do blog de MATHEUS PICHONELLI
Eduardo Campos em campanha na Bahia |
“Não se pode mais fazer política
como se fazia no século passado”. Observado agora, o último post no Twitter
sobre a última entrevista de Eduardo Campos (PSB) serve como uma espécie de
prelúdio da carreira política do ex-governador de Pernambuco, morto nesta
quarta-feira, 13 de agosto, em um acidente aéreo em Santos, no litoral
paulista. Muitos dos eleitores o haviam conhecido na véspera, durante a
aguardada entrevista ao Jornal Nacional.
Em sua curta campanha, Campos
tentou exprimir, e assumir para si, o desafio de propor soluções novas para
impasses que não são apenas do século passado, mas do retrasado. Impasses de um
país que não decretou, na prática, o fim da escravidão nem das soluções
autoritárias de regimes autoritários. Um país que negociou com o velho todas as
saídas em direção ao novo.
Ao lado de Marina Silva, Campos
se colocou como porta-voz dessa ansiedade, o que sempre foi para ele uma missão
ingrata: como servir de ponte para o novo se o ponto de partida era o
denominado “velho”? Filho e neto de políticos, ex-ministro de Lula e ex-aliado
do governo contra o qual se rebelara, ele teria pouco mais de dois meses para
dar aos eleitores, e talvez a ele mesmo, uma resposta convincente. Esse tempo,
desgraçadamente, esgotou-se nesta manhã. Mas a questão, levantada em sua
entrevista ao JN, segue em aberto: como fazer política hoje com tantas amarras
nos séculos passados?
A morte do candidato dá contornos
trágicos a uma campanha que parecia definida. É cedo, além de inadequado, fazer
qualquer previsão política em um momento de luto e solidariedade, mas um ponto
é possível destacar: sem ele na disputa, a campanha se empobrece. Candidatos,
jornalistas, eleitores. Ficamos todos empobrecidos nesta manhã.
Juntos, Campos e Marina teriam a
oportunidade de se colocar como alternativa a um embate político polarizado há
20 anos entre PT e PSDB. Era deles a missão de sacudir essa polaridade com os
questionamentos certos. O debate era necessário, ainda que não apresentasse as
respostas definitivas. Não era tarefa fácil. Ficou ainda mais difícil.
Apressados, analistas políticos
se engalfinharão nos próximos dias para dizer que, passada a tristeza, a vida
pedirá passagem, sem tempo para o luto ser absorvido. É possível. Marina Silva
será a candidata. Politicamente, dirão que ela começa a campanha com um espólio
de 20 milhões de votos obtidos por ela em 2010. A estratégia de transferência
de votos foi encurtada pelo destino, dirão os especialistas. E caberá a ela
ampliar esse espólio.
A análise faz sentido
politicamente, mas na prática a teoria é outra. Todas as perguntas que se
seguem a uma tragédia desta magnitude pertencem à dimensão humana, e não apenas
política. Marina Silva será agora a candidata a presidente pelo PSB. Mas como?
Com que rosto? Com que forças? Com que ânimo? Se há algo em comum nos cartazes
e vídeos de campanha é o sorriso dos candidatos. Só que nunca, como agora, a
alegria ficou tão fora do tom. Como fazer campanha, então?
Campos foi um governador popular,
querido em Pernambuco e tinha tudo para conquistar uma fatia do eleitorado
nacional. Tinha carisma, boas ideias e currículo. Basta lembrar que ele deixou
como legado um Estado melhor do que aquele que recebeu. A comoção por sua morte
fará dele uma figura simbólica a exemplo do avô, Miguel Arraes, cujo projeto
político fora interrompido pelos militares após o golpe de 1964. O neto tinha
como missão resgatar esse país interrompido. Morreu no mesmo dia da morte do
avô.
Enquanto esteve em campanha, o
slogan de Campos pedia mudanças. Mais precisamente, pedia coragem para mudar.
Era uma arma política. Hoje virou um prelúdio. E um desafio a quem se propor, a
partir de agora, a assumir, mais que um discurso, uma missão. Uma missão que,
em suas últimas palavras, eram resumidas como o “sonho de um Brasil melhor”.