Rebanho bovino dizimado virou paisagem comum no Nordeste (foto: O Portomanguense) |
Nas minhas andanças por este
sertão, vendo a miséria e a seca imperando em plena época da tecnologia,
frequentemente me irrito com a incapacidade dos nossos governantes. Desconfiava
que tudo isso não fosse só ausência de capacidade. Agora tenho certeza que é má
vontade ou oportunismo. Vê 600 milhões sendo gastos naquela belíssima Fonte
Nova, recheados com um tempero extraordinário de um histórico 5 a 1 do meu
Vitória sobre o grande e maltratado Bahia, e saber que este dinheiro faz falta
ao meu sertão é doloroso. O cenário de desgraças já é do conhecimento de todos
e o prejuízo é também do Estado. Os preços sobem e a arrecadação despenca.
Somos pobres, ficaremos mais pobres ainda. Isto reforça a minha ideia de criar
aqui o nosso estado da Bahia do Norte. Mas isso é assunto para depois. Quero
que todos os meus leitores desfrutem de vários textos recolhidos do Bahia
Notícias sobre a questão da seca e vejam que a miséria continua de forma
propositada. O governo Wagner quer que continuemos com o pires na mão. Quer a
seca como moeda de troca eleitoral. Vejam:
Geddel diz que Governo Wagner não
se planejou e optou por “dividendos eleitorais” da seca
Por Bárbara Souza
Geddel Vieira Lima (foto: Tiago Melo) |
O vice-presidente de Pessoa
Jurídica da Caixa, Geddel Vieira Lima (PMDB) engrossou o coro das críticas
feitas pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da
Bahia (Faeb), João Martins, à atuação do governo de Jaques Wagner frente ao problema
da seca, que atinge mais da metade dos municípios baianos. Com a promessa de
que evitaria “o viés da crítica meramente política”, Geddel afirmou que havia
reunido documentos e “dados objetivos” sobre o tema para a entrevista que
concedeu, nesta quinta-feira (11), ao jornalista Samuel Celestino, no programa
Bahia Notícias no Ar, da Rede Tudo Fm 102,5.
Com base em tais informações, disse, ele relatou que em 2005, a Bahia
tinha um plano estadual de recursos hídricos “que identificou 215 reservatórios
no estado, com capacidade em torno de 100 mil metros cúbicos de água e mais 24
reservatórios com capacidade de acumulação acima de 25 milhões de metros
cúbicos, aí incluídos Sobradinho – o maior lago artificial do mundo, e
Itaparica” e previa ainda a construção, “entre 2007 a 2020, de seis outros
reservatórios, com um custo estimado de R$ 640 milhões”. Segundo Geddel, o
governo de Wagner “não deu início a uma barragem” e “abandonou o plano de
recursos hídricos de 2005 e não lançou as barragens previstas”, além de ter
optado por um caminho “que não é o do enfrentamento da seca” e sim o que “traz
mais dividendos eleitorais do que estruturantes”. Como exemplo, Geddel citou a
adoção de um sistema baseado “exclusivamente” na implantação de cisternas.
“Ora, cisterna é boa para acumular água se você tem água para acumular. Se não
chove, como é que você vai captar água, se não tem um sistema de distribuição,
se não tem barragens?”, questionou. O peemedebista relatou ainda que, antes de
deixar Ministério da Integração, consultou todos os estados afetados por longas
estiagens sobre quais seriam suas obras estruturantes prioritárias. “A Bahia
foi o único que não respondeu”, declarou, ao explicar que as informações
norteariam a implantação de um “plano nacional de infraestrutura hídrica”. Para
termo de comparação e “para fazer justiça” aos governos de César Borges (PR) e
de Paulo Souto (DEM), o ex-ministro da Integração enumerou obras realizadas
pelos ex-governadores. “A barragem Bandeira de Melo, a de Ponto Novo, a de Pedras
Altas, de Pindobaçu e a barragem do França”, listou, ao completar: “E foi
deixada iniciada a barragens de Cristalândia, Serra Preta, Santana e Lagoa da
Torta”. Na opinião de Geddel, “estão tratando este governo como se fosse um
governo de sete meses, mas é um governo de sete anos, que se exaure no próximo
ano”, concluiu.
Samuel Celestino: Calamidade
total I
Samuel Celestino |
Na terça feira, assustado com o
que ocorre no semiárido baiano, o secretário Rui Costa, da Casa Civil, e
Eduardo Sales, da Agricultura, estiveram na Federação da Agricultura da Bahia,
Faeb. A seca, a pior de muitas décadas, dizima os rebanhos e, virtualmente, as
possibilidades de o governo evitar a grande catástrofe é praticamente nenhuma.
Mais: como informa o presidente da Federação da Agricultura, João Martins, o
pior está por vir até o final do ano. Para que se tenha uma ideia, o município
de Senhor do Bonfim, com 300 mil habitantes, está sendo abastecido por
caminhões pipas por não ter outra solução para oferecer água à população. Os
secretários se deslocaram para a Federação de Agricultura do Estado para uma
conversa com o presidente da entidade, que conhece a fundo a questão. Se
entraram espantados, deixaram a sede da entidade apavorados. O governo tem
feito de tudo para evitar o pior, mas suas possibilidades se resumem
praticamente aos caminhões pipas, poucas aguadas praticamente sem água e nada
mais, porque os governos da Bahia não cuidaram de adotar soluções para um
fenômeno que está presente no Nordeste
desde que a região existe. Alguns estados, como o Ceará, foram mais precavidos
e enfrentam a calamidade com açudes, construídos ao longo do tempo, de sorte
que dispõe de 30 vezes mais água represada do que a Bahia.
Calamidade total II
Para a população do agreste ainda
se consegue com paliativo os tais caminhões pipas, mas não se sabe até quando.
O semiárido ainda vai sofrer, segundo os especialistas, até o final deste ano,
porque se as chuvas chegarem será em novembro. Mas é difícil. De modo que a
população, que já começa a deixar, pouco a pouco o sertão (embora digam que não
há êxodo), vive um drama sem igual. O êxodo poderá ser muito pior. A Bahia até
aqui já perdeu 1 milhão de cabeças da gado, rebanho maior do que existe no
Estado de Sergipe. O governo só agora pensa alguma coisa como projetos para
perenizar os rios que cortam o Estado usando a água do São Francisco, enquanto
os Baixios de Salitre e Irecê, principalmente o primeiro, passaram mais de 15
anos em construção que ainda não foi concluída. O sertanejo definha, a água que
chega é pouca, o sol é inclemente e os rebanhos estão sendo dizimados. A
prioridade são os habitantes e não a criação.
Calamidade total III
O prejuízo é absurdo. As carcaças
de animais que morrem por falta d´água estão por toda parte. Espalhadas pelo
agreste. Por muito tempo o sertão da Bahia penará na pobreza. Mesmo depois que
chegar o período das chuvas, virá, no próximo ano, ou no seguinte, o que chamam
no interior de “seca verde,” isto é, a vegetação renascerá, mas pouco, ou nada,
produzirá. Enfim, o governo afinal está assustado. Os produtores empobrecem,
daí os secretários terem ido à Faeb conversar com Martins. A solução é uma,
apenas um: perenizar os rios e construir barragens, porque cisternas só não
bastam. Nem perfurar poços, a não ser que sejam centenas de milhares deles. Se
não há chuva não há água para abastecê-las através das bicas. Enfim, o inferno
é aqui. E, de resto, em todo o Nordeste
que pouco mudou no quesito seca no último século. Como se diz há muito tempo, o
governo e os políticos só aparecem para pedir votos e não para oferecer
soluções definitivas para a calamidade que se abate sobre a região.
Coluna do Samuel Celestino em A
TARDE, dia 7 de abril
As carcaças dos “sem água”
Se a Bahia não fizer um projeto
estratégico, estruturante, para os recursos hídricos e implantá-lo, mesmo que
seja em governos sucessivos, jamais será um grande estado. Reconhece-se que um
governo só é insuficiente para atender o vasto semiárido baiano, que está a
pegar fogo, assim como todo o Nordeste, pela dimensão da catástrofe da seca que
atinge a região. A UPB –União de Prefeituras da Bahia – alerta que 70% do
território estadual sofre com o flagelo. O rebanho está sendo dizimado. Antes
aos poucos, agora de forma acelerada. Em toda a região nordestina já pipocam
movimentos, simbolizados por carcaças de gado que são depositadas em frente a
agências do Banco do Nordeste. Aqui, está prevista uma manifestação semelhante
para o dia 15, em Feira de Santana.
O “pacote” anunciado pela
presidente Dilma Rousseff em Fortaleza foi um blefe, nada além disso. De
maneira geral frustrou as entidades vinculada à agricultura e aos rebanhos,
como a Federação da Agricultura da Bahia, presidida por João Martins, que considerou
“frustrantes às expectativas gerais do setor, porque se esperavam medidas
efetivas de apoio à economia, que está em processo acelerado de degradação”. A
situação da Bahia é singular. Uma unidade cortada em toda a sua extensão pelo
Rio São Francisco, ressente-se de água em seus rios secos que poderiam ser
perenizados se houvesse uma política consistente nesse sentido.
Para que se tenha uma ideia, a
presidente anunciou o seu “pacote”, que não tem significado para o drama que
sertão está submetido, mas a verdade é que o Ceará de há muito vem tomando
providências contra as estiagens prolongadas que sempre o atingiram e hoje tem
armazenado 20 vezes mais água do que o estado da Bahia. Ademais, o governo
baiano anunciou, numa tentativa de socorrer o rebanho que resta, 80 mil
toneladas de milho, porque, de resto, não há no pasto mais nada para alimentar
os rebanhos já reduzidos.
A princípio, pode-se imaginar que
80 mil toneladas é muita coisa. Não é. Pelo contrário. Num levantamento feito
pela Federação da Agricultura, se forem distribuídos 50 sacos de milho (por
produtor) em um mês para alimentar o gado, apenas 26 mil deles serão atendidos,
o que representam 15% dos criadores baianos. 50 sacos por produtor pouco
significa.
Não há nenhuma projeção de chuva
para o semiárido baiano, o que gera um processo aflitivo para os criadores.
Trata-se de uma das maiores secas em décadas. Possivelmente, a maior em 60
anos. Aliás, não se sabe, ao certo, há quantos anos não acontece um flagelo
semelhante. Todas as medidas tomadas, como adutoras, caminhões-pipas e
cisternas pouco representam. Este processo de desatenção governamental não vem
de agora, mas de governos anteriores, e não poderá ser solucionado, como já
citado acima, num só governo. É preciso que haja um projeto estratégico,
definitivo, ou a Bahia sempre será um estado com grande parte da sua população
na pobreza absoluta, até pela característica do semiárido onde as habitações
são esparsas no grande sertão.
Lembra a grande obra de
Graciliano Ramos, que conta a história de uma família de retirantes, vagando
pela terra esturricada, fugindo da seca, acompanhada de uma cadela, Baleia, e
de um papagaio que não falava, apenas latia, porque era o som que ouvia da
cadela, mais triste do que seu dono. O livro, do ciclo pós-moderno,
transformou-se em filme, que apresentou uma visão árida e correta do romance de
Graciliano.
Esta grande seca que empobrece a
Bahia e toda a região poderá ter reflexo mais adiante, nas eleições do próximo
ano, até porque os prefeitos dos município atingidos preparam uma marcha para
Brasília em busca de medidas rápidas e emergenciais que denominaram de “Marcha
dos Sem água”. Se derem sequência às manifestações que já se registram em
alguns estados nordestinos e em Feira de Santana acontecerá no dia 15, poderão
levar carcaças de boi para a Praça dos Três Poderes. É um símbolo que
representa com exatidão o sofrimento dos que não têm água e, em consequência,
perdem os seus rebanhos.
Enfim, as medidas tomadas pela
presidente Dilma, o esperado “pacote”, recebeu críticas generalizadas.
Consideram os prefeitos que as desonerações fiscais agravam a situação, segundo
eles por reduzirem o repasse para os municípios. De resto, relembro um verso do
saudoso Luiz Gonzaga ao cantar o drama da seca, chorando na sua sanfona o
desespero do nordestino famélico e retirante: “Seu doutor uma esmola/ para um
homem que é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.”