RANIER BRAGON e MÁRCIO FALCÃO –
da Folha de São Paulo
(foto: Alan Marques)
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Principal candidata da oposição
ao governo Dilma Rousseff de acordo com as últimas pesquisas, a ex-senadora
Marina Silva viu o pedido de registro da sua Rede Sustentabilidade ser
rejeitado na noite desta quinta-feira (3) pelo Tribunal Superior Eleitoral. Por
6 votos a 1, o tribunal entendeu que o partido não conseguiu obter o respaldo
popular exigido em lei, que é de pelo menos 492 mil eleitores --faltaram quase
50 mil assinaturas de apoio. "Não vejo como contornar a exigência da lei.
Em que pese todo o calor social e o desejo dos homens mais éticos desse país,
ainda estamos presos à lei", disse o ministro João Otávio Noronha. Para
atingir o número mínimo de assinaturas, a Rede pedia que o TSE tornasse válido
um lote de quase 100 mil assinaturas que haviam sido rejeitadas pelos cartórios
eleitorais de forma injustificada, segundo o partido. A relatora, Laurita Vaz,
negou esse pedido sob o argumento de que é "inconcebível com o ordenamento
jurídico a validação [das assinaturas] por mera presunção". Além deles,
votaram contra Henrique Neves, Luciana Lóssio, Marco Aurélio Mello, e a
presidente do tribunal, Cármen Lúcia. A favor da Rede, ficou apenas Gilmar
Mendes. "Estamos diante de um momento histórico. É preciso dizer às
pessoas o que está por trás desse processo. (...) Houve uma situação de abuso
que justifica sim o reconhecimento dessa assinaturas", disse Gilmar.
Cármen Lúcia, a última a votar, defendeu o trabalho dos cartórios e disse que não
poderia haver tratamento diferenciado à Rede, já que dos partidos anteriores
havia sido exigido o mesmo apoio.
A decisão representa um duro
golpe nas pretensões de Marina Silva de disputar pela segunda vez o Palácio do
Planalto --há exatos três anos ela saía das urnas como a terceira maior força
política nacional, tendo obtido na ocasião 19,6 milhões de votos para a
Presidência da República. Caso mantenha a intenção de se manter na disputa,
Marina terá que se filiar entre essa sexta e o sábado a uma outra legenda --o
nanico PEN (Partido Ecológico Nacional) e o PPS são cogitados--, hipótese que
ela sempre se negou a comentar e que destoa de suas frequentes declarações de
que a criação da Rede Sustentabilidade representava um amplo "projeto de
país", não um mero empreendimento eleitoral. Vence no sábado o prazo para
que os partidos existentes filiem os candidatos às eleições de 2014. A
ex-senadora compareceu à sessão do TSE acompanhada de vários políticos e
aliados que participaram da tentativa de montagem da Rede. Na entrada, ela
manifestava que estava bastante esperançosa na aprovação de seu partido.
As assinaturas de apoio à
agremiação começaram a ser recolhidas em fevereiro, mas a Rede afirma ter
encontrado uma série de dificuldades nos cartórios eleitorais, que são
responsáveis por checar se os dados recolhidos conferem com aqueles que constam
do banco de dados eleitoral. A Rede diz ter recolhido mais de 900 mil apoios e,
após triagem interna, encaminhou mais de 600 mil aos cartórios --mas só 442,4 mil
nomes, quase 50 mil a menos do que os 492 mil exigidos, foram validados. Com
isso, os advogados de Marina pediram ao TSE que, em uma decisão inédita,
considerasse válidas 98 mil assinaturas rejeitadas pelos cartórios sem que eles
tivessem divulgado o motivo da recusa. Segundo a Rede, a não justificação
pública da recusa é ilegal, tese que foi derrotada pelo plenário do TSE. De
acordo com a última pesquisa do Datafolha, que é do início de agosto, Marina
tinha 26% das intenções de voto para a presidência, melhor pontuação de um
candidato de oposição a Dilma Rousseff, que somava 35%. Eventual saída da
ex-senadora da corrida presidencial tende a aumentar as chances de reeleição de Dilma Rousseff em 1º turno (isso ocorre quando o candidato alcança mais da metade dos votos válidos).
Na última segunda-feira, o ex-governador José Serra, segundo colocado na disputa ao Planalto em 2010, anunciou a desistência de sair do PSDB para concorrer à Presidência por outro partido. Sem Serra e Marina, os principais adversários hoje de Dilma são o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Somados, Aécio (13%) e Campos (8%) não reúnem atualmente força suficiente, segundo o Datafolha, para levar a eleição para um segundo turno. A criação da Rede contou também com o apoio de alguns congressistas que pretendiam se filiar à sigla. O deputado Walter Feldman (SP) se desfiliou na quarta (2) do PSDB e afirma que não será candidato em 2014. Alfredo Sirkis (PV-RJ) teme que o PV não lhe dê a legenda para disputar a reeleição para a Câmara. Domingos Dutra (PT-MA) deve ir para o Solidariedade ou para o PSB. A insuficiência na comprovação do apoio popular faz com que a Rede seja o único a fracassar entre os três que pleiteavam registro recentemente. Tendo começado a coleta de apoio bem antes do que a Rede, o Pros (Partido Republicano da Ordem Social) e o Solidariedade, do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, tiveram seus pedidos aprovados na semana passada pelo TSE apesar de haver suspeita de fraudes nas assinaturas entregues ao tribunal. As duas legendas movimentaram o "mercado" de troca-troca de políticos entre as legendas, que deve atingir cerca de 60 mudanças só na Câmara dos Deputados até sábado.