AGUIRRE TALENTO e BRUNO BENEVIDES
– da Folha de São Paulo
Governo do Ceará paga até oito vezes
mais por shows de artistas de projeção nacional. Shows de artistas de projeção
nacional custam até oito vezes mais quando são pagos pelo governo do Ceará.
A conclusão, com suspeita de
superfaturamento, é do Ministério Público de Contas do Estado, que analisou
shows contratados em 2011 pela gestão Cid Gomes (PSB). O festival "Férias
no Ceará" bancou shows gratuitos, em Fortaleza e no interior, de nomes
como Gilberto Gil, Vanessa da Mata, Nando Reis, Roberta Sá e Seu Jorge. Ao
analisar os gastos, o Ministério Público apontou preços acima da média na
contratação de 15 das 45 apresentações musicais no festival. O show de Jorge
Vercillo, por exemplo, custou R$ 135 mil aos cofres cearenses. O cantor,
contudo, havia se apresentado no mesmo ano em Itajaí (SC) por R$ 15,7 mil e, em
Fortaleza, por R$ 35 mil. Zélia Duncan tocou por R$ 140 mil no festival, mas na
Paraíba cobrou R$ 37 mil. A banda Jota Quest cobrou R$ 223 mil no Ceará e R$ 95
mil em Bonito (MS). Os outros shows pagos pelo governo cearense com suspeita de
superfaturamento são de Biquini Cavadão, Skank, Kid Abelha, Lulu Santos,
Paralamas do Sucesso, Cidade Negra e Jorge Benjor. Os gastos da gestão Cid com
esses artistas somaram R$ 10 milhões, segundo o TCE (Tribunal de Contas do
Estado). As diferenças entre os valores pagos pelo Ceará e o máximo
desembolsado em outros Estados para apresentações desses mesmos artistas
alcançaram um total de cerca de R$ 1 milhão. Seria esse, então, o valor
superfaturado, segundo o levantamento dos promotores. Outros shows já motivaram
controvérsia no governo Cid, que contratou Ivete Sangalo por R$ 650 mil para
inaugurar um hospital e pagou R$ 3,1 milhões ao tenor Plácido Domingo na
abertura de um centro de eventos. Esses dois casos, contudo, não envolvem
suspeitas de superfaturamento.
INVESTIGAÇÃO
O Ministério Público de Contas,
órgão ligado ao TCE, encaminhou o relatório ao tribunal, que analisa o caso, e
pediu que o processo seja transformado numa tomada de contas especial. Isso
ocorre quando conclui-se pela necessidade de aprofundar a investigação,
iniciada em 2011. Ainda não há resposta ao pedido. Para o Ministério Público, o
governo do Ceará não apresentou justificativas suficientes para os preços dos
shows. Em muitos casos, apresentou só uma cotação, e de períodos em que os
shows são mais caros, como no Réveillon. "Resta evidenciada a malversação
dos recursos públicos ao realizar contratações de artistas com valores que
extrapolam a razoabilidade estipulada pelo mercado", diz o relatório do
Ministério Público, finalizado na semana passada.