLABORARAM TÂNIA MONTEIRO e RAFAEL MORAES MOURA