Landisvalth Lima
(Foto: Fotolog.com) |
Era uma vez um país distante e
diferente. Lá os homens nunca sorriam. Adoravam chorar. Não é estranho entender
por que lágrimas tinham muito valor. Cada gota era uma fortuna. Um dia, Paizinho
resolveu se candidatar a gerente do País das Lágrimas. O seu adversário, não
podia ser diferente, também pregava o choro. A disputa eleitoral virou um
chororô. Um terceiro candidato resolveu pregar o sorriso, mas ninguém o ouvia.
Só pensavam em lágrimas. Paizinho resolveu chorar mais que o esperado e conquistou
o povo chorão. Conquistou até mesmo aqueles que pregavam o fim do choro e a
desvalorização das lágrimas, por desejarem o sorriso como solução. Mesmo todos
sabendo que a Constituição do país condenava as lágrimas e pregava o sorrir
como saída, o povo elegeu Paizinho.
Após assumir, o novo gerente não
sabia o que fazer. Não tinha preparo para somar, dividir, subtrair e
multiplicar lágrimas. Chamou então um primo seu, o Fiinho, para ajudá-lo. Não
demorou muito, Fiinho mostrou sua cara. Prometia lágrimas a quem queria, mas
não cumpria o combinado. Começou a controlar tudo. Cada lágrima que caia era
confiscada. Obrigou que toda a população levasse consigo um balde para reservar
toda e qualquer lágrima. Era proibido deixar cair uma lágrima sequer ao chão.
Sem estar contente, foi em busca de adversários e, após promessas não cumpridas,
obrigou-os a derramar suas lágrimas nos baldes do governo.
No congresso, seus deputados
eram obrigados a chorar na sua cartilha e todas as lágrimas, mesmo aquelas de
elogios, eram captadas para o gerente. Fiinho mandou construir uma enorme casa,
toda de vidro, com moderna tecnologia. Era o local onde armazenava cada
lágrima. Quanto mais fazia das suas, Paizinho aplaudia o parente e o
incentivava a fazer mais e mais. Não demorou muito tempo e os que não
concordavam com tanto acúmulo de lágrimas foram se afastando. Chegaram a chamar
atenção de Paizinho, mas ele não ouvia mais ninguém a não ser o Fiinho. Um dia,
os dois, Paizinho e Fiinho, foram olhar o mar de lágrimas que acumularam. Ficaram
embevecidos com a conquista.
- É nosso, Paizinho! É tudo nosso!
Ambos, movidos pelo ímpeto do
azul cristalino das lágrimas formadas com o suor e o sacrifício do povo daquele
país, não resistiram e caíram no imenso lago lacrimal com roupa e tudo.
Esqueceram porém, que mesmo nas lágrimas, era imperativo saber nadar. E nunca mais
choraram ou fizeram o povo daquele país chorar para todo o sempre, amém!