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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Goiânia, Anápolis e Abadiânia. Do Sertão ao Centro-Oeste - episódio 17

Saímos de Alexânia no domingo, 18 de setembro de 2022, e seguimos pela BR 060 com destino a Goiânia, capital do Estado de Goiás. Antes, passaríamos por dois municípios importantes, embora sem tempo para visitá-los. 28 kms depois chegamos a Abadiânia, cidade mundialmente conhecida por ser a sede da Casa de Dom Inácio de Loyola, onde João Teixeira de Faria realizava suas cirurgias sem anestesia. A fama do mesmo ganhou as páginas dos jornais do mundo inteiro quando foram descobertas as suas estripulias sexuais com devotas e pacientes. O conhecido João de Deus também praticava lavagem de dinheiro e foi parar atrás das grades. Mas não foram apenas suas vítimas que sofreram. Toda cidade de Abadiânia levou fortes golpes com as revelações. Diversos estabelecimentos comerciais da cidade faliram e os turistas, que vinham inclusive do exterior, desapareceram. Hoje, a cidade de 20 mil habitantes tenta se reerguer em bases mais sólidas e menos místicas, como o seu surgimento efetivado por homens atraídos pela fertilidade das terras para a exploração agrícola e pastoril, nas margens do Rio Capivari e Córrego Caruru. Não é a primeira vez que Abadiânia tem que se reinventar. Com a construção da BR-153, a Belém-Brasília, a sede municipal, que era onde hoje está o distrito de Posse d´Abadia, distante 17 kms, foi transferida para as margens da rodovia BR 060, ligação da BR 153 para Brasília, isso no ano de 1963. Não será difícil superar as dificuldades deixadas por João de Deus e suas aventuras sexuais inoportunas. 

Mais adiante, 30 kms depois, chegamos ao terceiro mais populoso município de Goiás: Anápolis. A povoação nasceu das idas e vindas do povo em direção ao ouro de Pirenópolis. Com o fim do sonho de riqueza, que não chegava para todos, muitos optaram por ficar cultivando as terras férteis às margens do Riacho das Antas. Nas terras de Manoel Rodrigues dos Santos, a Fazenda Antas, por volta de 1833, os fazendeiros se reuniam em novenas e orações. Em 1860 a região já contava com cerca de 15 casas. Já em 1870 vem a doação para construção da Capela de Santana, feito de Gomes de Souza Ramos anos depois. A partir daí o crescimento é mediano e constante, virando vila com a denominação de Santana das Antas, em 1887. Vinte anos depois recebia o nome de Anápolis, pela Lei Estadual n.º 320, de 31 de julho de 1907. Por estar em localização privilegiada, distante 50 kms de Goiânia e 140 de Brasília, Anápolis cresceu de forma vertiginosa a partir da efetivação de Goiânia como capital do estado e da construção de Brasília. Além disso, é um movimentado entroncamento rodoviário. Hoje, sua população chega aos 400 mil habitantes e é dona da segunda maior força econômica de Goiás, com um PIB superior a 14 bilhões de reais, dados de 2018.

Seguindo ainda pela BR 060, agora em irmandade com a BR 153, 50 kms depois estamos em Goiânia. A rodovia é bem movimentada e bem característica de uma região metropolitana, que é a 13ª maior do país. Os dois maiores municípios de Goiás vivem lado a lado: Goiânia e Aparecida de Goiás. Juntos, abrigam uma população de mais de 2,3 milhões de habitantes. Essa imensidão de pessoas encravada no Centro-Oeste brasileiro só foi possível graças à coragem e determinação de um homem chamado Pedro Ludovico Teixeira. Desde tempos imemoriais se falava na criação de uma nova capital para Goiás. A primeira capital, Goiás Velho, localizada a cerca de 145 kms, não tinha as condições para tal, apesar de ter a morada da poetisa Cora Coralina. Em 1932, o interventor federal Pedro Ludovico se entrega dia após dia na implantação de uma infraestrutura básica que possibilitasse a migração de pessoas para a nova capital. Para isso era preciso também a construção de estradas e distribuição de terras. Contou o interventor com as ajudas de membros de uma comissão encarregada de escolher o local onde seria construída a nova capital, chefiada pelo Bispo de Goiás, D. Emanuel Gomes de Oliveira. Além do bispo, contribuiu Antônio Pireneus de Souza, os engenheiros João Argenta e Jerônimo Fleury Curado e o médico Laudelino Gomes de Almeida. A comissão apontou uma fazenda localizada nas proximidades do povoado de Campinas como local ideal para a edificação da nova cidade. O relatório da comissão foi submetido ao parecer dos engenheiros Armando de Godoy, Benedito Neto de Velasco e Américo de Carvalho Ramos, foi encaminhado a Pedro Ludovico. Havia forte gritaria contrária à mudança, mas Ludovico bateu o martelo e decidiu que a capital seria construída onde hoje está. 

O decreto estadual número 3359, de 18 de maio de 1933, escolheu a região às margens do córrego Botafogo, compreendida pelas fazendas Crimeia, Vaca Brava e Botafogo, no então município de Campinas, para a edificação da nova capital de Goiás. Em 6 de julho do mesmo ano, Pedro Ludovico assinou um decreto encarregando o arquiteto urbanista Attilio Corrêa Lima da elaboração do projeto da nova capital em estilo art déco. Armando de Godoy reformularia o projeto original, inserindo o parcelamento do Oeste e fortes mudanças no arruamento do bairro Sul. Armando assinou o plano diretor de Goiânia, executado pelos engenheiros Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno. Quatro imensas avenidas principais confluem para a parte elevada no centro, onde foi erigido o Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual. Para garantir o povoamento, cartazes foram espalhados em vários cantos deste país convidando o povo a morar na nova capital de Goiás. Em 1933, o jornal O Social fez um concurso para a escolha do nome para a nova cidade. Apesar do nome Petrônia ter sido o mais votado, que seria uma homenagem a Pedro Ludovico, ele resolveu adotar o nome de Goiânia, sugerido pelo professor Alfredo de Faria Castro, que teve na época menos de 10% dos votos. No decreto de Pedro Ludovico, os municípios de Campinas, Hidrolândia, parte do território de Anápolis, Bela Vista e Trindade constituíram o novo município de Goiânia, a nova capital do estado de Goiás. O município foi instalado em 20 de novembro de 1935. Em 1950, a população de Goiânia já ultrapassava os 53 mil habitantes e seus prédios públicos já estavam todos constituídos no centro da cidade. Hoje, um conjunto de 22 prédios e monumentos públicos localizados no núcleo central de Goiânia e do bairro de Campinas foi incorporado oficialmente ao patrimônio histórico e artístico nacional. Na época da inauguração de Brasília, Goiânia já tinha 150 mil habitantes. No final do século XX, Goiânia recebe um grande número de famílias carentes oriundas do Nordeste e Norte do país. Com a expansão do agronegócio, o Centro-Oeste passa a ser uma nova fronteira de oportunidades. Hoje, com seus 730 km2, Goiânia se aproxima dos 1 milhão e 600 mil habitantes, núcleo central de uma região metropolitana de 2,7 milhões de viventes. 

Trafegando pelas ruas e avenidas de Goiânia, são raros os locais onde não se vê uma quantidade enorme de árvores. O verde está espalhado por toda a capital. Não é à toa que Goiânia é tida como a Capital Verde do Brasil. Há praças e parques espalhados por todos os lados. No centrão está a Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, onde ergueram uma estátua em sua homenagem, em frente ao Palácio das Esmeraldas. O local está repleto de árvores. Além de amenizar o calor generoso da região, transmite paz e tranquilidade. 

Daria para ficar em Goiânia muitos dias, desfrutando dos seus parques e conhecendo seus prédios históricos, mas nossa missão ainda não estava completa. Seguiríamos, pois. Antes, a fome imperava e fomos ao elogiadíssimo restaurante Carne do Sol Caicó. Isso mesmo, nordestinos da cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte, vieram para Goiânia e montaram aqui seu negócio, trazendo a iguaria nordestina. O sucesso foi o resultado natural e não perderíamos esta oportunidade. Depois de abastecidos, seguimos para Catalão, na divisa com Minas Gerais, assunto do nosso próximo episódio. Se gostou deste vídeo, faça sua inscrição, espalhe este vídeo pela net e nos ajude a crescer sempre. Um abraço e até a próxima.