Landisvalth Lima
Ghavami está presa |
Que nós estamos ainda muito
aquém do que poderíamos chamar de progresso não há dúvida, mas o que acontece
no mundo iraniano é coisa para lá da idade média. Repasso aqui o que li no
portal da revista Veja. Um tribunal do Irã condenou a um ano de prisão uma
mulher com dupla nacionalidade, iraniana e britânica, por tentar ver uma
partida de vôlei, o que viola as leis de segregação que proíbem mulheres de
assistir a eventos esportivos masculinos, informou seu advogado, neste domingo.
"Hoje, o presidente do tribunal me mostrou a sentença, na qual minha
cliente é condenada a um ano de prisão." E ainda me dizem que votar num
candidato por causa de uma bolsa qualquer é selvageria! É verdade que é, mas é
um ato selvagem mais moderninho.
Ghoncheh Ghavami, de 25 anos,
estudante de Direito na Universidade de Londres, foi detida em 20 de junho após
ir com várias ativistas dos direitos das mulheres a uma partida da seleção
iraniana de vôlei no estádio Azadi de Teerã. As jovens se manifestaram fora do
centro esportivo exigindo liberdade para que as mulheres possam comparecer como
público a este tipo de evento. Várias delas foram detidas pelas Forças de
Segurança e liberadas sob fiança após poucas horas, mas Ghavami retornou à
delegacia dez dias depois para reivindicar seus objetos pessoais e voltou a ser
detida. Ela é acusada de "propaganda contra o Estado" e passou parte
de sua detenção em uma cela de isolamento na prisão de Evin, no norte de Teerã.
A detenção de Ghavami, provocou
o início de uma campanha internacional exigindo sua libertação. A plataforma
www.change.org recebeu uma campanha intitulada #FreeGhonchehGhavami (Libertem
Ghoncheh Ghavami), já assinada por mais de 700 mil pessoas. Anistia Internacional
também pede sua libertação. A pergunta que não quer calar é: Se Ghavani fosse produto
de uma relação comercial, que provocasse determinado prejuízo a algum país, providências
já teriam sido tomadas? Quantas mulheres terão que morrer ou serem oprimidas
para que o mundo dito civilizado acabe com o extremismo selvagem? Não devemos
respeitar nenhuma lei que tire as liberdades individuais dos seres humanos.
Jabbari foi executada |
E isso vem acontecendo com uma
frequência assustadora. Um tribunal sudanês condenou em maio deste ano uma
mulher à forca por apostasia (abandono da fé) depois que ela deixou o Islã e se
casou com um homem cristão. "Nós demos-lhe três dias para se retratar, mas
você insiste em não retornar ao islamismo. Por isso, condeno-a a ser enforcada
até a morte", disse o juiz a mulher, segundo a rede BBC. Embaixadas
ocidentais e grupos que defendem os direitos civis pressionam o Sudão a
respeitar o direito de Meriam Yehya Ibrahim Ishag de escolher sua
religião. O Sudão tem uma população
majoritariamente muçulmana e é regido pela lei islâmica. A imprensa local relata que a mulher
condenada está grávida de oito meses e por isso a sentença só será realizada
após dois anos.
Voltando ao Irã, no sábado,
véspera do segundo turno das eleições aqui no Brasil, a jovem Reyhaneh Jabbari,
de 26 anos, foi condenada à morte pelo assassinato de um homem em julho de
2007. Organizações internacionais em defesa dos direitos humanos apelavam ao
governo do país que poupasse a vida de Reyhaneh, alegando que a jovem matou
Morteza Abdolali Sarbandi, um cirurgião e ex-funcionário do Ministério da
Inteligência, em legítima defesa, após ser estuprada. As Nações Unidas afirmam
que Reyhaneh nunca teve um julgamento justo. A execução foi confirmada pela
agência de notícias oficial Irna. A Anistia Internacional informou, em um
comunicado na sexta-feira que a mulher seria executada. Agora, na página criada
pela organização em defesa de Reyhaneh aparece agora uma imagem com os dizeres
"Descanse em Paz". Desde que a jovem foi condenada, ainda em 2007,
artistas, membros da sociedade civil e organizações internacionais clamavam por
clemência.
Yehya está marcada para morrer |
Enquanto esses fatos ocorrem, parece que a marca
da roupa de uma atriz famosa tem mais leitores e desperta mais atenção nas
redes sociais. Os direitos humanos não despertam interesses. Parece que estamos
voltando à idade média, quando defendemos matadores contratados para executar
jovens infratores ou inimigos pessoais. Estamos perdendo a sensibilidade com o
ser humano e como ser humano. Os animais estão sendo tratados de forma mais
civilizada. Lembro-me de uma americana que deixou toda sua fortuna para o seu
cachorro e tratou a vida inteira os mendigos como excrementos humanos. Parece
que estamos chegando ao fundo do poço da selvageria. Será que precisaremos de
uma 3ª Grande Guerra Mundial para recuperarmos coisas como caráter, ética,
honestidade, amor ao próximo, valorização da educação e da ciência, família,
liberdade, igualdade e fraternidade?