Ana Dalva (PPS) pede CPI para obra da Creche |
A vereadora Ana Dalva (PPS)
apresentou nesta segunda-feira (05) no plenário da Câmara Municipal de
Heliópolis um requerimento propondo a abertura de uma CEI (CPI), Comissão
Especial de Inquérito, para apurar as irregularidades na construção da Creche
do Projeto Pró-Infância, paga com recursos do FNDE, e que foi cancelada pela
Justiça. No requerimento, Ana Dalva diz que há notícias de bastidores de um
processo que corre em sigilo na Procuradoria da República e já falam até em
ameaça de morte. “A qualquer momento poderemos ter a Polícia Federal em nossa
cidade e a Câmara tem que se informar sobre o que está ocorrendo. Estou pedindo
aos colegas que cumpram o papel constitucional desta casa. Não podemos ficar de
braços cruzados enquanto a população fica privada de um bem público por causa
de irregularidades praticadas pelos gestores.”, afirma a vereadora.
No mesmo requerimento, Ana Dalva
estende a investigação a mais duas obras: o calçamento do povoado Viuveira e a
construção de uma quadra de esportes na rua Mangabeira. “Estas obras foram
feitas pela mesma empresa, a Construtora Reserv, e eu já denunciei no
Ministério Público várias irregularidades. Vamos apurar tudo, se os meus
colegas aceitarem. Preciso de três assinaturas e cinco votos na casa.”, disse
Ana Dalva. Até agora, só duas assinaturas estão postas, a da requerente, Ana
Dalva, e da vereadora Josefa Naudija (Naudinha – PSDB). Com mais uma, o presidente
da casa tem que colocar o Requerimento em votação e ele precisa de cinco votos
para ser aprovado.
Na sessão desta segunda-feira, o
vereador Renilson Alves apresentou requerimento oral pedindo a convocação dos
secretários de Administração e do Secretário de Educação para falar sobre o que
está ocorrendo. O vereador José Mendonça informou que o que há é uma empresa
que perdeu a licitação, entrou na justiça e conseguiu anular todo o processo. A
vereadora Ana Dalva rebateu informando que não é só isso. “Não é tão simples
assim. Há muito mais coisas e coisas pesadas. Vamos abrir a CPI. Os secretários
podem até falar, mas já com CPI. Ninguém vai querer correr o risco de mentir em
algo oficial. O ideal é a abertura da CEI imediatamente ou a Câmara será desmoralizada
por não apurar a aplicação irregular de mais de 1 milhão de reais.”, concluiu.
Lavando roupa suja
Apesar da seriedade da tentativa
de apuração das irregularidades propostas pela vereadora Ana Dalva, a atração
da noite na Câmara de Vereadores foi o depoimento do ex-prefeito Zé do Sertão,
usando o horário destinado ao público em geral, dez minutos antes do início da
sessão. Tudo começou quando o vereador Giomar Evangelista criticou o
ex-prefeito por denegrir a imagem dos vereadores num programa de Rádio na
Heliópolis FM. Zé do Sertão aproveitou sua fala para rebater o vereador
mostrando irregularidades na administração do PCdoB no município. Foi o
suficiente para virar um bate-boca infindável. Na tribuna, Giomar Evangelista,
Renilson Alves e José Mendonça bombardearam o ex-prefeito com um palavrório que
ia do imoral ao velhaco. Não faltaram as quadras esportivas mal construídas, a
praia do açude e os prédios escolares que desabaram.
Da plateia, o ex-prefeito,
colérico, respondia com acusações de uso do dinheiro público para compra de
apartamentos, casas e fazendas. Todos estavam muito nervosos ou tinham
consciência de transformação da Câmara num teatro de farsas. "O senhor pode até me prender, mas não me calo!", dizia o ex-prefeito. Até a vereadora
Naudinha, que sempre foi reservada, estava gesticulado e gritava palavras de
ordem. O presidente da casa perdeu o controle da sessão e as ofensas tomaram o
lugar das ideias. Só não esqueceram a CPI porque a vereadora Ana Dalva sempre
interrompia para pedir assinatura para o documento. Havia na plateia três
públicos distintos: os torcedores do ex-prefeito, os contrários ao ex-prefeito
e aqueles que achavam tudo aquilo uma grande palhaçada. A frase mais ouvida era
“Isso não levará Heliópolis a lugar nenhum!”. Mas a frase que resumiu a ópera
veio de Uilian Andrade, filho do finado Bilão, dando razão aos dois lados: “É o
sujo falando do mal lavado!”.
Estratégia do PCdoB
Nada que acontece em Heliópolis é só pura inocência. Esta polarização entre o ex-prefeito Zé do Sertão e o grupo que está no poder, liderado pelo PCdoB, tem endereço certo: forçar a indicação do ex-prefeito como candidato das oposições. Para os que estão na prefeitura, qualquer outro nome é sinal de derrota certa do governo. Sendo Zé do Sertão, ou saindo dois candidatos do segmento oposicionista, o poder será mantido. Para o PCdoB, a rejeição do ex-prefeito é tão grande que seria impossível reverter o quadro de derrota dos opositores com o seu nome na chapa. Conversas de bastidores informam que há um caminhão de denúncias para apresentar contra o ex-alcaide. Eles também sabem que há um outro caminhão de denuncias contra o PCdoB, mas o poder será o diferencial. Por outro lado, Zé do Sertão se pega nessa alternativa do confronto para tentar diminuir a distância entre a sua candidatura e as de outros nomes da oposição. Consciente da sua decadência política, o ex-prefeito apega-se a uma única boia no oceano de sua angústia: o debate, o tête-à-tête, a denúncia, a discussão, o enfrentamento. A estratégia é boa. Só que ele deveria ter feito isso desde o primeiro dia após ter entregado a prefeitura aos adversários. Desde então, só Ana Dalva enfrentou os poderosos, enquanto Zé do Sertão se isolava no seu mundo egocêntrico.