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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Conto: Os homens que roubavam lágrimas

                                Landisvalth Lima
(Foto: Fotolog.com)
Era uma vez um país distante e diferente. Lá os homens nunca sorriam. Adoravam chorar. Não é estranho entender por que lágrimas tinham muito valor. Cada gota era uma fortuna. Um dia, Paizinho resolveu se candidatar a gerente do País das Lágrimas. O seu adversário, não podia ser diferente, também pregava o choro. A disputa eleitoral virou um chororô. Um terceiro candidato resolveu pregar o sorriso, mas ninguém o ouvia. Só pensavam em lágrimas. Paizinho resolveu chorar mais que o esperado e conquistou o povo chorão. Conquistou até mesmo aqueles que pregavam o fim do choro e a desvalorização das lágrimas, por desejarem o sorriso como solução. Mesmo todos sabendo que a Constituição do país condenava as lágrimas e pregava o sorrir como saída, o povo elegeu Paizinho.
Após assumir, o novo gerente não sabia o que fazer. Não tinha preparo para somar, dividir, subtrair e multiplicar lágrimas. Chamou então um primo seu, o Fiinho, para ajudá-lo. Não demorou muito, Fiinho mostrou sua cara. Prometia lágrimas a quem queria, mas não cumpria o combinado. Começou a controlar tudo. Cada lágrima que caia era confiscada. Obrigou que toda a população levasse consigo um balde para reservar toda e qualquer lágrima. Era proibido deixar cair uma lágrima sequer ao chão. Sem estar contente, foi em busca de adversários e, após promessas não cumpridas, obrigou-os a derramar suas lágrimas nos baldes do governo.
No congresso, seus deputados eram obrigados a chorar na sua cartilha e todas as lágrimas, mesmo aquelas de elogios, eram captadas para o gerente. Fiinho mandou construir uma enorme casa, toda de vidro, com moderna tecnologia. Era o local onde armazenava cada lágrima. Quanto mais fazia das suas, Paizinho aplaudia o parente e o incentivava a fazer mais e mais. Não demorou muito tempo e os que não concordavam com tanto acúmulo de lágrimas foram se afastando. Chegaram a chamar atenção de Paizinho, mas ele não ouvia mais ninguém a não ser o Fiinho. Um dia, os dois, Paizinho e Fiinho, foram olhar o mar de lágrimas que acumularam. Ficaram embevecidos com a conquista.
- É nosso, Paizinho! É tudo nosso!
Ambos, movidos pelo ímpeto do azul cristalino das lágrimas formadas com o suor e o sacrifício do povo daquele país, não resistiram e caíram no imenso lago lacrimal com roupa e tudo. Esqueceram porém, que mesmo nas lágrimas, era imperativo saber nadar. E nunca mais choraram ou fizeram o povo daquele país chorar para todo o sempre, amém!