Chorrochó - Cidades do Velho Chico 36
Seguindo a BA 311, ainda sem asfalto, mas absolutamente trafegável, 20 kms depois chegamos ao encontro da BA 311 com a BA 310. A primeira segue até encontrar a BA 210 e a BA 310 segue para a cidade de Chorrochó, depois de encontramos mais uma vez o rio Macururé. O percurso até Chorrochó é de mais 10 kms. A opção por asfalto também deve ser considerada, mas o percurso total é de 48 kms. A população local está animada com a possibilidade de asfaltamento total da BA 311 ainda neste governo.
Mas, enfim, chegamos à cidade de Chorrochó, que carrega no nome o fenômeno das cheias dos rios no território. Chorrochó é derivado do termo tupi “xoró”, que significa jorrar, correntoso, ruidoso, em referência aos vários riachos temporários existentes nas proximidades, todos afluentes do rio Macururé, que alimenta o São Francisco, com sua foz próximo ao distrito de Barra do Tarrachil.
O povoamento de Chorrochó, após a expulsão dos índios, tem início na primeira metade do século XIX, na fazenda do mesmo nome, pertencente a Francisco Alves de Carvalho, José de Sá e Antônio de Sá Araújo. Em 1842, já era um povoado constituído de oito casas. Habitavam algumas famílias e seus agregados e escravos, dentre as quais estava a família Pires de Carvalho, de Belém do São Francisco. Nas décadas seguintes, pessoas vindas de localidades próximas, acompanhadas de suas famílias, se fixaram no povoado de Chorrochó e seus arredores.
Em 1876, Chorrochó recebeu sua primeira escola, sendo nomeado professor Evaristo Cardoso Varjão Patte, natural de Uauá. Em 1877, quando o povoado de Chorrochó já possuía uma feira semanal, por ali passou o cearense Antônio Conselheiro, que construiu o cemitério e a igreja em louvor ao Senhor do Bonfim. Por meio de ato de 20 de setembro de 1891, Chorrochó foi elevada à categoria de distrito, ainda pertencente ao município de Curaçá. Em 1906, o local passou a ser distrito policial. Somente pela Lei Estadual nº 1371, de 22 de agosto de 1919, Chorrochó passa à categoria de município, desmembrando-se de Curaçá, luta encabeçada pelo comerciante Francisco Pacheco de Menezes, natural de Areia Branca (SE) e radicado no município baiano desde 1871. Francisco foi nomeado o seu primeiro intendente. Uma reviravolta aconteceu 5 anos depois. Em 1924, Chorrochó foi extinto e novamente anexado como distrito de Curaçá.
Distante de Curaçá, tudo voltou a ser muito difícil. A região ficou exposta, principalmente pela presença de cangaceiros. Lampião inclusive passou na região do arraial de Várzea da Ema, em 28 de julho de 1928. Somente bem mais tarde, pela Lei estadual nº 510, de 12 de dezembro de 1952, desmembraram-se de Curaçá os distritos de Chorrochó e Ibó, para compor o novo município de Chorrochó, instalado em 12 de setembro de 1954, com a posse de seu primeiro prefeito, Eloy Pacheco de Menezes. Em 1962, os distritos de Abaré e Ibó foram desmembrados de Chorrochó para formar o novo município de Abaré.
Hoje, mesmo sem Aberé e Ibó, o município de Chorrochó tem uma área considerável. São 3.005,319 km² para abrigar uma população de 10.579 habitantes, censo IBGE 2022, com uma densidade demográfica de 3,5 pessoas por km². A população estimada para 2024 é de 10.929 pessoas. Com uma área imensa, Chorrochó é banhado pelo rio São Francisco na parte norte, no território do distrito de Barra do Tarrachil. Inclusive, a comunidade do distrito foi relocada. A original foi encoberta pelas águas da barragem de Itaparica. O município faz limites com Macururé, Rodelas, Abaré, Curaçá, Uauá e Canudos em território baiano, e Belém de São Francisco, em território pernambucano. Uma balsa sai de Barra do Tarrachil para Belém do São Francisco transportando pessoas e veículos de passeio. O horário depende da procura. Há também a opção pela BA 210 para pegar a ponte no distrito de Ibó, BR 116, BR 316 até Belém de São Francisco, mas o percurso é de 100 kms.
A distância de Chorrochó até Salvador é de 493 kms. A opção mais perto é Paulo Afonso – 180 kms ou Juazeiro – 240 kms. Tudo está distante. Por isso há um diálogo maior com Belém do São Francisco, em Pernambuco. Com uma distribuição da população bastante dispersa, e predominantemente rural, as maiores concentrações populacionais estão na sede e no Distrito de Barra do Tarrachil. Mas há povoações significativas como Várzea da Ema, Caraíbas e São José. A agropecuária se resume a lavoura de subsistência e a cultura do feijão, cebola, algodão arbóreo, melancia, coco e as criações de caprinos e ovinos ainda se destacam como as principais fontes de renda da região. O volume de produção está diretamente condicionado pelo volume de chuva na região.
E por falar em chuva, em 2023, foi detectada, pelo INPE, uma área de 5,7 mil km² de clima árido no norte da Bahia, detectada pela primeira vez no Brasil, na qual o território de Chorrochó está inserido em sua totalidade. O aparecimento de clima árido no Brasil se deve às mudanças climáticas provocadas pelo homem. Há áreas hoje no município onde o desenvolvimento agrícola está praticamente descartado. Entretanto, isso não tira o ânimo de seu povo. Quem visitar a cidade, principalmente nas festas juninas, verá um povo alegre e receptivo, bem distante daqueles que baixam a cabeça diante das dificuldades da vida. É o nosso mais puro Nordestino-raiz.