Bacharel em Direito Elize
Matsunaga confessou ter esquartejado marido; Suzane Von Richthofen matou os
pais com ajuda do namorado; Érika Passarelli mandounamorado e sogro matarem a
tiros seu próprio pai
Rafael Rodrigues – do CORREIO
Suzane, Érika e Elize: fatais! |
Para sentimentos e sensações,
ainda não existe unidade de medida. Mas é preciso muita frieza para dar um tiro
na cabeça do marido enquanto a filha de 1 ano dorme no quarto ao lado,
esquartejar o corpo, distribuir as partes em três malas e deixá-las no mato. A
bacharel em Direito Elize Matsunaga, 38 anos, assassina confessa do marido, o
executivo da Yoki Marcos Matsunaga, 42, fez tudo isso e na madrugada de ontem,
durante a reconstituição do crime, descreveu detalhadamente o que ocorreu entre
a noite de 19 de maio e a manhã do dia 20. Com formação técnica em Enfermagem,
Elize esperou dez horas após o disparo mortal. Era o tempo necessário para que
o corpo entrasse em estado de “rigidez cadavérica”, evitando então deixar
vestígios fluídos durante o esquartejamento. Então, com uma faca de 30
centímetros própria para tratar carne, começou pelas cartilagens e retirou os
membros inferiores e superiores de Marcos. Depois, cortou a barriga. Por fim, a
cabeça. “Por ser conhecedora de anatomia, ela cortou nas juntas”, contou o
diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia
Civil de São Paulo, Jorge Carrasco. Para
se livrar dos pedaços do corpo, armazenou tudo em três malas de viagem,
carregou para o seu carro e espalhou os restos mortais em uma área de mata no
município de Cotia, na Grande São Paulo.
Relaxando
Com a mesma frieza, Elize viveu
por 18 dias como se nada tivesse acontecido. Conforme apurou o delegado Mauro
Dias, no quinto dia após o crime, ela pegou o cartão de crédito do marido e foi
às compras. Passeou no Shopping Iguatemi e levou para casa algumas bolsas da
grife francesa Louis Vuitton. Antes, porém, passou em um salão de beleza. Foi
cuidar dos seus cabelos louros e, de acordo com a polícia, chegou a dizer para
quem quisesse ouvir que precisava relaxar enquanto esperava pelo telefonema de
um sequestrador que lhe ameaçaria tirar a vida do marido, caso não pagasse
alguma fortuna. Àquela época, Marcos era dado como desaparecido. Na
reconstituição do crime, Elize passou o tempo todo fitando seu apartamento e,
segundo relatos de peritos criminais, não demonstrou arrependimento. Ao ser
presa essa semana, Elize logo fez muita gente lembrar de outro caso chocante,
ocorrido em 2002. Foi quando uma bela jovem, também loura e de família rica,
ganhou as páginas policiais. Suzane Von Richthofen, então com 18 anos, planejou
meticulosamente o assassinato dos pais, Manfred Albert e Marísia von
Richthofen. Chegou a treinar com os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos – o
primeiro seu namorado – como seria o crime. Para não chamar a atenção dos
vizinhos, optou por pauladas na cabeça. Foi condenada em júri popular a 39 anos
de prisão.
Frias
Semelhante frieza teve a
estudante mineira (e loura) Érika Passarelli Teixeira, 30, para, de acordo com
as investigações, mandar seu namorado e seu sogro matarem a tiros seu próprio
pai, Mário José Teixeira Filho, em 2010. A acusação sustenta que Érika agiu
pensando no seguro de vida do pai, de R$ 1,2 milhão. “Ela é fria e muito
tranquila. Fala que não tem envolvimento no caso e que acredita na Justiça”,
conta o delegado do caso, Bruno Wink.
Ela aguarda o julgamento em prisão preventiva. Apesar da frieza depois de matar
o marido, na visão do delegado, Elize não chegou a planejar o assassinato. As
investigações trabalham com a tese de crime passional.
Impulso
Em depoimento, ela contou ter
discutido com Marcos após descobrir uma suposta traição. Os dois teriam
iniciado uma briga e depois de receber um tapa, Elize sacou a pistola 380 que
ganhou do marido e atirou. Os vizinhos nada ouviram porque o apartamento – na
nobre Vila Leopoldina – tem isolamento acústico. O impulso para matar lembrou
outro caso que, por coincidência, envolveu mais uma loura. Em maio do ano
passado, Verônica Verone estrangulou até a morte o amante Fábio Fernandes, 33,
em um motel de Niterói no Rio. À
polícia, contou que agiu assim porque, sob efeito de drogas, Fábio teria
tentado estuprá-la. Após o crime, Verônica pagou a conta e foi embora. No
julgamento, alegou insanidade mental e traumas infantis, mas pegou 15 anos de
prisão. Nos quatro casos, além dos cabelos louros e da classe econômica
elevada, mais uma coincidência: todas as mulheres estudaram Direito.
Filha do casal está com tia de
Elize
O advogado da família de Elize
Matsunaga, Auro Almeida Garcia, afirmou que ela estava junto com Marcos há 8
anos, mas casaram-se há dois. Elize é bacharel em Direito e técnica de
enfermagem e Marcos era um dos herdeiros da Yoki Alimentos, vendida
recentemente a um grupo americano por R$ 1,75 bilhão. Ele possui mais um filho,
de 3 anos, fruto de outro relacionamento. A mulher nasceu em Chopinzinho,
município de 19 mil habitantes no Sudoeste do Paraná. Saiu de lá aos 18 anos
para estudar em São Paulo. “É uma cidade onde todo mundo se conhece, de
interior mesmo, então todos estamos chocados com o que aconteceu”, revelou
Garcia - que além de advogado também é amigo da família, em entrevista ao
CORREIO. Na casa onde Elize cresceu ainda moram sua mãe, Dilta Araújo, seu
padrasto e duas irmãs que têm idades entre 20 e 25 anos. Segundo Garcia, por
estar fragilizada devido ao tratamento contra um câncer, Dilta não quer falar
com jornalistas. “Ela soube de tudo pela imprensa e isso chocou muito, para
quem já estava debilitada”, ponderou. O advogado lembra que Elize sempre teve
uma personalidade mais séria. “Era uma menina ordeira, pacífica. Saiu para
ganhar a vida, trabalhar, era muito estudiosa, tranquila, calada, não era
menina espalhafatosa, do tipo cheguei abalando”, descreveu. Ainda conforme o
advogado, o casal visitava a cidade ao menos duas vezes por ano e Marcos
possuía boa relação com a família de sua mulher. Para cuidar da filha do casal,
uma tia de Elize viajou para São Paulo. A família, entretanto, ainda não
decidiu se pedirá a guarda definitiva da criança na Justiça. “A divergência que
existe entre o casal é um fato pontual. Não existe divergência entre as
famílias, nunca houve. A família dela gostaria de ficar com a garota, mas vai
se reunir e tentar ver o que é melhor para a criança”, completou.
Frieza aponta distúrbio
A frieza com que a autora do
crime procedeu durante o assassinato e sua reconstituição chamam atenção para
um perfil de criminosos que parecem não se abalar com a brutalidade das
próprias ações. Segundo a psiquiatra Rosa Garcia, presidente da Associação
Baiana de Psiquiatria, apenas uma perícia detalhada poderá diagnosticar se
Elize possui um perfil de psicopatia. Ela pondera, porém, que o crime tem
características que levam a acreditar que a motivação foi passional, mas também
apontam distúrbios nos momentos que se seguiram ao tiro fatal. “A personalidade
psicopata tem uma série de anormalidades que podem ser observadas em seu histórico,
ela deve ter outros sinais, indícios, não seria só esse fato. Mas é claro que o
fato é muito estranho, um crime passional você mata e pronto. Mas aí tem outros
requintes de crueldade que não são normais para um criminoso comum. Existem
outros requintes que não são do passional, que é esquartejar. Até para um
cirurgião, é difícil. Em um crime passional não tem essa frieza depois”,
ponderou. Algumas das características que podem indicar a psicopatia é a frieza
emocional, a dificuldade de relacionamento social e a falta de compaixão com o
sofrimento. A hipótese de crime passional, em geral, é utilizada pelos
advogados de defesa para justificar um surto em que o criminoso perde
temporariamente o controle dos atos em um acesso de fúria causado por estresse
extremo. O advogado de Elize, Luciano Santoro, em entrevista ao site da revista
Veja, entretanto, descartou esta estratégia. “Ela é uma pessoa normal e tinha
pleno domínio de suas faculdades mentais na hora do crime”, disse. Elize cumpre
prisão preventiva em São Paulo. Ela será indiciada por homicídio qualificado
(cuja pena pode variar de 12 a 30 anos), com uma série de agravantes, como
ocultação de cadáver, motivo fútil e esquartejamento.