Por Janaina de Oliveira, Kátia Susanna (texto e fotos) com
colaboração de Raquel Almeida – do Portal INFONET
Parentes esperam aflitos fora do presídio |
Detentos estão com três escopetas, facas e um rádio da
polícia
Detentos do Complexo Penitenciário Advogado Antônio Jacinto
Filho, no Bairro Santa Maria, se rebelaram desde às 13h deste domingo, 15. Três
agentes penitenciários foram feitos reféns e muitas mulheres e crianças se
encontram junto aos presos por conta do dia de visita, que não foi encerrado.
Segundo informações da polícia o presídio abriga 476 presos.
Segundo informações da população local, domingo é dia de
visita no presídio até às 15h. Como a rebelião aconteceu antes disso, as
pessoas que estavam lá dentro também ficaram presas. A polícia informou que
existem mais de 100 visitantes dentro do presídio no momento.
Após negociações iniciais, com o capitão Marcos Carvalho, do
Núcleo de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar, os detentos pediram a
presença da imprensa. “Eles demonstraram tranquilidade e aptidão para
negociação, a gente quer conversar na boa e resolver tudo, a gente ainda não
sabe o que eles querem, mas eles pediram a presença da imprensa para começar a
falar”, contou Marcos Carvalho, durante as primeiras horas do conflito. Somente
a equipe de uma TV e do Portal Infonet tiveram acesso ao presídio nesta tarde.
Parentes dos detentos se desesperam do lado externo do
presídio
Parentes dos detentos que se encontravam no lado externo do
presídio não paravam de chegar desesperados. E contavam o quanto era humilhante
ser revistados em dias de visitas. “Eles estão pedindo melhores condições e que
tratem melhor as famílias dos detentos, eles nos humilham muito quando
precisamos entrar para ver os detentos”, contou o pai de um dos detentos, que
não quis se identificar.
Negociações
As negociações aconteceram durante toda a tarde e se
estenderam durante a noite deste domingo, 15. Quem estava fazendo a comunicação
era um detento vestido de amarelo, identificado pelos agentes locais como
Jason.
A comunicação acontecia através de um rádio da polícia
cedido ao prisioneiro. Com os detentos estava, além do rádio, um teaser, que é
um arma utilizada pela polícia para dar choques elétricos, três escopetas e várias
facas adquiridas na cozinha do presídio.
Marcos Carvalho tentando negociação com os presos
Promotor tenta negociação com os rebelados |
No momento da comunicação um dos agentes, que estava refém,
permanecia de joelhos e era constantemente ameaçado por um prisioneiro que
apontava uma faca para o pescoço do agente.
O promotor de Justiça Luiz Claudio Almeida dos Santos, da 7ª
vara criminal, também acompanhou as negociações e ouviu as primeiras
solicitações dos presos, que foram: mudança na direção do presídio, mudança de
alguns agentes, melhor tratamento para mulheres e crianças que visitam os
detentos, isolamento somente para presos sentenciados e presença de
representantes dos Direitos Humanos, da OAB e de um juiz corregedor durante as
negociações.
“Eles pediram para ver alguns representantes de algumas
entidades e fizeram algumas reinvindicações, mas não tem nada concreto ainda. A
maior dificuldade em lidar com eles é porque parece que tem vários líderes lá
dentro, não dá pra saber com quem negociar” conta Luiz Claudio.
Agente refém ajoelhado é ameaçado
Durante as negociações, os três agentes foram apresentados.
Eles estavam aparentemente bem e não tinham nenhum ferimento exposto.
Rebelião
Os presos estavam pedindo por melhores condições e gritavam
que não queriam mais ser espancados. Uma pichação na parede dizia: queremos
mais respeito. Eles disseram para os negociadores da operação que portavam uma
lista com os nomes dos agentes que realizavam agressões. A assessoria de
comunicação do presídio nega que exista qualquer tipo de agressão dentro do
presídio.
A rebelião já dura mais de 8h, os presos são vistos andando
nos vãos do presídio e ate sobre o teto do local. O negociador Marcos Carvalho
se prepara para passar a noite conversando com os detentos.
Negociações com presos foram suspensas. Situação no Complexo ainda é tensa e nenhum refém foi solto. Presos continuam com reféns
Por volta de 1h da madrugada desta segunda, 16, a comissão
que está negociando com os presos responsáveis pela rebelião deixou o Complexo
Penitenciário Advogado Antônio Jacinto Filho, no Bairro Santa Maria. Eles
informaram que os detentos estão irredutíveis quanto a liberação dos três
agentes penitenciários, que foram feitos de reféns, e que as conversas foram
suspensas por algumas horas.
Comandaram as negociações o capitão Marco Carvalho, do
Núcleo de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar; o promotor de Justiça
Luiz Claudio Almeida dos Santos, da 7ª vara criminal; o juiz da Vara de
Execuções Hélio Mesquita; o secretário de Justiça Benedito Figueiredo e Luiz
Eduardo Oliva, secretário dos Direitos Humanos. Desde o início da noite de
domingo, esta comissão tenta acordo com os presos para conseguir a soltura dos
agentes e familiares que estão dentro do presídio.
De acordo com Luiz Eduardo Oliva, os presos enumeraram doze
solicitações e sete delas tem a possibilidade de serem acordadas. Para esta
negociação, os detentos também solicitaram um advogado e tiveram a
reivindicação atendida. Muitas das solicitações têm haver com melhores
condições de vida no local e melhor tratamento à família do detento em dias de
visitas. "A conversa foi relativamente boa, mas houve dificuldades de eles
cederam. Pelo menos está consentido da parte deles que a integridade física dos
agentes será prevalecida até amanhã quando recomeçam as negociações" conta
o secretário.
O promotor Luiz Claudio também comentou sobre as negociações
e diz esperar bom senso dos detentos daqui pra frente. “O que nos tentamos
fazer aqui é dar garantia aos presos de que o que foi acordado será comprido e
também garantir a integridade física dos agentes reféns. Agora nós esperamos um
gesto de boa vontade por parte dos presos, que eles soltem os reféns e os seus
próprios familiares", diz o promotor.
Segundo José Romilson Meneses, advogado solicitado pelos
presos, uma carta foi escrita pelos detentos e tal carta foi apresentada
durante as negociações. No documento estão exigências, tais como, preservação
de integridade física, melhores condições na área de visitas, maior extensão de
tempo para visita íntima, permissão de entrada para cigarro, dentre outras
coisas.
Segundo informações de Marco Carvalho, que está negociando
diretamente com os detentos desde o início da rebelião, os familiares dos
presos estão dentro do presídio por vontade própria. Ainda segundo o capitão
houve um possível desentendimento entre os presos. "Alguns colocaram fogo
em uma cela, com o intuo de chamar atenção, e pelo que soubemos tinham dois
presos nesta cela, o corpo de bombeiros foi acionado e apagou o pequeno
incêndio, mas outros não gostaram de ter o fogo apagado”, diz o capitão, que
deixou escapar que a água foi suspensa no local.
Desde o início da noite a polícia cercou o local, familiares
e a imprensa não podem adentrar no complexo penitenciário. Neste momento,
diversos presos estão em cima do telhado do presídio, alguns quebram coisas e
se comunicam com familiares que permanecem no lado externo do complexo.
Agente é torturado, apanha e pede socorro. Ele foi enrolado com um colchão e espancado pelos detentos
Hora em que o agente é torturados pelos presos |
Uma cena de terror. Um agente penitenciário ainda não
identificado foi torturado, ameaçado de morte e asfixiado pelos detentos que
permanecem rebelados desde o último domingo, 15, no Complexo Penitenciário
Advogado Antônio Jacinto Filho. Toda a cena foi presenciada por familiares e
colegas de trabalho.
Descontrolado, os presos iniciaram uma sessão de
espancamento e os gritos do agente pedindo socorro causou uma comoção entre os
colegas de trabalho que acompanham tudo de perto. “Eles vão matar ele”, disse
desesperado um agente.
Por volta das 10h um agente identificado como Gilmar Júnior
foi liberado e encaminhado para atendimento médico. De acordo com a polícia, o
agente está em estado de choque e não consegue falar sobre a rebelião.
O defensor público, Daniel Nunes, esteve no presídio e disse
que as negociações estão sendo realizadas, mas não existem informações sobre
presos feridos. Ainda de acordo com o defensor público as principais
reivindicações dos presos são as denúncias de maus tratos e a falta de preparo
dos agentes durante a revista íntima.
O secretário adjunto da Secretaria da Segurança Pública
(SSP), João Batista Santos Júnior, disse que toda a situação está sendo
acompanhada de perto cúpula da SSP e que aguarda as negociações com os presos
para se pronunciar sobre o assunto.
Integrantes do PCC
comandam rebelião em presídio. Jason e Bruno Diego são apontados como lideres da rebelião. Detentos permanecem rebelados
A maior rebelião do sistema prisional sergipano dessa década
- é o que afirma os próprios agentes penintenciários - já dura quase 24 horas
de negociação intensa entre representantes da Secretaria da Segurança Pública
(SSP) e detentos que estão irredutíveis quanto a paralisar o movimento que foi
iniciado na tarde de domingo, 15, no Complexo Penitenciário Advogado Antônio
Jacinto Filho, localizado no bairro Santa Maria. Desde as primeiras horas a
equipe do Portal Infonet acompanha as negociações que durante a madrugada e
manhã desta segunda-feira, 16, não avançaram.
O presidente do Sindicato dos Terceirizados dos Agentes de
Disciplina Penitenciária do Estado de Sergipe (Sintradispen), Antonio Luiz
Oliveira, conversou com a equipe da Infonet e mostrou preocupação quanto a
integridade física dos três agentes identificados apenas como Elvio, Gilmar e
Domingos que são mantidos reféns.
De acordo com Antonio Luiz, os principais integrantes da
rebelião pertencem ao Primeiro Comando da Capital (PCC) organização criminosa
que iniciou suas ações em São Paulo. Os homens são conhecidos como Jason e
Bruno Daniel. Segundos os agentes os dois criminosos são frios, perigosos e
estão fortemente armados com escopetas e facas, existe ainda a informação de
que eles estão portando um revólver calibre 12.
“Os nossos companheiros estão apanhando muito e sendo
ameaçados a todo tempo. Eles estão torturando eles e com certeza correm risco
de morrer a qualquer instante”, desabafa. A rebelião permanece e o Portal
Infonet acompanha todos os detalhes.
A cobertura total está sendo feita pelo portal www.infonet.com.br.