Landisvalth Lima
O atual presidente da Câmara
Municipal de Heliópolis está passando por sua prova política mais importante.
Se não servir para ajudá-lo nas lutas futuras por mandatos, pelo menos
confirmará para ele algumas máximas do jogo da política. A primeira é que ter
maioria não significa poder fazer o que quiser; a segunda é que não se faz
política vitoriosa sem diálogo e humildade. Essa terceira vai por minha conta:
vaidade é um tiro que sai pela culatra. E poderia dizer outras, mas o artigo
ficaria enorme e poderia provocar depressão no vereador Giomar Evangelista.
Nosso protagonista hoje ocupa o
segundo cargo mais importante do município de Heliópolis. É vereador, como
muitos, de segundo mandato. Ao saber que tinha os cinco votos garantidos na
oposição, colocou seu nome em caráter irrevogável. Ou era da oposição ou era da
situação, mas queria ser o presidente da Câmara. Giomar tirou do caminho os
nomes de Claudivan e de Mendonça. Sua pretensão era justa, mas ele foi com
muita sede ao pote. Já na preparação dizia que faria com o prefeito isso mais
aquilo. Ildinho logo tirou seu nome do rol de possíveis nomes para dialogar. Aí
vieram as discussões para aprovação do Orçamento. A oposição se fechou. Não
abriu possibilidade de diálogo. Ildinho chegou a propor votar em Claudivan para
a presidência em troca da aprovação do projeto em acordo, mas Giomar deu a vice
ao colega, com possibilidades de assumir um ano depois. Tudo resolvido. Os
opositores ao prefeito aprovaram a emenda do QDD da Câmara Municipal e só deram
os 20% de suplementação. Fizeram cabelo, barba, bigode e cavanhaque.
Dia 30 de dezembro, um dia após a
aprovação do Orçamento, Ildinho veta a emenda do QDD, alegando inconstitucionalidade.
No mesmo dia Giomar liga para Ana Dalva diversas vezes. Na minha cabeça, ele
cobrava o autógrafo com o veto. Nada disso. Queria as gravações dos discursos
do Plenário, coisa que já havia sido transcrito para as atas, aprovado por
todos e apagado dos computadores. Para que Giomar queria as gravações?
Provavelmente para fazer marketing da sua eleição para o cargo. Quando Ana
Dalva fechou tudo e encerrou sua participação, viajou para Aracaju. Giomar
colocava um carro de som para sua posse. Queria festa, e fez. Foi uma rajada
intensa de fogos. Parecia que havia sido eleito para o lugar de Dilma Rousseff.
Ele nem imaginava que a emenda do QDD daria uma enorme dor de cabeça.
Dia 8 de Janeiro, o prefeito
Ildinho manda publicar no Diário Oficial a parte sancionada do Lei Orçamentária
Anual, claro, sem a parte vetada. Outro indicativo para que Giomar olhasse o
veto e tomasse providências. Ele teria apenas que convocar extraordinariamente a
Câmara para uma sessão e derrubar o veto do prefeito. Bastavam para isso ter 5
votos. E ele tinha. Mas, tomado ainda pela vaidade traiçoeira do cargo, não
percebeu a série de erros já cometidos. E começou a gastar por conta. Contratou
para a contabilidade uma empresa, para a alimentação do SIGA uma outra e ainda
outra para atos administrativos. Nove mil reais por mês. Além disso, tinha do
seu lado um dos vereadores mais experientes na administração de câmaras, o
vereador José Mendonça Dantas. Com tanta empresa e com aliados de longa
caminhada no ramo, não tinha porque dar errado!
Aí começam as dissonâncias. Dia
20 de janeiro, Giomar Evangelista manda publicar o QDD da Câmara, vetado pelo
prefeito Ildinho. O certo era trabalhar com o QDD do Orçamento anterior, a
partir da publicação de um Decreto. Insistiu rabalhar com uma rubrica que não
está em nenhuma lei e isso compromete seriamente suas contas. Para piorar a
ópera, talvez tentando consertar o que já estava ruim, colocou em votação na
última sessão, segunda-feira (16 de março), o veto do prefeito. Apesar de
garantir os cinco votos, tratava-se de matéria vencida. Ele teria apenas 30
dias, a partir da publicação do veto, para fazer isso. Giomar está enrolado até
os dentes.
Não tem jeito de isso não ser resolvido
na Justiça. O prefeito informou que já entrou com processo na vara comum e a
bancada do governo vai entrar com outro. E tudo isso começou lá atrás, quando o
PCdoB jogou por terra o esforço de dois anos da vereadora Ana Dalva de
transformar as ações da Câmara Municipal em elementos pautados na melhoria da
qualidade de vida do povo e não viver o Poder Legislativo numa eterna guerra
entre Pardais e Bem-te-vis, numa política medieval e idiota que não leva o
município a lugar nenhum. E tudo isso estava bem quando a oposição era minoria.
Com o voto de Valdelício, levado gentilmente pelo vice-prefeito Gama Neves,
para se vingar de Ildinho, a oposição encheu o peito de vaidade e soltou o
verbo consagrado do “aqui quem manda somos nós!"
Além de agora está sendo reconhecido o trabalho
de Ana Dalva, a ponto de já ter vereador arrependido de não votar na sua reeleição,
cabe alguns questionamentos para que o vereador Giomar Evangelista pense e,
apesar dos problemas, tente consertar tudo. São só questionamentos e não
afirmações. O primeiro é que estaria mesmo Gama Neves tentando atingir Ildinho
ou desgastando um possível nome que poderia atrapalhar sua indicação para
prefeito em 2016? Vou mudar a pergunta: Será que Gama Neves atirou no viu e
matou o que não viu? Outra: com a experiência de Mendonça, se ele estivesse na
presidência, cometeria tantos erros em sequência? Ou melhor: não estaria
Mendonça deixando o companheiro cair em desgraça para que o caminho de sua
candidatura a prefeito estivesse livre? Pode ser só bobagem de minha parte, mas
em política nós não podemos descartar nenhuma hipótese. Nem mesmo a hipótese da
completa e total esperteza do vereador Giomar pode ser eliminada. Ocorre que,
até aqui, neste cenário, só há enredo para a construção de um filme: O tormento
dos inocentes.