Landisvalth Lima
Hoje, dia 11 de Abril, é a data
do aniversário de Heliópolis. Há exatos 28 anos atrás, uma Lei estadual selava
a emancipação política e rompia o cordão umbilical que ligava o novo município
a Ribeira do Amparo. O batalhador da época já não vive entre nós. José Dantas
de Souza hoje é nome de praça e nome de Colégio. Nozinho foi, de certa forma,
reconhecido pela sua luta, mas, se estivesse vivo, certamente não estaria feliz
ao ver que não estamos bem. Melhor dizendo, vivemos o pior dos nossos 28
sofridos anos.
Eu não deveria escrever este
texto numa data como esta. Certo talvez seria criar um mundo platônico,
estimular nosso povo com palavras falsas de incentivo. Afinal, como diz um
certo colega meu, Heliópolis não tem conserto. O mais aceito é lutar pelo
crescimento individual e o município que se dane. Quando tudo piorar ainda
mais, pegam-se os panos de bunda e se vai a outro lugar. O mundo é grande e
deve haver algum lugar onde ser feliz não é uma utopia. O problema é que eu não
consigo pensar assim. Desde que por aqui cheguei, há também exatos 28 anos, amarrei
a minha vida ao destino de Heliópolis.
Eu poderia muito bem centrar
minhas atenções só nas coisas que deram certo. Mas quais? Aí me vem o leitor e
diz: E a BA 393 hoje asfaltada e sinalizada? Não era antigamente uma trilha de
lama e caos? É verdade, embora não me saia da cabeça o valor: 18 milhões! Dava
para construir umas três rodovias destas. Além disso, o prefeito da época se
aproveitou da obra para empenhar obra estadual como municipal e até hoje a
denúncia feita pela vereadora Ana Dalva não foi apurada pelo Ministério Público.
A esperança de apuração reside toda no atual promotor.
Ora, professor, mas Heliópolis
nunca recebeu tantos recursos. Há tantas obras na cidade! Também é verdade. Do
governo Lula para cá foram muitos recursos, inclusive muito mal aproveitados. A
creche está até hoje sem concluir graças aos intermináveis comportamentos nada
republicanos dos nossos administradores de tentarem sempre tirar uma lasquinha.
Perdão! Na verdade, um lascão dos recursos. E isso significa moeda de troca,
superfaturamento, criação de empresas fantasmas, desvios de recursos... Tradução:
corrupção! As obras não são concluídas ou são entregues sempre faltando algo.
Para completar, Heliópolis está na lista, mais uma vez, dos inadimplentes.
Outros recursos demorarão a aqui chegar.
Para não dizer que não falei das
flores, nossa educação está no fundo do poço, a saúde está empacada, a economia
arruinada. Para completar nossa desgraça, enfrentamos a maior seca da nossa
história. É muita desgraça para um povo que luta todos os dias e tem a maior fé
na vida. Nossa fé é tão grande que chegamos a acreditar na possiblidade da
implantação de praia no Açude Pindorama. Hoje o açude reserva um pouco de água
de uma nuvem que despencou nas suas cabeceiras e está longe de ser
revitalizado. A praia foi só um sonho!
Mas não podemos só falar em
coisas negativas. A violência diminuiu e temos um novo delegado. Mas não foi a
chegada do delegado que fez a violência decrescer. Os números generosos vêm de
um extermínio de infratores e bandidos promovido na cidade vizinha de Poço
Verde, em Sergipe. Coisa de gente que acredita que um mal cura outro. Também
temos, pela primeira vez, uma mulher na presidência da Câmara de Vereadores,
sua esposa Ana Dalva. Está reclamando de quê, professor? É que ninguém imagina
o preço que eu e Ana Dalva estamos pagando porque sempre nos negamos a entrar
no “jogo de poder”. A prestação de contas aberta ao público e o comportamento
correto dela na presidência tem gerado reações violentas, acreditem, não da
oposição, mas de companheiros de campanha. Tem vereador que se abraça com o
diabo, mas não nos dá um bom dia.
Mas uma coisa ainda pode dar um
alento ao povo: os novos administradores do Poder Executivo. Há inúmeros que depositam
fé na administração de Ildefonso Fonseca. É claro que não será fácil, já que o
prefeito se cercou de algumas figuras carimbadas da política do “eu quero é o
meu!”. E a gente sabe que ele terá de passar um pente fino no seu governo,
eliminando as caspas e as seborreias, separando o joio do trigo. Há muita gente
de boas intenções no governo de Ildinho, mas ele entregou as principais senhas
a um tamborete de três pernas. Basta quebrar uma que as outras duas vão ao
chão. Se ele permanecer com as três pernas deste tamborete de privilégios, aí
ninguém poderá culpar outro a não ser o próprio prefeito. É ele o cabeça, o
comandante. Se as coisas erradas acontecem e ele faz vista grossa, a conta será
sua e de mais ninguém.
Por fim, acredito que o povo de
Heliópolis já perdeu tudo, menos a esperança. É ela que justifica ainda
levantar todos os dias e enfrentar o clima de deserto, seja para cuidar dos
poucos bens que ainda restam, seja para educar as crianças, para servir
clientes ou cuidar da saúde. Quando a situação aqui aperta, resta São Paulo,
talvez Santos. E entre um emprego e outro, ou entre a venda de um óculos de
praia ou a entrega de uma pizza, ele sempre pensará em um dia estar na sua
cidade, com sua casa, ao lado da amada, vendo as crianças irem para a escola ou
brincarem numa praça bem cuidada, certo de que, vindo a doença, haverá sempre
um médico de plantão ou um carro de prontidão para socorrê-lo. Um sonho tão
simples, fácil de realizar, absolutamente factível. Sonho perseguido e
distante, muito distante. Mas há a esperança que nos alimenta e que faz a gente
encher o peito e dizer PARABÉNS, HELIÓPOLIS!