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Bom Jesus da Lapa - Cidades do Velho Chico 17

Cláudio Rotay X Carandiru

Duas decisões judiciais esta semana revelam o dois Brasis que disputam espaço de domínio no nosso território. Na política, o Brasil arcaico vence disparado. Na área da Justiça, por vários motivos, republicanos ou não, há um embate travado que a cada dia nos enche de esperança, porque o jogo parece estar equilibrado. Aqui, das arquibancadas da fé, torcemos para ver mais goles (Portugal também acerta!) deste Brasil do bem, da justiça, do progresso. O golaço esta semana foi do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso. Ele manteve a condenação de policiais militares condenados a penas entre 48 e 624 anos de prisão pelo papel no Massacre do Carandiru, que matou 111 "presos indefesos, mas pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres" (como bem dizem Gil e Caetano) em outubro de 1992.

Claro que a "bancada da bala" não gostou. Afinal, estes deputados foram eleitos para garantir que bandido bom seja bandido morto, desde que, lógico, sejam pretos, pobres, miseráveis, ou quase brancos, sem arrimo, sem eira e nem beira. Não vale para os bandidos de alto quilate, ou aqueles que no poder matam aos milhares, por vários atos e motivos. A decisão do ministro negou o pedido da defesa dos policiais pela revisão da pena. A decisão foi tomada menos de um dia depois de a “bancada da bala” na Câmara dos Deputados ter articulado proposta de anistia aos policiais. Na decisão, o ministro diz que a defesa não apresentou razões para o porquê de o caso ser analisado pelo STF. Com isso, argumenta Barroso, a palavra final do tema é do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que no ano passado retomou a condenação dos policiais.

O gol feito pelo Brasil arcaico ocorreu em Sergipe. A Justiça do estado vizinho absolveu, nesta terça-feira (2), o ex-prefeito de Tobias Barreto Diógenes Almeida e José Pereira de Souza. Os dois foram acusados pelo envolvimento na morte do radialista Cláudio Rotay, em 2002. Portanto, vinte anos depois, com todos os indícios possíveis contra os acusados, e sem que houvesse provas em contrário, o radialista continua sem ter os seus assassinos presos. E o resultado foi de goleada: 7 X 0. O julgamento começou por volta das dez e meia desta terça-feira e foi finalizado aproximadamente oito da noite. Além das mortes de Cláudio Rotay e do seu segurança, as investigações contabilizam mais oito assassinatos, tidos como queima de arquivos.