Eu sou adúltero. Eu sou do PT
Janio Lopo - Editor de Política
Eu sou do PT. Eu sou adúltero. Deixei-me violentar em troca do apoio do PP. Sou adúltero reincidente. Quero também uma relação paralela como parte do PR. Estou farto de dividir a mesma cama com o PMDB. Sou adúltero porque desejo novos amantes capazes de suprirem a falta que o PMDB faz. Mas, se preciso, vou suportá-lo. Mais adiante o PMDB pode ser-me útil e, quem sabe,me dar aquilo que o PP e o PR, juntos, venham recusar-me oferecer no futuro. Além de adúltero e petista, tenho filhos bastardos. Bastardos que imaginavam serem filhos legítimos. Bastardos e revoltados. Conhecem as práticas dos pais. O PP resolveu despir-me para mim, do PT, como as mulheres que só dizem sim. Aliás,o PP faz parte agora do folhetim do PT. O problema é a manhã seguinte. O adúltero não pensa. Ele é levado pelo instinto.O PT foi levado pelo instinto político, não carnal. O instinto político é perverso. Tão perverso que defenestrou dois dos seus mais importantes quadros. Perdão: defenestrar não é o verbo mais correto. Humilhar é a expressão mais apropriada. Criou uma situação embaraçosa para a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho ao nomear para a Secretaria de Agricultura do Estado o candidato que ela derrotou nas urnas, o deputado Roberto Muniz. Moema não apenas o derrotou como sofreu toda espécie de impropérios. Sepultaram-na viva na campanha. Moema agora terá de pedir audiência a Muniz, contra quem, aliás, o próprio governador Jaques Wagner subiu no palanque.O próprio presidente Lula enviou dezenas de mensagens de apoio a Moema e insuflou a população de Lauro de Freitas a votar contra Muniz.Muniz que disse cobras e lagartos contra o PT,contra Wagner e contra Lula. Moema é uma das filhas bastardas do petismo. O secretário que sai, Geraldo Simões, PT desde criancinha,perde a vaga para um conhecido adversário. Ele e Moema são filhos bastardos do petismo,embora Simões tenha colhido o que plantou: a ambição por espaços políticos, incluindo a infeliz aventura de lançar sua mulher à prefeitura de Itabuna, é o preço que ele paga pelos olhos graúdos sobre o poder. Como adúltero e petista, eu devo ficar calado. E cego.E mudo.E surdo. Melhor fingir que sou filho natural do PT.O próximo a ser galhofado poderá ser eu. Morro de raiva só em pensar que enquanto estava segurando faixas e cartazes de Walter Pinheiro, enquanto saía na mão grande com inimigos, inclusive com o PP, agora sou jogado na lata do lixo. Acho que o que o PP faz o PT não diz para ninguém porque é bom demais e vão querer fazer também. Um dirigente pepista, que é uma fera, sabe o segredo do pecado (ou do perdão). É dele, que parece ter força de leão, a seguinte pérola: agora o PT não precisa mais do PMDB. Bingo! Resta saber se o PMDB vai topar um relacionamento tipo menage a trois. Não precisa ser petista e adúltero como eu para saber que o governo Wagner abre as portas do Palácio de Ondina para o PP na tentativa de enfraquecer o PMDB. Até aí, é relaxar e gozar. O PMDB pode até não querer se meter em samba de crioulo doido. Mas não pode ignorar que o PP também está no governo João Henrique (Secretaria de Habitação). Não pode ignorar ainda que o PT já definiu que fará oposição a João na Câmara Municipal, onde elegeu seis vereadores. O PMDB vai ficar calado? Logo o PMDB que possui nove deputados na Assembléia Legislativa dispostos a dar suporte político a Wagner? Ou vai esperar o governador armar a cama de pregos para os faquis peemedebistas nela descansarem, enquanto sela juras de amor com João Leão e Mário Negromonte (PP) e com a chamada banda ruim do PR? A banda boa do PR está representada pelo seu presidente estadual César Borges e o deputado federal Maurício Trindade que ficaram com João no segundo turno. A lógica indica se o PT municipal partir para cima de João Henrique, a bancada estadual deve revidar em direção ao governo Wagner. Não vamos esquecer que uma das deputadas peemedebistas, Maria Luiza, é mulher do prefeito. Como um humilde comentarista petista e adúltero, entendo que desta vez o partido ultrapassou o surrealismo.Entregou dois dos seus filhos –Moema e Simões – aos bruxos para que só esperam vê-los crescer o bastante para colocá-los num imenso caldeirão onde serão os principais ingredientes de uma saborosa sopa política. Se necessitar da Agricultura, Moema vai ter de agendar uma audiência com Muniz,que a arrasou na campanha. Ela pelo menos tem um mandato e não vai baixar a cabeça nem mesmo para o PT que a traiu. Simões volta para a Câmara dos Deputados de onde nunca deveria ter saído (ou entrado). O consolo deles é que o PT vai parir novos filhos bastardos que um dia podem se revoltar contra os pais adúlteros. Eu sou petista, adúltero, mas todos os meus filhos são legítimos. Talvez o PT não conheça os próprios filhos ou apenas esteja tratando-os, momentaneamente, como filhos da... mãe.
(www.tribunadabahia.com.br/janiolopo. acessado em 12.11.2008)
