Políticos de oposição, como a
ex-senadora Marina Silva, o senador Aécio Neves, aliados do governo, como
Eduardo Campos, e até o presidente do STF, Joaquim Barbosa, se movem e se
fortalecem como alternativas em meio à pressão das ruas
Izabelle Torres – da revista
IstoÉ
Dizem os especialistas que em
política não existe vácuo. Ele é logo ocupado por alguém. Por isso, é natural
que políticos, principalmente os de oposição, e novos personagens se apresentem
como alternativas ao eleitor neste momento em que o governo se mostra pressionado,
tentando encontrar saídas para dar respostas efetivas ao clamor das ruas. Foi
exatamente o que ocorreu nos últimos dias. Os presidenciáveis Aécio Neves
(PSDB-MG), Marina Silva (Rede) e Eduardo Campos (PSB-PE) se apressaram em
apresentar propostas para se contrapor às medidas anunciadas pela presidenta
Dilma Rousseff. Candidato do coração dos manifestantes, segundo recentes
pesquisas, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, também se apresentou para o
jogo político. Convidado na terça-feira 25 para uma conversa no Palácio do
Planalto com a presidenta Dilma Rousseff, Barbosa saiu do encontro e convocou
uma entrevista coletiva para falar de política. Respondeu a perguntas de forma
afável e revelou sintonia com as ruas ao defender numa possível reforma política
a diminuição, não a extinção, do peso dos partidos e propor um “recall” de
candidatos – possibilidade de o eleitor voltar às urnas para destituir o
político eleito, caso seu mandato não esteja em consonância com os anseios
daqueles que o elegeram.
Apesar de dizer que não cultiva
ambições eleitorais, Barbosa tem se beneficiado da situação de não político e
angariado apoio das ruas. Independentemente das posturas questionáveis e
irascíveis, Barbosa se tornou um símbolo de combate à corrupção. Exatamente por
isso, foi questionado pela presidenta sobre as propostas prioritárias para o
País. “O Brasil vive uma crise de legitimidade”, afirmou Barbosa, minutos
depois de se dizer lisonjeado por pesquisa, realizada entre os manifestantes,
que o colocou em primeiro nas intenções de voto para a Presidência da República
em 2014.
Outro nome a figurar entre os
primeiros na preferência das ruas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também
capitalizou politicamente com o momento de fragilidade do governo Dilma
Rousseff. Fez um duro discurso de contraponto à postura adotada por Dilma
diante dos movimentos que foi elogiado até por integrantes de partidos aliados
ao governo. Falando em nome da oposição, Aécio criticou o teor do discurso da
presidenta e a acusou de ignorar os problemas postos em debate pelos
manifestantes. “Ela oficializou o jeitinho de fazer política no Brasil, que é
jogando os problemas para debaixo do tapete”, criticou.
Senador Aécio Neves (PSDB) |
Além de ganhar espaço e
fortalecer o discurso da oposição, Aécio Neves também comemora o fato de ter
incluído entre as prioridades do Legislativo para responder às pressões
populares a proposta de revisão do Pacto Federativo, uma de suas principais
bandeiras desde que chegou ao Senado. O pacto prevê mudanças em leis como a que
determina os critérios para a divisão da receita dos impostos entre estados,
municípios e União e a que trata da unificação das alíquotas do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Hoje, o discurso contra o governo
flui com tranquilidade, mas encontrar o tom adequado da crítica já foi um
problema para a oposição. Na campanha de 2010, o tucano José Serra se perdeu ao
tentar atacar o governo Lula sem parecer contrário aos programas sociais. Uma
dificuldade que hoje parece superada pela avaliação de que o movimento que
tomou as ruas é composto por gente que não depende do Bolsa Família e que a
classe média gigantesca é capaz de derrubar a popularidade recorde de um
presidente.
DISCURSO POLÍTICO
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, encontrou-se com Dilma,
deu entrevista coletiva e propôs diminuição do peso dos partidos
|
Ao longo da semana mais difícil
para Dilma desde a posse, aliados do governo interessados em voos independentes
também criaram coragem para começar a adotar um discurso mais ácido. É o caso
do governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), que ensaia uma mudança de
postura. Suas primeiras aparições públicas trataram o governo com uma cautela
pouco comum para quem se apresenta como possível adversário. Adotando um
discurso de que as coisas poderiam melhorar ainda mais e fazendo considerações
genéricas sobre os problemas do governo petista, Campos não despertou grandes
preocupações no Planalto e a ameaça de que seria candidato foi tratada como um
blefe. Mas, em conversas com correligionários nos últimos dias, Eduardo Campos
prometeu elevar o tom contra o governo. Em encontros com representantes dos
movimentos sociais que ocupam as ruas do País, o governador tem feito críticas
à demora na conclusão de obras federais e às ideias lançadas por Dilma para
acalmar os manifestantes. Em um cenário onde os aliados se contam nos dedos, a
presidenta Dilma Rousseff telefonou para Eduardo Campos na quarta-feira 26.
Queria convidá-lo para participar das reuniões sobre as medidas adotadas para conter
a crise. O ex-presidente Lula também telefonou para pedir a opinião do
socialista sobre as manifestações. Os dois conversaram sobre a importância da
mobilização social. Nas conversas, no entanto, Campos não deu nenhum sinal de
que pretende recuar nas críticas ao Planalto.
O cenário pessimista para o
governo também fortalece o discurso da ex-senadora Marina Silva, um pouco
modificado para se alinhar às pautas propostas pelos manifestantes. Empenhada
na criação do partido Rede Sustentabilidade, Marina deu declarações nos últimos
dias apoiando a mobilização. Na semana passada, a campanha em defesa da Rede
lançou uma agenda estratégica listando as prioridades do novo partido. Em
primeiro lugar estava a reforma política, seguida por saúde e educação. As medidas
referentes à sustentabilidade, apesar de darem nome à legenda, passaram a
ocupar a sétima posição entre as prioridades. “A motivação para os protestos
que ocorrem em todo o País é o surgimento de um novo sujeito político no mundo.
Os vinte centavos são o símbolo das manifestações, e neles estão incluídos o
hospital que não funciona, o problema de segurança e a falta de canais para que
se saiba qual é a agenda estratégica do País. Os antigos partidos políticos vão
ter que se repensar”, disse. Marina tem criticado políticos que tentam pegar
carona na mobilização apartidária, mas se preocupa em falar que
coincidentemente a agenda dos manifestantes é a mesma da legenda pela qual pode
sair candidata a presidenta em 2014.
Foto: Adriano Machado - Agência IstoÉ - e ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO.