Aleluia: "Precisamos de um novo ciclo de desenvolvimento para a Bahia e para o Brasil" (Foto: Jorge Souza) |
Com exclusividade, o Landisvalth
Blog fez uma entrevista com José Carlos Aleluia, Secretário de Urbanismo e
Transporte da Prefeitura Municipal de Salvador, na sede do Democratas em
Heliópolis, quando da sua visita à Festa de São Pedro de 2013, no último dia 06 de
Julho. O ex-líder da oposição no Congresso Nacional respondeu a questões que
vão desde seu futuro político, passando pela Prefeitura de Salvador, Governo da
Bahia e a política nacional.
Landisvalth Blog – Como o senhor
recebeu a manifestação do ex-deputado Geddel Vieira Lima, do PMDB, afirmando
apoiar o seu nome para candidato a governador pelas oposições?
José Carlos Aleluia – Foi uma gentileza do
ex-ministro Geddel porque nós estamos cogitando a possibilidade de ele
ser também o nosso candidato. Estamos juntos. Hoje nós temos nomes muito
preparados para ser governador da Bahia. Tem o ex-ministro Geddel, o
ex-governador Paulo Souto, tem o meu nome. O PSDB tem nome, o João Gualberto.
De modos que o que ele disse foi uma expressão da vontade coletiva. Nós
queremos ter um candidato, mas mais do que isso, queremos ter um projeto novo
para a Bahia. O candidato poderá ser qualquer um, desde que ele possa
representar o novo para a Bahia e humanizar o governo. Este governo aí é o
governo dos partidos. Queremos fazer um governo do povo. O povo não é partido.
O povo está preocupado é com o custo de vida, com o transporte, com a moradia,
com a educação do filho e, na Bahia, sobretudo com a segurança. O PT, nesses 12
anos, transformou o Brasil numa praça de guerra, onde morrem assassinadas 50
mil pessoas por ano. Morrer assassinado virou uma coisa comum e banal. Não há
sequer mais investigação. Antigamente a violência estava na periferia das
grandes cidades. Hoje ela está no campo. Ando muito pelo interior e vejo as
pessoas preocupadas em dormir na fazenda. Estão preocupadas em ser assaltadas e
nem mesmo haver investigação. A Polícia na Bahia foi abandonada pelo PT e está desestruturada. O povo está desprotegido. Este negócio de dizer que o
povo está interessado em partido A ou B não é correto. O povo está interessado
num projeto novo. O Democratas fala da Força das novas ideias. Se não houver
ações e novos ideais não adianta. A ida do povo para as ruas é fruto da
indignação, da insatisfação, da insegurança, do endividamento das pessoas.
Alguns cometeram excessos, mas foram dizer aos governantes que basta. Esta
semana a impressa publicou a paixão dos governadores por helicópteros. Como
eles não tratam da segurança e nem da circulação das pessoas, resolveram
encontrar solução para eles mesmos usando helicópteros. O governador do Rio
chegou ao ponto de usar a aeronave para transportar ele e os amigos, depois a
família e os amigos da esposa, depois os empregados e até os cachorrinhos. Isso
tudo com dinheiro do povo, que está indignado também de ver tanto corrupto
solto. A corrupção virou uma banalidade. O sujeito é condenado e continua
deputado. Como é que o povo pode acreditar numa Câmara de Deputados se existem
condenados atuando nela? Estes condenados votam nossas leis, mesmo sendo um
fora da lei. Então o Brasil precisa de um novo projeto e a Bahia também. Quando
o Geddel fez essa referência nos deu a esperança de que ele virá de barbas e bagagem
para um novo projeto de transformação da Bahia.
Landisvalth Blog – Então o senhor
elegeu a partidocracia, a violência, a corrupção, a inflação e a paralisia do
país. E onde entra aí a incompetência do PT?
José Carlos Aleluia – Acho que
eles não incompetentes não. São competentes para o que interessa a eles. O mais
importante para quem quer governar o país não é a competência. Ela é consequência.
O mais importante são os valores. O que falta a eles são valores, aqueles
básicos de respeito à pessoa humana, seja quem for. São valores cristãos,
valores que nós, católicos, evangélicos, todos pregamos. São valores pregados
por mais de 90 por cento da sociedade: respeito à pessoa, à liberdade ampla,
respeito à vida... que estão acima dos partidos. O partido não tem valor se
começa a defender os interesses de quem está no partido ou de algum parente.
Isso é compadrio. O PT é um partido atrasado, um partido da Velha República, do
compadrio. O que ele faz é encher o governo de cargos de confiança, que não dão oportunidade a todos. Nunca se teve no Brasil tantos cargos de confiança. Não é
incompetência, não. É falta de espírito público.
Aleluia: "O Democratas vai de Aécio Neves, mas a oposição deve se unir no 2º turno." (foto: Jorge Souza) |
Landisvalth Blog – Como é ser
secretário de uma cidade como Salvador, com inúmeros problemas, sendo opositor
dos governos federal e estadual?
José Carlos Aleluia – Quando eu
assumo o cargo de secretário não partidarizo. Quando assumi, a primeira coisa
que encontrei foi uma solicitação do governador para transferir o Metrô de
Salvador para o Estado. Doamos ao Estado da Bahia um ativo de 800 milhões de
reais, porque era do interesse público. Não transferimos porque o governador
era do partido A ou B. Transferimos porque era melhor para o povo da Bahia, para
o povo de Salvador e para que se colocasse o Metrô em operação. A passagem do
Metrô de Salvador é a mais cara do mundo. Ele custa três milhões por mês e não
transporta ninguém.
Landisvalth Blog – Se ACM Neto
topar ser candidato a governador, o senhor seria candidato ao senado, por
exemplo?
José Carlos Aleluia – Eu sairei
candidato. Estou na secretaria para fazer uma transição de humanização da
cidade. Em Salvador, os passeios eram território dos carros. Estou tentando
fazer com que o povo baiano volte a andar nas ruas. Passeio é para gente, rua é
para gente e o carro é uma exceção. As pessoas têm que se deslocar no transporte
público. Em cidade grande não tem lugar para todo mundo ter um carro. Fui para
lá para tentar organizar o uso do solo, um trabalho que deve durar até o fim do
primeiro trimestre do próximo ano. Se ACM Neto for candidato a governador,
estaremos juntos. Ele é o candidato que nas pesquisas aparece em primeiro lugar.
Neto terá que avaliar o pouco tempo que ele tem frente à Prefeitura do Salvador,
onde está fazendo uma revolução. Este crescimento dele também é fruto de um
governo de novas ideias, um governo diferente. Quando assumimos, a passagem de
ônibus estava sem aumentar há quase um ano e os empresários nos
procuravam para perguntar quando teríamos aumento da passagem. Nós dissemos que
não haveria aumento este ano, que eles teriam que apertar o cinto e mostrar as
contas. Além disso, falamos da necessidade de o povo passear com os filhos e
esposas nos fins de semana pagando meia. Por isso que não teve a revolta que
ocorreu em São Paulo e no Rio, onde continuaram aumentando os preços. Agora, estamos
tentando diminuir ainda mais a tarifa. Como Salvador é uma cidade muito grande,
uma pessoa que toma um ônibus na Pituba para ir a Itapagipe, precisa pagar duas
passagens. Estamos lutando para que isso acabe e as pessoas possam ter o Bilhete
Único, saindo de sua casa e chegando ao destino com apenas um pagamento. Isso
dá um trabalho enorme e quero deixar isso organizado. Como trabalhei muito pela
eleição de ACM Neto, eu não queria ser secretário, mas não poderia deixar de
sê-lo ante ao apelo que recebi. Já que eu tinha trabalhado para ajudá-lo a ser
o prefeito, nada mais justo do que ajudá-lo a administrar. Estou lá,
mas é uma atividade sacrificante. São mais de 12 horas de trabalho por dia.
Trabalhei ontem o dia todo e hoje foi o dia que tive folga para ir ao interior.
Fui a Curaçá na Festa do Vaqueiro e estou aqui em Heliópolis na Festa do São Pedro. Tudo que queremos é um projeto novo para Salvador e para a Bahia. A Bahia cansou
disso. Vivemos uma das piores secas dos últimos 30 anos e o Governo do Estado
não tomou conhecimento da situação. Foi como não fosse com ele. O rebanho bovino
baiano era de 12 milhões de cabeças. Hoje não deve ter 8 milhões. O Governo do
Estado não concluiu uma só barragem, uma só adutora importante, uma só obra
estruturante para o sertão. Acabaram com os projetos que tínhamos. Fizeram apenas
projetos para os amigos. Isso não funciona. Política tem ser impessoal. Quando
se faz um programa não é para atender os que votaram em mim, mas para atender a
todos. A educação da Bahia é hoje uma das piores do Brasil e isso sacrifica o
futuro dos nossos filhos, com educação inferior aos jovens de Pernambuco,
Sergipe, Minas Gerais, sem contar o Sul. Nós estamos dando menos oportunidades
para as crianças no futuro. Por isso precisamos de uma mudança profunda na
Bahia. As pesquisas comprovam, de certa forma, que o povo está abusado deste modo de fazer política. O povo cansou.
Aleluia: "O PT transformou o Brasil numa carroça!" (foto: Landisvalth Lima) |
Landisvalth Blog – Indo para a
questão nacional, temos Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva disputando o
mesmo espaço da oposição. Há possibilidades de uma união eficaz das oposições
no Brasil como se vê na Bahia?
José Carlos Aleluia – Nós estamos
unidos na Bahia, mas isso não significa necessariamente que teremos um
candidato só. Poderemos ter projetos alternativos e, após a escolha do povo,
estaremos unidos no 2º turno. A nível nacional é a mesma coisa. O PT encaminhou
o Brasil para um projeto errado, para o projeto das empresas dos amigos, ou
grandes empresas dos amigos. Agora todos estão vendo pela imprensa um grande
empresário amigo de Lula e da Presidenta Dilma, o Eike Batista, que quebrou.
Tomou muito dinheiro do governo e quebrou. Enquanto isso, a pequena empresa
está massacrada, sem crédito. A governo estimulou o povo a se endividar, não
houve investimento em transporte público e trouxe de volta uma coisa que quem
tem menos de 25 anos não sabia que existia: a inflação. Ela está aí, fora do
controle e o governo está desesperado. Esta eleição será para julgar o governo
Dilma. De certa forma já está sendo julgado nas ruas. Os candidatos que estão postos, Aécio Neves, que organizou Minas Gerais e se apresenta com muitas
qualidades, é do PSDB, um partido com o qual temos muitas finalidades; tem o governador
de Pernambuco, o Eduardo Campos, que está se distanciando do governo há algum
tempo porque viu os caminhos que o PT estava trilhando, inclusive com a proteção
ao banditismo. Na hora que o PT protege bandidos está protegendo o banditismo.
São dois projetos. A própria Marina Silva já se distanciou há mais tempo porque
viu que o PT estava caminhando para o lado errado. Então nós vamos ter
alternativas. Não acredito que teremos só dois candidatos. O nosso partido, a
nível da Bahia e a nível nacional, é bem provável que teremos um diálogo com o
PSDB.
Landisvalth Blog – Então o senhor
acredita nessa virada de página com a eleição do ano que vem?
José Carlos Aleluia – Começar um novo
ciclo. O Brasil, quando elegeu Fernando Henrique Cardoso, tinha uma inflação
superior a 80 por cento ao mês. Herança da era Sarney. As pessoas pegavam o
dinheiro e corriam ao mercado. Acabamos a inflação, vivemos um período de
estabilidade e crescimento econômico. Agora o Brasil parou. O México se arrumou
e hoje é o carro chefe da América Latina. O Brasil que era o carro chefe passou
a ser agora a carroça. O PT transformou o Brasil, que era um carro com
mobilidade, com um povo criativo, uma nação rica em recursos naturais, em uma
carroça, num país onde ninguém quer investir porque não há segurança nem para
as pessoas nem para os investimentos. Portanto é necessário um projeto novo
para que o Brasil retome e reinicie um ciclo de crescimento e de melhoria de
vida. Tudo que eles colheram estava preparado, rendeu 10 anos e os últimos dois
anos foi uma catástrofe. O PT já entendeu que o projeto está errado, a
presidenta já entendeu que ela errou. Só que ela está pensando na reeleição e
se mudar agora terá sua eleição prejudicada. Então ela vai fazer maquiagem.
Usando a linguagem que as mulheres entendem bem: já que não dá para fazer uma
plástica, vamos fazer uma maquiagenzinha.
Landisvalth Blog – Para encerrar,
Secretário, Salvador está pronta para a Copa?
José Carlos Aleluia – Não.
Salvador não se preparou para a Copa, sobretudo para a Copa das Confederações.
Não foi feito absolutamente nada do que estava previsto. Nós tínhamos um
orçamento de 170 milhões e não tinha dinheiro para isso. Gastamos só 5 milhões.
Ainda assim fizemos uma Copa razoável, com muitos esforços dos funcionários da
prefeitura e dos baianos em geral. Agora temos que fazer alguma coisa para a Copa
do Mundo, que é muito maior que a Copa das Confederações. Fizemos um ensaio. A
Copa do Mundo é muito grande, mas não podemos comprometer a vida da cidade, que
não vive só de copa. Eu não vou tirar dinheiro da educação ou da saúde para a
Copa. Quando os filhos das pessoas ficam doentes não se leva para a Fonte Nova,
mas para um posto de saúde. Quando necessitarem da leitura, vão ter que ir para
a escola. Ou seja, menos circo, mais escola, mais saúde.