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Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Poucas & Boas nº 110: Onde está a mudança?

Prefeito de Heliópolis e aliados na reinauguração da UBSF do povoado Tijuco, dia 16.03.24, no município de Heliópolis - Bahia.

No partido

Agora é oficial. José Mendonça Dantas não é mais do PL. Trocou o 22 pelo 15, do MDB de Ricardo Maia. Se o velho Ulisses Guimarães estivesse vivo, não acreditaria em que seu partido se transformou. Mas a culpa não é tanto da legenda, mas do sistema que se adapta às vontades dos seus dirigentes. Aqui não se cumpre Leis. Elas são transformadas para atender a manutenção dos poderosos no poder. Seria um incômodo para Mendonça continuar num partido que apoiou uma tentativa de golpe e está frontalmente esmurrando a nossa inteligência todos os dias. Ir para o MDB foi uma jogada inteligente porque o partido é aliado de Jerônimo e de Lula. Embora seja hoje um dos partidos do Centrão, servirá aqui para amarrar a vice-prefeita e o marido, que estavam bandeando para o lado da oposição.

Nas roupas

Na inauguração da UBS do povoado Tijuco, reformada com recursos do antigo Orçamento Secreto, não se viu nenhuma transformação ou mudança em relação aos últimos movimentos políticos. É fato que todos estavam com roupas diferentes, mas foi só isso. Não conseguem nem mesmo mudar os discursos. Quem duvida, veja lá no canal Impacto Jovem, do jornalista Jorge Souza, no YouTube. A seleção de falas é fantasia para fazer criança dormir e sonhar. A realidade passa longe. O que também não mudou foi o puxa-saquismo. Até o presidente da Câmara Municipal, que não estava tão contente com a administração, rasgou elogios ao prefeito, não sem antes pedir a reforma também da UBS do povoado Riacho.

Na proposta I

Quem conhece a política de Heliópolis sabe que o prefeito José Mendonça está desesperado à procura de um vice que lhe traga os votos necessários para garantir sua reeleição. Não é segredo a insistência para ter a vereadora Ana Dalva como companheira de chapa. Mas, desta feita, a proposta foi direcionada ao marido, com oferta para que ele transformasse a escola do povoado Cajazeiras em escola de tempo integral, ficando ainda com o controle total sobre a educação do município. A missão era só convencer a mulher a mudar de ideia. Como o casal não vive de ilusão, a resposta foi um “Agora?”. Como é possível fazer uma transformação radical desta com o ano letivo em andamento? Claro, nada prosperou.

Na proposta II

Ao mesmo tempo que assediavam Ana Dalva para vice, um conhecido empresário seguia para Aracaju a busca de Beto Fonseca. A proposta era turbinar a candidatura de Ildinho a prefeito com todos os recursos disponíveis, inclusive o apoio direto do comerciante. Sim, isso mesmo! Teríamos 3 candidatos fortes, com a oposição rasgada ao meio. Quem venceria? Mendonça, certamente. A charada foi logo decifrada. Alguns fazem política com o fígado e não têm a inteligência de perceber que as pessoas podem também pensar.  O que ficou patente foi a certeza de que a coisa não está lá boa para o lado dos governantes. Claro que tudo é possível mudar, mas para isso é preciso ter a capacidade de agir de forma transformadora.

Na BA 393

O mês de março está indo para as cucuias e lá se vão chegando os 3 meses de paralização da obra da rodovia BA 393. Até aí nada de novo. Não é a primeira vez que isso acontece, mas a transformação está acontecendo na estrada. O trecho de Heliópolis - BA até o município de Poço Verde – SE já apresenta os primeiros buracos no tratamento superficial simples. Como tudo está em silêncio, porque nenhum pai da desobra aparece, não dá para saber se a culpa é do Governo do Estado ou da GL Empreendimentos. Certamente vão culpar as chuvas que, aqui e ali, poderiam sim causar transtornos temporários.

Na data

A oposição em Heliópolis tem números que verdadeiramente indicam a possibilidade concreta de uma vitória de larga margem nas eleições deste ano. O problema maior é a própria oposição. Ela briga consigo mesma ao não se organizar. Acreditem: ainda não foi feita nenhuma reunião para estabelecer quem é quem e onde as coisas devem ficar, mesmo depois de inúmeros encontros entre Thiago Andrade, Beto Fonseca e Ildinho. Ou será que o grupo se resume a estes três? Ana Dalva disse uma vez a um eleitor que teria vários motivos para sair do grupo, mas nenhum contra Thiago. Também há o dobro de motivos para não aderir ao grupo da situação. Entretanto, verdade seja dita, o grupo da oposição não dialoga. Parece que não gostam de ouvir os nomes dos remédios que são bons para curar as feridas. A boa notícia é que finalmente uma reunião foi marcada para o último final de semana. Só que não! A data foi remarcada para até o dia 22 de março. Uma mudança visível!

Carira - Um Lugar no Sertão 13

O município sergipano de Carira, localizado no Oeste do estado, faz divisa com a Bahia. A cidade de Coronel João Sá é a cidade baiana mais próxima, distante apenas 35 kms. Sua posição geográfica permite o encontro de várias rodovias estaduais e federais. É o caso da BR 235, da SE 179, SE 240, SE 310 e a SE 412. Toda a sua história está retratada no livro de João Hélio de Almeida, que leva o nome do município. O trabalho de pesquisa é esclarecedor sobre fatos que fazem parte da construção cultural, sociológica e de formação da localidade.

No livro, está claro que no início do século XIX toda a região conhecida como Matas de Itabaiana, tinha a cidade de Lagarto como sede do território. O município na Bahia que fazia limite era Jeremoabo, onde estavam localizadas as terras de Coronel João Sá e Pedro Alexandre. Mas a povoação branca começou com o vaqueiro João Martins de Souza, mandado pelos Dantas da então cidade de Bom Conselho, atual Cícero Dantas. João Martins veio das margens do Rio do Peixe, afluente do Vaza-Barris. Mais tarde, a região passou a ser conhecida por Mãe Carira, nome da chefe da tribo dos Cariris que morreu de forma trágica.

A história trágica de Mãe Carira aconteceu entre o Tanque do Carira e o Saco Torto, local onde vivia a tribo. Era o dia 25 de novembro de 1865. Os índios foram buscar algumas espigas de milho numa roça, e Mãe Carira estava com eles. Os donos do roçado soltaram cães ferozes sobre os índios, que fugiram em debandada. Os mais jovens conseguiram escapar, mas Mãe Carira, a mais velha da tribo, foi atacada violentamente pelos cães e foi cair próximo à sombra de um pé de Jequiri. A casa de João Martins ficava próxima. O vaqueiro acudiu a índia e tentou curá-la dos ferimentos, mas veio a falecer alguns dias depois. Mãe Carira foi enterrada na sobra do jequiri e lá João afixou uma cruz sobre seu túmulo. 

A partir da morte de Mãe Carira, João Martins, que já tinha sua casa construída nas proximidades, passou a organizar uma pequena feira. Várias famílias são atraídas ao local e um arraial se forma. Em 1897, edificou-se a Capela do Sagrado Coração de Jesus. Em 1929 é criado o distrito de Paz, no mesmo ano em que Lampião fez a 1ª visita ao local e quando surgem as primeiras manifestações para emancipar o município. Dez anos depois chega a rodovia estadual, que mais tarde será a BR 235. Nesta época, Carira já era distrito pertencente ao antigo município de São Paulo (hoje Frei Paulo). A emancipação só chega com a lei estadual nº 525-A, de 25 de novembro de 1953, desmembrado de Frei Paulo e instalado somente em 6 de fevereiro de 1955, constituído de apenas um distrito. Uma outra lei estadual nº 823, de 24 de maio de 1957, cria o distrito de Altos Verdes, anexado ao município de Carira.

Com a chegada dos bancos, do asfalto, de grandes lojas, Carira cresceu e hoje se apresenta como uma cidade em franco desenvolvimento. Faz limites com os municípios sergipanos de Nossa Senhora da Glória, Pinhão, Frei Paulo e Nossa Senhora Aparecida; e com os municípios baianos de Paripiranga, Coronel João Sá e Pedro Alexandre. Sua distância para Aracaju é de 112 kms. Em 2022, a população de Carira foi de 19.938 habitantes, numa área total de 636,404 km², com densidade de 31,3 pessoas por km². Sua economia está hoje bem diversificada, mas é o milho que desponta como puxador de renda. Carira figura sempre como o maior produtor de milho do estado. Para quem quer conhecer melhor a cidade e se divertir, há boas opções ao longo do ano com inúmeras festas:  Festival do Forró de Carira, Festa de Reis, Festa de São João, Festa do Vaqueiro e do Milho e a Festa do Padroeiro Sagrado Coração de Jesus e da Santa Cruz.

Morpará - Cidades dos Velho Chico 16

Saindo de Ibotirama e seguindo pela BR 242, depois de 25 kms na direção de Seabra, encontramos novamente com a BA 160, no povoado de São Lourenço, no município de Oliveira dos Brejinhos. Dali até Morpará seriam 63 kms. Sabíamos que o Governo do Estado da Bahia estava asfaltando o trecho até o povoado Quixaba, mas queríamos saber as condições dos outros 30 kms. Para nossa surpresa e alegria geral da suspensão capenga do nosso carro, toda a estrada estava asfaltada. E o asfalto estava novo, construído no ano da eleição de 2022, depois de promessas e juras de inauguração. Restava-nos agora desvendar o percurso, registrando povoações como Mocambo Alto, Capim Raiz e o distrito de Quixaba. Não demorou muito e fomos recebidos pela avenida Rui Barbosa e, ao lado, a Praça Velho Chico. Enquanto desvendamos a cidade, vale contar sua história e formação.

É provável que o primeiro homem não índio a pisar em Morpará foi um vaqueiro em 1812, que andava a procura de gado para levar à fazenda Picada. Encontrou vários índios que pescavam às margens do Rio São Francisco, região era povoada pelos indígenas acroás, na margem esquerda do Rio São Francisco, e pelos indígenas mocoazes, na direita. Mas havia lugar para outras tribos: os Tupiniquins, Xacriabás, Caiapós, Cariris e Aricobés. No local onde o vaqueiro ainda sem nome chegou, muitos anos depois virou ponto de ancoragem dos navios a vapor, daí o surgimento de seu primeiro nome: Porto do Vapor.

A localidade de Morpará tem origem nas fazendas Poço de Gado, Ema e Picadas. Seu primeiro nome foi dado por pescadores aglomerados no Rancho Velho, proveniente dos ranchos feitos e cobertos com palhas de carnaúba, produto natural da região. Mais tarde, surge um nome mais óbvio: Morro do Paramirim, local onde há o encontro dos rios São Francisco e Paramirim.

Em 1891, o fazendeiro Antônio Bittencourt Mariani permitiu glebas e lotes para vender a quem interessasse. Foi aí que chegaram homens para abrir lojas comerciais. O pioneiro foi o Major Benedito Marcelino de Almeida, que teve a oportunidade de receber os militares quando vieram em busca dos revoltosos da Sedição de Juazeiro, confronto ocorrido em 1914 entre as oligarquias cearenses e o Governo Federal. Em 1916, com a chegada dos Brejeiros, que se instalaram comprando peixes, cera de carnaúba, peles e couro de todos os animais, começa então o movimento, com mercadorias despachadas para Juazeiro, Petrolina e para o estado de Sergipe.

O desenvolvimento marcou presença e Morpará recebeu os primeiros serviços públicos, como a instalação de uma agência dos Correios e Telégrafos. Isso permitiu uma melhor comunicação, facilitando mercadorias vindas em lombos de burros de várias localidades da Bahia para serem transportadas pelo Velho Chico. Era sabidamente o melhor porto daquelas bandas do São Francisco. Através dos barcos a vapor, mercadorias saiam dali para o Piauí, Minas Gerais, Maranhão, Goiás e outros estados.

Finalmente Morro de Paramirim deixa de ser povoado e é criado o distrito com a denominação de Morpará, pela lei estadual nº 9251, de 1934, subordinado ao município de Brotas de Macaúbas, atual Brotas. Morpará é uma forma abreviada do nome Morro (Mor) do Paramirim (Pará), que, convenhamos, ficou bem mais bonito. Em 16 de julho de 1962, o município foi criado com parte do território do distrito de Morpará, desmembrado de Brotas de Macaúbas, e com o território do distrito de Quixaba, desmembrado de Oliveira dos Brejinhos, por força de Lei Estadual nº 1.722. 

Hoje, Morpará continua com apenas os seus dois distritos originários e faz limites com Barra, Xique-Xique, Gentio do Ouro, Ipupiara, Brotas, Ibotirama e Oliveira dos Brejinhos. Fica distante de Salvador por 548 km. Sua área total é de 1.731,929 km², abrigando uma população de 7.982, censo de IBGE de 2022, com uma densidade 4,6 hab./km². O rio São Francisco era a principal fonte de economia de Morpará. Como as estradas passaram a ser o caminho mais fecundo do dinheiro, a chegada do asfalto somente em 2022 contribuiu para que a cidade perdesse seu potencial econômico. Por sua beleza e localização, espera-se um novo fluxo de progresso para o município e isso dependerá muito dos seus agentes públicos. A cidade precisa melhorar sua estrutura urbana para receber mais turistas. Fundamental seria asfaltar a BA 160 até o encontro com o trecho que segue para Barra e Xique-Xique. É uma região com várias povoações carentes de um progresso mais acelerado. Para quem segue para Barra, a melhor opção é pegar uma única balsa, localizada a pouco mais de 6 kms de Morpará e sair no povoado Torrinha, com a BA 161 em ótimas condições.

Quem se importa?

João Paulo (Paulo da Pizzaria) foi mais uma vítima do abandono das nossas estradas. (Foto: Divulgação)

Não estamos vivendo numa época comum. A morte de João Paulo Cândido dos Santos, conhecido popularmente como Paulo da Pizzaria, é mais uma prova concreta de que vivemos tempos infernais. Nós vivemos o tempo todo em constante perigo. Paulo morreu numa pista que está em obras há dois anos. Apenas o primeiro tratamento superficial está pronto. Não há sinalização e, para completar, os animais estão soltos. No acidente que matou Paulo da Pizzaria tinha um animal no meio da pista, no meio da pista tinha um animal. Mais um batalhador pela vida pela vida perde a sua. No subir e descer, no vai e vem não conseguiu se desviar a tempo do perigo. Morreu Paulo, morreram tantos outros nas mesmas condições e morrerão muitos outros amanhã. Mas quem se importa?

Quem se importa se quando um administrador desvia verbas ficamos em silêncio? Se suas contas são aprovadas, mesmo sabendo que existiram desvios, ficamos em silêncio? Se alguém está sofrendo uma injustiça, ficamos em silêncio. Se um filho de Deus resolve ajudar, ficamos em silêncio porque não é da minha conta ou não é comigo. Se passa diante de nós um destes motoqueiros e faz aquelas piruetas, ficamos irritados! Cadê a polícia que não faz nada? Se a polícia faz, vem sempre alguém dizer que foi injusto e que a PM deveria prender os vagabundos que estão soltos. Se tem uma criança fora da escola, a culpa é do Conselho Tutelar que não faz nada! Se o Conselho atua, dizem logo que não há solução por culpa dos pais. Caso os pais sejam atuantes, são perversos.

No fundo, todos procuram uma sombra porque o sol é escaldante. Para que arranjar mais problemas? Vejam o caso da nossa política regional, onde encontramos canalhas a perder de vista.  Mas se um canalha passar para o nosso lado, seus pecados são perdoados. O importante é estar no poder. Quando lá estiver, o cavalo solto na estrada não tem dono e pode continuar matando. Não se pode responsabilizar alguém que um dia poderá ser meu eleitor! Paulo está morto e não votará mais em ninguém! Olhem o governador que responsabilizou os professores pelas reprovações? Lembram? Quem se importa com o nível cultural do nosso povo? Quanto mais desinformado, melhor para se controlar. Quem foi que disse que Bolsonaro queria dar um golpe, mesmo ele agindo, com gravações de imagens e sons, com a finalidade de dar um golpe de estado? Ele é um mito! A culpa é do Lula, inocentado depois de várias provas robustas que o incriminavam. Foi ele quem mandou as pessoas se vestirem de verde e amarelo e depredar os poderes em Brasília. A polarização do caos!

Ninguém está se importando com aquilo que importa! A vida é curta e precisamos organizá-la! Se construímos estradas, elas precisam ser seguras. As escolas foram feitas para ensinar, a família para educar, a igreja para elevar nossos espíritos ao Todo Poderoso. A festa e o bar são para se divertir e o estádio foi feito para torcer pelo seu time preferido. Estamos transformando tudo em guerra, discórdia, difusão de ódio e perigo de morte! Paulo foi levar apenas dez pizzas no povoado Tijuco. Não tinha que, na volta, morrer vítima de uma irresponsabilidade. Mas será mais uma morte em que se registrará lamentos nas redes sociais e tudo ficará como antes, contrariando Lulu Santos. Ninguém se importa. Pode até se lamentar e ficar horrorizado, mas logo tudo voltará a ser como sempre foi.

Poucas & Boas nº 109: O que há de novo?

Governador Jerônimo entre a anterior e o novo Chefe do Ministério Público Estadual da Bahia (Foto: Política Livre)
Novo conselheiro

Fabrício Falcão (PCdoB) foi afastado da disputa por uma vaga de conselheiro e o deputado Paulo Rangel (PT) é agora o único candidato da base do governador Jerônimo Rodrigues ao TCM. Embora já desfile como eleito, ele terá que enfrentar Marcelo Nilo, ex-deputado federal, candidato da oposição. O episódio prova, mais uma vez, que o PCdoB tem um papel reservado de ser sempre submisso ao PT, sem direito a nada. O normal é que o candidato do governo vença, mas não seria nenhum absurdo a vitória de Marcelo, que conseguiu o ineditismo de ser presidente da Assembleia Legislativa da Bahia por trocentas vezes. Curioso é que os petistas estão tomando conta do TCM. Se Rangel chegar lá, o PT garante maioria absoluta e poderá transformar o estado em uma monarquia.

Prefeito Mendonça
Novas ressalvas

E por falar em TCM, o ex petista Nelson Pelegrino foi o relator das contas de 2022 da Prefeitura Municipal de Heliópolis. O leitor esperançoso e desavisado, que porventura desejar ler o Parecer, perceberá que a quantidade de irregularidades é assustadora. O documento tem 41 páginas e boa parte eivada de problemas detectados pelo órgão julgador. O prefeito José Mendonça até conseguiu entregar 4 contas mensais fora do prazo e gastou quase 100 mil do Fundeb em despesas fora da finalidade da rubrica. Os apontamentos das irregularidades são numa quantidade tão absurda que o leitor do relatório tem pena do gestor, porque sabe que ele vai ser trucidado ao final. Só que não! Acreditem, o ex-deputado federal petista consegue aprovar – com ressalvas! – as contas, mesmo sabendo que há denúncias contra o alcaide que ainda não foram apuradas. Pior! O Ministério Público de Contas também opina pela aprovação. Cabe uma pergunta final: Qual o limite para o uso da palavra “ressalvas”?

Novas dívidas

As contas aprovadas do prefeito Mendonça de 2022 também revelam o nível de importância que os nossos políticos dão ao sistema de arrecadação de recursos. Acreditem, ainda há multas, determinadas pelo mesmo TCM, e devoluções de numerários aos cofres públicos que não foram realizadas. Um ex-prefeito ainda deve 1 mil reais, um outro também ex-prefeito deve 19 mil reais, um ex-presidente da Câmara Municipal deve 3 mil reais aos cofres públicos. E, pasmem! Um outro ex-presidente, que se orgulhou de ter suas contas aprovadas sem ressalvas, deve a Heliópolis 22.608,00 reais. E não importa se é adversário ou não! Ninguém cobra de ninguém, mas as contas estão aprovadas! Viva nossa Bahia!

Novo chefe do MP

O portal Política Livre, do jornalista Raul Monteiro, destacou a posse bastante concorrida do promotor Pedro Maia como procurador geral de Justiça do Estado da Bahia, na sede do Ministério Público Estadual, no CAB, neste dia 1º de março. O discurso foi curto e contundente. Disse que era preciso defender o papel da instituição na tarefa de tornar a Bahia mais justa, igualitária e solidária e de encampar a luta contra o crime, a corrupção e a impunidade. Pedro Maia foi eleito depois de cinco tentativas consecutivas como 1º mais votado. Só agora veio a escolha. Foi candidato único e vai substituir Norma Angélica, a antiga PGE. O governador Jerônimo Rodrigues e um sem-número de autoridades marcaram presença. Será que a PGE vai virar protagonista ou continuará com seu papel meramente burocrático, para não dizer outra coisa?

Novas denúncias

Chega a ser desanimador ser vereador ou vereadora em nossa região, notadamente de oposição. As denúncias são feitas, mas parece que a ordem é não apurar nada e, se o fizer, é para inocentar o prefeito. Vamos a só um caso denunciado pelo vereador Nenê de Nedito na Câmara Municipal de Cícero Dantas. No povoado Campinas de Castro, quem procurar a ambulância da prefeitura para socorro precisará ser partidário e eleitor do grupo do prefeito. O motorista, sem a menor cerimônia, diz que não pode levar tal pessoa porque não votou no grupo do alcaide. Um motorista de ambulância não faz isso se não tiver sido orientado. O diabo é que ninguém faz nada para mudar isso.

Novo empurrão

Uma cena chamou a atenção dos passantes que trafegavam em frente ao Colégio Monsenhor Galvão, em Cícero Dantas. Vários alunos empurravam um ônibus escolar. E a cena é cada vez mais corriqueira nas cidades da nossa região. A frota escolar está sucateada, sem manutenção, obrigando os motoristas e servidores a improvisar. As garagens de muitas prefeituras são apenas depósitos de sucatas armengadas para levar e trazer estudantes. Um dia ocorrerá uma tragédia e muitos dirão que foi coisa do acaso. Não! A culpa é de todos! Dos eleitos, dos que elegem, dos que fiscalizam e daqueles que nunca punem. É o retrato de um país que não quer ser civilizado!

Nova morte

Uma mãe desesperada grava um áudio e espalha nas redes sociais a ideia de que seu filho morreu no hospital de Cícero Dantas por falta de estrutura e condições da unidade de saúde. Falta investimento e não se encontra insumos básicos. A mãe culpou o prefeito. Quem justificou a fala da mãe foi a denuncia feita pelo vereador Guilherme de Weldon, quando apresentou números dos gastos da saúde, onde claramente o prefeito foca no empreguismo. Mesmo com o empenho do vereador, anotem, as contas de Dr. Ricardo serão aprovadas, caso nada mude nesta Bahia do Senhor do Bonfim!

Ibotirama - Cidades do Velho Chico - Ep. 15

Chega-se a Ibotirama basicamente por três rodovias: BR 242, BA 160 e BA 161, todas em perfeito estado. A cidade margeia o rio São Francisco do lado Leste no Estado da Bahia. A riqueza de sua história começa pelo significado do seu nome. O termo Iboti vem do tupi-guarani e significa flor. O sufixo rama significa o que será, aquilo em que se transformará, o que será no futuro. Ou seja, Ibotirama é a flor que brotará no futuro ou, como comumente se popularizou: terra das flores ou terra da rica flor. E tudo isso tem a ver com sua história e formação. Antes de chegarem os portugueses, a região tinha como grupo predominante os indígenas tuxás. Os registros indicam que somente com a chegada do latifundiário Antônio Guedes de Brito é que o território passou a ser povoado. Guedes de Brito formou o segundo maior latifúndio do Brasil-colônia, perdendo apenas para Garcia D’Ávila. Brito foi também reconhecido pela extinção de grande parte da população indígena utilizando armas. Os indígenas restantes foram escravizados.

O município de Ibotirama foi formado a partir de fazendas de gado do período colonial. Em 1732 já havia um pequeno arraial nas terras do município de Paratinga. O nome original era Bom Jardim. Isso porque era a antiga sede da fazenda de Joana da Silva Caldeira Pimentel Guedes de Brito, neta do latifundiário e proprietária de várias fazendas. Bom Jardim era um dos pontos de passagem de boiadeiros e tropeiros que faziam a travessia do Rio São Francisco e virou parada obrigatória para o descanso. Sem dúvida, o comércio e o transporte fluvial no São Francisco, com localidades próximas como Santo Antônio do Urubu de Cima (atual Paratinga), o Santuário do Bom Jesus da Lapa e várias outras pequenas povoações, foram fundamentais no desenvolvimento e povoamento de Bom Jardim. Registre-se que até o século 20 este crescimento foi bem lento, como era comum em toda a região.

No início do século 20, precisamente em 1912, Bom Jardim passa a figurar como povoação do município de Rio Branco, antigo Santo Antônio do Urubu de Cima. Essa condição perdura até a publicação da Lei Estadual nº 11089, de 30 de novembro de 1938, quando Bom Jardim passa a ser denominada de Jardinópolis. No mesmo decreto em que Santo Antônio do Urubu de Cima passa a se chamar de Paratinga, datado de 31 de dezembro de 1943, o distrito de Jardinópolis tem seu nome oficializado para Ibotirama. Essa condição vai até o ano de 1958 quando, por força da Lei Estadual nº 1029, de 14 de agosto de 1958, os distritos de Ibotirama e Boa Vista do Lagamar são desmembrados de Paratinga para formar o novo município de Ibotirama, instalado em 7 de abril do ano seguinte.

Hoje, Ibotirama recebe uma quantidade significativa de visitantes e fica distante por cerca de 650 kms de Salvador. Sua população em 2022 chegou aos 26.309 habitantes, numa área total de 1.391,232 km², abrigando 18,9 habitantes por km². Situa-se na microrregião de Barra e mesorregião do Vale São-Franciscano da Bahia, fazendo limites com Barra, Muquém de São Francisco, Paratinga, Oliveira dos Brejinhos e Morpará. 

A cidade de Ibotirama tem uma estrutura bastante desenvolvida, com uma rede hoteleira equipada e com preços bem populares. Os restaurantes oferecem comida farta e barata. É comum ver centenas de caminhões estacionados ao longo da BR 242 nas horas de descanso ou das refeições. Para quem vem visitar a cidade, há um largo em frente ao cais do São Francisco, diante da Igreja de Nossa Senhora da Guia e com uma praça ao lado, onde são realizadas as principais festas da cidade. De lá é possível ver a ponte da BR 242 sobre o São Francisco e um pôr-do-sol encantador. Para os amantes da música e da arte, Ibotirama realiza o Ibotifolia, o carnaval fora de época, na festa da emancipação em agosto; o Festival de Poesia e o Festival de Música de Ibotirama.

A cidade pulsa o dia inteiro num vai e vem de pessoas e no tráfego intenso de carros pelas rodovias. Seu comércio é pujante e conta com diversas opções ao gosto do freguês. Mas o maior encanto da cidade é o São Francisco. Da pequena igreja de Nossa Senhora da Guia é possível ver pessoas do Brasil inteiro chegando e registrando sua passagem por aqui, mesmo que seja por apenas alguns minutos. Todos param, respiram, olham as águas do Velho Chico e os homens com seus barcos a singrar na correnteza suave, num subir e descer, de remo ou de motor, navegando pela vida.

Poucas & Boas nº 108: De quem é a culpa?

Vereador Igor Leonardo rompe com grupo do prefeito Mendonça. (Foto: Divulgação)

A culpa é do professor

O discurso do governador Jerônimo Rodrigues colocando nas costas dos professores toda a culpa pelo fracasso da educação da Bahia soou como lugar comum. Não é a primeira vez. E não adianta indicar onde estão os problemas. O que se quer é massificar uma ideia, ou várias. Querem disseminar a ignorância, sem se importar com os diplomas e certificados vazios ou artificiais. O que interessa é desconstruir a história. O professor é sempre culpado, o Hamas defende o povo palestino, a Rússia não invadiu a Ucrânia, a Venezuela é uma democracia, Cuba é um país progressista, não houve mensalão e nem mesmo petrolão, Dilma sofreu um golpe e Navalny cometeu suicídio naquela prisão russa. É só repetir até a exaustão! Há sempre alguém que acredita.

A culpa é de Alexandre de Morais

Como é comum, políticos inescrupulosos sempre procuram um culpado para encobrir suas falhas e desconstruir os fatos da história. Bolsonaro escolheu um alvo óbvio: Alexandre de Morais. Até mesmo na elaboração do documento do golpe, a prisão do ministro do STF estava determinada. O que espanta é que não há o menor constrangimento em mentir descaradamente na frente das câmeras, mesmo tendo gravações desdizendo tudo o que o próprio afirmou em dado momento. Nunca a classe política mentiu tanto. Além disso, escolhem alvos para despejar seus torpedos de longas pernas, vitaminados pela disseminação das redes sociais. O alvo em questão é o juiz. Ontem foi Moro, hoje é Alexandre de Morais. Virão outros!

A culpa é das mulheres

Na sessão da Câmara Municipal, iniciando o último semestre legislativo, depois da saída do grupo governista anunciada pelo vereador Igor Leonardo, que revelou algumas verdades, motivou o seu ex-colega de bancada, vereador Giomar, a escolher seu alvo para soltar torpedos de mentiras. As vereadoras Maria da Conceição e Ana Dalva foram as premiadas. Disse o vereador que as famílias das duas administraram no passado, inclusive com suas famílias, a pasta da saúde e não tinham nada a apresentar. Da parte de Maria, o ex-vereador Renilson já foi secretário de saúde e a esposa de Thiago Andrade também, mas daí a dizer que administrou com a família é um pouco demais. No caso de Ana Dalva é ainda pior. Quando foi secretária de saúde, e também em época nenhuma, a família da vereadora participou da administração. Suas filhas trabalham em Lagarto, no Instituto Federal de Educação, e em Barra dos Coqueiros. Seu enteado é funcionário concursado da Universidade Federal de Sergipe. Este articulista todos já sabem que é professor da rede estadual. A única ligação de parentesco de Ana Dalva com um servidor municipal é com uma irmã sua que é professora concursada. A mentira foi grotesca e ele ainda afirmou que fez isso de coração. Já pensou se usasse o cérebro?

A culpa é do gestor

O vereador Igor Leonardo fez nesta segunda-feira, 19 de fevereiro, um discurso histórico. Nem todas as verdades foram ditas, mas o rompimento com o grupo do prefeito Mendonça foi consolidado. A oposição soltou fogos, mas vamos devagar com andor. Não houve rompimento definitivo porque o vereador deixou a porta aberta. E tudo passa pela razão de se confirmar que Igor está certo. Alguém aposta que Mendonça fará uma mea-culpa, organizará sua administração e dará a Igor o que é de Igor? Não vamos aqui detalhar tudo, mas sugiro assistir à sessão totalmente gravada no canal Impacto, de Jorge Souza, no YouTube. Basta clicar A Q U I . Diferentemente de buscar culpados pelo seu fracasso pessoal, Iggor mostra que a atividade política é um trabalho coletivo para melhorar a coletividade. É claro que ele está dizendo que o responsável pelo fracasso do grupo é do prefeito. Foi o mais mortal golpe que Mendonça recebeu.

A culpa é do coração

Diferentemente de seu desligamento do time do prefeito para fazer parte do Independente Futebol Clube, Igor Leonardo não deve ter pensado na questão da apresentação do nome de sua mãe, conhecida popularmente por Dona Minininha, matriarca de 17 filhos, esposa do lendário Chico de Minininha, para nomear uma rua em Heliópolis. O problema é o coração de filho que atrapalha a lógica. O projeto deveria ser uma iniciativa de outro vereador ou, de preferência, que fosse uma indicação coletiva. O reconhecimento de Dona Minininha está muito além do terreno familiar. Vai ser aprovado, menos mal, mas fica um gosto de lugar comum, de coisa corriqueira. O marido, Chico de Minininha, já tem uma rua com o seu nome, por indicação da vereadora Ana Dalva.

A culpa é do acaso

Se a saída de Igor Leonardo for concretizada, ficará difícil sua vida política como candidato. Se no grupo do prefeito ele disputaria a reeleição com vantagem contra Gilmar Guerra e Van da Barreira, no grupo de oposição a coisa se amplia. Não há espaço para que ele seja vice-prefeito, já que a chapa está formada com Thiago e Ildinho. Se resolver ir para reeleição, terá Dé Correia, Marcelo Cigano, Manoel do Tijuco e a filha de Valdelício como parceiros de luta. Quem conhece onde os políticos pisam revela que a oposição fará 5 cadeiras e a situação 4. São dadas como certas as reeleições de Doriedson, Giomar e Claudivan, pelos governistas, e de Ana Dalva, Ivan de Ildinho e Charles de Clóvis, pela oposição. Mas nunca é tarde lembrar que, no final, quem decide mesmo é o povo.

A culpa é do talento

O professor Landisvalth Lima, articulista deste blog, lançará mais um livro este ano em data ainda a ser divulgada. Trata-se de um romance com narrativas que envolvem as cidades de Cícero Dantas, Heliópolis, Fátima e Poço Verde. O título provisório é Doutor Berson, mas certamente haverá mudança.  A novidade este ano é que, embora a capa seja bolada por sua filha Pétala Tâmisa, o desenho da capa será Bolado em Heliópolis. O professor contará com o talento de Raíssa Silva, ex-aluna do 3º ano B do CEJDS de 2023. A menina desponta com uma personalidade fantástica para o desenho e vai longe, muito longe.

Porto da Folha - Cidades do Velho Chico 14

Quem trafega pela rodovia SE 200, margeando o São Francisco, vindo de Lagoa da Volta ou de Gararu, deve encontrar pelo caminho uma cidade construída a partir de um morgado, que é um patrimônio familiar passado a herdeiros sem possibilidade de venda. Estamos falando de Porto da Folha. A história deste município, localizado na Mesorregião do Sertão Sergipano e na Microrregião Sergipana do Sertão do São Francisco, começa em novembro de 1807. Antônio Gomes Ferrão de Castelo Branco registrou suas terras em Propriá, um latifúndio de 30 léguas com a denominação de morgado de Porto da Folha. Apesar disso, quem colonizou mesmo Porto da Folha foi Tomás de Bermudes, fundando um curral, após fazer amizade com os índios. O local ficou conhecido como fazenda Curral do Buraco, que ganhou esse nome por dar a impressão de que a região fica num baixio rodeado de morros. Até hoje, por isso, ainda  é comum denominar os portofolhenses como buraqueiros.  

Com a crescente povoação do local, em 19 de fevereiro de 1841 passou a se chamar Nossa Senhora da Conceição de Porto da Folha, com suas terras se estendendo a Poço Redondo, Curral de Pedras (Gararu) e a Canindé, municípios que já pertenceram a Porto da Folha. Curioso é que a localidade mais antiga da região é a Ilha de São Pedro, hoje abrigando a única comunidade indígena de Sergipe. Por isso, por algum tempo, a Vila de São Pedro foi a sede do município, criado com a denominação de São Pedro do Porto da Folha, pelo decreto de 16 de agosto de 1832 e por Resolução Provincial nº 676, de 08 de junho de 1864. Só que, em 19 de fevereiro de 1835, transfere-se a sede de São Pedro do Porto da Folha para a povoação do Buraco, com a denominação de Nossa Senhora do Porto da Folha, considerada a data de fundação do município. Confusão se faz quando outro decreto, datado de 23 de fevereiro de 1836, transfere a sede São Pedro do Porto da Folha para a povoação de Curral das Pedras, que hoje é o município de Gararu. Até a Ilha do Ouro já foi sede do município, de acordo com a lei provincial nº 841, de 23 de março de 1870, transferindo a sede Curral das Pedras – Gararu - para a povoação de Boa Vista, com o nome de Ilha do Ouro.

Como confusão pouca é bobagem, uma nova resolução provincial nº 1003, de 16-04-1875, é criado o distrito de Curral das Pedras e anexado ao município de Ilha do Ouro. O nome Porto da Folha volta a figurar pelas leis provinciais nºs 664, de 11 de maio de 1864 e 1.153, de 28 de março de 1880, carimbando o nome de Nossa Senhora do Porto da Folha, quando a sede já estava definitivamente onde hoje se encontra. O nome Porto da Folha, como é atualmente, foi instituído pela lei estadual nº 195, de 11 de novembro de 1896, já na era republicana. Depois das emancipações de Gararu, Poço Redondo e Canindé, antigo Curituba, não se criou mais nenhum distrito. Até hoje Porto da Folha tem apenas o seu distrito sede, mesmo tendo povoações históricas e importantes.

E por falar em povoações, a Aldeia Xokó, na Ilha de São Pedro, que já foi sede do município, hoje figura como simples povoado. Sua colonização remonta ao século XVIII, com a catequese dos índios promovida pelos frades capuchinhos. Ao fim do século XIX, o local estava despovoado e foi incorporado às propriedades do Coronel João Fernandes de Brito, passando posteriormente aos seus descendentes. Esse período é duro para os índios da região que passam a ser perseguidos e têm a sua cultura discriminada. Depois de anos de conflito, os índios reocupam a Ilha de São Pedro em 1979, ano em que a FUNAI reconhece a área como sendo terra indígena. Para se chegar ao local, trafegando-se pela SE 179, seguindo para o povoado Niterói, em frente ao povoado Ranchinho, segue-se pela SE 413. São apenas 12 kms de uma estrada estreita e em péssimas condições. A atração da viagem é mergulhar numa mata que parece ser virgem, quase que uma cópia das condições vividas pelos bandeirantes e frades quando aqui chegaram séculos antes.

Retornando pela mesma SE 413, depois de percorrer 6 kms, toma-se uma estrada vicinal com destino ao povoado de Lagoa da Volta. É o maior povoado de Porto da Folha, e um dos maiores de Sergipe, hoje com um eleitorado que beira os 5 mil votos. A padroeira da povoação é Santa Luzia e há uma estrutura comparada a de um município. Tem até escola estadual. Boa parte da produção de leite, milho e feijão tem origem na Lagoa da Volta. O povoado, que ainda não é distrito, tem a maior praça de eventos de Porto da Folha. Os moradores, claro, querem a emancipação e até já escolheram o nome: Luzinópolis. Se fizerem o plebiscito, o resultado já está garantido.  

Outros dois povoados importantes de Porto da Folha ficam às margens do São Francisco, além de Ilha de São Pedro: Niterói e Ilha do Ouro. A importância de Niterói está na sua localização privilegiada. Além de ficar margeando o Velho Chico, é o local onde se pega uma balsa para chegar ao município de Pão de Açúcar, em Alagoas. Já a Ilha do Ouro, tanto por sua importância histórica como pelos seus atrativos turísticos, é o maior cartão postal de Porto da Folha. Sua distância da sede do município é de apenas 8 kms, por uma estrada completamente asfaltada. Recebe turistas do Brasil inteiro. O ponto negativo, infelizmente, é dado pela atuação dos políticos. Um canteiro de obras, que promete adequação e requalificação da sua estrutura turística, parece uma história sem fim, em mais uma prova do desperdício do dinheiro público. Outro povoado, que não foi visitado por esta reportagem, é Lagoa do Rancho. Também servido de boa estrutura, fica localizado na SE 317, outra rodovia que passa pelo território de Porto da Folha, a 22 kms da sede municipal. Vale ainda citar o povoado de Lagoa Redonda, situado na SE 230, próximo a Monte Alegre de Sergipe, também com boa estrutura e apresentando crescimento urbano considerável.

É fácil, pois, após tantas povoações importantes, concluir que Porto da Folha é um município que precisa ser visitado. Tem a maior festa de gibão do Brasil, aquela vaquejada que pega boi no mato, realizada no mês de setembro. É um dos maiores produtores de leite do Nordeste, com uma área total de 877 km². Faz limites com os municípios de Poço Redondo, Monte Alegre de Sergipe, Gararu e Nossa Senhora da Glória, em Sergipe; Belo Monte e Pão de Açúcar, em Alagoas. Sua população em 2022 é de 26.576 habitantes, com uma densidade demográfica de 30,3 habitantes por km². Fica distante de Aracaju em 190 kms.  

Poucas & Boas nº 107

A polarização entre Lula e Bolsonaro está matando o futuro do país. (Foto: Folha/UOL)

Morte do futuro I

Estamos condenados a viver eternamente o presente e o passado imediato. Nosso futuro está morto. A assassina cruel do nosso porvir é a polarização. E antes que pensem que eu estou desligado da realidade, vale uma afirmação óbvia: o governo Lula é infinitamente melhor que o governo Bolsonaro. O PT sabe disso. Ora, pois, isso não significa que não mereçamos algo melhor. O que quero dizer é que Lula e o PT pararam no tempo e já não seriam mais poder se não estivéssemos Bolsonaro. Lula é o século XX, Bolsonaro anda lá pelo XVII. A incapacidade de o PT evoluir pariu Bolsonaro e criou na sociedade a ideia de que éramos felizes e não sabíamos. O governo Dilma foi o sinal de alerta de uma pregação desgastante e de uma prática incoerente. O bolsonarismo é a garantia de continuísmo do lulopetismo.

Morte do futuro II

Não falo de direita ou de esquerda porque tais ideologias nunca chegaram por aqui, exceto nos discursos. Falar em imperialismo americano, derrota do fascismo, ditadura do proletariado e outras pregações doutrinárias é tão ridículo quanto a teoria do terraplanismo. É uma desonra aos ouvidos de qualquer ser humano dotado de bom senso tais pregações, em pleno século XXI. Se as ideias de Bolsonaro são deploráveis, as de Lula som patéticas. Não condenar a Rússia pela invasão à Ucrânia, questionar mais Israel que os terroristas que invadiram o país e mataram centenas de pessoas ou afirmar haver democracia na Venezuela é tão ridículo quanto dizer que o Brasil vive um regime ditatorial, justificando, por isso, uma intervenção militar. É preciso romper com essa polarização. O Brasil não merece enterrar, mais uma vez, o seu futuro.

Bolsonaro preso

Enquanto for possível, vão prolongar esse lengalenga da prisão de Bolsonaro. Não que ele não mereça ou já não tenha motivos para isso. Num país sério, ele nem mesmo seria candidato. Mas para alimentar o ódio entre os polos, é preciso levar o discurso mais adiante. E tome mais inquéritos, denúncias e abertura de processos. Tudo na base do conta-gotas. A justiça não prende Bolsonaro porque não quer. Solto, o mito é um poço de idiotices. Isso alimenta a necessidade do país continuar com o PT, como se não houvesse mais nenhuma outra possibilidade, como se fôssemos uma nação sem ideias., como se não houvesse vida inteligente fora do bolsolulismo.

Francisco J C Dantas


Terminei a leitura do livro Uma jornada como tantas, do sergipano Francisco J C Dantas. O livro é um mergulho no interior de Sergipe da década de 1950 e um convite a perceber quão trágico é o nosso atraso, além de pagarmos um preço alto por isso. Apesar do tema sério, o livro está longe de ser pesado. A linguagem, marca registrada de Chico Dantas, sempre é um atrativo. A mesclagem do sergipanês com o português erudito é o cartão de visitas da obra. Eu destaco as descrições das paisagens interioranas como pura poesia. A leitura me deixou ainda mais indeciso sobre qual o melhor livro de Francisco J C Dantas: Coivara da memória? Os desvalidos? Cartilha do silêncio? Sob o peso das sombras? Caderno de ruminações? Uma jornada como tantas? Enquanto perdura a dúvida, já vejo na minha frente Moeda vencida, seu último livro. Será que resolvo este enigma?

Adailton Fonseca


Soou como surpresa para o secretário Adailton Fonseca a postura dos vereadores governistas da cidade de Adustina. Eles fizeram uma reunião e deixaram claro que gostariam de que o prefeito Paulo Sérgio indicasse dois vereadores para a chapa majoritária que disputará o pleito deste ano. Na cartola, um forte argumento: como o município perdeu população, o número de vereadores cairá de 11 para 9. Portanto, dois cairão fora do plenário. Curioso é que eles não estão contando com a renovação. Se o eleitor tiver juízo, vota para que apareçam novos nomes representativos na Câmara Municipal. Isso é bom e a democracia agradece. A zanga de Adailton com a proposta é que ela afasta de vez o seu nome da candidatura a prefeito. Que é isso, companheiros vereadores!

Vexame populista


O populismo é uma desgraça para o país. O político populista joga por terra toda a lógica da existência da ideia do agente público como servidor do povo. Na tentativa de explicação de Iggor Canário, contratado da festa de Poço Verde agora em janeiro, sobre uma confusão que protagonizou, o prefeito de Poço Verde – ou outro Iggor, desta vez Oliveira, estava literalmente maluco ao lado do cantor. A cena é patética. Pior é que há pessoas que consideram tal comportamento como algo benéfico para uma trajetória política de sucesso. O problema é que isso não rima com eficiência, qualidade ou boa gestão. Poço Verde merece bem mais.

Tá liberado

Um eleitor de Fátima se queixou de um vídeo em que eu questiono as matrículas da EJA em municípios da região, inclusive em Fátima. No vídeo eu questiono o prefeito Binho de Alfredo sobre os números excessivos de matrículas. Os partidários de Sorria, o ex-prefeito, massificaram a publicação nas redes sociais. Não se preocupem. Está liberado. Podem usar à vontade, inclusive todos aqueles vídeos em que eu elogio a administração do Manoel Missias. Há inúmeros.

Padre João


O mês de janeiro de 2024 ficará na história como o mês da morte. Acidentes, assassinatos, execuções, tiroteios e as chamadas mortes naturais. Entre elas destaco a morte do Padre João Maranduba. Natural de Poço Verde, foi pároco em Heliópolis por muitos anos, até a falta de saúde deixar. Das suas obras podemos destacar a reforma da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus. Faleceu no último dia de janeiro. Missa de corpo presente foi celebrada antes do seu sepultamento no dia de ontem. Cumpriu sua tarefa sacerdotal.

Serra do Ramalho - Cidades do Velho Chico 13

Trafegando pela BA 161, vindo do município de Carinhanha, assim que chegamos nas terras do município de Serra do Ramalho, os povoados e lugarejos mudam de nomes, passando todos a se chamarem de agrovilas, cada um com sua numeração. Mas por que isso? Bem, antes de mais nada, nosso trabalho merece que você se inscreva no canal. Ou que tal um like simpático? Vamos lá! Não custa nada e o canal cresce com isso. Obrigado. Sim, mas vamos para o assunto deste Cidades do Velho Chico, hoje contaremos a história de Serra do Ramalho.

É preciso entender que, antes da década de 50 do século passado, não havia quase que povoações na região. O que se tinha era uma mata complexa e virgem, com caatinga, cerrado e vegetação Hidrófila. Possuía uma grande mancha formada de espécies nobres, como cedro, aroeira, baraúna e outras madeiras nobres. A terra era fértil para lavoura e com pastos para o gado. Além do São Francisco, tem o rio Carinhanha, o Formoso e o Corrente, além de correr na encosta da Serra riachos e córregos intermitentes. Não havia, pois, registro de uma nação indígena que pudesse se firmar como naturais do lugar. Os primeiros desbravadores da região foram os bandeirantes. Existem, entretanto, vestígios da presença indígena, embora não haja registros sobre os grupos indígenas que habitavam o local. Acredita-se que seriam do tronco linguístico macro-jê.    

Foi o Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária que criou e implementou o Projeto de Colonização de Serra do Ramalho, em forma de agrovilas. Antes porém de tudo isso começar, por volta da década de 1950, imigraram para a região os índios Pankarus, guiados pelo Cacique Apolônio Kinane. A notícia do interesse do governo federal pela região estimulou a ação de grileiros. A posse da terra onde habitavam os indígenas foi reivindicada por um fazendeiro. Apolônio chegou a ser preso ao lado de membros de sua família.  A coisa chegou a um norte, cabendo aos indígenas a homologação de cerca de mil hectares em 1991, onde hoje se localiza a Aldeia Vargem Alegre e um lote de três hectares na Agrovila 19, com 50 casas, distante da sede municipal 22 Km e do Rio São Francisco aproximadamente 30 Km, no sentido oeste. O Cacique Apolônio morreu em 2002, depois de percorrer vastas paragens desde sua origem em Pernambuco e receber as terras após descobertas de minérios. Viveu pela região em paz até os anos 70.  Um decreto presidencial, publicado em 1973, declarava a região do Médio São Francisco prioritária para desapropriação, para reassentar os desabrigados do lago de Sobradinho. Inúmeras famílias das agrovilas são originárias da região de Casa Nova.  

A partir de março de 1976, o povoamento da região foi intensificado pelo afastamento das populações desalojadas. Vieram famílias de Pau-a-Pique, Bem-Bom, Intas e Barra da Cruz, todos povoados engolidos pelas águas em Casa Nova. Estas famílias foram assentadas em um casebre e um lote de 20 hectares em um sistema de agrovilas. Segundo o projeto original, as agrovilas concentrariam as casas dos colonos, cerca de 250 por agrovila. Das 20 agrovilas, duas ficam em Carinhanha – a 15 e a 16. A agrovila que mais cresceu foi a 9 que, em 1989, ficou como sede do município de Serra do Ramalho, por força da Lei Estadual de número 5.018 de 13 de junho de 1989, desmembrando a região do município de Bom Jesus da Lapa. As agrovilas mais bem estruturadas ficam ao longo da BA 161. A agrovila com menores recursos é exatamente a 19, onde vivem os Pankarus.

O crescimento de Serra do Ramalho é positivo e constante, apesar dos índices de desenvolvimento humanos serem baixos. O município faz limites com Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Santana, Malhada e São Félix do Coribe. Fica distante de Salvador por 845 kms. Sua área total é de 2.677,366 km², que abriga uma população de 34.222 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica de 12,8 habitantes por km². A riqueza de suas terras são justificáveis por habitar o vale entre a Serra do Ramalho e o rio São Francisco. A sede municipal é muito organizada e com boa estrutura. As praças são amplas, o comércio é pujante e tem uma praça de eventos completamente murada. Seu povo é essencialmente formado por trabalhadores agrícolas. 

Simão Dias - Um Lugar no Sertão 12

Como muitas cidades deste país, os primeiros habitantes de Simão Dias foram os índios. Por estas bandas viviam os Tapuias, grande nação indígena, quase que totalmente dizimada no litoral por ordens do governador geral na Bahia, o Luiz Brito, na época da conquista de Sergipe. Os poucos sobreviventes vieram para estas terras e se embrenharam nas matas e criaram uma fortaleza com cerca de pau-a-pique. Deram o nome de Caiçara. No início do século XVII, forma-se uma aldeia e passa a região a se desenvolver, quando então ocorre a invasão holandesa. Em Itabaiana, o fazendeiro Braz Rabelo manda seu vaqueiro Simão Dias fugir com o gado para as margens do rio Caiçá. Lá fixou morada e abriu uma venda. O local passou a ser ponto de parada obrigatória de todos que se aventuravam nos sertões da Bahia e Sergipe.

O local era território do município de Lagarto e divisa entre os dois estados. Em data incerta, o usineiro lagartense Manoel de Carvalho Carregosa comprou terras nas proximidades do rio Caiçá, montou um engenho e passou a criar gado. No livro Simão Dias Tempos e Narrativas, de Jorge Luiz Souza Bastos, há indicativo de que as terras eram as mesmas de Simão Dias Francês. Inclusive, neste mesmo livro, é possível encontrar uma narrativa de como Simão Dias se livrou de uma acusação feita pelo ex-patrão, Braz Rabelo, de ter seu vaqueiro desviado gado e enriquecer. Consta que Simão Dias fez sua própria defesa e inclusive apresentou todos os recibos e anotações das transações feitas com o gado, e até os documentos da parte que tinha direito. Além de ser inocentando, ainda pagou o processo e não guardou rancor do antigo patrão. Viveu até a morte em data incerta e não deixou descendentes. Manoel Carregosa comprou as terras nos fins do século XVIII, mais de cem anos após a morte de Simão Dias.

O sucesso do engenho de Manuel Carregosa fez nascer uma feira semanal que atraía muita gente. Ana Francisca de Menezes, esposa de Carregosa, devota de Nossa Senhora Santana, decide com o marido construir uma capela em homenagem a santa, doando um pedaço de terra e financiando todo o processo até a conclusão. Em 1826, a localidade era tida como uma filial da matriz de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, mas seu desenvolvimento já merecia ser uma freguesia. Foi aí que apareceu a figura de Domingos José de Carvalho, neto de Ana e Manoel, que começou a luta para tornar o local uma freguesia. Oito anos depois, em 1834, oficializa-se a Freguesia de Nossa Senhora Santana, com seu primeiro vigário, o padre José Francisco de Menezes.

Uma lei provincial de 6 de fevereiro de 1835 cria o Distrito de Nossa Senhora Santana de Simão Dias. Daí em diante o crescimento foi inevitável. Outra lei provincial nº 264, de 15 de março de 1850, eleva a localidade à categoria de vila com a denominação de Santana de Simão Dias, desmembrando a região do município de Lagarto. Quarenta anos depois, o decreto nº 51, de 12 de junho de 1890, o local passa a ser cidade, com o nome reduzido para Simão Dias, constituindo-se o município de um único distrito. Curioso foi o que aconteceu 22 anos depois. Uma Lei Estadual nº 621, de 25 de outubro de 1912, passa a denominar o município como Anápolis, numa clara homenagem a dona Ana Francisca de Menezes. O nome Simão Dias só voltou a ser oficializado, embora o povo nunca deixou de chamá-lo assim, pelo decreto estadual nº 377, de 31 de dezembro de 1943, reforçado por outro decreto de nº 533, de 7 de dezembro de 1944.

Simão Dias está localizado na região centro-sul, extremo oeste do Estado de Sergipe, distante 104 km de Aracaju, capital do Estado. Limita-se ao Norte com os municípios de Pinhão e Pedra Mole; ao Sul com os municípios de Riachão do Dantas e Tobias Barreto; a Leste com o município de Lagarto, e a Oeste com Paripiranga, no Estado da Bahia. Sua área é de 564,360 km², abrigando uma população de 42 578 habitantes, censo de 2022, numa densidade demográfica de pouco mais de 75 habitantes por km². Seu clima e o tropical seco e subúmido e sua altitude é de 250 metros.

O município tem marcas que o colocam em destaque na história de Sergipe e do Brasil, além do seu comércio desenvolvido e de sua agricultura destacada. Na estrada que segue para Paripiranga ainda existe a Fazenda Mercador, o antigo engenho, palco de inúmeras histórias e também sede da maior fazenda de escravos desta região. Há ditos, que ainda precisam ser confirmados, indicando que vários escravos fugitivos criaram algumas comunidades na nossa região, dentre elas o povoado Tijuco, no município de Heliópolis, na Bahia. Aproveitando o gancho, O Tijuco não é o único elo de ligação com Simão Dias. Da Massaranduba saiu Abel Jacó para ser prefeito de Simão Dias e depois deputado estadual em Sergipe. Também vale lembrar que de Simão Dias saíram quatro ex-governadores de Sergipe: Sebastião Celso de Carvalho, Antônio Carlos Valadares, Marcelo Déda e Belivaldo Chagas Silva. Também nasceram em Simão Dias Rogério Santana Alves, ex-goleiro da Seleção Brasileira de Futsal, e Paulinha Abelha, cantora da banda Calcinha Preta.  

Poucas & Boas 106

Prefeito Mendonça corre. Thiago Andrade espera união. Ildinho será vice? Ana Dalva segue para a reeleição.

Negociata I

São inacreditáveis as conversas que ocorrem sobre as negociatas para as eleições 2024 em Heliópolis. A impressão é que se trata de uma cidade muito rica e populosa, mas só há 12.309 habitantes, com um orçamento que gira em torno dos 70 milhões anuais. Ainda bem que a maioria é só bravata ou fofoca de adversário. Entretanto, uma não é lorota. O Contraprosa apurou que um cabo eleitoral, procurando espaço político de destaque, bradou aos quatro cantos que tinha 3 milhões de reais para torrar na eleição. A vereadora Ana Dalva ficou indignada e parte do que disse chegou a deslizar para as redes sociais. Ela chegou a pensar que se tratava da eleição de Aracaju, mas alguém a advertiu que, caso fosse na capital sergipana, as cifras chegariam a 30 milhões.

Negociata II

Há relatos também que indicam ter um ex-prefeito recebido a proposta de 1 milhão de reais para aderir a um grupo político e ser candidato a vice-prefeito. Dizem que ele já havia recusado 700 mil antes. Desta vez seria 500 mil na hora e 500 mil depois. A condição era ir toda a família. Um dos filhos chegou até a fazer uma pergunta: Quanto vale a nossa honra, Papai? Vendo que honra não tem preço, o não foi enviado como resposta.

Thiago ou Cícero Dantas

Um parente bem próximo do prefeito Mendonça está esperando que Thiago consiga manter unido o grupo para anunciar o apoio. Caso o candidato da oposição não consiga a união, ele vai transferir o título para Cícero Dantas. O parente foi desprezado pelo prefeito. Dizem que Mendonça está apenas dando o troco, já que quase perdeu sua casa para ajudar o tal parente. Caso a adesão se concretize, vai ser dureza subir no palanque com tais adesistas. A vereadora Ana Dalva que o diga. Para amenizar a perda, já há pardais espalhando por aí que a coisa só se concretizará se o parente receber uma graninha.

Ana Dalva vice?

Já não é segredo que o prefeito Mendonça fez investidas em sequência para conquistar o apoio da vereadora Ana Dalva, convidando-a para ser sua vice. A empreitada envolveu até visita do Senhor do Sapé à casa da vereadora. Desta feita não houve proposta de grana, mas a pergunta era intrigante: o que falta para a senhora ser vice de Mendonça? A resposta de Ana Dalva foi também uma pergunta: qual a justificativa administrativa de um grande feito do governo eu poderia utilizar como argumento para mudar de lado?

Ivan de Ildinho

Se as previsões se confirmarem com a chapa Thiago/Ildinho ou Thiago/Beto de Ildinho, um dos nomes ventilados para disputar uma cadeira de vereador é do empreendedor Ivan de Ildinho. Os analistas de plantão afirmam que vai disputar voto dentro do grupo com Ana Dalva e, fora dele, com Doriedson. Outro nome já cogitado também é o de Marcelo Cigano, que já se movimenta para garantir seu espaço. Além destes, nome novo na disputa é de uma das filhas do vereador Valdelício, que deve se aposentar da carreira, mas não da política.

Novas regras

Há um dado novo para a eleição 2024 que serve como uma ducha de água fria na revelação de novos nomes na política. O número de candidatos a vereador deve cair consideravelmente. Uma chapa completa do legislativo municipal deve ter o número de cadeiras da casa + 1. Ou seja, cada coligação, partido ou federação deve lançar apenas 10 candidatos. Do lado do prefeito já são 6 candidatos. Só há espaço para mais 1, já que as outras 3 vagas são para mulheres. Pela oposição a cena está melhor. Dos três atuais, apenas Ana Dalva deve sair para a reeleição. Sobra espaço para mais duas mulheres e seis homens.

Mendonça correria

Em meio a tanta notícia negativa, o prefeito José Mendonça tenta injetar otimismo para pavimentar sua reeleição. Vendo que seu governo tem apenas o argumento do Plantão Médico 24 horas, está correndo contra o tempo para implantar o ensino fundamental integral na nova escola do povoado Cajazeiras. A ideia é transformar o local em polo para 6º ao 9º ano, com aulas das 8 às 16 horas. O problema maior é concluir a obra e acelerar as medidas burocráticas. Acontece que o mês de janeiro está terminando e as aulas serão iniciadas em 19 de fevereiro. Corre, prefeito!

Um Lugar no Sertão: Aribicé, Carnaíba, Pedra Furada, Junco, Lagoa dos Guedes, Serra Vermelha do Junco

Ao sairmos do distrito de Algodões, município de Quijingue, seguimos a BA 381 até a BR 116 por 12 kms. Daí seguimos no sentido norte para Euclides da Cunha. Três kms após chegamos ao povoado de Pinhões. A comunidade vive da agricultura familiar e depende muito da BR 116. Tem escolas, posto médico e um comércio estruturado. O povoado fica distante cerca de 14 kms de Euclides da Cunha.

Como a sede já foi aqui retratada em Um Lugar no Sertão, seguimos por uma estrada vicinal para o distrito de Carnaíba, afastado apenas 9 kms da BR 116. Carnaíba cresceu numa região servida pelo rio Vermelho e seus riachos afluentes. A terra fértil atraiu moradores e a agricultura familiar é a base de tudo, mesclada com o criatório de gado. É comum, inclusive o isolamento de parte da comunidade quando as chuvas são abundantes. O poder público tem feito intervenções para evitar maiores danos. A localidade tem estrutura razoável, mas a história do seu surgimento não foi ainda registrada.

De Carnaíba seguimos por estrada vicinal para chegarmos à BA 220, mas não a que passe em Caimbé e Massacará. É uma outra BA 220 que liga Euclides da Cunha a Aribicé e que um dia chegou a ter asfalto. Passaríamos no povoado Lagoa dos Guedes, comunidade com boa estrutura, e seguiríamos para as Sete Curvas, subida íngreme e tortuosa, onde no final tem um mirante. De lá é possível ver a Lagoa dos Guedes e várias outras localidades, numa paisagem de tirar o fôlego.

Seguindo ainda a BA 220, alternando entre asfalto e estrada piçarrada, nosso destino agora seria o distrito de Aribicé. Vale lembrar que Euclides da Cunha tem sete distritos: o da sede, Aribicé, Caimbé, Ruilândia, Carnaíba, Muriti e Massacará. Ainda não temos um livro específico sobre a História do Aribicé, mas neste mês de janeiro foi lançado um que detalha a história de Dona Jovina, mãe de 12 filhos no povoado. Uma filha dela, Iris Miranda, doutora em Letras e morando hoje em Boston – EUA, lançou Ser-Tão Jovina – Histórias de Amor e Fé no Aribicé. Certamente há o registro de muitos fatos acontecidos no distrito e merecerá uma postagem quando tivermos um exemplar. Aribicé tem tudo que uma povoação precisa, além da promessa do asfaltamento da via que liga o distrito a Euclides da Cunha.

De Aribicé, seguimos por uma estrada vicinal, de barro batido, que um dia poderá ser a BA 220. Sete kms depois chegamos ao povoado Junco, com algumas ruas calçadas, uma igreja bem zelada e um povo acolhedor. Ainda estávamos no município de Euclides da Cunha e continuamos seguindo o que seria a BA 220. Por três kms passamos por uma região bem habitada até chegarmos no povoado Serra Vermelha do Junco, que fica a menos de 500 metros do limite entre Euclides da Cunha e Banzaê.

No município de Banzaê, a estrada parece receber melhores cuidados, mas a poeira era inevitável. Nosso destino final era chegar à Pedra Furada, localizada dali a mais 10 kms. A região é de uma beleza incomensurável e precisa ser explorada turisticamente, já que não há um direcionamento para esse fim. Depois de desfrutarmos da Pedra Furada, seguimos para Banzaê, que fica a aproximadamente 3 kms. E assim, encerramos essa sequência na série Um Lugar no Sertão, que vai continuar. Claro que, depois de tanto esforço, bem que cabe uma inscrição sua neste canal. Já está inscrito? Então não esquece aquele like bem sertanejo, dado com gosto, e que nos incentiva a seguir em frente. Um abraço e até uma outra oportunidade.

Quijingue - Um Lugar no Sertão 10

Deixamos o acolhedor povoado de Deixaí e seguimos pela estrada de barra batido BA 381. De Cansanção a Quijingue são 42 km de poeira. Ao longo do percurso, depois do Deixaí, há dois locais que merecem uma parada: a barragem do rio Cariacá, limite entre os dois municípios, e o simpático povoado de Boa Vista de São José. Há várias outras povoações ao longo da estrada e isto é um indicativo de que o tempo do asfalto ficou bem lá no passado. Chegando em Quijingue, o visitante fica surpreso com sua organização e cuidado. E neste episódio de Um Lugar no Sertão, vamos detalhar como o município chegou até aqui pela dedicação ao trabalho do seu povo.

A história do surgimento do município de Quijingue começa com o fazendeiro Gregório José de Almeida. Ele tinha uma fazenda chamada Onça e nela eram comemorado todos os anos os festejos juninos. O São João da fazenda Onça virou São João da Onça por ter obtido grande sucesso. Tempos depois, o São João da Onça passou a ser realizado na Fazenda Lagoa Grande. O número de participantes aumentou de forma considerável, a ponto de começar a construção de casas para abrigar famílias de forma definitiva. Com auxílio do conselheiro Francisco e de Gregório de Almeida nasce uma capela e a povoação toma corpo. Em 1893 passa pelo local, vindo de Cícero Dantas, o beato Antônio Conselheiro. Com ele vieram várias pessoas. A partir daí, Lagoa Grande passou a contar com um fluxo maior de pessoas e vários casebres são construídos. Foi após a passagem de Conselheiro que Sérgio Ferreira de Brito, Gregório José de Almeida, Joaquim Pereira de Oliveira, Salu José Peba e José Bezerra de Oliveira resolveram mudar o nome do arraial para Triunfo, já sendo território do município de Tucano. 

Oficialmente, o povoado de Triunfo foi elevado à categoria de distrito, subordinado ao município de Tucano, por meio da Lei municipal nº 11, de 30 de abril de 1917, aprovada pela Lei estadual nº 1199, de 03 de julho de 1917. Tempos depois, por meio do Decreto-lei estadual nº 141, de 31 de dezembro de 1943, ratificado pelo Decreto-lei estadual nº 12.978, de 1° de junho de 1944, o distrito de Triunfo teve seu nome alterado para Quijingue. Com o desejo de emancipação cada vez crescente, já que se avolumavam ruas e praças na localidade para abrigar cada vez mais população crescente, por meio da Lei estadual nº 1640, de 15 de março de 1962, o distrito de Quijingue foi elevado à categoria de município, desmembrando-se de Tucano, sendo instalado em 7 de abril de 1963. Hoje, Quijingue possui 2 distritos. Além da sede, por meio da Lei estadual nº 4040, de 14 de maio de 1982, o povoado de Algodões, pertencente a Quijingue, foi elevado à categoria de distrito, dentro do mesmo município.

O município de Quijingue tem limites com Euclides de Cunha, Tucano, Cansanção, Araci, Monte Santo e Banzaê. Está distante de Salvador por 322 kms. Sua área é de 1.380,798 km², abrigando uma população total de 25.272 habitantes, no censo de 2022, com uma densidade demográfica de 18,3 pessoas por km. Está a uma altitude de 347 metros e é servida pela BA 381 e pela BR 116.

Algodões 

O distrito de Algodões fica a 21 kms depois de Quijingue, seguindo a mesma BA 381, em direção à BR 116, desta vez com asfalto em perfeitas condições. As ruas centrais do distrito foram também asfaltadas, dando um ar de cidade. Aliás, Algodões tem condições sim de virar município. A área do seu distrito tem uma população de cerca de 10 mil habitantes, maior que muitos municípios da Bahia. O distrito foi criado em pela lei estadual nº 4040, de 14 de maio de 1982, e anexado ao município de Quijingue. A oficialização e implantação ocorreram em 1988. Algodões existe desde 1802 com a chegada dos tropeiros que sempre passavam por essa região, quando um deles resolveu ficar e trazer toda sua família. O tropeiro era Sebastião José de Abreu, que trazia consigo uma imagem do santo que tinha o seu nome: São Sebastião. O nome veio de uma plantação de algodão no local. A festa do Padroeiro São Sebastião ocorre desde o dia 11 de janeiro e vai até o dia 20, quando sempre há inúmeras trações musicais de nível nacional. 

Pilão Arcado - Cidades do Velho Chico 12

Nesta nova fase da série Cidades do Velho Chico, a primeira providência que tomamos foi começar a continuidade das reportagens Pilão Arcado. Qualquer que fosse nossa nova empreitada, deveria esta cidade ser o ponto de partida. Isso tudo porque ficou um ar de missão não terminada quando retratamos Remanso, Casa Novo, Sento Sé e Sobradinho, todos nas margens do maior lago do Velho Chico. Nossa viagem começou em Heliópolis no primeiro dia de 2024. O destino final daquele dia seria Pilão Arcado. Já em Remanso, seguimos a 235 e, logo depois, marchamos pela BA 161. As rodovias estavam em perfeitas condições. 

Mas minha chegada a Pilão Arcado foi marcada por uma tragédia. Antes mesmo de providenciar uma pousada, fui ao povoado Porto de Passagem, uma vila de pescadores no lago de Sobradinho. No retorno, fui verificar as condições da BA 335 – que liga Pilão Arcado ao povoado de Lagoa do Padre, além de me informar sobre a possibilidade de ir até Vila do Saldanha. As informações colhidas eram animadoras para seguir caminho pela 335. Até mesmo os motoristas de camionete e os motoristas de carros-pipas me aconselharam a abandonar a ideia de ir ao Saldanha. Tinha chovido muito na região e as estradas não estavam convidativas. Decidido o caminho para a Lagoa dos Padres, voltei à cidade. Quando cheguei no cruzamento da 335 com a 161, já na zona urbana, vi uma cena bizarra e trágica. Um homem tentava provavelmente ultrapassar um caminhão-pipa pelo acostamento quando perdeu o equilíbrio em sua motocicleta, bateu na carroceria e foi cair debaixo da carroceria. O motorista não percebeu nada e até estava bem devagar porque tinha passado num quebra-molas e ainda acenava para alguém que estava numa casa ao lado da rodovia, ao mesmo tempo em que as rodas do caminhão esmagavam a cabeça da criatura.

A notícia saiu na G1 Bahia e só aí é que soube do nome da vítima. Tratava-se de Jackson Gomes do Rego e morreu na hora, embora estivesse de capacete. O motorista do caminhão parou o veículo ainda sem saber direito o que havia acontecido. Foi aí que se deu conta da tragédia. Tentou socorrer, mas viu que nada mais poderia ser feito. Só teve tempo de dizer: “Vocês viram que eu não tive culpa!”. Entrou no caminhão e seguiu para Passagem. Não demorou muito para chegar gente ao local, mas eu só saí de lá quando a Polícia Militar chegou. E a cena não me saiu mais da cabeça. Um homem comum perdeu a vida numa cena bizarra de desequilíbrio, eivada de puro azar. Talvez seja até argumento para o ditado popular que afirma ter todos nós um destino traçado até chegar a nossa hora e a nossa vez. Que Jackson esteja num bom lugar. Espero.

Mas esta não é uma reportagem de tragédias. Estamos aqui para contar a história de Pilão Arcado. Para isso, fui conversar com moradores, depois de garantir um lugar na Pousada Avenida, na sequência da BA 161, na via que segue para Porto de Passagem. A impressão que Pilão Arcado nos deu foi de uma cidade bem cuidada, com tudo que um município precisa. Mas o nome da cidade fica martelando na nossa cabeça e é bem simples sua origem. Evidentemente tudo começa com os índios das tribos mocoazes e acoroazes. Os primeiros brancos chegaram pelo São Francisco e logo descobriram uma aldeia que ficava situada na atual Fazenda Gado Bravo. A primeira estrada foi construída em direção ao porto principal de pescaria. No local esqueceram um gigante pilão, utilizado para pilar o sal de uso no pescado. O “arcado” pode estar relacionado ao formato do pilão ou ao formato da curva que fazia o rio no local. 

Certo é que o nome de Pilão Arcado vem de centenas de anos, sempre antecedido da palavra pescaria. O governador geral do Brasil, com sede em Salvador, na época era vice-rei, D. João de Lencastre, deu o status de Arraial Pescaria de Pilão Arcado, no início do século 18, já que governou o Brasil entre 1694 a 1702. Tal ato permitiu a citação em mapas e o local passou a ser destino ou passagem das rotas do São Francisco. Chegaram pessoa de vários lugares, principalmente atraídas pela possibilidade de encontrar pedras preciosas, combater índios rebeldes ou para criatório de gado. Três nomes aparecem constantemente nos relatórios de pesquisas: França, Bernardo e Antônio, todos membros da família Guerreiro e católicos seguidores de Santo Antônio. Daí logo se segue a construção da Capela de Santo Antônio, o que fez surgir o segundo nome após virar freguesia de Santo Antônio de Pilão Arcado, instituído por Carta Régia datada de 18 de janeiro de 1771. Dez anos depois, a capela construída foi tragada pelas águas do Velho Chico, numa enchente avassaladora. Ergueram uma nova capela, desta feita dedicada à Nossa Senhora do Livramento.

Fato que merece importância é uma guerra particular entre famílias. De 1800 a 1808, a família guerreiro sustentou renhida e sangrenta luta com a família do Comendador Militão Plácido de França, que resultou a expulsão dos guerreiros. Mesmo com tanto derramamento de sangue, a região era importante e estratégica para as autoridades. Logo após o fim dos embates entre as famílias, em 1810, o arraial foi elevado à categoria de Vila, criando então o município de Pilão Arcado, passando então a Comarca do Sertão de Pernambuco, com Alvará Régio datado de 15 de janeiro daquele ano. Vale lembrar que toda a região oeste da Bahia, além do São Francisco, pertencia à província de Pernambuco. Essa situação durou até a Confederação do Equador, em 1824, quando Pedro I resolveu transferir a Comarca do São Francisco para a Bahia.  

Quarenta e sete anos depois, a Resolução Provincial nº. 650, de 14 de abril de 1857, transferiu a sede da Vila para o Município de Nossa Senhora do Remanso de Pilão Arcado, e extinguiu o Município de Pilão Arcado.  Em 1872, a Resolução Provincial nº. 1797, de 21 de abril, transferiu para a Vila de Remanso a sede da Freguesia de Santo Antônio de Pilão Arcado, sendo Vigário o Padre Bernardino Nunes de Almeida, ficando a Igreja rebaixada à categoria de Capela e Pilão Arcado virou simples distrito de Remanso. Foram precisos mais 17 anos para Pilão Arcado ganhar autonomia mais uma vez. Por força da Lei nº. 2.696, de 22 de julho de 1889, foi restaurada a freguesia com o antigo nome de Santo Antônio de Pilão Arcado. No ano seguinte, o arraial foi novamente elevado à categoria de Vila pelo Ato Estadual de 31 de outubro de 1890, que restaurou o município com o território desmembrado de Remanso. Sua reinstalação ocorreu em 30 de dezembro de 1890, em plena era republicana. 

O povo hoje de Pilão Arcado, movido pelo paz, já passou por muitos atos de violência. Em 1918, por exemplo, o Coronel Franklin Lins de Albuquerque entrou em desavença contra Antônio Joaquim Correia. Dizem que o coronel venceu, mas a cidade ficou com fama de violenta. Eram brigas políticas entre os grandes coronéis da época. Um ano depois, segundo artigo de André Luís Machado Galvão – da UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana, nasce em Pilão Arcado Wilson Mascarenhas Lins de Albuquerque, jornalista, escritor e político. Filho mais novo do Coronel Franklin. Virou escritor com o livro Zaratustra Me Contou (1939). Seu livro de maior sucesso foi Os Cabras do Coronel (1964), certamente inspirado no mundo de Pilão Arcado. Wilson Lins foi deputado por várias legislaturas e secretário de Estado. Tornou-se membro da Academia de Letras da Bahia em 1967 e, como jornalista, esteve em várias redações, além de ser diretor de O Imparcial, jornal comprado pelo seu pai. Segundo artigo de Laís Mônica Reis Ferreira, estabelecendo uma relação entre o Integralismo e a imprensa baiana, em abril de 1941, a empresa Companhia Editora Mercantil da Bahia S/A efetuou a venda de O Imparcial ao Cel. Franklin Lins Albuquerque. Este entregou a direção e redação aos seus filhos, Franklin Lins de Albuquerque Junior e Wilson Lins. O domínio do coronel estava muito além de Pilão Arcado e Remanso. Exercia sua liderança por toda a vasta região do Médio São Francisco, devido à forte influência que exercia sobre outros chefes políticos de menor envergadura. Outro filho seu, Teódulo Lins de Albuquerque, que também nasceu em Pilão Arcado, em de 16 de junho de 1914, formou-se em medicina em Salvador no ano de 1939. Foi inspetor federal de educação e chegou a representar a Bahia como deputado federal na Assembleia Nacional Constituinte em 1946.  

Como sabemos, o território de Pilão Arcado é vastíssimo. Em divisão territorial datada 2015, o município é constituído de 4 distritos: Pilão Arcado (sede), Baluarte, Brejo da Serra e Saldanha. Além disso, são incontáveis os povoados que possuem estrutura semelhante ou até superior aos distritos do interior. As distâncias dentro do território são imensas. São exatamente uma área total de 11.597,923 km², pouco mais da metade de toda área do estado de Sergipe. Para se ter uma ideia mais clara, de Pilão Arcado ao povoado de Nova Holanda são percorridos 150 kms, com apenas 60 kms asfaltados e uma BR 020 em estado lamentável no caminho. A população de Pilão Arcado chegou aos 35.357 habitantes, censo de 2022. Num vasto território deste, a densidade populacional é muito baixa. São apenas pouco mais de 3 pessoas por km². O município faz limites com Remanso, Buritirama, Campo Alegre de Lourdes, Sento Sé, Xique-Xique e Barra – na Bahia; Guaribas, Morro Cabeça no Tempo e Avelino Lopes – Piauí. A distância para Salvador é de 785 kms.

O município tem uma diversidade de culturas agrícolas por habitar vários rios, riachos e lagoas. Várias localidades têm nomes começados pela palavra brejo. A agricultura é desenvolvida na produção de feijão, milho, mandioca, arroz, algodão, mamona, gergelim, batatas e outros produtos. A pecuária sendo importante, inclusive Pilão Arcado exporta gado para Juazeiro e Petrolina. Também há muita fartura na pesca, se não compararmos com tempos de outrora. Há muita produção artesanal de aguardentes de cana-de-açúcar, rapadura, farinha de mandioca, manteiga e requeijão.

Pilão Arcado é uma cidade jovem e planejada. Foi construída até 1978, quando recebeu os moradores de Pilão Velho, localizada no lago de Sobradinho, distante 24 km. Hoje, a antiga cidade é uma ilha de pouco mais de 300 metros, com pouquíssimos moradores e diversas ruínas. Lá só se vai de barco, mas ainda atrai muitos turistas, principalmente quando o lago tem baixa no nível de água.  

Passagem

Logo que chegamos a Pilão Arcado, visitamos o povoado Porto da Passagem. Fica na sequência da BA 161, que é a BA 752 e está localizado a exatos 11 kms da sede do município. Passagem está situado num dos braços do São Francisco e é uma vila de pescadores muito frequentada nos finais de semana por moradores de Pilão Arcado e região. Dezenas de barcos coloridos se aglomeram entre a terra, a água e a vegetação, criando um cenário de grande beleza, especialmente em finais de tarde ensolarados. É possível negociar com barqueiros a travessia para o município de Sento Sé, que fica no lado oposto, ou para localidades de Pilão Arcado onde há dificuldades para se chegar de carro, ou até seguir para Xique-Xique. É possível até transportar carros. Os barqueiros garantem que não há nenhum problema, embora todos saibam que o Titanic também era seguro.

Lagoa do Padre

No dia 2 de janeiro seguimos com destino ao povoado Lagoa do Padre. No caminho paramos em duas localidades: Campo Grande, que apresenta boa estrutura e o povoado Casa Verde. Mas interessante foi descobrir a história do povoado Lagoa do Padre. Dizem que os primeiros moradores vieram de Pernambuco em 1875 e o primeiro nome dado foi Lagoa das Garças. Com a chegada de um grupo de padres para trabalhar na cana-de-açúcar, passaram a viver num casarão. Com eles vieram as duas primeiras famílias: Ramos e Ferraz. Com a chegada de uma imagem de Santo Antônio, começam as festas religiosas do santo. Mais tarde é incorporada a festa de Santa Luzia, em dezembro. Além disso, os padres organizavam novenas no mês de julho. Com a movimentação sempre crescente, chegam comerciantes do Piauí e se instalam no local. Logo surge uma feira no povoado, após a chegada da estrada. Hoje, a BA 335 está completamente asfaltada até o povoado. O nome Lagoa do Padre veio provavelmente após o assassinato de um padre ocorrido. Hoje, o povoado tem mais de 100 famílias morando na sede. O que ajudou o povo a permanecer no local foi uma pequena barragem construída na Vereda Pimenteira, uma espécie de rio temporário e largo, que permite formação de inúmeras lagoas. Para se ter uma ideia, saímos de Lagoa do Padre e a vereda segue a estrada até o povoado de Mandarino, encontro da 335 com a BR 020. Da Lagoa do Padre até Mandarino são 60 kms e a vereada segue além por mais uns 10 kms.

Nova Holanda

Depois de sofremos horrores na BR 020, desde Mandarino, chegamos a Nova Holanda. Povoado que cresce rapidamente, apesar das condições das estradas. É mais fácil ir para o Piauí ou para Campo Alegre de Lourdes que chegar a Pilão Arcado ou Buritirama. Por volta de 13 horas chegamos ao povoado e, por sorte, encontramos a Pousada e Restaurante da Rejane. Comida boa e barata, com direito a uma verdade: “Se não fosse eu, vocês só comeriam em Buritirama.”, disse a empreendedora. Ela sabe que quando o asfalto chegar os negócios vão melhorar. Entretanto, não bota muita fé. “Já falam deste asfalto há 30 anos!”.

Sobre Nova Holanda, é possível dizer que é mais um povoado de Pilão Arcado que surge com a chegada de pessoas para explorar a atividade agrícola e o criatório de gado. Mas o crescimento veio mesmo após a abertura da BR 020. Sua localização e distância de Pilão Arcado também contribuem para o seu crescimento. Já é visto como o maior dos povoados de Pilão Arcado, embora faltem números para confirmar esta afirmação. O local ficou famoso por ser cenário da produção cinematográfica do filme Meteoro (2007), película  elaborada por Brasil, Porto Rico e Venezuela. Recentemente, há uma onda emancipacionista que já conta até com bandeira do futuro município.