Deixamos o poeta Antero no cemitério de Catalão e seguimos pela BR 050 na direção com a divisa de Minas Gerais. Depois continuamos viagem pela MG 223 até a BR 365, em Celso Bueno, município de Monte Carmelo. Daí em diante, percorremos a BR 365, rodovia federal que liga Uberlândia a Montes Claros. Passamos por cidades importantes, mas o tempo conspirava contra nós. A folga era curta para um país tão gigantesco. Chegamos na cidade de Patrocínio, depois seguimos viagem pela mesma rodovia e passamos em Patos de Minas. Mais adiante foi a vez de Varjão de Minas, e lamentamos não poder sequer entrar em Pirapora, às margens do rio São Francisco, que cruzamos mais uma vez. Após percorrer quase 700 kms, chegamos a Montes Claros já pela noite e fomos providenciar uma pousada para pernoitarmos. Teríamos que seguir viagem para a Bahia ainda pela madrugada. Encontramos uma pousada na rua Irmã Beata, em frente ao pronto socorro da Santa Casa de Montes Claros. O movimento a noite inteira era a garantia de que não perderíamos a hora.
Mas antes de seguirmos, é preciso contar a história e conhecer um pouco de Montes Claros. As terras onde está a cidade foi habitada até 1660 pelos índios Anais e Tapuias, mesmo depois de uma expedição composta por 12 bandeirantes, em 1554, a Expedição Espinosa-Navarro, que desbravou a região à procura de pedras preciosas, e embrenhou-se pelo sertão do Norte da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. A fixação dos colonizadores na região só se deu em 1674, quando Fernão Dias Pais organizou uma bandeira para explorar aquela região, sempre procurando encontrar pedras preciosas. O paulista Antônio Gonçalves Figueira, que pertencia à Bandeira de Fernão Dias, acompanhou-a até às margens do Rio Paraopeba, onde, com Matias Cardoso de Almeida, abandonou o chefe, que voltou para São Paulo. Naquele lugar, Antônio e Matias construíram fazendas, cujas sedes foram crescendo e se transformando em cidades, depois de matarem índios e explorarem as riquezas da região. Em 1707, Antônio Gonçalves Figueira obteve a sesmaria de uma légua de largura por três comprimentos, que constituiu a Fazenda de Montes Claros, situada nas cabeceiras do Rio Verde Grande, que atravessa hoje toda a cidade. Estradas foram construídas para o comércio de gado, inclusive para a Bahia e para atingir o São Francisco. Gonçalves Figueira retornou para São Paulo e deixou a fazenda de Montes Claros aos cuidados de seu irmão Manuel Afonso de Siqueira, que era proprietário de fazendas vizinhas.
A fazendo passou para outras mãos e chegou ao Alferes José Lopes de Carvalho, que havia se casado com a neta de Manuel Afonso de Siqueira. Foi ele quem adquiriu parte da fazenda Montes Claros e lá ergueu a capela, onde atualmente é a Igreja Matriz de Montes Claros. Em volta da capela foi se formando o Arraial das Formigas, o segundo povoado da Fazenda Montes Claros. A região foi se povoando e a Fazenda de Montes Claros transformou-se no maior centro comercial de gado, no Norte de Minas Gerais. A prosperidade começou com Arraial de Formigas, depois Arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José de Formigas. Pela Lei de 13 de outubro de 1831, desmembrando-se de Serro-Frio, o Arraial foi elevado a vila recebendo o nome de Vila de Montes Claros de Formigas. Em 1857, com o constante desenvolvimento, a vila chegava aos pouco a mais de 2.000 habitantes e, pela Lei 802 de 03 julho daquele mesmo ano, a Vila passou a cidade com o nome definitivo de Montes Claros.
Começa então um ciclo de desenvolvimento invejável. Em 1871 é criado o Hospital de Caridade, depois chamado Santa Casa de Caridade. Em 1879 nasce a Escola Normal, instalada no ano seguinte. Em 1884 nasce o semanário Correio do Norte, primeiro jornal de Montes Claros. Dois anos depois é inaugurada a Capela do Morrinho. O telégrafo chegou em 1892, Já o Mercado Municipal é inaugurado em 1899. Em 1907, as irmãs Berlear fundam o Colégio Imaculada Conceição. Três anos depois, São Pio X criou o Bispado de Montes Claros, tendo a primeira missa pontifical, no dia 08 de outubro de 1911. O serviço de telefonia urbana chegou no ano seguinte. Em 1914 chegou o cinema, em 1917 a iluminação pública. Em 1926 houve a inauguração da estação ferroviária, em 1938 chegou o serviço de água potável, a primeira emissora de rádio em 1945, o serviço de telefone interurbano foi a partir de 1956.
Daí em diante, tudo chegou a Montes Claros, que se transformou no mais desenvolvido município da Bacia o Alto Médio São Francisco ao Norte do Estado de Minas Gerais. Não se surpreenda se no censo de 2023 sua população chegar aos 420 mil habitantes, espalhados pelos seus 3.470 km2. Sua localização é privilegiada, cortado pelas rodovias BRs 135, 251, 122 e 365, além das estaduais. Fica distante 1100 kms de Salvador, 700 de Brasília, 630 de Uberlândia, 850 de Vitória, 1000 kms de São Paulo, 860 de Goiânia e 430 kms de Belo Horizonte. É um centro de médio porte regional e o sexto maior município do Estado de Minas Gerais em população residente, com um Produto Interno Bruto estimado pelo IBGE de R$ 20.199,41, per capita, dados ainda de 2015. Dados do CAGED/MTE ainda mostram que Montes Claros possuía em Janeiro/2018, em torno de 17 mil empreendimentos formais. O SEBRAE revela que em 2017 o município tinha 101.744 pessoas com emprego formal, além de um imenso contingente de pequenos empreendedores e trabalhadores informais em pequenos negócios, cuja mão-de-obra, familiar ou contratada, se faz presente no dia a dia.
Depois de algumas poucas horas de sono, seguimos pela BR 122 com destino à Bahia. Seriam mais de mil kms de estrada a percorre naquele dia, mas isso é assunto para o nosso último episódio da série Caminhos do Brasil – Do Sertão ao Centro-Oeste. Dê um like neste vídeo, faça sua inscrição no canal e até lá.