Por Priscilla Borges - do iG.
Médicos ressaltam que, sem
garantias de boas condições de trabalho, nem os estrangeiros vão encarar viver
no interior e nas periferias.
Não bastam os médicos. Falta infraestrutura na saúde pública do Brasil. (foto: Facebook) |
As condições de trabalho no
interior do País, na grande maioria dos municípios, exige jogo de cintura dos
médicos que decidem atender à população nesses locais e paciência de quem
precisa de atendimento. A ausência de infraestrutura adequada a todos os níveis
de complexidade de atendimento – e até nos mais básicos, muitas vezes – é um
dos entraves para a interiorização dos médicos. Para Gabriel Ugarte, médico
boliviano que atua no País, isso também espantará os estrangeiros. Ugarte, que
nasceu na Bolívia e se naturalizou brasileiro, é um crítico duro das condições
de trabalho oferecidas aos médicos, especialmente do interior. Morador da
cidade de Ji-Paraná, em Rondônia, garante que a infraestrutura das unidades de
saúde é uma “vergonha”. “Ji-Paraná é uma cidade grande, que tem bancos,
internet, supermercados, lojas. Mas não temos condição nenhuma pra trabalhar.
Os consultórios são sujos, não têm mesas decentes, faltam medicamentos. Não
temos nada de nada”, desabafa. Na opinião do médico, que atua também na cidade
de Cacoal, a primeira providência que deveria ser tomada pelos governantes para
resolver as dificuldades de oferta de saúde no Brasil é investir na
infraestrutura hospitalar e dos postos de saúde. “Trazer médico para cá não vai
resolver o problema. Não precisamos de mais médicos, precisamos de condição de
trabalho. Os políticos, em campanha, prometem tudo. Depois, se esquecem”,
critica o cardiologista de 56 anos, que revalidou seu diploma há 13 anos. Carlos
Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), ressalta que não
é só a falta de infraestrutura de saúde que afasta os médicos dos municípios do
interior do país. Muitas vezes, a estrutura de vida na cidade é que espanta os
profissionais. “Há mutirões de prefeitos para contratar médicos para um lugar,
muitas vezes, sem condição de trabalho, que não tem sequer tratamento de
esgoto. Esse tipo de condição de saneamento seria mais eficaz para a saúde da
população local do que a simples presença do médico”, diz. O conselheiro
defende que, sem garantia de condições para realizar um bom trabalho, nenhuma
das medidas anunciadas pelo governo para distribuir melhor os médicos
brasileiros adiantará. “O governo federal precisa assumir tudo isso”, pondera.
Recursos garantidos
O Ministério da Saúde garante que
a política de atração de médicos para o interior – brasileiros ou estrangeiros
– será atrelada à melhoria da infraestrutura hospitalar. Apenas os municípios
que estiverem investindo em melhorias nas unidades de saúde receberão médicos. Serão
investidos R$ 7,4 bilhões até 2015. Do total, R$ 2,8 bilhões serão destinados a
obras em 16 mil postos de saúde e na compra de equipamentos para 5 mil deles.
Com outros R$ 3,2 bilhões, 818 hospitais passarão para obras e 2,5 mil
receberão novos equipamentos. E 877 unidades de pronto atendimento (UPAs) vão
ficar com R$ 1,4 bilhão para financiar obras. Outros R$ 100 milhões serão
gastos em reformas nos hospitais que aderirem ao programa de expansão das vagas
em cursos de residência. Cada hospital receberá cerca de R$ 200 mil para
custear ampliações e aquisição de equipamentos e uma ajuda mensal por cada vaga
criada, que vai variar entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. “Vamos nos reunir com
secretários estaduais e municipais de saúde para mapear como acelerar a
execução de recursos nas obras contratadas e ampliar a adesão dos hospitais
filantrópicos aos programas”, diz o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O
governo federal criou um programa para trocar dívidas das instituições
filantrópicas por mais procedimentos, como exames, consultas e cirurgias. Antônio
Carlos Figueiredo Nardi, presidente do Conselho Nacional de Secretários
Municipais de Saúde (Conasems), diz que a entidade está ajudando os prefeitos a
aderirem às oportunidades de financiamento do governo federal. “Estamos
trabalhando para dar condições concretas para o exercício profissional na rede
publica de saúde”, garante.