PSB iniciou conversas para
convencer a ex-senadora a entrar na disputa. Campanhas de Dilma e Aécio já
estudam novo discurso com Marina na corrida. Irmão de Eduardo Campos quer
Marina na liderança da Chapa
Silvio Navarro e Talita Fernandes
– do portal da revista VEJA
Eduardo Campos ao lado da ex-ministra Marina Silva em 2013, em Brasília
(foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
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Um dia depois da trágica morte do
candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, a classe política
ainda vive o luto, mas os comandos das campanhas da presidente-candidata Dilma
Rousseff (PT) e do tucano Aécio Neves já estão prontos para a entrada da
ex-senadora Marina Silva na disputa eleitoral. O PSB também.
Tanto a campanha petista quanto a
tucana aguardam a divulgação do resultado da pesquisa do instituto Datafolha,
que vai a campo nesta quinta-feira e sexta-feira, já com o nome de Marina na
lista de candidatos. Nos dois lados, a expectativa é que Marina tenha
desempenho bem acima do patamar de 8 ou 9% que Campos alcançava – e que a
entrada dela embole a corrida. Petistas e tucanos também avaliam que se Marina
embarcar na disputa terão de reformular boa parte da linha dos programas de
televisão. Por enquanto, ambos gravaram apenas as primeiras inserções – no caso
de Aécio, ainda direcionadas a apresentá-lo ao eleitor; no caso de Dilma,
exibir imagens de obras e programas do governo federal.
Segundo aliados que a acompanham
desde que recebeu a notícia de que o jato de Campos caiu no litoral de São
Paulo, Marina permanece fortemente abalada. O deputado Walter Feldman, um dos
seus conselheiros e responsável pela delicada interlocução entre o PSB e os
“marineiros” da Rede Sustentabilidade, diz que Marina passou a noite em claro e
só adormeceu nas primeiras horas desta quinta. Segundo Feldman, a ex-senadora
permanecerá em São Paulo com a família até que o trabalho de identificação dos
corpos, que está sendo conduzido pelo Instituto Médico Legal (IML), seja
concluído. Na sequência, ela viajará para Recife para acompanhar o velório e o
enterro. Nos raros diálogos que teve desde a noite de ontem, Marina só
manifestou preocupação com a família de Campos, com quem mantém ótima relação –
ela costuma chamar os filhos do ex-governador pelos apelidos de família, por
exemplo.
Pelas regras da Justiça
Eleitoral, o PSB tem dez dias para indicar um novo candidato. Marina já avisou
o partido que não se posicionará até que o corpo de Campos seja enterrado.
Segundo lideranças do PSB, a sigla vai aguardá-la e, nas palavras de um
dirigente, avalia sua entrada na disputa como “o caminho natural”. Entre os
coordenadores da campanha Campos-Marina, esse “caminho” ficou claro já nas
primeira linhas da nota redigida pela coligação após a morte do ex-governador
de Pernambuco: "Não vamos desistir do Brasil". Para dirigentes do PSB
e do PPS, mais do que um discurso, essas palavras foram um recado claro de que
a chapa aguarda por ela. Na manhã desta quinta, líderes do PSB – o vice-presidente
da legenda, Roberto Amaral, o senador Rodrigo Rollemberg (DF), o deputado Beto
Albuquerque (RS) e o deputado Júlio Delgado (MG) – conversaram pela primeira
vez sobre o futuro, em São Paulo. Oficialmente, eles afirmam que apenas
acompanham a identificação dos restos mortais de Campos. Nas próximas horas,
terão outras conversas com o presidente do PPS, Roberto Freire, e das demais
siglas que compõem a coligação. Os primeiros entendimentos são que o PSB não
pretende abrir mão da disputa.
Mas o arranjo não é tão simples.
E o principal nó está justamente na Rede Sustentabilidade, ou nos “marineiros”,
como os seguidores de Marina gostam de ser chamados. Sem registro na Justiça
Eleitoral, a Rede é um quase partido do ponto de vista legal, mas tem
militância em diversos Estados do país e forte atuação nas redes sociais – essa
era, aliás, umas grandes apostas de Campos na aliança com a ex-senadora. Os
“marineiros” sempre deixaram claro que não compactuam com as linhas
programáticas do PSB, especialmente com a atuação dos deputados federais da
sigla – e a coisa só piora quando o assunto são as posições antagônicas de
ambientalistas e do agronegócio. Mais: para socialistas mais antigos, resta o
dilema de ter Marina Silva, que nunca representou a sigla de Miguel Arraes, como
futura líder.
Como escreveu nesta quinta-feira
o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, no jornal Folha de S. Paulo,
“tentar apontar eventuais herdeiros para as intenções de voto do pessebista ou
imaginar o impacto de sua morte com base em dados antigos seria pura
adivinhação”. Marina saiu das urnas em 2010 com capital de quase 20 milhões de
votos (quase 20% dos votos válidos na época). Não é pouca coisa. Mas tampouco é
certo afirmar que ela largaria com esse mesmo percentual hoje, num cenário
eleitoral diferente e com novas questões à mesa – o sofrível desempenho
econômico, por exemplo, não era tema central no pleito passado.
A contagem regressiva do
calendário eleitoral impõe ao PSB e à própria Marina que a decisão seja tomada
nos próximos dias – a campanha na TV começa na terça-feira e é preciso produzir
material novo para ser exibido. É pouco tempo para desatar os nós na Rede dos
“marineiros”. Mas parte deles podem começar a se afrouxar com as palavras do
advogado Antonio Campos, único irmão do ex-governador Eduardo Campos, em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo: "Se meu irmão chamou Marina
para ser sua vice, com esta atitude ele externou sua vontade. Falo como membro
do diretório nacional do PSB, com direito a voto, como o neto mais velho vivo
do ex-governador Miguel Arraes e presidente do Instituto Miguel Arraes”. Neste
momento, o apoio da família de Campos é o principal trunfo da ala majoritária
do PSB que está à espera de Marina.
Em carta, irmão de Campos defende
candidatura de Marina
Em resposta, o presidente
nacional do PSB, Roberto Amaral, disse que a direção do partido tomará a decisão
“quando julgar oportuno"
Marcela Mattos, de Brasília, e
Laryssa Borges, de Recife – portal de VEJA
Antônio Campos, irmão do ex-governador, em Recife
(foto: Alexandre Gondim/JC Imagem/Folhapress)
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Em meio ao silêncio do PSB, o
advogado Antônio Campos, único irmão de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo
na quarta-feira, defendeu nesta quinta-feira que a ex-senadora Marina Silva
assuma a candidatura do partido à Presidência da República. Em carta aberta
enviada à cúpula da legenda, Antônio afirma que o pedido, além de ser uma
“posição pessoal”, representa também “a vontade de Eduardo”. Para Antônio,
Marina e um vice ainda a ser escolhido teriam condições de fazer “o debate que
o Brasil precisa fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores”.
“Como filiado ao PSB, membro do
Diretório Nacional com direito a voto, neto mais velho vivo de Miguel Arraes,
presidente do Instituto Miguel Arraes – IMA e único irmão de Eduardo, que
sempre o acompanhou em sua trajetória, externo a minha posição pessoal que
Marina Silva deve encabeçar a chapa presidencial da coligação Unidos Pelo
Brasil liderada pelo PSB, devendo a coligação, após debate democrático,
escolher o seu nome e um vice que una a coligação e some ao debate que o Brasil
precisa fazer nesse difícil momento, em busca de dias melhores”, afirma o irmão
de Campos. E conclui: “Tenho convicção que essa seria a vontade de Eduardo”.
Com a repentina morte do
ex-governador de Pernambuco em um acidente aéreo, o PSB tem um prazo de dez
dias para definir a chapa que disputará o Palácio do Planalto. Marina Silva,
por enquanto, mantém suspense e afirma que somente irá se manifestar depois do
enterro de Eduardo Campos - ainda sem data definida. Partidos adversários e o
próprio PSB, no entanto, já trabalham com essa hipótese.
Na carta intitulada “Não vamos
desistir”, em referência à declaração de Eduardo Campos em entrevista ao Jornal
Nacional (“Não vamos desistir do Brasil”), o irmão Antônio diz que a “perda
afetiva do único irmão é imensa, mas é grande a perda do líder Eduardo Campos, político
de talento e firmeza de propósitos”. “A nossa família tem mais de 60 anos de
lutas políticas em defesa das causas populares e democráticas do Brasil. O meu
avô Miguel Arraes foi preso e exilado, não se curvando à ditadura militar.
Eduardo Campos continuou o seu legado com firmeza de propósitos, tendo trazido
uma nova era de desenvolvimento para Pernambuco”, disse. “Desde 2013 vinha
fazendo o debate dos problemas e do momento de crise por que passa o Brasil,
querendo fazer uma discussão elevada sobre nosso país. Faleceu em plena
campanha presidencial, lutando pelos seus ideais e pelo que acreditava”,
afirmou, em carta.
E continuou: “O mundo está nas
mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de correr o risco para viver os seus
sonhos pessoais e coletivos. Ambos faleceram, no dia 13 de agosto, e serão
plantados no mesmo túmulo, no Cemitério de Santo Amaro, em Recife, túmulo
simples, onde consta uma lápide com a frase do poeta Carlos Drummond: “ tenho
duas mãos e o sentimento do mundo”. Essas sementes de esperança e de
resistência devem inspirar uma reflexão sobre o Brasil, nesse momento, para
mudar e melhorar esse país, que enfrenta uma grave crise, sendo a principal
dela a crise de valores. Não vamos cultivar as cinzas desses dois grandes
líderes, mas a chama imortal dos ideais que os motivava”. Na quarta-feira, após
passar grande parte do dia na casa da família de Campos, na Zona Norte do
Recife, Antônio Campos havia prometido que se manifestaria oficialmente ao PSB
em favor da indicação de Marina Silva.
Resposta – Em resposta à pressão
por um posicionamento, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, divulgou
nota nesta quarta-feira em que diz que a direção do partido tomará, “quando
julgar oportuno, e ao seu exclusivo critério, as decisões pertinentes à
condução do processo político-eleitoral”. Amaral disse ainda que o partido está
de luto e “recolhe-se, neste momento, cuidando tão somente das homenagens
devidas ao líder que partiu”.
Família - Nesta quinta-feira, políticos e familiares continuaram a homenagear Eduardo Campos com visitas à casa do político, no Recife. A família permanece reclusa e nem a viúva nem os filhos do casal se pronunciaram publicamente. Ainda nesta tarde, por intermédio do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro, o ex-presidente Lula, que teve Eduardo Campos como ministro da Ciência e Tecnologia, deve falar por telefone com a viúva do político, Renata. Lula prestou condolências à ministra Ana Arraes, mãe do candidato, nesta quarta.