GABRIELA GUERREIRO – da Folha de
São Paulo
Por que os políticos corruptos sempre se safam no Brasil? |
Mais de 2.000 prefeitos e
vereadores eleitos no ano passado receberam, até o início deste ano, recursos
do programa Bolsa Família do governo federal. O Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome identificou 2.168 beneficiários que continuaram
recebendo o dinheiro do programa apesar de terem sido eleitos para prefeituras
e Câmaras Municipais. A legislação brasileira veda políticos eleitos de receberem
o benefício, mas determina que os próprios políticos acusem o fato de serem
beneficiários do programa -- o que na prática permite que muitos continuem a
receber o dinheiro. O governo encontrou as ilegalidades ao cruzar dados do
ministério com do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A operação, realizada em
fevereiro deste ano, encontrou inicialmente 2.272 eleitos que poderiam se
enquadrar na situação ilegal. Após um pente-fino, com o envio de questionários
às prefeituras, o ministério chegou ao número de 2.168 confirmados como
políticos eleitos que são beneficiários do principal programa de transferência
de renda do governo federal. Todos tiveram os benefícios cancelados. Os outros
104, que chegaram a ter os pagamentos suspensos, tiveram os valores desbloqueados.
A lei 10.836/2004 obriga os beneficiários que tenham "dolosamente"
prestado informações falsas para permanecerem no programa Bolsa Família devem
ressarcir os cofres públicos o valor recebido irregularmente. O ressarcimento,
segundo a lei, deve ser atualizado com base no IPCA. O ministério não informou
se os políticos que receberam o dinheiro irregularmente fizeram o
ressarcimento.
IRREGULARIDADES
Nas eleições de 2004 e 2006, o TCU (Tribunal de Contas da União) cruzou a lista de beneficiários do Bolsa Família com a relação de políticos eleitos e seus suplentes. Na época, o cruzamento revelou a existência de 20.601 políticos que recebiam o Bolsa Família, a maioria deles na categoria dos extremamente pobres. Na folha de pagamentos de um mês, fevereiro de 2008, os políticos receberam R$ 1,6 milhão. No cruzamento, o tribunal identificou 1,1 milhão de famílias com indícios de renda acima do permitido. Elas receberam mais de R$ 65 milhões na folha de fevereiro de 2008. Consideradas só as entrevistadas em 2007, o TCU identificou mais de 195 mil com indícios de omissão de renda. O cruzamento com o Sisobi (Sistema Informatizado de Controle de Óbitos) revelou a presença de quase 300 mil mortos. Na folha de fevereiro de 2008, foram identificados 3.791 benefícios pagos a famílias com pessoas mortas.