Muitos idosos assumem os netos.
A Bahia é o estado brasileiro com maior número de centenários. São 3.525
moradores com 100 anos ou mais, de acordo com dados do Censo 2010
Luciana Rebouças – do CORREIO
Se tivesse de contar a história
de sua vida, o roteirista de cinema Daniel Sena, de apenas 27 anos, destacaria
antes de tudo o papel dos avós, com quem foi educado. Natural de Alagoinhas (a
108 quilômetros de Salvador), ele acredita que a vida no interior acaba
tornando as famílias mais próximas, e morar na casa dos avós, por exemplo, foi
algo natural, por causa da proximidade do colégio e da ocupação dos pais, que
tinham de sair diariamente para o trabalho. Porém, não foi apenas na educação
de Sena que os avós ajudaram: eles também compravam material escolar, uniforme,
alimentação e eram os companheiros dos netos nas viagens de férias, que Sena
considera um dos maiores presentes para o seu crescimento. “Eles foram um
suporte importante. E ver como a minha mãe podia contar com eles me ajudou
muito a formar essa ideia de proteção familiar”, diz. A ajuda é mantida até
hoje. A avó, Sindalva de Oliveira, a dona Titi, de 83 anos, confirma que ela e
o marido ajudam como podem. “Fico feliz em ajudar, mas ando preocupada, porque
ele não dá notícias para a gente”. A bronca da avó é porque Sena deixou o
interior para morar em Salvador sem ter um emprego fixo. Quando precisa,
telefona e acaba sendo atendido. O rapaz não nega: “Se tiver que ligar para
algum parente para pedir ajuda financeira, ligo para eles”. Hoje é o Dia dos
Avós. São eles que sustentam 12 milhões de famílias no Brasil, sendo a
principal ou única fonte de renda nessas casas, conforme afirma o economista
André Coelho, membro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA). As
informações são baseadas em dados do IBGE. Coelho salienta que os idosos
aposentados são também os maiores responsáveis pela dinâmica da economia na
maioria dos municípios com até 20 mil habitantes, o que representa mais da
metade dos municípios brasileiros. “A importância deles não é só para as
famílias. Eles são as fontes de renda regulares e constantes de várias cidades”,
diz ele. O economista ainda destaca uma questão cultural: com mais famílias com
pais e mães solteiros, são os avós que acabam sendo pais novamente e ajudam no
sustento dos netos. “E essas pessoas, muitas vezes, não têm mais condições
físicas ou intelectuais para continuar trabalhando, mas trabalham para ajudar,
inclusive no sustento dos filhos”, diz.
Prazer
O aposentado Mário Eugênio
Silva é um dos que ajudam os filhos e netos, mas ressalta: ajuda por prazer e
não por obrigação. Com cinco filhos e oito netos, Silva conta que já contribuiu
na hora de trocar o carro dos filhos, já deu computador para um dos netos, mas
fica feliz por seus filhos não
precisarem dessa ajuda. Ele mantém ainda uma reserva média de R$ 6 mil em nome
de três de seus filhos, mas lembra que “nenhum deles teve a ousadia de usar”. Questionado sobre como se sentiria caso fosse
preciso ajudar seus filhos e netos financeiramente, Silva não nega: “A melhor
coisa que tem é ajudar sua família quando ela não precisa. Se tivesse obrigação
de ajudar, eu ia sentir, porque iria parecer que eu não fui capaz de investir
no crescimento deles”, enfatiza. A presidente da Federação das Associações de
Aposentados e Pensionistas da Bahia, Marise Sansão, lembra que essa não é a
realidade da maioria dos aposentados. “Eu diria que mais de 90% dos aposentados
que conheço ajudam a família por necessidade. E eles ajudam sem se queixar”.
Avós que não ajudam são raros
Sabe aquele avô e avó
quietinhos, sentados na varanda vendo o tempo passar? Esses personagens não
estão mais tão presentes na sociedade atual. “A imagem dos avós de hoje não
está associada à decrepitude e dependência. Ao contrário, essa nova categoria
de personagens sociais é rica em recursos a oferecer à comunidade e à família”,
afirma a psicoterapeuta Lidia R. Aratangy, autora do Livro dos Avós – Na Casa
dos Avós É Sempre Domingo?, da Primavera Editorial, junto com o pediatra
Leonardo Posternak. Lídia reforça que
hoje também são raros os avós que não ajudam os netos. “Muitas vezes, é a
aposentadoria deles a única fonte garantida de renda. E eles acabam bancando o
convênio médico ou a escola dos netos”. A psicoterapeuta prefere não definir
essa ajuda como algo prejudicial, pois na maioria das vezes os filhos ou netos
recorrem aos avós não é para ter acesso a luxos. “O mundo também ficou mais
complicado. Antes, os pais podiam dizer que, se os filhos tivessem um bom
diploma, eles não teriam problema para arcar com a vida. Mas hoje não é assim
que funciona”. Lídia ainda enfatiza que, quando os avós ajudam os filhos e
netos que moram na sua casa, o respeito mútuo é importante para a convivência. “Os
avôs podem até participar da educação, mas não devem ser os pais”, destaca.
Bahia: líder em centenários
A Bahia é o estado brasileiro
com maior número de centenários. São 3.525 moradores com 100 anos ou mais, de
acordo com dados do Censo 2010, divulgados pelo IBGE. Em seguida, aparecem São
Paulo, com 3.146, e Minas Gerais, com 2.597 centenários. No total, de acordo
com o IBGE, o Censo 2010 apurou que existiam 23.760 brasileiros com mais de 100
anos. No último Censo, em 2000, São Paulo era o estado com o maior número de
moradores com 100 anos ou mais (4.457). A Bahia aparecia na sequência, com
2.808 centenários. O cenário mudou.