Landisvalth Lima
Ildinho está ajustando a máquina municipal |
A mentalidade política dos
gestores baianos não sofreu nenhuma mudança nestes novos tempos. Os vícios e as
virtudes são os mesmos. O modelo de administração, que pensávamos estar com os
dias contados, vive e cresce de forma assustadora. Não podíamos esperar que o
prefeito Ildefonso Andrade Fonseca, o Ildinho, praticasse outro diferente. E a
regra é a mesma: contratar para garantir o pão eleitoral e demitir para não
ultrapassar o limite prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade
Fiscal. Em Heliópolis, Ildinho fez cabelo, barba, bigode e cavanhaque. Venceu
tudo que tinha direito. Deu 80% dos votos a Rui, Dilma e quase isso a Otto, com
a ajuda e bênçãos dos Pardais, fez o federal mais votado e os dois estaduais com
maior número de votos. Todos eleitos. Agora vem a conta.
Ildinho ainda não se pronunciou,
mas o setor financeiro da prefeitura diz que muitos dos demitidos retornarão em
janeiro. Os contratados que estão sendo afastados, a maioria retornará no
início de 2015. Apesar de o PT ter ganho a eleição, vários dos comissionados
demitidos são do próprio Partido dos Trabalhadores, caso de Aderaldo Nobre. No
caso da demissão de Zélia Maranduba, nada a ver com o enxugamento da máquina.
As razões aí são políticas. E não é só Heliópolis que segue esta cartilha.
Quase todas as prefeituras baianas iniciaram uma série de cortes nos gastos
públicos, principalmente relacionados a cargos comissionados, para tentarem se
adequar às exigências da LRF. A legislação determina que as despesas totais dos
municípios não podem ultrapassar 60% da receita corrente líquida, o que,
segundo os gestores, não é tão simples quanto parece.
No caso de Heliópolis, a receita
até que aumentou de 2013 para 2014. Acorre que os aumentos salariais foram
maiores. Também, o FPM não vem aumentando numa proporção de garantir a reposição
dos gastos com a folha de pagamento. Além disso, tem a inflação. Segundo a
prefeita de Cardeal da Silva e presidente da União dos Municípios da Bahia
(UPB), Maria Quitéria (PSB), a conta final considera a contratação de
funcionários exigidos por programas do governo federal, o que faz com que os
gastos no setor aumentem sem que haja uma flexibilização na cobrança do
Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). “Com a inflação, os municípios
perderam poder de gerir receitas. A maior parte vive de repasses federais e todos
os anos as despesas aumentam e recursos não. Precisamos de uma redistribuição
para que cada município tenha condições de se manter sem que o gestor tenha que
infringir a lei”, reclama. Quitéria afirma que a UPB solicitou, há um ano, que
o TCM reconsiderasse a inclusão dos valores de iniciativas como o Programa
Saúde da Família (PSF), Samu e o Mais Educação, o que poderia funcionar como
uma “medida emergencial para esse momento de crise”. “Como as cidades não
instituíram os programas mas são obrigados a contratar, isso implica no aumento
dos gastos com pessoal. [...] Nós estamos regularmente dando subsídios ao
tribunal, por meio de nossos advogados, para que eles entendam que essa
alteração é necessária”, defende.
O prefeito de Itapetinga, José
Carlos Moura (PT), confirma o problema. Nesta semana, ele determinou o corte de
25% do próprio salário, do pagamento do vice-prefeito e de todo secretariado,
além do estabelecimento de turnões de funcionamento da administração pública.
Segundo o gestor, a queda na arrecadação do segundo semestre foi a pior dos
últimos seis anos de seu governo, o que fez com que fosse necessário um “freio
de arrumação”. “Não é porque a máquina esteja inchada ou tenha gastos demais.
Só em uma secretaria são 20 programas sociais. Para a UPA, que atente toda
região, nós recebemos R$ 100 mil da União, mas gastamos R$ 270 mil. Eu não vou
deixar de atender o povo porque o custo com uma enfermeira especializada ou com
uma professora com mestrado é maior”, afirmou. Moura diz não saber o motivo que
levou a arrecadação municipal cair além do esperado neste ano, mas supõe que a
realização da Copa do Mundo ou as eleições podem ter influenciado na questão.
“Cada ano, as despesas vão aumentando e temos coisas que não podemos parar.
Você tem obras do governo federal que têm contrapartida e você tem que tirar do
tesouro. A maioria das prefeituras está demitindo. É uma bola de neve”, avalia.
Mesmo assim, José Carlos afirma ter o apoio da população para a realização das
medidas que garantam a aprovação das contas da gestão. “A população está
entendendo porque sabe que é uma situação temporária, que logo que estivermos
estabelecidos nós vamos voltar. Não de maneira irresponsável, mas com mais pé
no chão. Porque nós estamos cortando na própria carne. Vamos fazer um natal
sustentável, com garrafas pet, e usar a criatividade. Mas é possível que a
gente tenha que cortar mais, para tentar pagar o que falta do 13º dos
servidores. Será que vamos ter dinheiro?”, questiona.
Em Heliópolis não será preciso
cortar salários de prefeito, vice e secretários. Até porque os salários de
prefeito e vice estão congelados há seis anos e seria algo inédito, com
provável aceite imediato da população. Curioso é que isso só ocorre mais
intensamente em época de eleição. Os prefeitos não querem perder e contratam
para ter votos. Esta é a verdade. Fossem os cargos necessários ao funcionamento
dos serviços públicos, não haveria cortes. Os cargos são, em sua maioria,
políticos. Seria um sonho esperar compreensão de todos os demitidos. Sempre
haverá rompimentos e Ildinho terá que ter jogo de cintura para não perder pontos
no cenário eleitoral, caso esteja realmente pensando na reeleição. Em
Heliópolis, ninguém ganha eleição por fazer um bom governo, mas por satisfazer
vontades de grupos e famílias que “vivem” encastelados nos cargos comissionados
da velha e boa Prefeitura Municipal de Heliópolis.
Com informações complementares do Bahia
Notícias.