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Estudantes do CEPJO visitaram as ruínas da 2ª Canudos |
O Colégio Estadual Professor João
de Oliveira, da cidade de Poço Verde, Sergipe, a Prefeitura de Poço Verde, A
secretaria Municipal de Educação daquela cidade e os estudantes do 3º ano do
Ensino Médio do CEPJO realizaram uma viagem ao sítio arqueológico de Canudos,
cenário da guerra ocorrida em 1876-1877, neste sábado (13). A coordenação da
viagem ficou a cargo do professor Landisvalth Lima, que leciona Língua
Portuguesa na instituição. A saída ocorreu na madrugada, por volta das 4 e meia, e findou às 19 horas. Os 36 participantes visitaram as ruínas da Canudos que
ficaram submersas em 1969 pelas águas do açude de Cocorobó. De lá seguiram para
o Parque Estadual de Canudos, onde passaram pelo Alto do Mário, Alto da Favela,
Outeiro das Marias, Pelados, 2º Cemitério, Vale da Morte, Alto das Memórias e
Fazenda Velha. Por volta das 11 horas, foram recebidos no Memorial Antônio
Conselheiro, mantido pela Universidade do Estado da Bahia. Lá, os funcionários
da universidade foram generosos na informação e no auxílio à solução de dúvidas
comuns. Por volta do meio dia, foram almoçar no restaurante Doce Mel, dos
empresários Fábio e Talita. Logo após, seguiram para um banho refrescante no
Jorrinho de Canudos, na barragem do açude que margeia a cidade.
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Ainda nas Ruínas |
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No Alto da Favela |
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Na estrada de Massacará |
A Guerra de Canudos é tida como
um dos principais conflitos que marcam o período entre a queda da monarquia e a
instalação do regime republicano no Brasil e seu principal líder foi Antônio
Conselheiro, o Antônio Vicente Mendes Maciel, que vagueou em peregrinação. Nessas
andanças, começou a construir igrejas, cemitérios e teve sua figura marcada
pela barba grisalha, a bata azul, sandálias de couro e a mão apoiada em um
bordão. Sua pregação religiosa defensora de um cristianismo primitivo. Defendia
que os homens deveriam se livrar das opressões e injustiças que lhes eram
impostas, buscando superar os problemas de acordo com os valores religiosos
cristãos. Com palavras de fé e de justiça, Conselheiro atraiu muitos sertanejos
que se identificavam com a mensagem por ele proferida.
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Os detalhes eram questionados |
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A caminhada não desanimou quase ninguém |
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Na Fazenda Velha |
Desde o início, autoridades como
Cícero Dantas Martins, O Barão de Jeremoabo, e a própria Igreja Católica,
somados a setores dominantes da população, viam na renovação social e religiosa
de Antônio Conselheiro uma ameaça à ordem estabelecida.
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Ainda na Fazenda Velha |
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As ruínas vistas do Alto do Mário |
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O 2º Cemitério, onde pode estar o corpo de Antônio Beatino |
Em 1876, autoridades
lhe prenderam alegando que ele havia matado a mulher e a mãe, e o enviaram de
volta para o Ceará. Depois de solto, Conselheiro se dirigiu ao interior da
Bahia. Com o aumento do seu número de seguidores e a pregação de seus ideais
contrários à ordem vigente, Conselheiro fundou – em 1893 – uma comunidade
chamada Belo Monte, às margens do Rio Vaza-Barris, que nunca deixou de ser
Canudos.
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No Alto da Memória |
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No Vale da Morte |
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No Outeiro das Marias |
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Na chegada ao Memorial de Canudos |
De um lado, a Igreja atacava a comunidade alegando que os seguidores
de Conselheiro eram apegados à heresia e à depravação. Por outro, os políticos
e senhores de terra, com o uso dos meios de comunicação da época, diziam que
Antônio Conselheiro era monarquista e liderava um movimento que almejava
derrubar o governo republicano, instalado em 1889. Estas foram as causas da
Guerra de Canudos. Ao contrário das expectativas do governo, a comunidade
conseguiu resistir a três investidas militares. Somente na última expedição, a
4ª, que contava com metralhadoras e canhões, a população apta para o combate
(homens e rapazes) foi massacrada. A comunidade se reduziu a algumas centenas
de mulheres, idosos e crianças. Antônio Conselheiro, com a saúde fragilizada,
morreu dias antes do último combate. Ao encontrarem seu corpo, deceparam sua
cabeça e a enviaram para que estudassem as características do crânio de um
“louco fanático”, como registrou no livro Os Sertões o Euclides da Cunha.
Os Sertões
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Na área externa do Memorial |
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Na biblioteca com Conselheiro |
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Pausa para um refresco no Jorrinho |
O livro está dividido em três
partes: A Terra, O Homem e A Luta. A Terra é uma descrição detalhada feita pelo
cientista Euclides da Cunha, que estava no 4º ataque a Canudos, mostrando todas
as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim. O Homem é uma
descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o
habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu
comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio
Conselheiro, o líder de Canudos. Apresenta seu caráter, seu passado e relatos
de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e
habitantes capturados. A Luta é um relato feito pelo jornalista, escritor e ser
humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o
retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria,
da violência e da insanidade da guerra. Retratando minuciosamente movimento de
tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra
casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que
começou por um motivo tolo - Antônio Conselheiro reclamando um estoque de
madeira não entregue - escalou para um conflito onde havia paranoia nacional
pois suspeitava-se que os monarquistas de Canudos, liderados pelo
"famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro" tinham apoio externo. No
final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais
fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores - um velho, dois
adultos e uma criança.
Uma pergunta
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Ainda se refrescando no Jorrinho |
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Aguardando os banhistas |
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A foto de despedida |
Ao fim da visita ao cenário de guerra,
os estudantes se põem a perguntar o motivo real de tanto sangue derramado. Não
conseguem entender como uma terra árida, pedregosa, de caatinga rala, coberta
por um sol causticante poderia ameaçar a República Federativa do Brasil. Mais
ainda: como um povo tão simples foi capaz de resistir tanto, a ponto de colocar
também em questão a eficiência do Exército Brasileiro da época. O próprio
Euclides da Cunha chamou a Guerra de Canudos de ato insano e bárbaro. Foram 28
mil pessoas mortas e, anos depois, 250 milhões de litros cúbicos da água do
Açude de Cocorobó cobriam o cenário da cidadela que desafiou a lógica. O diabo
é que não se acaba com a memória de um povo e, agora, com o açude de bem pouca
água, o cenário volta no tempo e os alunos poçoverdenses do João de Oliveira
puderam reverenciar, reviver e conviver com a história. Mas é fato: ainda há muito
que dizer, ainda há muito a descobrir. Canudos ainda é um enigma.
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